O Grupo Folclórico da Universidade de Coimbra/Casa do Pessoal surgiu em 1985, tendo assinalado em Junho de 2006 os seus 21 anos de actividade regular.
Maioritariamente constituído por funcionários da UC e dirigido artisticamente nos anos iniciais pelo Prof. Doutor Nelson Correia Borges, o GFUC rapidamente grangeou enorme prestígio. O sucesso do GFUC ficou a dever-se nesses anos de arranque à persistência dos seus associados e a equipas de gestão consistentes que apostaram em linhas de actividade cultural muito sólidas.
Dentre elas, destacaríamos:
-a mais valia resultante da utilização dos rigorosos e exaustivos conhecimentos do Doutor Nelson Correia Borges, ontem como hoje a maior autoridade viva em matérias de folclore conimbricense;
-o acesso a fontes sonoras arquivísticas raras, provenientes do antigo Emissor Regional, arquivos particulares e do antigo Rancho das Tricanas de Coimbra;
-o derradeiro acesso a recolhas testemunhadas por idosas credíveis como a tricana Silvina Gata;
-a ruptura aberta e ostensiva em relação aos "ranchos Fnat", em termos de tocata e de figurino. Sob orientação de Nelson Borges, o GFUC não aderiu à onda massificadora dos acordeãos e tambores, tendo apostado na reconstituição das tocatas conimbricenses à base de cordofones. Foram os anos das violas toeiras, do cavaquinho, do bandolim, da rabeca, do violão e da guitarra de Coimbra. Escusado será dizer o quanto este tipo de tocata "ecológica" seduziu;
-total afastamento em relação aos grupos que até 1974 apresentavam "trajos domingueiros" idênticos, redundando em autênticas ficções daquilo que fora a diversidade e multiplicidade da vestiária popular. Enjeitando o "trajo-farda", ou de tipo "teatro de revista", o GFUC delimitou um espaço de credibilidade, tirando partindo da apresentação cronológica de trajos em termos de gestão dos seus espectáculos. Esta recusa era extensiva à negação radical de qualquer proximidade ao cliché turístico, cinematográfico e menu casa de fados que associava a parelha vestimentária tricana/estudante;
-reconstituições credíveis de antigas práticas culturais citadinas como as Fogueiras de São João, a Feira dos Lázaros, as serenatas populares e a visitação dos Presépios;
-redefinição correcta da historicamente recente Canção de Coimbra não como a "única e autêntica música de Coimbra", mas como uma das várias manifestações em que se desdobra e afirma a Música Tradicional de Coimbra;
O GFUC vinha ocupar um espaço vazio, não preenchido desde o lento esvaimento do velho Rancho das Tricanas de Coimbra. Mas não lhe retomou as linhas de rumo, sobretudo na rejeição da tocata à base de jazzes (que fizera época nas gestões do maestro César Magliano) e no fazer tábua-rasa de composições assinadas por membros do agrupamento.
O primeiro ciclo de actividade do GFUC resultou na gravação de uma excelente cassete onde figuram 13 temas recolhidos e reconstituídos com o rigor possível. Permito-me respigar, pela elevada qualidade dos desempenhos, os temas "As Camélias" e o "Estalado".
Entre 1988 e 1991 fui assíduo frequentador do GFUC, cujos demorados e penosos ensaios de canto, dicção, tocata e dança, acompanhei na Cave do Edífício das Químicas, no sótão do Colégio dos Grilos e na almejada sede, nos baixos do Hospital Velho.
Depois, a vida seguiu outros rumos. Eu afastei-me de Coimbra. O GFUC viveu momentos de instabilidade interna e reorganizou-se. Em 1998 gravou uma cassete e em 1999 o CD "Flores de Coimbra".
Para ouvir e com merecido aplauso: cassete "Coimbra dos Futricas e das Tricanas", Grupo Folclórico da UC da Casa do Pessoal, Porto, Rapsódia CR 885, ano de 1993
Lado 1: Jovens Sereias, Carinhosa, Vira de Coimbra, Farrapeira, Esta Calçadinha, Manuel tão Lindas Moças, Romance do Cego
Lado 2: Toutinegra, Folgadinho, As Camélias, Estalado, Com a Pena, Ao Menino Deus
Na referida gravação, a tocata é constituída por rabeca, guitarra de Coimbra, cavaquinho, bandolim e violão. Por razões que desconheço, à data do registo já não eram utilizadas as duas violas toeiras que inicialmente integravam a tocata. O grosso do reportório é vocalizado por coro misto (vozes masculinas e femininas), de acordo com a antiga tradição conimbricense. Em alguns espécimes há solos: masculino versus feminino no lundum Folgadinho, masculino e feminino no Romance do Cego e inteiramente feminino no Vira Valseado de Coimbra.
AMNunes
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