terça-feira, agosto 15, 2006


Observatório Posted by Picasa
O espaço correspondente à actual mole da BGUC e Arquivo já foi muita coisa: Paço Real Medieval, Real Colégio de São Paulo-o-Apóstolo, Teatro Académico, Orquestra do Teatro Académico, Instituto de Coimbra, Clube Académico, Associação Académica, terreiro de danças e cantorias sanjoaninas e Faculdade de Letras ( a antiga "Peneira", do Arqt. Silva Pinto).
Na década de 1940, a Comissão Administrativa das Obras da Cidade Universitária de Coimbra, presidida pelo Rector Magnificus Maximino Correia, decidiu erguer nova Faculdade de Letras e aproveitar a antiga para Biblioteca Geral e Arquivo.
Concebeu a remodelação das fachadas, ampliação da fachada tardoz para Arquivo e transformação dos interiores o arquitecto Alberto Pessoa, também ele autor da nova Faculdade de Letras e... do polivalente da AAC! A estética seguida respeitou as linhas orientadoras do Ministério da Obras Públicas e do próprio regime, com Alberto Pessoa a reproduzir as linhas duras e glaciais do "Classicismo Monumental Totalitário" (conseguida expressão do Prof. Doutor António Nuno Rosmaninho Rolo) comum às ditaduras do período de entre guerras.
O Arquivo, cujo pórtico atarracado é verticalmente sublinhado por quatro colossais pilastras, demarca a entrada deste "templo da sabedoria".
Avançando em direcção à Couraça, apercebe-se o vulto do Colégio de São Pedro (antigo colégio universitário, fora Secretaria Geral e primitiva Faculdade de Letras), em prolongamento da Reitoria. Logo a seguir, sobre a plataforma do Pátio das Escolas, erguem-se a fachada posterior e a cúpula do Observatório Astronómico. A breve trecho, o Observatório seria demolido (parece que por insistente e convincente sugestão de Salazar) com o argumento de que era necessário libertar as vistas sobre o Mondego, Santa Clara e o Vale do Inferno. Remodelado o Colégio de São Pedro, abatidas as árvores do frondoso Pátio das Escolas, demolido o Observatório, em seu lugar inaugurou-se no ano de 1950 uma faraónica estátua de D. João III assinada pelo escultor Francisco Franco. O Rei D. João III, festivamente celebrado pelo regime e pela UC em 1936 (4º Centenário da Instalação Definitiva em Coimbra), não era lembrança grata aos opositores do regime. Odiado pelos iluministas e pelos pensadores liberais leitores da obra de Alexandre Herculano, D. João III demorava o introdutor da Inquisição em Portugal.
Desolado com as obras em curso, João Falcato crisma o terreiro deflorestado de "campo de futebol", "picadeiro" e "deserto". Observando indignado a estátua de D. João III, não se contém e verbera: "Mas esperem, deixem ver... O que é aquilo, a meio? Acachapado, monstruoso, enorme e feio? É a estátua d'um rei - O D. João terceiro... Sei muito bem, sei muito bem!... Foi um fogueiro (...)".
Fotografia: "15 anos de Obras Públicas (1932-1947)", Lisboa, MOP, 1948.
AMNunes

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