sábado, fevereiro 18, 2006

FADO DA DESPEDIDA DO 5º ANO MÉDICO de 1927-1928
Música: Manuel Raposo Marques (1902-1966) e Eduardo Vaz Craveiro
Letra: Eduardo Vaz Craveiro
Origem: Coimbra
Data: 1928





















Foram-se as fitas queimadas
E o fumo subiu no ar;
Ao ver o fumo das fitas
Senti a alma a chorar.
*
Oh meu amor pobrezinho!
Oh minha esguia andorinha!
Toma lá, faz o teu ninho
Na minha capa velhinha.
*
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do Acompanhamento:
1º Dístico:
-Fá menor, Sol 7 /// 2ª Fá, Fá menor;
2º Dístico
-Fá Maior, Fá 7, Si b menor /// Fá menor, Sol 7, 2ª Fá; (1ª vez)
-Fá menor, Fá maior, Fá 7, Si b menor /// Fá menor, 2ª Fá, Fá menor; (2ª vez)

Informação complementar:
Composição musical estrófica em compasso quaternário (4/4) e tom de Fá menor, feita no primeiro semestre de 1928 para a récita de despedida dos quintanistas de Medicina da UC, com estreia no Teatro Avenida a 25 de Maio de 1928. A peça teatral tinha por título “O veneno das seringas”, com assinatura de José de Matos Braz e Eduardo Vaz Craveiro. Terá sido o co-autor, Eduardo Vaz Craveiro, a estrear esta composição no palco do Avenida, possivelmente no tom de Mi menor, com a seguinte letra original:

Guitarras!... Nossas guitarras,
De voz troveira em saudade;
Chorai mansinho, chorai
Num adeus à Mocidade.
*
Foram-se as fitas queimadas
E o fumo subiu no ar;
Ao ver o fumo das fitas
Senti minh’alma a chorar.
*
E o fumo sempre subindo
Foi a perder-se nos Céus,
Como a dizer que partia
A pedir por nós a Deus.
*
Oh meu amor pobrezinho!
Oh minha esguia andorinha!
Toma lá, faz o teu ninho
Na minha capa velhinha.

Espécime primeiramente gravado por Armando Goes, em Setembro de 1929, acompanhado à guitarra por Albano de Noronha e, em violão, por Afonso de Sousa: disco de 78 rpm His Master’s Voice, E.Q. 238, master 30-1725.
A interpretação de Armando Goes é excepcional em termos de dicção, ritmo, e enfatização dos tempos fortes, marcada por um raro vigor expressivo. Apoiam o cantor Albano de Noronha (guitarra) e Afonso de Sousa (violão), na execução de um bom arranjo de acompanhamento.
Segundo informação de Eduardo Dinis Gomes Vaz Craveiro, filho do autor da letra, a música foi feita por Raposo Marques de parceria com seu pai e não só por Raposo Marques. Porém, na discografia só figura o nome de Raposo Marques como autor da música.
Conforme se pode atestar, Armando Goes canta a 2ª e a 4ª quadras do texto original, alterando o 4º verso da 2ª quadra para «Senti a alma a chorar».
Este “fado de despedida”, com as duas quadras da gravação Armando Goes, foi cantado nas Serenatas de Coimbra, transmitidas na 2ª metade da década de 1940 pela Emissora Nacional. As referidas emissões costumavam ocorrer aos domingos pelas 23 horas, com retransmissão às 6ªs feiras, por volta das 13:30 horas. Fernando Rolim gravou este mesmo“fado de despedida” em 1958, sob o título “Fado de Despedida” (Ó meu amor pobrezinho), acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, em violões de cordas de aço, por Aurélio Reis e Mário de Castro: EP “Fernando Rolim”, Parlophone, LMEP 1028, invertendo a ordem das referidas duas quadras. A referida gravação veio a ser reeditada no LP “Fados e Baladas de Coimbra”, Parlophone-VC, 8E 046 40 169, de cerca 1971.
Esta composição foi cantada na Sé Velha, na Serenata Monumental da Queima das Fitas de 5 de Maio de 1989 pelo estudante de Direito Rui Silva, acompanhado pelo Grupo Académico de Fados e Canções de Coimbra: António José Moreira/Henrique Ferrão (gg) e José Carlos Ribeiro/Luís Miguel Martins/Manuel Pêra Fernandes (vv).
Com o título encurtado para “Fado da Despedida”, encontra-se gravado por Rui Silva, na cassete “Tempos Idos”, Coimbra, public-art 09508, ano de 1995, Lado A, faixa nº 4, acompanhado por Octávio Sérgio/José dos Santos Paulo (gg) e César Nogueira (v). Manuel Raposo Marques é o único autor indicado neste registo.
Por seu turno, a versão Fernando Rolim foi gravada pelo cantor activo na Região do Porto Carlos Costa, acompanhado pela formação Rocha Ferreira/Tomás Silva (gg) e Manuel Valdrez/Francisco Costa (vv): LP “Do Coupal até à Lapa”, Horizonte, LPS-21, ano de 1984, vertido no CD “Carlos Costa. Quarteto de Coimbra”, Horizonte, CDH-081, ano de 1994. O único autor mencionado é Raposo Marques.
A estrofe “Ó meu amor pobrezinho” sofreu grande popularização em Coimbra, constando numa composição da autoria de Francisco Serrano Baptista, na qual o título reproduz o incipit.
Na tradição oral conimbricense, esta composição costuma, não raras vezes, ser imputada a Adélia Raposo Marques, esposa de Raposo Marques (MRM). Cremos que se trata de um rumor posto a correr pelos detractores de MRM, pois conforme se pode ver, a presente composição foi feita por MRM+Vaz Craveiro. À data da feitura da obra, MRM e Vaz Craveiro eram membros do Orfeon Elias de Aguiar, e solteiros.

Transcrição musical: Octávio Sérgio (2006)
Texto e pesquisa: José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes
Agradecimentos: Eduardo Dinis Gomes Vaz Craveiro, António Serrano Baptista

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