Tricana de mantéu
O trajo popular das mulheres de Coimbra reflecte longa e multifacetada evolução até à consagração do clássico figurino tão apreciado nos postais ilustrados, clichés turísticos, capas de discos e até películas (ocorre no "Capas Negras", 1947). O mais antigo trajo de tricana, documentado e reconstituível, remonta ao século XVIII, com prolongamentos conhecidos ao longo do 1º quartel do século XIX. O conjunto aqui documentado reporta-se seguramente aos alvores do século XIX, tendo em conta o lenço encharolado pelo alto pente de tartaruga. No "Vocabulário Português e Latino", edição de 1712-1727, o Padre Rafaeal Bluteau refere laconicamente que "tricana" era não a portadora de uma determinada peça de vestuário, mas sim o "mantéu". O vocábulo sofreu evolução e conquistou novos sentidos, pois em finais desse século já teria passado a designar a mulher de Coimbra portadora de mantéus e mantilhas.
Descrição: figura feminina com saia azul rodada e plissada no cós, com tecido de raminhos encarnados, casaquinha carmezim de abotoadura sobreposta, blusa branca, chinelo preto, pente alto de tartaruga, lenço de seda e mantéu castanho. Não sendo exactamente uma saia, o mantéu como que imita a saia-de-fora das camponesas do século XVIII. Em algumas terras, na falta de guarda-chuva, as mulheres do povo recorriam à saia-de-fora que atiravam sobre a cabeça, ou à saia-de-ombros (versão rústica do mantéu, caso da Ilha Terceira). Ainda em termos comparativos, importa anotar algumas semelhanças entre a Tricana do Mantéu e a gravura da "mulher de Lisboa com capote", oriunda de um desenho de Labrousse (cf.Gustavo Mattos Sequeira, "História do Trajo em Portugal", Porto, Lello & Irmão, sem data, pág. 39).
A tricana, imaginada mulher e não peça de vestuário, foi popularíssima em Coimbra, Baixo Mondego, Aveiro, Ovar, Murtosa e até Póvoa de Varzim.
Reconstituição e foto: Doutor Nelson Correia Borges para o Grupo Folclórico de Coimbra
AMNunes
<< Home