segunda-feira, janeiro 22, 2007


Carta da Aldeia (4)
Exemplo de um tema da CC não estrófico, nem sequer originariamente concebido para o universo serenil. Carta da Aldeia, de 1919, remete para a cultura de salão - os cultores da CC actuavam regularmente em convívios informais realizados em casas particulares da cidade de Coimbra e arrabaldes, sendo muitas vezes convidados para serões fidalgos e até festas de casamento - , bem como para a cultura de palco.
Este tipo de reportório podia ser acompanhado pela guitarra, quando havia uma guitarra presente, mas as soluções mais comuns passavam por formações do tipo orquestra de câmara+piano.
António Menano, cujo reportório é revelador de enorme versatilidade, foi um dos raros cultores deste tipo de composições. Onde posicionar este espectro reportorial? No tempo de António Menano ainda não se colocava peremptoriamente a questão do isto ainda é, e do isto já não é CC. E não se colocava porque ainda não tinha surgido o complexo conceito de "arte degenerada", cuja veemência se daria a conhecer na década de 1960. Entre a 2ª metade do século XIX e os inícios do século XX a questão resolvia-se simplisticamente com recurso à expressão "fados e guitarradas". Não respondia satisfatoriamente a tudo, mas resolvia empiramente algumas perplexidades. A "sagesse" dos cultores anteriores à década de 1940 poderia ter contribuído para uma reflexão mais conseguida, quando na 2ª metade da década de 1940 a apropriação radiofónica da CC optou pela muito discutível expressão "Serenata de Coimbra".
No Brasil, as dificuldades haviam sido resolvidas com recurso à distinção "Serenata"/"Seresta". Em Coimbra, como vimos havia a expressão vulgar "Fado/Guitarradas". E em recuando ao século XVIII encontraríamos "Serenata"/"Serenim"!
Documento enviado por José Anjos de Carvalho
AMNunes

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