quarta-feira, janeiro 17, 2007

Imagens da Canção de Coimbra (1)
Programa do Sarau de Gala da Queima das Fitas, realizado no Teatro Avenida em 24 de Maio de 1948, onde se mencionam dois momentos distintos de "Fados e Guitarradas" no acto de Variedades. Impressão na Tipografia Progresso, Coimbra, Maio de 1948, tiragem de 1.000 exemplares. Momento de afirmação da cultura de palco por excelência e de comunicação anual entre as formações académicas juvenis e o seu público, os espectáculos ditos de "Fados e Guitarradas" eram regularmente praticados em Coimbra desde a segunda metade do século XIX.
Apesar desta realidade constituir uma prática comum nos hábitos culturais da Sociedade Tradicional Académica, quando se tratava de "definir" o que fosse a CC, os próprios cultores ocultavam a sua dimensão de cultura de palco, optando por referir unicamente as serenatas de rua enquanto rituais de cortejamento.
Seria interessante intentar desvendar as razões que estiveram na origem destas sucessivas operações de ocultamento daquilo que era a multiplicidade de performances da CC. E na sequência destas indagações, valeria a pena sondar os motivos que conduziram os produtores de espectáculos de CC na antiga Emissora Nacional e RTP ao exaustivo uso da expressão "Serenata de Coimbra". Por essa época, os cultores brasileiros de serenatas já tinham resolvido satisfatoriamente este tipo de problema, com a distinção entre "serenatas" e "serestas".
Coimbra, com o impasse da "Serenata de Coimbra" na Emissora Nacional e RTP não configurou situação única de dificuldade na passagem de práticas culturais espontâneo-amadorísticas à fase da mercatilização do produto. Algo de muito semelhante ocorreu, pela mesma época, nas Ilhas do Pico e Faial (Açores) que que respeita à organização de grupos folclóricos. Na óptica dos directores e ensaiadores desses agrupamentos, deveria entender-se estritamente por "folclore" o reportório clássico das "folgas" (bailes campestres dados nas salas das casas rurais até finais da 2ª Guerra Mundial). Um tal entendimento restritivo conduziu a que as primeiras gerações de grupos folclóricos nunca tenham adoptado canções de trabalho, cânticos religiosos popularizados, canções e jogos infantis, folias do Divino Espírito Santo, romances velhos, cantares ao desafio, etc..
AMNunes

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