Estátua da romana Minerva, com capacete e coruja numa das mãos. Símbolo da Sabedoria, Minerva ocorre no selo oficial da UC (interpretação mais facilmente aceite pela opinião laica), e em estabelecimentos como o Instituto Politécnico de Zurique e a Escola Politécnica de São Paulo (Brasil, 1893). Na pena dos memorialistas satíricos, Minerva é frequentemente invocada, incarnando dualmente a terna Mãe espiritual (Alma Mater) e a cruenta Madrasta que repele os "filhos" (vide balada de Durval Moreririnhas, gravada por Barros Madeira). Situações há em que a Universidade é designada por "Tasco de Minerva", numa comparação entre os ramos de louro das tabernas e os festões dos actos de investidura doutoral. Memorialistas houve que designaram a aquisição do saber como o acto de "beber o leite nas tetas de Minerva". Outros referem a imposição de insígnias como o ir buscar "os louros de Minerva".
Entre a fachada lateral da Biblioteca Joanina e a Rua Guilherme Moreira existem, conforme alvitra em "post" Rui Lopes, as ESCADAS DE MINERVA, sobre cuja porta se ergue uma estátua de Minerva com data de 1724. Porém, não é a esta Minerva que Trindade Coelho se refere no "In Illo Tempore", mas sim a uma escultura existente numa das salas de aula dos Gerais, anichada sobre a cátedra onde o lente "Chaves" lia as lições. Daí a esperançosa "reza" do curso jurídico para que a esfera armilar do ceptro de Minerva se despenhasse sobre a cabeça do lente:
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Minerva, faz-nos a esmola,
Se o pai dos Deuses consente:
Deixa cair essa bola
Sobre a cabeça do lente!
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O que é bem sintomático em toda a discussão, ora mais laica, ora de pendor mais religioso e cristão, sobre a alegoria da UC, é a crescente perda da força que se regista na produção externa da Sapiência entre a Reforma Pombalina de 1772 e as intervenções do Estado Novo. Por força da letra dos "Estatutos Velhos", a Sapiência, fosse em estátua de vulto redondo, fosse em selo ou relevo, deveria figurar ostensivamente em todas os edifícios a construir com vista a albergar a UC. Nas obras de D. João V como que se começa a observar uma predominância do brasão régio (fachada principal da Biblioteca Joanina), tendência afirmada com Pombal (apenas 1 exemplar no frontão da Via Latina) e Oliveira Salazar (1 exemplar na calçada à portuguesa da Porta Férrea; 1 deusa no grupo do cunhal da Fac. de Medicina, por Leopoldo de Almeida*). Tamanha desvalorização do sentido da autonomia da UC, face às investidas do Estado, só viria a sofrer uma inversão na fachada exterior do novo Auditório da Faculdade de Direito (Fernando Távora/Bernardo Távora, 2001).
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*No esboceto de 1952 para o referido grupo escultórico alusivo à Medicina (Fisiologia/Terapêutica/Bacteriologia/Patologia/Anatomia), Leopoldo de Almeida colocava-lhe ostensivamente no meio uma Palas Atena baseada no escultura de Fídias ("naos" do Partenon), numa pose guerreira, com lança e escudo alçado. Na versão final, concluída por 1955, não se reconhece Atena (perdeu o capacete à Fídias e o escudo alçado). Na obra de referência que temos vindo a seguir, Nuno Rosmaninho Rolo defende argutamente que o tema nuclear das artes plásticas da Cidade Universitária radica na figuração dispersa do SABER, que não da rentabilização do conceito de autonomia (corporativa) potenciado pela obrigação de engastar a SAPIÊNCIA nos novos edifícios (acrescento eu). Esta solução, significativa do colaboracionismo entre UC e Estado Novo, vazada no predicado mais Estado e menos Autonomia, afigura-se-nos estranha (ou talvez não), quando se sabe que um dos conselheiros das obras de arte para a Cidade Universitária foi o lente da casa e historiador Manuel Lopes de Almeida (bom conhecedor da matéria pois publicara com Mário Brandão uma "história" da UC). Para mais informações, vide Nuno Rosmaninho Rolo, O Poder da Arte. O Estado Novo e a Cidade Universitária de Coimbra, Coimbra, Imprensa da UC, 2006, pp. 277-283.
AMNunes
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