O que é o "Guitarrinho de Coimbra"? Requinta da Guitarra de Coimbra? Bandolim de fabrico menos perfeito? Talvez Cavaquinho?
Desde a 2ª metade da década de 1980 nos foram chegando referências soltas ao "guitarrinho". Ernesto Veiga de Oliveira tinha falado deste cordofone, por alto, referindo que nas décadas de 1950-1960 era muito exportado de oficinas bracarenses para clientes da Região de Coimbra. Falava-se da eventual existência de exemplares num coleccionador particular de Tentúgal e nalgum dos herdeiros do salatina José Lopes da Fonseca. Quanto ao resto, nem vê-los.
No dia 15 de Maio de 2006, Octávio Sérgio fotografou uma réplica do Guitarrinho (exemplar de Tentúgal), exposta na banca do violeiro Adérito Marques, na VI Feira do Artesanato de Coimbra (12 a 18 de Maio de 2006). Por Adérito Marques, com oficina em Andorinho, soubemos que já expusera uma réplica do Guitarrinho na mesma feira, em Maio de 2005. Adérito Marques teve acesso ao coleccionador de Tentúgal, "Zé do Arménio", por intermédio do Dr. José Machado Lopes, dimâmico e zeloso membro do Grupo Etnográfico de Defesa do Património e Ambiente da Região da Pampilhosa.
O exemplar exposto na Feira do Artesanato de Coimbra/2006 era uma encomenda feita pelo Dr. Machado Lopes. Tratava-se de uma réplica modernizada, ao nível da caixa, pá e afinadores. O construtor informou-nos que adoptara a afinação natural Ré, Si, Sol, Sol, que nos parece corresponder à afinação do cavaquinho da Região de Braga no toque rasgado (afinação de varejar"). Pelo Dr. Machado Lopes ficámos a saber que em Tentúgal o Guitarrinho seria utilizado como instrumento de iniciação de alunos que pretendiam aperfeiçoar-se no bandolim. Neste caso, afinação adoptada seria Mi, Lá, Ré, Sol, e não a proposta por Adérito Marques.
O único exemplar existente em Coimbra, do nosso conhecimento, corresponde à fotografia supra, realizada na casa de habitação de Maria José Lopes, filha do famoso tocador de violão, barbeiro, serenateiro e actor amador José Lopes da Fonseca (1883-1976), dito Zé Trego.
No caso de Coimbra, o Guitarrinho era encordoardo com 4 cordas de aço fino, afinado e tocado de rasgado, exactamente como se de um cavaquinho se tratasse. A sua afinação era Ré, Sol, Si, Mi.
O exemplar de Zé Trego sofreu um restauro muito pouco primoroso, realizado por intermédio da casa Olímpio Medina. Como está, torna-se impossível afiná-lo e tocá-lo.
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Em 12-2-09 recebi o seguinte e-mail:
Venho por este meio fazer uma rectificação da afirmação feita relativamente ao restauro efectuado ao guitarrinho de Coimbra, efectuado pela Casa Olímpio Medina, que em boa verdade foi bem feito, tendo a afirmação de que era impossível afiná-lo e tocá-lo ter sido consequência de uma simples troca de cordas.
Tendo sido resolvido o problema das cordas, é pois possível tocá-lo e mantém também o som original aguitarrado.
A autoria desta rectificação é do actual detentor do referido guitarrinho e neto de José Lopes da Fonseca ( Zé Trego).
Tendo sido resolvido o problema das cordas, é pois possível tocá-lo e mantém também o som original aguitarrado.
A autoria desta rectificação é do actual detentor do referido guitarrinho e neto de José Lopes da Fonseca ( Zé Trego).
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Daquilo que vimos, fotografámos e medimos: estamos em presença de um cavaquinho em forma de bandolim. O braço está dividido em 17 trastos de latão amarelo, sendo a escala em madeira de pau-santo, com ligeiríssimo abaulamento. O comprimento da corda vibrante é de 48 cms. Tem boca redonda, com 6 cms de diâmetro. A ornamentação é muito frugal, tipicamente coimbrã. A ilharga, junto ao atadilho, mede 6 cms, e 5,5 cms ao cepo. Junto à pá, a largura do braço tem 4,5 cms, e 5 cms no rebordo da boca. A pá de madeira, com 4 cravelhas, mede 14 cms de comprimento. A caixa, de configuração piriforme, mede 28cms por 35 cms.
Na réplica de Adérito Marques, o construtor empregou pau preto na escala, spruce no tampo superior e cipreste nas ilhargas e fundo.
Morreu o Guitarrinho, longa vida ao Guitarrinho de Coimbra!
Agradecimentos: com um especial abraço ao Dr. José Machado Lopes; a Maria José Lopes pelas inesgotáveis e sentidas coisas que conta da sua Alta Salatina
AMNunes
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