quinta-feira, julho 13, 2006

"O fado de Coimbra

Fado tradicional de Coimbra, muito ligado às tradições académicas da Universidade de Coimbra. É exclusivamente cantado por homens. Tanto os cantores como os músicos vestem de negro. Os temas respeitam os amores estudantis e o amor pela cidade. O mais conhecido dos fados de Coimbra é Coimbra é uma canção, que teve um êxito assinalável em toda a Europa com a letra Avril au Portugal."

O título e a pseudo-tentativa de definição foram extraídos do endereço «http://pt.wikipedia.org/wiki/Fado», numa ilustração clara do anedotário que habitualmente rodeia a Canção de Coimbra. Lendo os dicionários e enciclopédias, sobra-nos a impressão de que em matérias de História da Canção de Coimbra vence o signatário que lançar a pior das enormidades, como se estivéssemos em presença de um qualquer concurso do tipo "a Canção de Coimbra em disparates". A fraseologia empregue não define rigorosamente o objecto. A alusão ao negro é flutuante e imprecisa. A exemplificação temática é pobre e dogmática. A escolha do tema é anedótica. "Coimbra é uma lição", de Raul Ferrão/José Galhardo, não é nem nunca foi um tema da CC. Começou por ser uma cançoneta ligeira, divulgada no âmbito de teatro de revista do Parque Mayer, que conheceu sucesso no Brasil, França e EUA, após a interpretação de Amália Rodrigues no ainda hoje controverso filme "Capas Negras" (1947). Até 1974 esta canção foi veementemente rejeitada em Coimbra, tanto nos sectores de direita como nos de esquerda, símbolo da mistificação cultural e da tentativa de manipulação da cultura tradicional académica pela indústria de bens culturais de consumo massificado. Parece, no entanto, que após 1974, a pós-modernidade e a amnésia se foram encarregando de alterar o estatuto da "Coimbra é uma Lição". Espera-se pois que a Wikipédia seja menos WIKI e mais PÉDIA!

(O facto de a Wikipédia se afirmar como uma "enciclopédia" digital aberta à edição/correcção/acrescentamento indiferenciado de matérias e de "autores", não constitui desculpa para a consagração da asneira. Continuo a pensar que uma enciclopédia deve ser escrita por especialistas nas várias matérias abordadas, sob pena de constituir um repositório de tolices e de bárbaras banalidades. O facto de termos opiniões sobre o futebol ou sobre a mecânica automóvel não nos certifica nem habilita de forma rigorosa e credível para assinarmos textos em dicionários e enciclopédias relativos a tais assuntos. Como tal, o argumento da "boa vontade" não colhe. Boa vontade não necessáriamente sinónimo de qualidade/substância. Quanto à necessidade e acuidade de uma boa definição do que seja a Canção de Coimbra, não vejo que lá se possa chegar sem muito trabalho de bastidores e longas reflexões multidisciplinares. Podemos começar por dizer que é um Género Artístico eclético, nascido na Alta de Coimbra na transição do Barroco para o Romantismo oitocentista. E convém parar por aqui! Tudo o mais será temerário, ou de "árdua definibilidade", como já escreveu Armando Luís de Carvalho Homem, sobretudo quando os atávicos e armadilhados pecadilhos do costume espreitam: a) o alinhamento acrítico da Canção de Coimbra na grande família do FADO; c) a espúria redução de um género artístico multifacetado a uma espécie de "essência" plasmada nas composições estróficas)

AMNunes

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