domingo, janeiro 08, 2006


"Trajo Académico Feminino" no Brasil (1951)Posted by Picasa
Até ao ano de 1954 não se observou utilização de uniforme pelas alunas matriculadas na UC. As primeiras tentativas de apropriação da Capa e Batina pelas alunas estão registadas, datando de finais da década de 1940. São casos pontualíssimos, ligados a alunas da Faculdade de Letras que também integravam o TEUC. E nestas situações a opção recaiu sobre as peças do modelo tradicional masculino prevalecente a partir da Revolução de 1910, com substituição da camisa por blusa branca e da calça comprida pela saia.
A fotografia diz respeito ao modelo de Fato/Saia/Casaco preto, de tipo executiva, gerente ou secretária de escritório, ou mesmo tailleur de luto generalizado na época, complementado por Capa preta de estudante, sapato preto, blusa branca, gravata/ou laçarote preto e meia "cor de carne". As alunas do TEUC, pelo que conseguimos apurar não pretendiam instaurar na Academia de Coimbra um Trajo Feminino. Não houve assembleias, nem votações, nem requerimentos ao Conselho de Veteranos, nem editais reitorais. Tentaram apenas solucionar economicamente um problema pontual, relacionado com a carestia e incómodo dos vestidos de gala que teriam de comprar para utilizar nas cerimónias brasileiras destinadas a receber o TEUC.
O Conselho de Veteranos viria a decretar este figurino como Trajo Académico Feminino da Academia de Coimbra em 1954, ficando doravante interdito o uso de insígnias de quartanistas e quintanistas sem o dito "trajo" (ao arrepio da já velha tradição que permitia que as alunas trouxessem pastas e insígnias com traje civil e Capa de estudante). Quanto aos antigos costumes, apenas se autorizou que em contexto de Baile de Gala das Faculdades, as alunas pudessem ir bailar com vestido de noite "futrica" e Capa de estudante.
Na falta de investigação aprofundada, por arrastados anos se foi dizendo que antes da iniciativa TEUC, pela década de 1940, alunas do Orfeon da Universidade do Porto vestiram um modelo de fato preto mais ou menos próximo do que vingou em Coimbra. Os poucos dados disponíveis para o mundo universitário e demais ensino superior confirmam a primazia da Academia do Porto nesta matéria, o que não é igual a corroborar a ideia enraizada de que o Trajo Académico Feminino (o tailleur) surgiu no microcosmo do Orfeon da UP.
Não andaremos longe da verdade se colocarmos o alfa desse modelo em alguns antigos Liceus, por alturas do grande regresso das tradições estudantis (consulado do Presidente Sidónio Pais), com pistas iconográficas documentadas na década de 1920, para o caso de um liceu portuense, como bem no-lo demonstrou João Caramalho Domingues (uma foto de 1925). O Decreto Nº 10. 290, de 12/11/1924, que veio "nacionalizar" a Capa e Batina, tornando-a extensiva aos alunos de ambos os sexos das universidades, escolas superiores e liceus (art.º 1), não comportava qualquer novidade no plano da usança masculina.
A novidade residia no alargamento oficial às discentes, pois a expressão "modelo tradicional" não explicitava se era o modelo masculino (Capa Talar+Batina) com saia, ou se haveria lugar a adaptações. O referido decreto foi elaborado pela Direcção Geral do Ensino Secundário, mediante proposta do próprio Ministro da Instrução (=Educação), certamente como corolário de um processo de uso em crescente generalização confirmado ou insistentemente requerido pelos reitores/reitoras dos liceus. A bainha dos vestidos estava em processo de subida para a linha do joelho e a imagem da "Maria-Rapaz" não seria bem vista nos corredores e salas de aulas dos liceus. Sempre era mais "decente" aos olhos dos docentes e reitores/reitoras um uniforme escuro com Capa.
Em Testemunho recente, José Anjos de Carvalho confirmou que no seu tempo do Liceu de Évora, pela década de 1940, bastantes alunas iam às aulas com "Capa e Batina", isto é, Saia preta, Blusa branca, Casaco preto "de três quartos" e Capa Talar. No Inverno apareciam alunas com Gorro comprido à Coimbra. Como se pode ver, este relato reporta-se à 2ª metade da década de 1940, e o conjunto vestimentário pouco ou nada difere daquele que veio a vingar em Coimbra a partir de 1951. As alunas da Faculdade de Letras da UC limitaram-se a transpor para a sua Universidade práticas que já tinham observado nos liceus onde tinham feito os estudos secundários, práticas essas iniciadas pelo menos nas duas primeiras décadas do século XX, primeiro de forma espontânea, depois com a sacralização do decreto ministerial de 1924.
Fotografia: Dra. Lucília Abreu
Texto: AMNunes

relojes web gratis