quarta-feira, novembro 22, 2006


Foto 10. 25º Centenário dos Matulões na nova casa (2). Foto enviada por Augusto Mota.Posted by Picasa
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[A figura de óculos escuros, com cigarro entre os dedos, é efectivamente o Prof. Doutor Orlando Alves Pereira de Carvalho, temido lente da Faculdade de Direito da UC, falecido em Coimbra no mês de Março de 2000.
O seu nome inspirava "temor reverêncial" e as suas orais alimentavam sofridas "cólicas". Sobre ele circulavam façanhudos mitos que chegavam a tentar credibilizar como pseudo-verídicas historietas de alunas grávidas que teriam abortado com o transtorno nervoso provocado pelo lente nas orais! Ler as suas sebentas, só com dicionário aberto. Uma vez sentado na cátedra, o Doutor Orlando de Carvalho transformava-se num actor, a um tempo caricato e sedutor. A peruca branca suscitava risinhos na plateia. Enquanto preleccionava, mantinha aberto um micro-canivete com o qual trinchava sementes que depois ingeria. A meio da lição tangia uma campainha e pedia ao archeiro de serviço que lhe trouxesse uma bica e um copo de água. A entrada do archeiro na aula era sempre motivo de risota, sobretudo quando o portador da bica e da água era o impagável archeiro Serrador. A lição era um momento único de erudição, debitada sem livros e sem notas auxiliares, no mais puro estilo de Cícero.
Fora dos actos orais e escritos, Orlando de Carvalho era um conviva fascinante e um humanista pleno. Inteligência vivíssima, ironia cáustica, estonteante cultura geral, gosto pela cavaqueira intelectual, verbo fácil, linguagem erudita, Orlando de Carvalho amava a leitura, o prazer da escrita, a poesia e o cinema.
Nos anos sessenta esteve ligado ao cineclubismo e à oposição ao Estado Novo, com ligações ao Partido Comunista. O seu discurso, em meu entender, tinha mais de costela republicana liberal do que de socialismo radical. Orlando de Carvalho, em podendo, não perdia um sarau no Teatro Académico, um centenário de uma República, uns dedos de sabatina à mesa do café, um discurso improvisado. Na década de 1980, com o ressurgimento das tradições académicas e dos saraus, não deixava de comparecer e de felicitar grandes declamadores como Aurelino Costa (aluno de Direito, da Póvoa de Varzim) e Maria José Bravo (aluna de Direito, do Seixal).
A sua obra académica publicada é escassa. Quanto a produção poética, deixou o livro "Sobre a Noite e a Vida. Poemas", Coimbra, Centelha, 1985. Tendo acompanhado a Crise Académica de 1969, com expresso apoio à causa dos estudantes, "prefaciou" o LP "Flores para Coimbra" (2º semestre de 1969), para o qual contribuíu com o poema TROVA DA PLANÍCIE (música de Francisco Filipe Martins). AMNunes]

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