Imagens sacras de São Damião e São Cosme existentes na Igreja de San Julián y Santa Basilisa, na cidade de Salamanca, revestidos com Loba e Insígnias Doutorais da Universidade de Salamanca. Os dois "doutores" vestem Loba de duas peças (sem mantéu), Murça (muceta) e Barrete de Borla e franjados pendentes. A Loba seria substituída na década de 1850 pela Toga de advogado. A Murça doutoral de setim manteve-se praticamente sem alterações. Em 1859 foram suprimidos alguns dos elementos que faziam distinguir nas Murças o estatuto de Bacharel, Licenciado e Doutor. Simultaneamente criou-se uma Murça de veludo preta para o Reitor e autoridades académicas.
O Barrete preto, de remate superior tetragonal, admitia Borla e franjados da cor de cada Faculdade. No Barrete doutoral a Borla de seda deveria cobrir todo o diâmetro da copa, comportando ainda franjados pendentes. No Barrete dos Bacharéis e Licenciados que fossem membros do corpo docente da Universidade de Salamanca, mantinha-se a normativa das cores segundo as Faculdades, mas a Borla reduzia-se a mero pompom de escassos centímetros. À semelhança de Coimbra, as graduações em Faculdades distintas autorizavam a mistura de cores nos botões da Murça (muceta) e ornamentação do Barrete, tradição que ainda subsiste nas duas universidades.
Relativamente à Universidade de Coimbra, olhada no contexto do Antigo Regime, a documentação e a iconografia dispersa atestam barretes muito próximos do modelo salamantino, autorizando:
-"Barrete Redondo", sem nervuras, com pega central, Borla farta e franjados pendentes, conforme se observa na estátua quinhentista de São Tomás de Aquino, relevos das sobreportadas dos Gerais, tecto da Sala do Exame Privado da UC e alguns retratos de reitores (Frei Diogo de Murça, Afonso do Prado, Martim da Câmara, Aires da Silva, Manuel de Abranches, etc.);
- "Barrete de Cantos", de copa tetragonal, com pega, Borla e franjados, quase idêntico ao de Salamanca, abundantemente pintado em retratos provenientes dos extintos colégios universitários, galeria da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra, retratos da Sala do Exame Privado (ex: Reitor André Furtado de Mendonça) e dispersos em paços episcopais portugueses.
Conforme escreve o pioneiro destas temáticas António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, numa fase mais recudada os dois tipos de Barrete detectados no Studium General Conimbrigensis , eram de base preta (como em Salamanca), estando autorizadas as cores oficiais das Faculdades na Pega, Borla e Franjados.
Infelizmente não conseguimos detectar, para o caso de Coimbra, documento algum onde se faça distinção de modelo de Barrete conforme os graus de Bacharel, Licenciado e Doutor. Mas não custa admitir que a diferenciação existisse. Os capelos (mucetas) não ofereciam supresa, podendo e devendo ser considerados quase idênticos aos usados na Universidade de Salamanca em feitio e cores oficiais das Faculdades. Até meados do século XVII a documentação que regulamenta o protocolo fala em veludo e setim mas não em alamares e rosáceas ornamentais. Pelas antigas normativas se sabe que os Bacharéis de Teologia e Medicina podiam usar nos actos e cerimónias Capelos de "seda" em branco e em amarelo, "lançados sobre os ombros", não os podendo "vestir" (abotoar). Também se sabe que nos actos (exames) para obtenção dos graus de Bacharel e Licenciado em Teologia os candidatos deveriam usar Capelo de tecido de seda branca, "deitado sobre os ombros" e não "vestido", próximo do existente em Salamanca. Embora estes Bacharéis e Licenciados, cuja insígnia distintiva era o Capelo de setim sem ornatos, fossem instados a apresentar-se nos "actos" de cabeça descoberta, não é determinante concluir-se pelo não direito ao uso de um Barrete mais singelo, particularmente no que toca elementos como a pega, a borla e os franjados.
Fotografia: Augustín Fernandez Albalá, editada na obra de Juan Rodriguez e Jerónimo de Castro, "Cerimonias y Grados...", Salamanca, Ediciones Universidad de Salamanca, 2004, foto 3, p. 37.
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