CANTIGA PARA QUEM SONHA
Música: João Figueiredo Gomes
Letra: Leonel Carlos Duarte Neves
Incipit: Tu que tens dez reis de esperança e de amor
Origem: Lisboa
Data: 1971
Tu que tens dez réis de esp’rança e de amor
Grita bem alto que queres viver.
Compra pão e vinho, mas rouba uma flôr:
Tudo o que é belo não é de vender.
Não vendem ondas do mar,
Nem brisa ou estrelas,
Sol ou lua-cheia.
Não vendem moças de amar,
Nem certas janelas
Em dunas de areia.
Canta, canta como uma ave ou um rio,
Dá o teu braço aos que querem sonhar.
Quem trouxer mãos livres ou um assobio
Nem é preciso que saiba cantar.
Tu que crês num mundo maior e melhor
Grita bem alto que o céu ‘stá aqui.
Tu que vês irmãos, só irmãos, em redor
Crê que esse mundo começa por ti.
Traz uma viola, um poema,
Um passo de dança,
Um sonho maduro.
Canta glosando este tema:
Em cada criança
Há um homem puro.
Canta, canta como uma ave ou um rio,
Dá o teu braço aos que querem sonhar.
Quem trouxer mãos livres ou um assobio
Nem é preciso que saiba cantar.
Os versos da quadra, sextilha e refrão, cantam-se sem repetições. A terminar repete-se novamente o refrão.
Esquema do acompanhamento:
Quadra:
1º Dístico: Lá maior, 2ªLá /// 3ªLá maior, Lá maior, 2ªLá, Lá maior;
2º Dístico; Lá maior, 2ªLá /// 3ªLá maior, Lá maior, 2ªLá, Lá maior;
Sextilha:
1º Terceto: Fá# menor, Si menor /// 2ªLá, Lá maior;
2º Terceto: Fá# menor, Si menor /// 2ªLá, Lá maior;
Refrão:
1º Dístico: Lá maior, 2ªLá /// 3ªLá maior, Lá maior, 2ªLá, Lá maior;
2º Dístico: Lá maior, 2ªLá /// 3ªLá maior, Lá maior, 2ªLá, Lá maior;
Informação complementar:
Canção musical com refrão, em compasso 3/8 e tom de Lá Maior, de grande beleza melódica e soberbamente interpretada pelo seu “criador”, Luiz Goes. Cantiga gravada em Dezembro de 1971 por Luiz Goes, acompanhado à viola de cordas de nylon pelo próprio João Gomes e pelo Dr. António Toscano: LP “Dr. Luiz Goes – Canções de amor e de esperança”, Columbia, 8E 062 40179. Obra reeditada ainda em vinil no duplo álbum “O Melhor de Luiz Goes”, EMI-VC, 7919321, ano de 1989, disco 2, Lado 1, faixa nº 1. Gravação remasterizada em compact disc:
-CD “O Melhor de Luiz Goes”, EMI-VC, 791932 2, ano de 1989, faixa nº 13;
-CD “Dr. Luiz Goes – Canções de amor e de esperança”, EMI-VC, 7243 8 33479 2 6, s/d, faixa nº 1, reproduzindo integralmente o LP de 1971;
-CD “Luiz Goes – Homem Só Meu Irmão”, EMI-VC (Caravela), 7243 8 53098 2 3, compilação de 1996;
-CD “Luiz Goes – Canções para quem vier. Integral (1952-2002)”, EMI-VC, 7243 5 80297 2 7, ano de 2002, cd nº 3, faixa nº 7, contendo o livreto diversos textos e a transcrição das letras por José Anjos de Carvalho.
A letra transcrita corresponde à fixação definitiva do texto pelo próprio autor, Dr. Leonel Neves, que efectuou a respectiva revisão e pontuação a pedido de José anjos de Carvalho na sua casa de Odeáxere, Algarve, no Verão de 1997.
Esta obra, gravada pelo barítono Luiz Goes no tom de Si Maior, embora não seja harmonicamente muito rica, constitui um todo eficazmente elaborado em termos de melodia, acompanhamento e de interpretação vocal. Obra de época, reflectindo a estética do NOVO CANTO que refrescava à distância a então moribunda Canção de Coimbra, “Cantiga” enuncia no próprio título um projecto de resgate de um dos pilares mais esquecidos do ideário iluminista transformador, a Fraternidade. A letra remete o auditor para o mundo dos possíveis utópicos, tendo em conta as amargas desilusões trazidas pela Primavera Marcelista. Noutras vozes, esta cantiga poderia facilmente resvalar para universos próximos, tipo as canções em voga do Padre Zezinho (José Fernandes de Oliveira), de certa forma comprometido com o movimento brasileiro da Teologia da Libertação, com cantigas libertárias “a la mode” como a infinitamente trauteada “Canta, canta amigo canta” (António Macedo) ou, até para contextos pop-hippies marcados por modinhas género “If you come to San Francisco”.
Se “Cantiga” não chegou a fazer furor nas vozes conimbricenses adultas – nem sequer no discípulo Jorge Cravo - , teve o condão de transformar-se em canção popularizada nas vozes de escuteiros, figurando em cadernos manuscritos de letras (com anotação dos tons para viola) entoadas durante o último quartel do século XX nos encontros de jovens católicos.
Esta canção foi gravada em contexto fadístico por Rui Gomes Pereira, acompanhado à guitarra por José Luís Nobre Costa e António Parreira e, à viola, por Francisco Gonçalves (LP Riso e Ritmo FF LP 30096).
Pesquisa e texto: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Transcrição musical: Octávio Sérgio (2005)
Agradecimentos: Dr. Leonel Neves, Dr. António Toscano.
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