sábado, julho 29, 2006

FADO DE SAUDADE

Música: autor não identificado
Letra: autor não identificado
Incipit: Acorda varanda louca
Origem: Porto?
Data: 1º decénio do século XX


Acorda, varanda louca,
Desse teu sonho enlevado,
Vem gozar a fresca rosa,
(Ai2) Vem ouvir cantar o fado.

(Ai1) Guitarra, minha guitarra,
Eu hei-de chorar contigo,
Sinto mais amargo pranto
(Ai2) Quando alguém chora comigo.

(Ai1) Pedi-lhe um beijo corou,
Pedi-lhe outro, sorriu,
Todos os demais que eu lhe dei
(Ai2) Foi ela quem m’os pediu.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se
Esquema do acompanhamento:
1º Dístico: Mi M, 2ª Mi///2ª Mi, Mi M;
2º Dístico, 1ª vez: 2ª Si, Si M///2ª Si, Si M;
2º Dístico, 2ª vez: 2ª Si, Si M///2ª Si, Si M (2ª Mi, excepto no final da 3ª quadra)

Informação complementar
Serenata estrófica em compasso quaternário (4/4) e tom de Mi Maior, com melodia algo incaracterística, representativa do repertório em voga na Belle Époque nos meios urbanos de Coimbra e Porto. A versão vulgar coimbrã seria conhecida pelo título “Fado do Penedo da Saudade”.
Na última cidade este tipo de reportório vinha a conhecer grande popularidade desde os anos em que Manassés de Lacerda ali se afirmara (ca. 1904-1909). Por muitos anos após a partida do cantor e compositor amador para o Brasil, ainda havia quem recordasse no Porto as incursões serenateiras de Manassés, Rua do Almada acima, dedilhando acordes de violão e atroando os céus com a sua voz.
Embora não inicialmente gravado com guitarra, o presente espécime foi composto e popularizado num dos momentos áureos do toque de guitarra em afinação natural. Bastavam dois a três acordes, alternando tónica e dominante, para se esboçar os rudimentos do acompanhamento do canto masculino a solo, elementarismo que a maioria dos tocadores de violas de arame regionais portuguesas já tinha de há muito superado.
Não dispomos de quaisquer elementos indiciadores da autoria da música, embora a tipologia deste espécime permita intentar uma aproximação ao círculo portuense de Manassés de Lacerda.
Espécime gravado ca. 1911, possivelmente na cidade do Porto, pelo tenor Luiz Ferreira, com acompanhamento de estudantina (Disco de 78 rpm Favre. 45612). Temos notícias de que os testes de prensagem ocorreram em 11 de Abril de 1911. Tendo em conta as insuficiências tecnológicas da época, a matriz é bastante audível.
Como fonte utilizámos uma cassete proveniente do arquivo pessoal do Dr. Aurélio dos Reis, tratada pelo Dr. Octávio Sérgio, onde este espécime figura identificado com designação de “Fado do Penedo da Saudade”. A 2ª quadra é uma variante da 5ª copla do “Fado das Ruas”, presente no reportório impresso de Manassés de Lacerda. A 3ª quadra tem variantes. No “Cancioneiro”, de Fernando Pires de Lima, a págs. 41, consta a seguinte:

Dei-te um beijo e tu coraste,
Dei-te outro e tu sorriste,
Os mais que te tenho dado
Foste tu que m’os pediste.

Luís Ferreira, que também gravou “Fado das Lágrimas”, não foi um cantor activo em Coimbra, embora cantasse temas do reportório Manassés e seguisse o estilo interpretativo Manassés.

Transcrição musical: Octávio Sérgio (2006)
Texto: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Agradecimentos: Dr. Aurélio dos Reis; José Moças (Tradisom)Posted by Picasa

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