quinta-feira, abril 05, 2007


ANTÓNIO MENANO
(Fornos de Algodres, 05/05/1895; Lisboa, 11/05/1969)
V – Letras das Sessões Fonográficas
V.I – Sessão de Paris (1927)
Por José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes

FADO DO ALENTEJO
Música: António Paulo Menano (1895-1969), dedicada “À Exmª. Snrª. D. Leonor de Oliveira Rodrigues”
Letra: 1ª quadra de António de Sousa (1898-1981); 2ª quadra popular; 3ª quadra de Joaquim Afonso Fernandes Duarte (1884-1958)
Incipit: Maria, que lindo nome
Origem: Coimbra
Data: 1923

Maria, teu lindo nome
(Ai) Para as bocas sequiosas!
-Maria!... disse e ficou-me
A boca a saber a rosas.

Cerejas frescas, vermelhas,
(Ai) Suspensas pelos caminhos,
Sois os brincos das orelhas
Das filhas dos pobrezinhos
.

Quem ama liga-se à terra,
(Ai) Quem canta, ao reino dos céus;
Quem pára que Deus o salve,
Quem anda que vá com Deus.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Lá, 2ªLá 2ªLá, Lá;
2º dístico: Lá, 2ªLá 2ªLá, Lá;

Informação complementar:
Esta é a letra original que consta da edição musical da Sassetti, 1924, capa de Stuart de Carvalhais. António Menano gravou esta composição primeiramente em Paris, no início de 1927, interpretando-a em Mi Maior (discos Odeon, 136.802 e A136.802 – Og 752) e depois em Berlim, em Dezembro de 1928 (disco Odeon, LA 187.814 – Og 1011). Porém no 2º registo Menano substituiu a 2ª quadra por esta outra de sua autoria:

Maria, quero-te tanto
(Ai) Que só te peço que um dia,
Quando tu souberes o quanto,
Me queiras tanto, Maria!

O filho do cantor, Eng. Nuno Menano, informa que esta 2ª quadra (Maria, quero-te tanto) escreveu-a seu pai num retrato que no início do namoro mandou àquela que viria depois a ser sua mulher, Henriqueta Viterbo Menano, o que significa que a dita quadra é anterior a 1924, visto terem casado em 1923.
Independentemente das variantes apontadas, a 1ª quadra ligeiramente estropiada pelo cantor (“Maria-quelindo nome”) é um original de António de Sousa publicado em “O Encantado”, Porto, 1919, pág. 7, retomado no tema “Saudade das Horas”, editado em 1921, com música do 1º violino da TAUC Olindo Moreira Júnior. A 3ª quadra é de Afonso Duarte (Ritual do Amor, 1916).
O cancioneiro popular português regista múltiplas coplas alusivas ao assunto glosado:

Maria, teu lindo nome
Quem t’o pôs, quem t’o poria?
Baptizou-te a madrugada
Foi madrinha a luz do dia.

Maria, dá-me o teu nome
Também quero ser Maria
As Marias são alegres
E eu quero ter alegria.

O Fado do Alentejo não se encontra incluído nos discos de vinil do álbum de António Menano editado em 1985 (Volume I) e em 1986 (Volume II) mas apenas em compact disc:
-da gravação de Paris,1927 (master Og 572), Heritage, HT CD 31, da Interstate Music, editado em 1995; “Arquivos do Fado”/Tradisom, Vol. V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995;
-da gravação de Berlim, 1928 (master Og 1011), CD “António Menano – Fados”, EMI-VC 7243 8 34618 2 0, editado em Setembro de 1995; Col. Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 1/Coimbra, EMI 7243 5 20663 2 1, editado em 1999.

Esta composição tem sido gravada por numerosos cantores, uns de Coimbra, outros não e, regra geral, só cantam as duas primeiras quadras dos discos de António Menano. Há quem tenha adaptado outras quadras sem melhoria da respectiva prosódia.
Registos conhecidos:
-EP “Américo Lima”, Alvorada, AEP 60 529, ano de 1962. Cantor activo em Lisboa, ligado à opera e a casas de fados. Gravação acompanhada por Carlos Gonçalves/Fontes Rocha (gg Lisboa) e José Maria da Nóbrega (v);
-EP “Fados de Coimbra”, Porto, Orfeu, ATEP 6184, ano de 1964, canta António Bernardino acompanhado por António Portugal/Francisco Martins (gg) e Jorge Moutinho (v);
-CD “Fados e Baladas de Coimbra – Coimbra tem mais encanto”, Vidisco, 11.80.1304, editado em 1991. Formação portuense de António Rodrigues; idem, CD “O melhor de Fados e Baladas de Coimbra”, VIDISCO 11.80.8299, com o título singelo de “Maria”;
-CD “Melro – Janita Salomé”, Movielay, MP 13.001, editado em 1993. Remasterização do LP “Melro”, Orfeu, 1980, sendo o cantor acompanhado por Octávio Sérgio e Durval Moreirinhas;
-CD “Carlos Costa. Quarteto de Coimbra”, Horizonte, CDH 081, ano de 1994. Formação activa na Região do Porto, constituída por Carlos Costa (voz), Rocha Ferreira/Tomás Silva (gg) e Manuel Valdrez/Francisco Costa (vv). Casta Costa canta 3 coplas, sendo a 3ª “Maria, tu és na terra” extraída do FADO MARIA (vulgo “Fado Manassés);
-CD “Frederico Vinagre – Eternos Fados de Coimbra”, Metro-Som, CD 101, editado em 2000. Parece-nos ser remasterização do título estropiado “Maria”, presente no LP “Temas de Coimbra. Frederico Vinagre”, METRO-SOM, LP 163-Y, ano de 1984, Face A, Faixa Nº 1, acompanhado por Octávio Sérgio (g) e Durval Moreirinhas (v);
-CD “Os clássicos Fados de Coimbra”, Lisboa, METRO-SOM, CD 186, ano de 2005, Faixa Nº 7. Edição comercial de tipo casa de fados, vocalizada pelo fadista Fernando Ventura. Título adulterado para “Maria” e indicação incorrecta de autorias (“Artur Menano”, sic). Acompanhamento com instrumentos de fado: António Luís Gomes/António Chainho (gg) e José Maria da Nóbrega (v).

FADO DO CHOUPAL
Música: António Paulo Menano (1895-1969), dedicada “Ao muito amigo Paulo de Sá”
Letra: 1ª quadra de João Maria da Silva de Lebre e Lima (1889-1959); 2ª quadra de autor não identificado; 3ª quadra popular
Incipit: O Choupal anda coitado
Origem: Coimbra
Data: 1918

O Choupal anda, coitado,
Num triste desassossego
Por ter morrido afogado
(Ai2) Um rouxinol no Mondego.

Dizem que o bem se conhece
Só quando a gente o perdeu;
Triste de quem o não perde
(Ai2) Porque nunca o conheceu.

Guarda tu meu coração,
Ó minha alma repetida,
Dois corações para quê
(Ai2) Tendo nós uma só vida.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Ré, 2ªRé 2ªRé, Ré;
2º dístico: Ré, 2ªRé 2ªRé, Ré;

Informação complementar
Espécime em compasso quaternário, cantado por António Menano em Fá Maior, com elementos fadográficos. Este tema, com este título e a letra transcrita, foi editado por volta de 1918, quando António Menano fazia parte da Direcção do Orfeon, pela casa P. Santos & Cª., Salão Mozart, Rua Ivens, 52-54, Lisboa, integrado na colecção “Canções de Portugal – Coimbra”, constituída por 6 composições do reportório do Orfeon da UC. Em 1922, o Fado do Choupal já ia na 4ª edição, tendo atingido a 10ª edição antes de António Menano o ter gravado. Como todas as canções da referida colecção, foi igualmente gravado para rolos autopiano. Conjuntamente com o “Fado Hylario Moderno”, “Fado do Choupal, rapidamente passou a ser considerada a “prova de exame” dos grandes primeiros tenores conimbricenses da década de 1920. Um desaire vivido por Edmundo Bettencourt em 1926 no Teatro Nacional de São João quando interpretava “Fado do Choupal” levaria Edmundo Bettencourt afastar-se dos grandes palcos.
António Menano gravou esta composição duas vezes: em Paris, no mês Maio de 1927 (discos Odeon, 136.803 e A136.803 - Og 573), acompanhado à guitarra em afinação natural por Flávio Rodrigues da Silva e no violão aço por Augusto da Silva Louro; em Berlim, no mês de Dezembro de 1928 (disco Odeon LA 187.814 - Og 1012), acompanhado à guitarra de Lisboa por João Fernandes e, no violão, por Mário Marques.
A gravação de Paris encontra-se disponível em vinil (Album de Fados de Coimbra – António Menano, I vol., disco 2, EMI-VC 2605991, editado em 1985), e em cassete; também em compact disc: Heritage, HT CD 31, da Interstate Music, editado em 1995; Arquivos do Fado/Tradisom, Vol. V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995.
A gravação de Berlim encontra-se disponível só em compact disc: CD António Menano – Fados, EMI-VC 7243 8 34618 2 0, editado em Setembro de 1995.
A letra cantada por António Menano em disco é a seguinte:

Minha mãe, quando eu morrer,
Chore por quem só chorou
Para então dizer ao mundo:
(Ai2) Deus m’o deu, Deus m’o levou!

E pra ser mais desgraçado
No mundo do que ninguém,
Basta nunca ter andado
(Ai2) Ao colo da minha mãe!

A 2ª quadra é de Alfredo Fernandes Martins e pertence à versão original de A Maior Dor, música de Paulo de Sá, editado também pela Livraria Neves, de Coimbra, tempos antes de vir a lume a edição musical do Fado do Choupal.
Carlos Caiado, Antologia do Fado de Coimbra, Coimbra, 1986, págs. 114-115, transcreve apenas a letra registada em disco por António Menano.
Gravações disponíveis em compact disc de outros cantores:
-CD “Melro – Janita Salomé”, Movieplay, MP 13.001, editado em 1993 (a letra é a cantada por António Menano); remasterização no CD Melro. Janita, Lisboa, Movieplay, MOV 30.406, faixa nº 9, com remissão de “letra e música para António Menano”. Canta Janita Salomé, acompanhado por Octávio Sérgio/Durval Morerinhas (a partir do LP Orfeu de 1980).
Fado do Choupal experimentou algumas adesões da parte dos cantores activos em Lisboa na década de 1920, adesão facilmente compreensível pois a cadência deste tema é fadográfica. Citemos o fadista Alberto Costa, numa gravação de 1926 (Columbia J629, P 133), e Margarida de Oliveira, também com um registo de 1927 (Columbia J794).

FADO DOS PASSARINHOS
Música: António Paulo Menano (1895-1969), dedicada “Ao muito amigo Marcos Pinto Basto”
Letra: 1ª quadra de autor desconhecido; 2ª quadra de António Correia de Oliveira (1879-1960); 3ª quadra de autor desconhecido
Incipit: Passarinho da ribeira
Origem: Coimbra
Data: 1918

Passarinho da ribeira,
Se não és meu inimigo,
Empresta-me as tuas asas,
Deixa-me ir voar contigo.

Coração, és como o sino
Na Igreja do Sentimento:
Ora bates de tristeza,
Ora de contentamento.

Ao longe, cortando o espaço,
Vai um bando de andorinhas
Que te leva um abraço
E muitas saudades minhas.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e remata-se com o 1º.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Fá, Dó, 2ªFá 2ªFá, Fá;
2º dístico: Fá, 2ªFá 2ªFá, Fá;
1º dístico: Fá, 2ªFá 3ªFá, 2ªFá, Fá;

Informação complementar
Canção em compasso quaternário, interpretada por António Menano em Sol Maior. Vulgo “Passarinho da Ribeira”. Esta melodia, título e letra acima transcrita, foi editada por volta de 1918, quando António Menano fazia parte da Direcção do Orfeon Académico, pela casa P. Santos & C.ª, Salão Mozart, Rua Ivens, 52-54, Lisboa, integrado na colecção Canções de Portugal – Coimbra, constituída por 6 composições do repertório do Orfeon da UC. A 4ª edição impressa é anterior a 1922 e quando António Menano, em 1927, efectuou o registo fonográfico já estava na 12ª edição, tendo constituído um grande sucesso. Aliás é muito agradável ouvir tocar esta melodia ao piano porque o arranjo é bastante feliz. Como aconteceu com todas as composições da dita colecção, também foi gravado em rolos para autopiano.
Na edição musical consta expressamente ser música de António Menano mas ela é omissa quanto às autorias das quadras. A 2ª quadra, “Coração, és como o sino”, é de António Correia de Oliveira e pertence ao “Auto do Fim do Dia”, editado em 1900.
Como a gravação em discos de 78 rpm veio impor estritos limites à duração de cada melodia e à extensão da letra cantada, esta passou quase sempre a ser constituída apenas por duas estrofes. António Menano gravou “Fado dos Passarinhos” em Maio de 1927, em Paris, tendo cantado a 1ª e a 3ª quadras (discos Odeon, 136.800 e A 136.800 – Og 574); no disco vem o nome de António Menano como autor da música mas a etiqueta é omissa quanto aos nomes dos instrumentistas que o acompanham, embora se saiba que foram Flávio Rodrigues da Silva e Augusto Louro.
Em Dezembro de 1928, desta vez em Berlim, António Menano regravou o tema, (disco Odeon, LA 187.803 – Og 1009); a etiqueta refere no acompanhamento os nomes de João Fernandes, na guitarra de Lisboa, e de Mário Marques, no violão aço.
Ambas as gravações estão simultaneamente disponíveis nos dois seguintes compact discs:
-Heritage, HT CD 31, da Interstate Music, editado em 1995;
-Arquivos do Fado/Tradisom, Vol. V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995.
A gravação de Paris encontra-se ainda disponível em vinil (Album Fados de Coimbra – António Menano, Vol. I, disco 1, EMI-VC 2605983, editado em 1985) e em cassete. Disponível também em compact disc: CD António Menano – Fados, Vol. II, EMI-VC 7243 8 36445 2 0, editado em Dezembro de 1995.
Lucas Rodrigues Junot gravou Fado dos Passarinhos em Maio de 1927, em Londres, cantando a 1ª e a 3ª quadras, acompanhado à guitarra em afinação natural por si próprio e, em violão aço por Abel Negrão (disco Columbia, 8103 – P 191), gravação igualmente disponível em compact disc: Heritage HT CD 15, da Interstate Music, editado em 1992; Arquivos do Fado/Tradisom, Vol. II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994; Col. Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 1/Coimbra, EMI 7243 5 20633 2 1, de 1999.
Em outras gravações posteriores à década de 1920 verifica-se estropiamento da letra e adulteração do título, certamente por desconhecimento, e no canto alteram por vezes a sequência dos versos.
Gravações de outros cantores:
-Fernando Rolim, com o título modificado para “Passarinho da Ribeira”, acompanhado por António Brojo/António Portugal (gg) e Aurélio Reis/Mário Castro (vv) no EP “Fernando Rolim”, LMEP 1028, ano de 1958;
-José Santana, estudante e orfeonista da Universidade do Porto, no EP “Coimbra. Dr. José Santana”, Porto, Alvorada, AEP 60 423, ano de 1962, acompanhado por Lauro de Oliveira/Fernando Barbosa (gg) e Ernesto Almeida (v);
-António Bernardino, EP Alvorada, ano de 1966, acompanhado por António Portugal/Manuel Borralho (gg) e Rui Pato (v): remasterização no CD “Serenata Monumental”, Lisboa, Movieplay, MOV 30.487 A/B, ano de 2003, CD nº 1, faixa nº 7;
-Ângelo Fernandes, cantor de biografia desconhecida activo no Porto/e ou Lisboa (?) nas décadas de 1950-1960: EP “Velha Coimbra”, A Voz do Dono, SLEM 3076, registo anterior a 1967, com a formação Francisco Carvalhinho/Martinho da Assunção;
-João Queiroz, cantor oriundo de Angola, com curta passagem por Coimbra e ligação ao Grupo dos Plácidos: EP “The Old Coimbra Fado III”, RCA VICTOR, TP-313. Gravação feita ca. 1967 com formação activa em casa de fados de Lisboa, cujos nomes são omissos da ficha técnica;
-Loubet Bravo, cantor activo no Porto e em Lisboa, no EP “Loubet Bravo. Fados de Coimbra”, MARFER, MEL. 2-103, ano de 1968, acompanhado pela formação Carlos Gonçalves/António Chainho (gg Lisboa), José Maria da Nóbrega (v) e Raul Silva (v baixo);
-Américo Lima, cantor activo em Lisboa, no EP “Américo Lima. Balada”, DECCA, PEP 1171, ca. 1968, acompanhado por José Nunes/António Chainho (gg Lisboa) e José Maria da Nóbrega (v);
-Frei Vicente, no EP “Frei Vicente canta… Coimbra”, Alvorada, EP-S-60-1609, ano de 1977, acompanhado por António Brojo/António Portugal (gg) e Luís Filipe (v);
-CD “Fados e Baladas de Coimbra – Coimbra tem mais encanto”, Vidisco, 11.80.1304, editado em 1991. Formação portuense de J. Tavares Fortuna;
-“Tempo(s) de Coimbra”, disco 1, EMI 0777 7 99608 2 8, editado em 1992 (Alfredo Correia), remasterização da antologia vinil de 1984;
-LP “Cantar à Lua. Janita Salomé”, Lisboa, EDISOM 606576, ano de 1990, Lado 2, Faixa Nº 1. Canta Janita Salomé, acompanhado por António Portugal/António Brojo (gg), Luís Filipe/Humberto Matias (vv). Interpretação excessivamente sustentada e com fonética regional alentejana vincada;
-CD “Fernando Machado Soares”, Philips, 838 108-2, compilação de gravações de 1986 e 1988, sem data, faixa nº 2, com o título “O Fado dos Passarinhos”: remasterização do LP “Fernando Machado Soares. Coimbra tem mais encanto”, Lisboa, Philips 830 371-1, ano de 1986, Lado A, faixa nº 2, acompanhado por José Fontes Rocha/Durval Moreirinhas. Indica-se como autor da letra “António Menano”, e da música “Alberto Menano”. A interpretação vocal ressente-se de prolongamentos ad libitum, servidos por desempenho pouco brilhante de Fontes Rocha;
-CD “Magina Pedro. Regresso”, DCD 1042, ano de 1999, Faixa Nº 12. Cantor activo no Minho e Douro Litoral, acompanhado por Mário Henriques/Adelino Miguel (gg) e António Rodrigues (v). Indicação de título estropiado (“Passarinho da Ribeira”);
-CD “Victor Almeida e Silva – Coimbra enCanto e Poesia”, Vidisco, 11.80.7854, editado em 2000;
-CD “Velha Guarda Coimbrã. Grupo de Fados de Coimbra. Recordando… do Choupal até à Lapa”, CD 219, ano de 2002, Faixa Nº 14. Canta José dos Santos Paulo, acompanhado por José dos Santos Paulo/Francisco Dias (gg) e António Ribeiro (v). Registo de índole comercial;
-CD “Os Clássicos Fados de Coimbra. Fernando Ventura. Alves de Oliveira”, Lisboa; METRO-SOM, CD 186, ano de 2005, Faixa Nº 4. Remasterização de um lp anterior. Gravação comercial destinada a circuitos turísticos, com Alves de Oliveira acompanhado por Arménio de Melo (g Lisboa), Martinho da Assunção e Vital d’Assunção (vv).
Com outro título e letra, “Fado Mondego” (Quisera que tu me amasses), foi gravado por volta de 1926, na voz do cantor Luiz Macieira:

Quisera que tu me amasses
Mas isso não pode ser; (bis)
Paciência, não me importo,
(Ai)Hei-de amar-te até morrer.

E depois, lá mesmo em cima,
Eu pedirei a Jesus (bis)
Licença pra vir à terra
(Ai)Ver teu olhar que seduz.

Mas se, por desgraça minha,
Morreres primeiro que eu, (bis)
Seguir-te-ia na morte,
(Ai)Amar-te-ia no Céu.

Esta variante fonográfica ocorre no disco Odeon, 136.270 – Og 533. No canto, o 1º dístico, quando se repete, canta-se com a música do 2º dístico e quando se canta o 2º dístico canta-se como se fora a repetição final do 1º dístico. Como facilmente se pode constatar, este “Fado Mondego” foi gravado antes de António Menano ter gravado o seu Fado dos Passarinhos, cujo disco Odeon tem o número 136.800, master Og 574.

FAZES DA LUA
Música: autor não identificado
Letra: autor não identificado
Incipit: O amor é como a lua
Origem: Lisboa?
Data: inícios do século XX

O amor é como a lua,
Como ela tem quatro fases,
(Ai1) Lua Nova é o namoro
(O namoro é Lua Nova)
Dizendo de amor três frases. (Dizendo do amor três frases)

E o namoro continua, (Se o namoro continua)
Muda a fase de repente,
(Ai) Já não é a Lua Nova,
(Ai) É amor em Quarto Crescente
. (É amor quarto-crescente)

E quando ele só nela pensa (Quando ele só nela pensa)
E ela só por ele anseia,
(Ai) Já não é Quarto Crescente,
(Ai) É amor em Lua Cheia.

Vem depois o casamento,
Muda a fase num instante,
(Ai) Já não é a Lua Cheia,
(Ai) É amor em Quarto Minguante
. (É amor quarto-minguante)

E se a coisa se complica (Se as coisas se complicam)
Vem o divórcio e afinal
(Ai) Já não é Quarto Minguante
(Ai) É amor Eclipse Total
; (É amor-eclipse total)
Já não é Quarto Minguante
(Ai) É amor num Tribunal
. (Ai! É amor no tribunal)

Canta-se o 1º dístico, canta-se o 2º e repete-se o 2º.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Sol, 2ªSol 2ªSol, Sol;
2º dístico: 2ªlá lá 2ªsi, si; (1ª vez)
2º dístico: 2ªSol, Dó, Sol 2ªSol, Sol; (2ª vez)

Informação complementar
A melodia, de autor desconhecido, assenta na tipologia do fado corrido. Terá esta melodia alguma relação com o nome de Reynaldo Varela, autor que ainda na primeira década do século XX gravou “Fado Tribunal”? António Menano interpreta este fado em compasso binário e tom de Si Maior.
A melodia andava em voga nos meios académicos antes de 1925 e intitular-se-ia originalmente “Fases da Lua”. A letra aqui transcrita em primeiro lugar, corresponde à versão cantada por António Menano e consta da respectiva edição musical da Sassetti & Cª ., Rua do Carmo, 56, Lisboa, com capa de Stuart de Carvalhais. Não tem qualquer indicação de data e o exemplar de que dispomos foi vendido por Januário Nunes & Cª., da Rua dos Retroseiros, 108-110, em Lisboa, por 1927. Posteriormente, o professor de música João Victória editou uma este fado em partitura para violino e bandolim, com o título de “Fases do Amor e da Lua”.
A letra consagrada por António Menano é uma paródia ao original “Fases do Amor e da Lua”, vulgarizada no Verão de 1925 pelo cantor Mário Delgado, aquando da digressão da TAUC ao Brasil. Notam-se, no entanto, algumas discrepâncias entre o parodial “Fases do Amor” cantado por Mário Delgado e a versão Menano, pelo que entendemos assinalar entre parêntesis os versos de 1925. A letra cantada por Mário Delgado acha-se em Manuel da Câmara Leite, Estudantes de Coimbra no Brasil, Coimbra, Coimbra Editora, 1926, suplemento XV.
António Menano gravou este fado em Paris, no mês de Maio de 1927 e em Berlim no mês de Dezembro de 1928 (discos Odeon, 136.801 e A 136.801 - Og 575, e LA 187.803b - Og 1019). Os discos são omissos no tocante às autorias e possivelmente por engano, no 3º verso da 3ª quadra, António Menano diz Lua Nova em vez de Quarto Crescente.
Disponível em vinil (álbum “Fados de Coimbra – António Menano”, Vol. I, disco 1, EMI-VC 2605981, editado em 1985) e em cassete; também em compact disc: Heritage, HT CD 31, da Interstate Music, editado em1995; Arquivos do Fado/Tradisom, Vol. V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995); CD “António Menano – Canções”, EMI 7243 8 37495 2 0, editado em Setembro de 1996.

Outros registos:
- LP “Manuel Branquinho. Fados de Coimbra”, Porto, Orfeu ST-108, Face 1, Faixa nº 1, sem data (década de 1980), com atribuição errada a António Menano. Trata-se da reedição de uma das faixas do EP “Manuel Branquinho”, Porto, Orfeu, ATEP 6270, ano de 1968, gravado com Manuel Branquinho/Gabriel Ferreira (gg) e Jorge Gomes (v); idem, CD “Clássicos da Renascença – Manuel Branquinho”, Lisboa, Movieplay, MOV 30.029, editado em 2000, com atribuição despropositada a António Menano;
-cantor Ângelo Fernandes, no EP “Velha Coimbra”, A Voz do Dono, SLEM 3076, anterior a 1967, acompanhado pela formação fadística lisboeta Francisco Carvalhinho/Martinho da Assunção. O título impresso é “Fases da Lua”.

FADO ESPANHOL
Música: autor desconhecido
Letra: 1ª quadra de Alberto da Veiga Simões (1888-1954); 2ª quadra de Eugénio Sanches da Gama (1864-1933)
Incipit: Gosto de cantar o fado
Origem: Lisboa
Data: década de 1920

Gosto de cantar o fado
Que o fado canta-se bem.
É dizer em quatro versos
A vida que a gente tem.

Os meus versos a ninguém
Conseguirão comover.
Só eu é que sinto bem
O que não sei dizer.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Lá m, Sol M///Fá M, Mi;
2º dístico: 2ª Dó, Dó M///2ª Lá, Lá m; (1ª vez)
2º dístico: 2ª Dó, Dó M///2ª Dó, Dó M; (2ª vez)

Informação complementar:
Tema do reportório António Menano, editado em partitura pela Sassetti, em 1927, com capa de Suart de Carvalhais. A letra que se transcreve em primeiro lugar é a que figura na partitura. A capa é notável, representado a “Maria-rapaz” dos loucos anos vinte, com vestido tubular pelo joelho, guitarra de Lisboa ao colo, mangas nuas, chapéu à Mazantini. O cabeçalho desta partitura não é claro quanto à autoria da música, limitando-se a um lacónico “António Menano”, isto é, “vale a pena comprar pois é um tema cantado pelo famoso António Menano”. No álbum vinil duplo “Fados de Coimbra. António Menano”, Volume II, Lisboa, EMI-Valentim de Carvalho, 2612283, ano de 1986, o tema aparece atribuído a António Menano. No CD “Fados. António Menano”, Lisboa, EMI-Valentim de Carvalho, 724383461820, ano de 1985, a música é classificada de “popular”.
Trata-se de um autêntico fado de Lisboa, popularizado na década de 1920, também gravado pelo fadista José Júlio. António Menano efectuou uma 1ª gravação deste fado em Paris, no mês de Maio de 1927, acompanhado por Flávio Rodrigues e Augusto Louro (discos de 78 rpm Odeon 136.809 e A136.809, master Og 576). Gravou uma 2ª vez o mesmo fado em Berlim, no ano de 1928, acompanhado em guitarra de Lisboa por João Fernandes e no violão de cordas de aço por Mário Marques (78 rpm Odeon LA 187815).
Fado igualmente gravado por Armando do Carmo Goes, em Lisboa, no dia 19 de Outubro de 1928, com Albano Felix de Noronha e Afonso de Sousa (His Master’s Voice EQ 170). Desta matriz se extraíu o Victor 33003, lançado no mercado norte-americano em Março de 1930. A letra cantada por Armando Goes é a seguinte:

Deixa-me olhar os teus olhos
Que são a vida dos meus,
Nesta vida só de abrolhos
Nos teus olhos vejo os meus.

Se toda a água do mar
Fosse espalhada na terra,
Não chegava pra levar
Toda a mágoa que ela encerra.

Estas coplas são da autoria do próprio Armando Goes, tendo sido a 1ª gravada em 1929 por Artur Almeida d’Eça no título “Fado” (=Fado da Inquietação), cuja matriz é o 78 rpm Polydor, P.42137, master P.42137.
Da década de 1920 se conhece ainda uma outra gravação do “Fado Espanhol”, concretizada pela mezzo-soprano D. Luiza Baharém, no 78 rpm Columbia, J 799, master P. 145, com guitarrista não identificado:

Eu não sei quem fez o fado
Mas tenho disto tenho a certeza,
Quem lhe deu tanta tristeza
Amou e não foi amado.

O fado tem emoção
E fê-lo Nossa Senhora
Para alívio cá na terra
Desta gente pecadora.

Meu Cristo feito de terra
Minhas mágoas fui contar;
As mágoas eram grandes
Que Cristo pôs-se a chorar.

Esta mesma gravação (master P. 145) foi ulteriormente editada nos EUA sob o número de catálogo Columbia, 1032-X.
A 1ª quadra é da autoria de Bernardo Rodrigues de Passos (1876-1930)e integrava inicialmente o “Fado da Récita da Despedida (Uma Véspera de Feriado) dos Quintanistas de 1903-1904, cuja letra iniciava “Eu não sei quem fez o fado”. Também foi gravada pelo cantor popular Chico Caetano, acompanhado à guitarra por Alberto Caetano e em violão por José Caetano no 78 rpm Odeon 136.336, master Og 716, seguindo embora a variante “Quem lhe deu tanta beleza”. A 3ª quadra, “Meu Cristo feito de terra”, é considerada popular, figurando no “Cancioneiro Popular Português”, de José Leite de Vasconcelos:

Fui contar as minhas mágoas
A Cristo no seu altar;
As mágoas eram tristes
Que Cristo pôs-se a chorar.

Fado regravado no Porto por Fernando Gomes Alves, com o título adulterado para FADO ANTIGO, e letra completamente diversa da versão Menano, acompanhado à guitarra por Eduardo de Melo e Ernesto de Melo e, à viola, por Durval Moreirinhas (EP “Fados de Coimbra”, Ofir, AM 4.068, 1965):

Eu passo noites inteiras
Sem que me possa deitar;
A Lua já tem olheiras
De tanto me alumiar.

Quem me dera que voltasse
O doce tempo d’além
Em que eu sentado à lareira
Ouvi rezar minha mãe.

A 1ª estrofe seleccionada por Gomes Alves, cuja autoria se desconhece, fora já gravada como 1ª quadra do título “Um Fado”, na 2ª metade da década de 1920 pelo cantor Carlos Leal, matriz Parlophone, B 33.031, master 98030.

O BEIJO
Música: Ruy Coelho (1892-1986)
Letra: Afonso Lopes Vieira (1878-1946)
Incipit: À minha amada, na praia
Origem: Lisboa
Data: 1917

À minha amada, na praia
Dei um beijo, a sós e a medo;
Mas a onda que desmaia
Foi contar o meu segredo.

E às outras logo contando
O beijo que me viu dar,
Foi de onda em onda passando
O meu segredo, a cantar.

Treme ansioso o teu seio,
E eu, pálido de temor:
Que todo o mar anda cheio
Daquele beijo de amor!

Cantam-se as estrofes de seguida sem repetir verso algum.
Esquema do Acompanhamento:
1º Dístico: Lá M, Dó# m, Ré M 2ª Lá, Lá M;
2º Dístico: Ré M, 2ª Si, Si m 2ª Lá, Lá M.

Informação complementar:
A música deste lied tem sido indevidamente atribuída a António Menano, mas é de Ruy Coelho (1892-1986), compositor nacionalista, posicionado na esteira dos contributos teóricos de Teófilo Braga, César das Neves, Rey Colaço, Antero da Veiga, Raul Lino e Afonso Lopes Vieira. As posteriores ligações ao ideário salazarista não lhe grangearam boa fama junto das elites triunfantes após 1974.
Lied gravado em Maio de 1927 pelo barítono profissional activo em Lisboa Edgar Duarte de Almeida, com acompanhamento de piano (Disco Columbia, 8108, master P 168); no disco vem correctamente o nome de Afonso Lopes Vieira, como autor da letra, e de Ruy Coelho, como autor da música. No verso do dito disco vem um outro lied, intitulado O Fado (Quem te deu tanta tristeza), letra de António Botto, música de Nicolau de Albuquerque.
António Menano gravou esta bela ária em 1927, em Paris (Discos ODEON, 136810 e A 136810, master Og 577), cantando-a em Lá Maior. Posteriormente, em 1986, foi reeditada em LP, no II Volume do álbum duplo, sob o título Fados de Coimbra de António Menano. Em Setembro de 1996 a EMI-Valentim de Carvalho editou o 3º CD sobre António Menano, sub-título Canções, que inclui O BEIJO.
A letra de Afonso Lopes Vieira encontra-se a págs. 266 e 267 do livro Os Versos de Afonso Lopes Vieira, “Cancioneiro III, Canções de Amor e Saudade”. A letra que se apresenta é a cantada por António Menano e é ligeiramente diferente da que consta no dito livro, cujo 4º verso é “Descobriu o meu segredo” (em vez de “Foi contar”). A composição remonta a 1917, tendo sido publicada em 1918 pelo autor num raro livreto, intitulado “Canções de Saudade e Amor”.
Gravado por António Bernardino em 1966, acompanhado à guitarra por António Portugal e Manuel Borralho e, à viola, por Rui Pato (EP Alvorada, AEP 60817); no disco a autoria é atribuída a António Menano. O arranjo de acompanhamento concebido por Portugal é digno de referência. Bernardino interpreta este lied em Mi Maior e procede a estropiamentos da letra (4º verso da 1ª quadra, 2º verso da 2ª quadra e 3º verso da 3ª quadra). Disponível em long play pela Rádio Triunfo, em 1985 (LP AQUILA AQU 02-49, sob o título genérico Vários – Fados de Coimbra), que também dá a autoria da música a António Menano. Disponível em compact disc: CD Fados de Coimbra – N.º 45/O Melhor dos Melhores, Movieplay, MM 37.045, editado em 1994; CD Serenata Monumental, Lisboa, Movieplay, MOV 30. 487, ano de 2003, CD 2, faixa nº 11, com identificação correcta de autorias.
Gravado pelo Grupo Académico Serenata (do Porto), com Victor Silva no canto, Engº. Cunha Pereira e Jorge Carvalho nas guitarras e Dr. Carlos Teixeira e Arnaldo Brito nas violas, editado pela Movieplay em 1986 (LP ORFEU LPP 44, sob o título Fados de Coimbra – Grupo Académico Serenata), que também indevidamente atribui a música a António Menano.
Gravado em cassete pelo Grupo de Fados de Coimbra Toada Coimbrã, Movieplay, ano de 1992.
Gravado em compact disc por Carlos Pedro: CD Alma Mater – Grupo de Fados de Coimbra, Secção de Fado/AAC, CD-SF 005, ano de 1995, Faixa Nº 5, acompanhado por Pedro Anastácio/Nuno Cadete (gg) e António Paulo (v). Neste registo, Carlos Pedro segue a matriz fonográfica de António Menano e no 3º verso da 3ª quadra introduz um “de”: «Que [de]todo o mar anda cheio». A autoria é erradamente atribuída a António Menano.

FADO DA MENTIRA
Música: Alexandre Augusto de Rezende Mendes (1886-1956)
Letra: 1ª quadra de autor desconhecido; 2ª quadra popular
Incipit: Ninguém conhece no rosto
Origem: Coimbra
Data: ca. 1907-1910

Ninguém conhece no rosto
O que a nossa alma inspira...
A vida é gosto e desgosto
(Ai) Mentira, tudo mentira.

A minh’alma ,coitadita,
Não tem vestes, anda nua...
Oh! por Deus, dá-lhe um abrigo,
(Ai) Dá-lhe um cantinho da tua.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Fá M, 2ª Fá 2ªFá, Fá M;
2º dístico: 2ªRé, Ré m 2ªFá, Fá M;

Informação complementar
A letra que se apresenta é a cantada por António Menano (4/4, Fá M) e, também, a que consta na edição musical da casa Sassetti & Cª., Rua do Carmo, 56, Lisboa, com capa de Stuart de Carvalhais, copyright de 1927. Nela vem a indicação da música ser de Alexandre de Rezende, embora seja omissa relativamente à autoria da letra. Traz bem patente a indicação «Célebre fado cantado por António Menano». Entre o 3º e o 4º verso de cada estrofe António Menano introduz um “Ai” neumático, dado no seu jeito habitual.
Cremos que a edição em partitura é bastante tardia, dado que o tema deve remontar a circa 1907-1910. A 2ª quadra é efectivamente popular e antiga pois já se cantava no tema “Dá-me um Sorriso dos Teus”, recolhido por Jaime Lopes Dias, “Etnografia da Beira”, Tomo IV, 1937, pág. 135:

A minha alma, coitadinha,
Não tem que vestir, anda nua,
Dá-lhe, por Deus, um abrigo,
Dá-lhe um cantinho na tua.

António Menano gravou este espécime em Paris, no mês de 1927 (Discos ODEON, 136.811 e A136.811 - Og 583), acompanhado por Flávio Rodrigues da Silva e Augusto da Silva Louro. Gravação disponível em vinil (álbum de “Fados de Coimbra – António Menano”, Vol. I, 1º disco, EMI-VC 2605981, editado em 1985) e em cassete; disponível também em compact disc: Heritage HT CD 31, da Interstate Music, editado em 1995; “Arquivos do Fado”/Tradisom, Vol. V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995; CD “António Menano – Fados”, Vol. II, EMI-VC 7243 8 36445 2 0, editado em Dezembro de 1995, com etiqueta Odeon.
Vários têm sido os cantores, uns de Coimbra, outros não, que gravaram o “Fado da Mentira”. Alguns alteram-lhe o título e/ou a letra, indo buscar para 2ª estrofe a célebre quadra popular “Fiz uma cova na areia”, do Fado da Mágoa, e até uma quadra do Fado dos Beijos (Se tu quisesses ser minha).
Gravações de outros cantores:
-CD “Orfeão Académico de Coimbra”, Ovação, OV-CD-012, de 1991, remasterização do LP “Coimbra Orfeon of Portugal”, Monitor MP-596, 1962: canta António Sutil Roque, acompanhado em 1ª guitarra de Coimbra por Jorge Tuna, em 2ª guitarra por Jorge Godinho, e na viola nylon por Durval Moreirinhas (gravação feita em 1961, com arranjo de Jorge Tuna);
-CD “António Vecchi – Guitarra chora baixinho”, Movieplay, 30.279, editado em 1992, acompanhado pelo grupo de António Chaínho. O cantor pretendeu homenagear um seu antepassado, Octávio Vecchy que passou de raspão pela Escola Agrária de Coimbra na época de Francisco Menano e foi um reputado intérprete nos estilos de Lisboa e de Coimbra;
-CD “Melro – Janita Salomé”, Movieplay, MP 13.001, editado em 1993; reeditado em 1999, Movieplay, MOV 30. 406, faixa nº 10, retoma de um vinil de 1980, acompanhado em guitarra de Coimbra por Octávio Sérgio e na viola por Durval Moreirinhas. O título aparece adulterado para “Fiz uma cova na areia”, e a letra e música são erradamente atribuídas a “Francisco Menano”;
-CD “Fernando Machado Soares”, Philips, 838 108-2, compilação de gravações de 1986 e 1988 (extraído do LP “Fernando Machado Soares. Coimbra tem mais Encanto”, Philips 830 371-1, ano de 1986, Lado A, faixa nº 4, com José Fontes Rocha/Durval Moreirinhas. A letra é atribuída erradamente a António Menano, e música a António Menano e a Machado Soares);
-CD “Fados e guitarradas de Coimbra”, Movieplay, MOV. 30.425/A, editado em 2001 (Adriano Correia de Oliveira, a partir do EP “Noite de Coimbra”, ATEP 6025, de 1960, com António Portugal/Eduardo Melo/Durval Moreirinhas/Jorge Moutinho, com um arranjo instrumental de Machado Soares, e indicando erradamente como autor da música e letra António Menano);
-CD “Praxis Nova. Percursos”, Porto, Fortes & Rangel, CDM 003, ano de 1998, faixa nº 4. Canta Luís Alcoforado, acompanhado por Paulo Soares/José Rabaça/Luís Carlos Santos/Carlos Costa. Atribuição errada a António Menano. Remasterização de uma cassete gravada em 1988 e comercializada em 1989 (Praxis Nova, Porto, Fortes & Rangel, DCS-017, Lado A, faixa nº 4).
“Fado da Mentira” foi também gravado por cantores cujas biografias e percursos profissionais desconhecemos:
-EP “Américo Lima. Balada”, DECCA, PEP 1171, ca. 1968, sendo o acompanhamento feito por José Nunes/António Chainho (gg Lisboa) e José Maria da Nóbrega (v);
-EP “Américo Silva. Saudades de Coimbra”, ESTÚDIO, EEP 50.216, sem data (década de 1970?). Cantor activo em Lisboa, acompanhado por Manuel Mendes/José Luís Nobre da Costa (gg), M. Martins (v) e Zeferino (v baixo).

FADO SERENATA
Música: popular
Letra: popular
Incipit: Saudades, ai as saudades
Data: décadas de 1840-1860

Saudades, ai as saudades,
Quem me dera não as ter!
(Ai) Só quem tem saudades sabe
O que elas fazem sofrer.

Tenho tantas saudades
Como folhas tem o trigo;
(Ai) Não as conto a ninguém,
Todas consumo comigo.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Dó M, 2ª Dó 2ªDó, Dó M;
2º dístico: 2ª Ré, Ré m 2ªDó, Dó M,

Informação complementar
António Menano gravou esta melodia em Paris, no mês de Maio de 1927 (Discos ODEON, 136.812 e A136.812 - Og 584), acompanhado à guitarra de Coimbra em afinação natural por Flávio Rodrigues da Silva, e em violão de cordas de aço por Augusto da Silva Louro. Disponível em vinil (álbum de “Fados de Coimbra – António Menano”, Vol. I, disco 1, EMI-VC 2605983, editado em 1985) e em cassete; também em compact disc: Heritage HT CD 31, da Interstate Music, editado em 1995; “Arquivos do Fado”/Tradisom, Vol. V, TRAD 012, editado em 1995; CD “António Menano – Fados”, EMI-VC 7243 8 34618 2 0, editado em 1995.
A mesma melodia, com outra letra e o título Raparigas (Prender cedo o coração), foi gravada por Almeida d’Eça, e também pela soprano Adelina Fernandes (Fado das Raparigas: Raparigas, raparigas). A letra que se transcreve seguidamente é a cantada por Artur Almeida d’Eça, intérprete que diferentemente de António Menano não intercala ais neumáticos no texto:

Prender cedo o coração,
Ir atrás do sentimento,
Traz muita desilusão
Raparigas do meu tempo.

Raparigas, raparigas,
Maganas dos meus desejos,
Dai-me beijos por cantigas
Eu dou cantigas por beijos.

Artur Almeida d’Eça é acompanhado exclusivamente em 1ª guitarra de Coimbra por Albano de Noronha e em 2ª guitarra por Afonso de Sousa (disco de 78 rpm Polydor, P 42137, gravado em 1929). No disco vem a indicação de a música e a letra serem populares e, como título, apenas e só RAPARIGAS. O arranjo concebido por Albano de Noronha, particularmente o separador entre quadras, viria a ser retomado por Pinho Brojo no tema “Nossa Senhora da Graça”, vocalizado por Fernando Machado Soares (registo de 1984 para o álbum “Tempos de Coimbra”).
A actriz Adelina Fernandes também gravou esta composição só com acompanhamento de guitarras, disco ODEON, 136273 , Og 543, sob o título FADO DAS RAPARIGAS. Canta três quadras, a primeira é esta segunda, “Raparigas, raparigas”. Segue-se uma outra também popular: “Saudades tenho saudades/Quem me dera não as ter/Só quem tem saudades sabe/O que elas fazem sofrer.” E finaliza com uma conhecida quadra de João de Lebre e Lima: “O Choupal anda, coitado,/Num triste desassossego/Por ter morrido afogado/Um rouxinol no Mondego”., extraída de “Fado do Choupal”.
Disponível em compact disc: remasterização de uma gravação em vinil de 1980, protagonizada por Janita Salomé, sob o título Raparigas, e a indicação de a música e a letra serem de António Menano: CD Janita Salomé – Melro, Movieplay, MP 13.001, editado em 1993; idem CD Melro. Janita, Lisboa, Movieplay, MOV 30.406, ano de 1999, faixa nº 7, acompanhado em guitarra de Coimbra por Octávio Sérgio e na viola por.Durval Moreirinhas. A letra e música são atribuídas a “António Menano”. A variante subscrita por Janita Salomé adopta como 1ª quadra “Raparigas raparigas”, e a título de 2ª “Saudades tenho saudades”.
Tema gravado por Fernando Rolim, com o título adulterado para SAUDADES AI Ó SAUDADES, e a seguinte letra:

Saudades, ai ó saudades,
Quem me dera não as ter…
Só quem tem saudades sabe
O que elas fazem sofrer.

Raparigas, raparigas,
Maganas dos meus desejos
Dai-me beijos por cantigas
Que eu dou cantigas por beijos.

Gravado em 1960 por Fernando Rolim, acompanhado por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Mário de Castro (EP “Música de Portugal”, Parlophone, LMEP 1029).

SOLITÁRIO
Música: Francisco Paulo Menano (1888-1970)
Letra: 1ª e 2ª quadras de Horácio Paulo Menano (1890-ca. 1972)
Incipit: Dizem que as mães querem mais
Origem: Coimbra
Data: ca. 1912

Dizem que as mães querem mais
Ao filho que mais mal faz...
Por isso te quero tanto
E tantas mágoas me dás!

Perguntas-me o que é morrer,
Meu amor, minha alegria,
Morrer é passar um dia
Todo inteiro sem te ver!

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Sol m, 2ª Dó, Dó m 2ª Sol, Sol m;
2º dístico: Dó m; Sol m 2ª Sol, Sol m:

Informação complementar
A letra que se apresenta é a cantada por António Menano e é também a que consta na edição musical da Casa Sassetti & Cª, Rua do Carmo, 56, Lisboa, com capa de Stuart de Carvalhais.
António Menano gravou esta obra por duas vezes (4/4, Som m): Paris, no mês de Maio de 1927, tendo apenas por título Solitário (discos Odeon, 136.804 e A136.804 - Og 593), acompanhado à guitarra de Coimbra em afinação natural por Flávio Rodrigues da Silva em violão aço por Augusto Louro; em Berlim, Dezembro de 1928, com o título Fado Solitário, acompanhado à guitarra de Lisboa por João Fernandes e em violão aço por Mário Marques (disco Odeon, LA 187.801 - Og 1023). Ambos os discos são omissos quanto às autorias ou, pelo menos, não são explícitos e apenas referem entre parêntesis o nome de António Menano, que só poderá significar ser uma sua “criação”. Disponível em vinil: álbum de “Fados de Coimbra – António Menano”, Vol. I, disco 1, EMI-VC 2605981, editado em 1985, e em cassete; disponível em compact disc: CD “António Menano – Fados”, Vol. II, EMI-VC 7243 8 36445 2 0, editado em Dezembro de 1995.
Na edição musical da Sassetti, lamentavelmente, também não vem qualquer referência quanto à autoria da música e/ou da letra e apenas traz a indicação “Por António Menano”, entenda-se “cantado por”. António Menano gravou o disco no início de 1927 e a edição da Sassetti tem copyright também de 1927, sendo óbvio, em termos de markting, o grande interesse que na altura seria ter na edição o nome de tão famoso e celebrado cantor.
Alberto Sousa Lamy, “A Academia de Coimbra, 1537-1990”, Lisboa, Rei dos Livros, 1990, pág. 732, diz ser Francisco Menano o autor da música e da letra, mas quanto à letra tal informação não se assevera correcta porque a 1ª quadra é seguramente de Horácio Menano, data de 1912 e, na versão original, terminava assim “Que tantas penas me dás!” (Cf. Octaviano de Sá, “Quadras de Estudantes a Coimbra e para as Tricanas”, Edição de “O Rancho de Coimbra”, 1940, pág. 20). Esta canção foi também gravada em 1929 por Manuel Homem Cristo (Fado Solitário, Polydor 42145), e por Anita Gonçalves, no Rio de Janeiro, 1930 (Parlophone 13.098).
Outros registos:
-José Afonso, EP “José Afonso”, Alvorada, MEP 60280, ano de 1956, acompanhado por António Portugal/Jorge Godinho (gg) e Manuel Pepe/Levy Baptista (vv);
-Manuel Branquinho, EP “Manuel Branquinho”, ATEP 6302, ano de 1968, acompanhado por Manuel Branquinho/Gabriel Ferreira (gg) e Jorge Gomes (v);
-“Tempo(s) de Coimbra”, disco 1, EMI 0777 7 99608 2 8, editado em 1992. Remasterização da antologia vinil de 1984 com o mesmo título. Canta António Bernardino acompanhado por António Brojo/António Portugal (gg) e Aurélio Reis/Luís Filipe (vv);
-CD “Relíquias – Tertúlia do Fado de Coimbra”, Porto, Edisco 25, ano de 1994. Canta Joaquim Matos, acompanhado por Álvaro Aroso/José dos Santos Paulo (gg) e Eduardo Aroso/José Carlos Teixeira (vv);
-CD “José Afonso – De Capa e Batina”, Movieplay, JÁ 800, editado em 1996. Remasterização do EP “José Afonso”, Alvorada, MEP 60280, ano de 1956, acompanhado por António Portugal/Jorge Godinho (gg) e Manuel Pepe/Levy Baptista (vv);
-Col. “Um Século e Fado”/Ediclube, CD Nº 4/Coimbra, EMI 7243 5 20638 2 6, editado em 1999 (José Afonso);
-CD “Clássicos da Renascença – Manuel Branquinho”, Movieplay, MOV 30.029, editado em 2000;
-Frederico Vinagre, fadista profissional activo em Lisboa, no CD “Frederico Vinagre – Fados e Guitarradas de Coimbra”, Metro-Som, CD 151, editado em 2001. Remasterização a partir do LP “Fado para um Amor Ausente. Frederico Vinagre”, Lisboa, METRO-SOM LP 191,a no de 1991, Lado A, faixa Nº 4, acompanhado por Manuel Mendes (g) e Durval Moreirinhas (v);
-CD “Fados e Guitarradas de Coimbra”, Movieplay, MOV. 30.425/A, editado em 2001 (José Afonso).

O MEU MENINO
Música: Alexandre Augusto de Rezende Mendes (1886-1953)
Letra: 1ª quadra popular; 2ª quadra de Alfredo Fernandes Martins
Incipit: O meu menino é d’oiro
Origem: Coimbra?
Data: ca. 1915-1916

O meu menino é d’oiro,
D’oiro é o meu menino...
Hei-de levá-lo aos anjos
Enquanto for pequenino.

À mãe de Nosso Senhor,
Hei-de pedir, com carinho,
Que nunca leve a tristeza,
Aos olhos do meu filhinho.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema de acompanhamento:
1º dístico: Ré M, Mi M, Lá M 2ª Ré, Ré M;
2º dístico: Ré M, 2ª Ré 2ª Ré, Ré M; (1ª vez)
2º dístico: Ré M, 2ª Mi, Mi m2ª Ré, Ré M; (2ª vez)

Informação complementar
A letra transcrita é a facultada pelo filho do autor a Divaldo Gaspar de Freitas na década de 1960 (Cf. “Emudecem rouxinóis do Mondego”, São Paulo, 1972, págs. 27-28), por ser considerada a original. Rezende compôs este embalo em homenagem a seu filho, José de Sousa Mendes de Rezende que nas décadas de 1950-1960 era conhecido na colónia portuguesa de São Paulo por “Menino d’oiro”. A 1ª quadra é popular e anterior a 1880. O “Cancioneiro Popular Português”, de José Leite de Vasconcelos, contém cerca de trinta variantes literárias desta primeira copla.
Composição vulgarmente conhecida por “Menino d’oiro” e “Meu Menino”. António Menano gravou este embalo em Paris, no mês de Maio de 1927, acompanhado por Flávio Rodrigues da Silva/Augusto Louro: 78 rpm Odeon 136.805 e Odeon A136.805 Og 594. Voltou a regravá-lo em Berlim, no mês de Dezembro de 1928, acompanhado em guitarra de Lisboa por João Fernandes e em violão aço por Mário Marques : 78 rpm Odeon LA 187.801 Og 1006. A gravação de Paris foi remasterizada no álbum vinil duplo “Fados de Coimbra. António Menano. Volume I”, Lisboa, EMI- Valentim de Carvalho, 2605991-B, ano de 1985, LP 2, Lado B, faixa nº 4, e em compact disc: CD “António Menano. Fados”, Volume II, Lisboa, EMI-Valentim de Carvalho, 724383644520, ano de 1996, faixa nº 5, com o título “O Meu Menino” e remissão de autoria para Alexandre de Rezende.
Menano não gravou a letra original, nem a que entretanto se tinha vulgarizado, mas outra do poeta António Correia de Oliveira (1879-1960), extraída do poemeto “Embalando o menino” (Cf. A minha terra, Lisboa, Aillaud e Bertrand, 1916, págs. 19-20). Esta letra correu anexa à partitura Sassetti, com capa de Stuart, editada em Novembro ou Dezembro de 1927. Pretendeu ser uma homenagem a Nuno Menano, nascido em Novembro/1927, filho de António Menano e de Maria Henriqueta da Câmara Viterbo Menano. Na capa da dita partitura consta apenas “O Meu Menino. Fado-Canção, por António Menano”, mas no interior (cabeçalho) pode ler-se “Música de António Menano”. Corre na tradição oral coimbrã que Alexandre de Rezende, agastado com a usurpação de autoria, terá mimoseado António Menano com umas bengaladas na Rua Ferreira Borges/Coimbra.
Eis a letra gravada por Menano:

O meu filho é pequenino:
Três palmos, e pouco mais;
Com tão pequena medida,
Mede-se a alma dos pais.

O meu filho é pequenino...
Diz a Morte: - Ai nem o quero!
E a Vida a rir de contente:
Eu é que sei quanto espero...

José Paradela de Oliveira também gravou este mesmo embalo em 1927, acompanhado por Francisco da Silveira Morais (g) e António Dias (violão): 78 rpm His Master’s Voice, EQ 70, master 7-62166. Paradela interpreta em 1º lugar uma copla popular, e como 2ª, uma outra de autor desconhecido. O título presente no disco é apenas “O Meu Menino”:

O meu menino é d’oiro
É d’oiro o meu menino
Hei-de levá-lo ao Céu
Enquanto for pequenino.

Por causa de três meninas
Eu passo a vida entre abrolhos:
Uma és tu, e as outras duas
As meninas dos teus olhos.

Casimiro Ferreira gravou este tema em 1960, acompanhado por António Portugal/Eduardo de Melo (gg) e Manuel Pepe/Paulo Alão (vv): EP “Fado Corrido de Coimbra”, Rapsódia EPF 5.084, ano de 1960, faixa nº 1. Adoptou o título “O Meu Menino” e indicou como autor da música Alexandre de Rezende, e da letra José Afonso. No entanto, a letra que se ouve na pouco conseguida vocalização de Casimiro Ferreira é popular, anterior ao século XX, estando muito vulgarizada nas vozes dos cantores activos em Coimbra desde o 1º quartel do século XX:

O meu menino é d’oiro
É d’oiro o meu menino,
Hei-de levá-lo ao Céu
Enquanto for pequenino.

Enquanto for pequenino,
Tão puro como o luar,
Hei-de levá-lo ao Céu,
Hei-de ensiná-lo a cantar.

Tema gravado por António José Roxo Leão no EP “Coimbra em Lourenço Marques”, Alvorada, AEP 60 544, ano de 1961. Acompanhamento feito por António Brojo/Gabriel de Castro (gg) e Alfredo Caseiro da Rocha/António José Roxo Leão (vv). Nesta registo o título coincide com o incipit vulgar (O Meu menino é d’oiro) e a letra é mutantis mutandis a mesma cantada por Casimiro Ferreira.
Manuel Duarte Branquinho, so o título “menino d’Oiro”, interpreta a 1ª quadra popular vulgar e substitui a 2ª quadra pela seguinte variante de uma quadra de João da Silva Tavares (1893-1964):

A cama do meu menino
Faço-a eu e mais ninguém;
Quem me dera que o destino
Eu fizesse assim também.

Cf. EP “Manuel Branquinho”, Orfeu, ATEP 6302, ano de 1968, com Manuel Branquinho/Gabriel Ferreira (gg) e Jorge Gomes (v).
Uma outra quadra muito cantada neste embalo, referida por Divaldo Gaspar de Freitas, da autoria do estudante Alfredo Fernandes Martins (+1965) é a seguinte:

À mãe de Nosso Senhor,
Hei-de pedir, com carinho,
Que nunca leve a tristeza,
Aos olhos do meu filhinho.

Outras gravações:
-Américo Lima, no EP “Américo Lima Canta Fados de Coimbra”, DECCA, SPEP 1202, sem data (década de 1960), acompanhado pela formação lisboeta Carlos Gonçalves/António Chainho (gg) e José Maria da Nóbrega;
-EP “Frei Hermano da Câmara. Fado da Despedida”, EMI-VC 8E 006 4033 G, ano de 1976, acompanhado por António Chainho/José Maria da Nóbrega;
-EP “Frei Vicente canta… Coimbra”, Alvorada, EP-S-60-1609, ano de 1977, acompanhado por António Brojo/António Portugal (gg) e Luís Filipe (v);
-Valdemar Vigário, fadista profissional activo no Porto, no EP “Fados de Coimbra”, RODA, RPE, 1466, ano de 1976, acompanhado por Valdemar Vigário (g) e Jorge Barradas (v);
-Fernando Ventura, fadista activo em Lisboa. Registo vinil remasterizado no CD “Os Clássicos Fados de Coimbra”, Lisboa, METRO-SOM, CD 186, ano de 2005, Faixa Nº 15, com atribuição errada a António Menano. Acompanhamento por António Luís Gomes/António Chainho (gg Lisboa) e José Maria da Nóbrega (v);
-Alexandre Herculano acompanhado à guitarra por Francisco de Vasconcelos e Luís Plácido e, à viola, por João Alpoim e Álvaro Bandeira (LP “De Coimbra para a Unicef – Grupo Serenata de Coimbra”, Videofono, VLP-2010, ano de 1985. Disponível em compact disc: CD “Saudades de Coimbra/Grupo Serenata de Coimbra”, Videofono, VCD 50004, editado em 1993). O título adoptado é “Menino de Oiro”.

Alguns compact discs:
-CD “Coimbra Serenade”, Edisco, ECD 5, editado em 1992 (canta Casimiro Ferreira), reedição do ep gravado em 1960;
-CD “António Vecchi – Guitarra chora baixinho”, Movieplay, 30.279, editado em 1992. O título adoptado é “Menino d’Oiro”,
-“Tempo(s) de Coimbra”, Disco 1, EMI 0777 7 99608 2 8, editação cd em 1992 (canta Alfredo Correia), remasterização da gravação vinil editada em 1984. A letra é a mesma adoptada pelo cantor Casimiro Ferreira. O título proposto é “O Meu Menino”;
-CD Nº 45/”O Melhor dos Melhores – Fados de Coimbra”, Movieplay, MM 37.045, editado em 1994 (Manuel Branquinho);
-CD “João Marques – O meu Alentejo”, Edimúsica, CD-942512, editado em 1994;
-CD “Fernando Machado Soares”, Philips, 838-108-2, compilação de gravações de 1986 e 1988, sem data, faixa nº 7, acompanhado por José Fontes Rocha/Durval Moreirinhas. Remasterização do registo vinil de 1986, com o título Meu Menino e atribuição de música e letra a Rezende;
-CD “Clássicos da Renascença – Manuel Branquinho”, Movieplay, MOV 30.029, sob o título Menino de Oiro, editado em 2000;
-CD “Frederico Vinagre – Eternos Fados de Coimbra”, Metro-Som, CD 101, editado em 2000. Remasterização do LP “Fado para um Amor Ausente”, Lisboa, METRO-SOM, LP 191, ano de 1991, Lado B, Faixa Nº 2, acompanhado por Manuel Mendes (g) e Durval Moreirinhas (v). O título impresso é “Menino d’Oiro”;
-CD “Victor Almeida e Silva – Coimbra enCanto e Poesia”, 11.80.7854, editado em 2000;
-José dos Santos Paulo, CD “Velha Guarda. Grupo de Fados de Coimbra. Recordando Coimbra. Do Choupal até à Lapa”, CD 219, ano de 2002, Faixa Nº 5, com a indicação de “Fado do Meu Menino”. Acompanhamento por José dos Santos Paulo/Francisco Dias (gg) e António Ribeiro (v).

Não se deve confundir este espécime com uma composição de Paulo de Sá gravada em 1961 por Augusto Camacho Vieira no EP “Fados e Coimbra”, Columbia, SLEM 2094, acompanhado por António Brojo/Francisco Menano (gg) e Fernando Alvim (v).

CARTA DA ALDEIA
Música: José Augusto Coutinho de Oliveira (1894-1931)
Letra: José Marques da Cruz (1888-1958)
Incipit: Minha querida Maria
Origem: Coimbra
Data: 1919

Minha querida Maria:
Desejo saber
se passas por aí bem mai-los teus,
que a minha, ao fazer desta fantesia,
Vai indo menos mal, graças a Deus.

Tenho tanta soidade que não sei
O modo e o jeito
de contar-te a amosidade,
esta paixão
que eu trago no meu peito,
desde que falei
contigo da raiz aqui do coração.

Lembras-te?! Foi naquela romaria
à Senhora da Agonia
cheia de cordões d’oiro e rosas e alecrim…
Que palavras tão doces que tu tinhas!
Ai adeus! Aí vão mil soidades que as minhas
para contigo só à vista terão fim…

Esquema de acompanhamento:
António Menano interpreta esta canção em compasso binário e tom de Dó menor, com acompanhamento simples (1ª, 2ª e 3ª). Seguindo a disposição dos versos inserta na edição musical impressa de 1919, da Casa Armando de Sousa, de Coimbra (que é a seleccionada) e, para facilitar a apresentação do esquema, diremos que:
-a 1ª Estrofe tem 5 versos
-a 2ª Estrofe tem 7 versos
-a 3ª Estrofe tem 6 versos.

Assim sendo, o esquema é o seguinte:
1ª Estrofe:
1º e 2º versos: Dó m Fá m, Dó m (1ª vez)
1º e 2º versos: Dó m 2ªRé#, Ré# M (2ª vez)
3º, 4º e 5º versos: 2ª Dó Fá m, Dó m Fá m, 2ªDó, Dó m;

2ª Estrofe:
1º, 2º e 3º versos: Fá m, 2ªRé#, Dó m 2ªDó, Fá m Sol# M, 2ªDó;
4º, 5º, 6º e 7º versos: Fá m 2ªDó, Dó m 2ªDó, Dó7ªdim Dó m, Fá m, 2ªDó, Dó;

3ª Estrofe:
1º e 2º versos: Fá m, 2ªRé#, Ré# Dó m, 2ªDó;
3º e 4º versos: Fá m, Dó m, 2ªDó, Dó/2ªFá Fá m Dó7ªdim, Dó m, 2ªDó;
5º verso: Fá m, Dó m (Sol#, 2ªDó, na repetição), Fá m, Dó m, 2ªDó;
6º verso: Fá m, 2ªDó, Dó7ªdim, Dó m.

Canção em compasso binário festivo, editada em partitura impressa pela casa Armando de Sousa, de Coimbra, em Setembro de 1919. Seria também editada na 29ª Miscelânea de João Vitória, pela década de 1940. O autor da letra, nascido em Luanda em 1894, foi um ilustre académico de Medicina, e compositor de gabarito, celebrado na récita estudantil LUX MORITURA.
António Menano gravou esta melodia nos estúdios Odeon de Paris, no mês de Maio de 1927, acompanhado por Flávio Rodrigues da Silva e Augusto da Silva Louro: 78 rpm 136805 Og 595. Este registo encontra-se remasterizado no CD “Canções. António Menano”, Lisboa, EMI-Valentim de Carvalho 7243 8 37495 2 2, ano de 1996, faixa Nº 15.
Outras gravações:
-Manuel Duarte Branquinho, LP “Fados de Coimbra por Manuel Branquinho”, Lisboa, IMAVOX, IM-30031, ano de 1977, Lado 1, Faixa Nº 1. O cantor executa os acompanhamentos de guitarra e viola. Neste disco as autorias são totalmente omissas.
Agradecimento: uma palavra de agradecimento a João Gomes, José Barros Ferreira e Alexandre Bateiras, por terem ajudado a elaborar o esquema de acompanhamento em Fá# menor, depois transposto para Dó menor.

FADO MARIA
[FADO MANASSÉS]
Música: Manassés Ferreira de Lacerda Botelho (1885-1962)
Letra: 1ª e 2ª quadras populares
Incipit: Trago comigo um pecado
Origem: Coimbra
Data: ca. 1902-1903

Trago comigo um pecado
(Ai2) Que eu não mais esquecerei
De à minha mãe ter roubado
(Ai2) O grande amor que te dei.

Saudades não as merece
(Ai2) Toda a gente que as inspira;
Ter saudades de quem esquece
(Ai2) É ter crença na mentira.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Si M, 2ª Dó#, Dó#m 2ªSi, Si M;
2º dístico: 2ªSol#, Sol#m 2ª Si, Si M (1ª vez)
2º dístico: Si M, 2ª Dó#, Dó#m 2ªSi, Si M (2ª vez)

Informação complementar:
A letra que se transcreve no início do verbete não é a original, mas antes a variante gravada na segunda metade da década de 1920 por António Menano. A música fonografada pelo referido cantor também não coincide integralmente com a melodia original, constituindo uma versão vulgar do chamado «Fado do Manassés». Menano interpreta esta obra em compasso 4/4, em Si Maior, o que corresponde ao Lá Maior natural da gravação Manassés.
Serenata composta por volta de 1902-1903, emblemática do ciclo Belle Époque, vulgarmente identificada pela designação de “Fado Manassés”. É uma monodia de grande aparato vocal, em compasso 4/4 e tom de Lá Maior, destinada a primeiro tenor. Conjuntamente com outras do mesmo autor, catapultou decisivamente a Canção de Coimbra das marcações binárias singelas oitocentistas para os quaternários. Lucas Rodrigues Junot gravou este tema em Londres, em Maio de 1927, com uma outra letra, sob o título Um Fado de Coimbra (Fecha os olhos de mansinho), letra que viria a ser incorporada por Machado Soares no “Fado do Estudante”. No disco de Lucas Junot (COLUMBIA, 8102 - P 193) indica-se erradamente “Dr. António Menano” como autor. Significa isto que Junot aprendera a entoar a melodia com António Menano, tendo presumido que este fosse o autor da obra. Lucas Junot canta este tema meio tom acima de Menano e de Manassés, em Dó Maior.
Eis a letra gravada por Lucas Junot:

Fecha os olhos de mansinho
(Ai2) não os abras para ver
Que a vida de olhos fechados
(Ai2) Custa menos a viver.

Os teus olhos são tão lindos
(Ai2) que me lembram não sei bem
Se a mãe de Nosso Senhor
(Ai2) Se e a minha mãe que Deus tem.

O título “Fado Maria” ocorre em registos de Manassés de Lacerda, Porto, ca. 1905 (Zonophone X52063); de Eugénio de Noronha, Lisboa, ca. 1915 (Odeon 136.113); de Manuel Homem Cristo, Lisboa, ca. 1929 (Polydor 42143); de Felisberto Ferreirinha, Lisboa, ca. 1926-1927 (Parlophone B33503); de Augusto Lopes, Rio de Janeiro, 1929 (Parlophone 12.903).
António Menano gravou esta serenata duas vezes, adoptando como título “Fado Manassés”: Paris, Maio de 1927 (discos Odeon, 187.500 e A187.500 - Og 603), acompanhado à guitarra de Coimbra em afinação natural por Flávio Rodrigues da Silva, e no violão aço por Augusto Louro; em Berlim, no mês de Dezembro de 1928 (disco Odeon, LA 187.800a - Og 1017), acompanhado à guitarra de Lisboa por João Fernandes e em violão aço por Mário Marques. A letra vulgar que se apresenta em primeiro lugar é a da gravação de Berlim. Na gravação de Paris o 1º verso da 2ª quadra é ligeiramente diferente e tem mais uma sílaba (Ter saudades não as merece). Disponível em vinil (álbum de “Fados de Coimbra – António Menano”, Vol. I disco 1, EMI-VC 2605981, editado em 1985) e em cassete; também em compact disc:
-Heritage, HT CD 31, da Interstate Music, editado em 1995;
-“Arquivos do Fado”/Tradisom, Vol. V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995;
-CD “António Menano – Fados”, Vol. II, EMI-VC 7243 8 36445 2 0, editado em Dezembro de 1995.
Outros registos:
-EP “Coimbra. Dr. José Santana”, Alvorada, AEP 60 423, ano de 1962. O cantor foi acompanhado por Lauro de Oliveira/Fernando Barbosa (gg) e Ernesto Almeida (v);
-EP “Fados de Coimbra”, Porto, Orfeu, ATEP 6227, ano de 1967. Canta Manuel Branquinho acompanhado por Luís Plácido/José Delgado (gg) e Fernando Plácido (v);
-“Tempo(s) de Coimbra”, disco 1, EMI 0777 7 99608 2 8, editado em 1992, reedição da antologia vinil de 1984: canta Alfredo Correia acompanhado por António Brojo/António Portugal (gg) e Luís Filipe/Aurélio dos Reis (vv);
-CD “Melro – Janita Salomé” , Movieplay, MP 13.001, editado em 1993, com o título adulterado para “Trago comigo um pecado” e atribuição errada de letra e música a Francisco Menano. O registo ressente-se de vocalização excessivamente sustentada e de pronúncia regional alentejana. Remasterização do LP “Melro”, Orfeu, 1980, com acompanhamento por Octávio Sérgio e Durval Moreririnhas;
-CD “Coimbra Eterna – Grupo de Fados da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto”, Porto, Strauss, ST 5190, 1998, faixa Nº 12. Canta Napoleão Ferreira Amorim com pronúncia nortenha, acompanhado por Arménio Assis e Santos/António Moniz Palme (gg) e Campos Costa/Mário Ribeiro (vv);
-CD “Fados de Coimbra. Meu Menino Meu Anjo”, Porto, DCD 1038, ano de 1998, Faixa Nº 16. Formação estudantil activa no Porto constituída por Nuno Oliveira/Delfim Lemos (vozes), Rui Vilas Boas (g) e Castro Lopes (v). A letra encontra-se erradamente atribuída a Manassés de Lacerda. A ficha técnica do disco não explicita qual dos cantores faz a vocalização;
-CD “Velha Guarda Coimbrã. Grupo de Fados de Coimbra. Recordando Coimbra. Do Choupal até à Lapa”, CD 219, ano de 2002, Faixa Nº 11, com atribuição errada a António Menano. Canta José dos Santos Paulo, acompanhado por José dos Santos Paulo/Francisco Dias (gg) e António Ribeiro (v).

De todos os registos posteriores a António Menano, destacamos a notável interpretação protagonizada por José Manuel dos Santos (4/4, em Dó Maior), acompanhado por Nuno Guimarães/Manuel Borralho (gg) e Rui Pato/Jorge Rino (vv): EP “Coimbra Antiga”, Porto, Ofir AM 4.069, ano de 1966, com atribuição errada a António Menano; remasterização no CD “Recordando Nuno Guimarães”, Porto, Ofir DSA-CD-401, ano de 1997, faixa nº 15.

Conforme se escreveu anteriormente, o “Fado Maria”foi impresso nos fascículos de partituras do estabelecimento portuense de Artur Barbedo (1907), à Rua Mouzinho da Silveira, Nº 310, 1.º, 1ª série de “Fados e Canções Portuguezas cantados por Manassés de Lacerda”, tendo conhecido reedições em 1914 (casa Moreira de Sá). Correu também em Portugal e no Brasil, impresso no “Álbum Constantino”, de publicidade aos vinhos do Porto Constantino, Porto, Edição Ateliers Constantino de Almeida, 1916, p. 32.
A letra completa que consta da versão impressa abrange oito quadras, todas de autor não identificado, salvo a última que é do estudante António Albuquerque Stockler. Pode no entanto admitir-se que algumas sejam, do próprio Manassés. Na versão original, cuja melodia difere da versão vulgar menaniana, as quadras eram cantadas duas a duas sem separador, bisando-se os dísticos aos pares e intercalando-lhes demorados ais neumáticos. Manassés gravou a 1ª e 2ª coplas, pelo que fazemos assinalar na letra o lugar dos neumas (78 rpm Disque Zonophone. Fado Maria cantado pelo Senhor Manasses de Lacerda. Portuguese Tenor. Porto, X-52063, ca. 1905).

Maria, tu és na terra
(Ai2) O que os anjos no céu são;
Se tu morresses, Maria,
(Ai2) Morria o meu coração.

Dizem que o mar, no seu leito,
(Ai2) Tem grande profundidade,
Mas é mais funda a saudade
(Ai2) Que eu trago dentro do peito.

A rosa, para ser rosa,
Deve ser de Alexandria
A dama, para ser dama,
Deve chamar-se Maria.

Fui ao jardim das flores
Para alívio da minha dor;
Encontrei o teu retrato
Na mais brilhante flor.

És linda, Maria, és linda,
És linda, mulher formosa,
Tens o brilho duma estrela,
O aroma duma rosa.

Rosa branca, toma cor,
Não sejas tão desmaiada,
Que dizem as outras rosas,
Rosa branca não é nada.

Maria, tu és um anjo
E eu por anjo te venero,
Se te chego a lograr,
Nada do mundo mais quero.

Quando eu morrer um dia,
Quero ter por mausoléu
Um teu sorriso, Maria,
Por mortalha um beijo teu.

Manassés de Lacerda efectuou a gravação deste espécime em compasso 4/4, no tom de Lá Maior natural, com acompanhamento mais simplificado do que o presente na matriz fonografia Menano.

Exemplo do acompanhamento:
1º dístico: Lá M, 2ª Si, Si m 2ª Lá, Lá M
2º dístico: 2ª Si, Si m 2ª Lá, Lá M.

A última quadra, “Quando eu morrer um dia”, é de António Pinto de Albuquerque Stokler e pertence à Canção do Estudo, uma peça musical da Récita dos Quintanistas de 1896-1897.

FADO DA PRAIA
Música: António Paulo Menano (1895-1969), dedicada “ Ao muito amigo Barão do Linhó”
Letra: 1ª quadra de Augusto César Ferreira Gil (1873-1929); 2ª quadra de António Paulo Menano; 3ª quadra de Horácio Paulo Menano
Incipit: Resume-se a coisa pouca
Origem: Coimbra
Data: 1924

Resume-se a coisa pouca,
Toda a minha aspiração.
Poder dar à tua boca
Os meus beijos e o meu pão.

Maria quero-te tanto
Que só te peço que um dia,
Quando tu souberes o quanto,
Me queiras tanto, Maria.

Perguntas-me o que é morrer,
Meu amor, minha alegria,
Morrer é passar um dia
Todo inteiro sem te ver!

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento:
1º Dístico: Si m, Ré M Mi m, 2ª Si, Si M;
2º Dístico: Si m, 2ª Si, 2ª Si, Si m.

Informação complementar
Canção musical estrófica em compasso quaternário, vocalizada por António Menano em Si menor. A edição musical desta ária, com a letra supra, copyright de 1924, foi editada pela Sassetti & Cª., com capa de Stuart de Carvalhais; nela figura a dedicatória: Ao muito amigo Barão do Linhó, mas os nomes dos autores das quadras estão omissos.
António Menano gravou esta canção, com este título e uma outra letra, em Paris, no início de 1927 (discos Odeon, 187.501 e A 187.501 - Og 604). No disco não vem indicado o acompanhamento (Flávio Rodrigues da Silva/Augusto Louro) nem os autores das quadras. Gravação disponível em vinil (Album de Fados de Coimbra – António Menano, Vol. I, disco 1, EMI-VC 2605981, editado em 1985) e em cassete; também em compact disc: CD António Menano – Fados, Vol. II, EMI-VC 7243 8 36445 2 0, editado em Dezembro de 1995 (faixa extra).
A letra gravada pelo Dr. António Menano é a seguinte:

Vai tão longe a mocidade,
Vejo tão perto o meu fim,
Que, às vezes, dá-me vontade
De deitar luto por mim!...

Ai de quem chama dos outros
Àquilo que já foi seu;
Ai daquele que tem sede
Da água que já bebeu...

A primeira quadra presente no fonograma Menano é de Eugénio Sanches da Gama (Pela Vida Fora, ed. Imprensa da Universidade, Coimbra, 1932, pág. 125). A primeira quadra impressa na respectiva partitura, de Augusto Ferreira Gil (1873-1929), vem no livro Versos, Portugália Editora, 6ª edição, pág. 46, datando de 1898.

FADO DAS ROMARIAS
Música: António Paulo Menano (1895-1969), dedicado «Ao muito amigo Espadinha»
Letra: autor desconhecido
Incipit: Benditas sejam as fontes
Origem: Coimbra
Data: ca. 1917

Benditas sejam as fontes
Solitárias nos caminhos
Onde vão matar a sede
As bocas dos pobrezinhos.

Bendita seja a candeia
D’azeite que me alumia
Benditos sejam os olhos
Que me dão a luz do dia.

Bendita sejam as teias
Que dão o linho sagrado
Onde em Sexta-Feira Santa
Vai Jesus amortalhado.

Bendita seja a pobreza
Que não desonra ninguém
A mãe de Jesus era pobre
E Jesus pobre também.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento da 1ª Quadra:
1º Dístico: Ré# m, Sol# m 2ª Ré#, Ré# m;
2º dístico: 2ª Sol#, Sol# m 2ª Ré#, Ré# m.
Esquema do acompanhamento da 2ª Quadra:
1º Dístico: Ré# m, 2ª Sol# m 2ª Ré#, Ré# m;
2º Dístico: Sol# m, Ré# m Ré#, Ré# m.

Informação complementar:
Canção musical aparentemente estrófica em sede de primeira audição, mas que na realidade tem duas partes musicais distintas, com acompanhamentos também diferentes da 1ª para a 2ª copla. A melodia é cantada por António Menano em compasso quaternário, na tonalidade de Ré# menor, com dedicatória impressa “ao muito amigo Espadinha”. A primeira edição impressa veio a lume por volta de 1917-1918 na Litografia do Salão Mozart, Lisboa. Foi reeditada em 1923 pelo Salão Mozart, de Lisboa, sob o título “Canções de Portugal. Fado das Romarias”, com omissão de letra e de data. Por uma reedição de 1929 conseguimos apurar que a partitura atingiu pelo menos a 8ª reimpressão.
António Menano gravou esta canção de temática ruralista em 1927, em Paris (Discos Odeon, 187.502 e A 187.502 – master Og 605); dado tratar-se de disco de 25 cm e 78 rpm, gravou apenas as duas primeiras quadras, cantando-as por ordem inversa. Disponível em compact disc:
- CD António Menano – Fados, Vol. II, EMI 7243 8 36445 2 0, editado em Dezembro de 1995.
O fadista profissional Alberto Costa gravou este tema um ano antes de António Menano, em Agosto de 1926, precisamente com as mesmas quadras e pela mesma ordem que gravaria António Menano (Disco Columbia, J 628 – master P 32). Tema igualmente registado pelo soprano Adelina Fernandes, por Julho/Agosto de 1926 no Columbia J628, P32, cantora que chegou a colaborar em recitais do Orfeon Académico no Coliseu de Lisboa e conviveu com António Menano.

FADO DO BUSSACO
Música: António Paulo Menano (1895-1969), dedicada “Ao muito amigo Conde de Almada e Avranches”
Letra: 1ª e 2ª quadras de Raimundo António de Bulhão Pato; 3ª quadra popular
Incipit: Dois beijos tiveste um dia
Origem: Coimbra
Data: ca. 1923-1924

Dois beijos tiveste um dia:
Da Aurora, quando nasceste;
E à tarde, quando morreste,
Do Sol que também morria.

E o Sol, no espaço de um dia,
Que mais podia fazer,
Que dar-te um beijo ao nascer
E outro, quando morria!

Mandei ler a minha sina
Na palma da tua mão;
Deu-me a sorte andar contigo
Dentro do meu coração.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento:
1º Dístico: Mi M, 2ª Mi 2ª Mi, Mi M;
2º Dístico: Mi M, 2ª Mi 2ª Mi, Mi M.

Informação complementar:
Edição musical da Sassetti & C.ª, Lisboa, copyright de 1924; nela se indica o autor da música, António Menano, mas é omissa quanto à autoria da letra. A letra está conforme a edição musical e é a cantada por. António Menano nos discos ODEON, 187503 e A 187503, (Og 606), da gravação de Paris, efectuada em Maio de 1927. A gravação está disponível em CD: CD António Menano – Fados, Vol. II, Emi 7243 8 36445 2 0, editado em Dezembro de 1995.
As duas primeiras quadras são de Bulhão Pato. Esta poesia intitula-se Dois Beijos, subtítulo «A um recém-nascido que ia a enterrar» e compreende três quadras de que estas são a primeira e a última; a 2ª quadra é a seguinte:

Nos instantâneos lampejos
Foi ditosa a tua sorte:
Quantos não têm desses beijos
Nem na vida nem na morte!

Na 2ª quadra (3ª da poesia), o último verso encontra-se alterado; no original, é “E um beijo quando morria!” A Mata do Buçaco, profusamente visitada por estudantes desde a emergência do Romantismo, mereceu poucas atenções da poesia popular:

Adeus cerca do Buçaco;
Adeus real portaria;
Adeus, caveira mirrada
Serás minha companhia.

Damos ainda nota de outras duas, recolhidas pelo Dr. José Machado Lopes e comunicadas em 25/02/2004, variantes de outras espalhadas por Portugal, conforme os gostos dos cantores e o amor aos topónimos:

Se fores um dia ao Buçaco
Traz-me uma flor de papel
Que tenha esses lindos nomes
A Maria e o Manel.

Foste um dia ao Buçaco
Nem uma flor me trouxeste
Nem os moiros da moirama
Faziam o que tu fizeste”.

FADO DA SÉ VELHA
Música: Francisco Paulo Menano (1888-1970)
Letra: 1ª quadra de autor não identificado; 2ª quadra popular
Incipit: Se eu tivesse olhos assim
Data: ca. 1920-1922

Se eu tivesse olhos assim,
Não os fitava em ninguém,
Ou, então, só os fitava
Em quem me quisesse bem.

Não olhes para os meus olhos,
Tão velhinhos, nesta idade,
Cautela que te não peguem
A doença da saudade.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Si m, 2ª Mi, Mi m 2ª Si, Si m;
2º dístico: Si m, 2ª Si 2ª Si, Si m (1ª vez);
2º dístico: Si m, 2ª Mi, Mi m 2ª Si, Si m (2ª vez).

Informação complementar:
Espécime gravado por António Menano em 1927, em Paris (discos Odeon, 187504 e A 187504 – Og 607). Disponível em long play (álbum “Fados de Coimbra – António Menano”, disco 2 do volume II, EMI 2612291, editado em 1986 com etiqueta Odeon) e em cassete; também em compact disc: CD “Heritage”, HT CD 31, da Interstate Music, editado em 1995; “Arquivos do Fado”/ Tradison, Vol. V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995; CD António Menano – Fados, Vol. II, EMI 7243 8 36445 2 0, editado em 1995.
Esta mesma melodia também é cantada com versos de Américo de Oliveira Durão (1894-1969), sob o título vulgar Moça d’Aldeia (Aquela moça de aldeia), tendo sido gravada inicialmente com a letra referida por José Paradela de Oliveira, mas mantendo o título original. Por conseguinte, o primeiro cantor a adulterar fonograficamente o título foi José Afonso, o qual também estropia as quadras de Américo Durão. A 2ª quadra é popular e encontra-se em Carlos Martins, CANCIONEIRO DA SAUDADE, 1920, pág. 53, quadra nº 213.
Variante literária adoptada por José Paradela de Oliveira:

Aquela moça de aldeia
Que eu conduzir ao altar,
Há-de trazer-me à ideia
Desejos de lhe rezar.

Amei-te só de me olhares,
O coração adivinha:
- Deus faz as almas aos pares,
Fez a tua e fez a minha.

A letra é de Américo de Oliveira Durão (1894-1969) e encontra-se no Canto II do livro Poema de Humildade, 1917.
José Paradela de Oliveira, em Maio de 1927, acompanhado à guitarra por Francisco da Silveira Morais e António Lopes Dias, gravou a melodia em epígrafe com a letra transcrita, mantendo-lhe o título Fado da Sé Velha (disco His Master’s Voice, EQ 86). Que saibamos, Paradela é o único que canta correctamente a letra, sem a estropiar. Disponível em compact disc:
-CD Heritage, HT CD 15, da Interstate Music, editado em 1992;
-“Arquivos do Fado”/Tradisom, Vol. II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
-Col. “Um Século de Fado”/Ediclube, CD Nº 1/Coimbra, EMI 7243 5 20633 2 1, editado em 1999.
José Afonso, acompanhado em 1ª guitarra de Coimbra por António Portugal, em 2ª guitarra por Jorge Godinho e no violão por Manuel Pepe e Levy Baptista, gravou o tema em 1956, dando-lhe por título o incipit, Aquela Moça da Aldeia (disco Alvorada, MEP 60280, de 45 rpm). A letra cantada por José Afonso está bastante estropiada, provavelmente devido a deficiente aprendizagem de outiva. Assim, no 1º verso em vez «de aldeia» canta “da aldeia”, no 4º verso, em vez de «Desejos de lhe rezar», canta “Desejos de eu ir rezar”; no 3º verso da 2ª quadra, em vez do presente do indicativo, «Deus faz...» emprega o pretérito perfeito “Deus fez...” e, finalmente, no último verso, em vez de «Fez a tua e fez a minha», canta “E da tua vida minha”. Esta gravação foi reeditada em em long play (LP “Coimbra Menina e Moça”, Alvorada, ALV 04 100) e em compact disc:
-CD “José Afonso – De Capa e Batina”, Movieplay, JÁ 800, editado em 1996;
-CD “Fados e Guitarradas de Coimbra”, Movieplay, MOV. 30.332/B, editado em 1996;
Gravado pelo Grupo de Fados de Coimbra Alma Mater. Canta Carlos Pedro, acompanhado à guitarra por Pedro Anastácio e Nuno Cadete e, à viola, por António Paulo (CD Alma Mater – Grupo de Fados de Coimbra, Secção de Fado/AAC, CD-SF 005, editado em 1995); no disco vem com o insólito título Fado de Santa Cruz, indicando-se como presumível autor José Paradela de Oliveira. O estropiamento da letra é idêntico ao de José Afonso mas com a agravante de a conjunção «e» preceder o 1º, 3º e 5º versos.
José Mesquita também gravou esta melodia e em vez de cantar que tem desejos de rezar àquela moça (que é, entenda-se, uma Santa), canta também como José Afonso que tem desejos de ir rezar (sujeito indeterminado). Cf. disco RODA SS RL 9001, do ano de 1979.
Transcrição da solfa, letra original e sua variante (Aquela moça de aldeia) em Carlos Caiado, Antologia do Fado de Coimbra, Coimbra, 1986, págs. 58-59.
Entre as décadas de 1930-1960, José Paradela de Oliveira cantou regularmente este tema, identificando-o pela designação de “Fado das Pombas”, sendo a 1ª quadra de autor não identificado. A 2ª copla é de Fernando Pessoa e encontra-se no livro “Poesias de Fernando Pessoa”, Edições Ática, Colecção Poesia. É a 1ª quadra da poesia Marinha e foi publicada no N.º 5, de Junho de 1927 na revista Presença.

Dizem que as almas são pombas,
Brancas, negras, não sei bem;
A minha só tem das pombas
As penas que as pombas têm.

Ditosos a quem acenas
Um lenço de despedida!
São felizes: têm pena...
Eu sofro sem pena a vida.

BALADA
Música: autor não identificado
Letra: 1ª quadra de Horácio Paulo Menano; 2ª quadra popular
Incipit: Perguntas-me o que é morrer
Origem: Coimbra
Data: 2ª década do século XX

Perguntas-me o que é morrer,
Meu amor, minha alegria,
Morrer é passar um dia
Todo inteiro sem te ver!

Soube que estavas doente
E eu a Deus pedi, rezando,
Que me tirasse a saúde
E aos poucos t’a fosse dando.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: si 3ªsi, si; (1ª vez)
1º dístico: si, 3ªsi 2ªsi, si; (2ª vez)

Informação complementar:
Tema de autor desconhecido, possivelmente da lavra de Horácio Paulo Menano, atribuição que não nos atrevemos a subscrever por falta de elementos seguros.
António Menano gravou esta balada em Maio de 1927, em Paris (Discos ODEON, 187.505 e A187.505 – master Og 608), acompanhado à guitarra em afinação natural por Flávio Rodrigues da Silva e em violão aço por Augusto Louro. Gravação disponível em vinil (Album Fados de Coimbra – António Menano, Vol. I, disco 1, EMI-VC 2605981, editado em 1985) e em cassete. Tema não recuperado posteriormente nas vozes activas em Coimbra. A 2ª quadra cantada por António Menano foi extraída da canção Dá-me Um Sorriso dos Teus, cuja solfa e letra figuram em Jaime Lopes Dias, Etnografia da Beira. Volume IV. O que a nossa gente canta, Lisboa, Torres & Cta./Livraria Ferin, 1937, págs. 23 e 135.

CANÇÃO DOS MALMEQUERES
Música: António Paulo Menano (1895-1969), dedicada “Ao muito amigo Varella Cid”
Letra: António Tomás Botto (1897-1959)
Incipit: Um amigo meu mandou-me
Data: ca. 1923-1924

Um amigo meu mandou-me
Um ramo de malmequeres,
Para os desfolhar e ver
Como pensam as mulheres.

Para ver como tu pensas
Eu desfolhei mais de cem;
Os malmequeres não mentiram,
Nunca me quiseste bem.

Mando-te o resto, desfolha-os;
Não haverá malmequer
Que te não diga no fim:
Bem me quer e bem me quer.

Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Fá# m Si m, F# m;
2º dístico: Si m, Fá# m 2ª Fá#, Fá# m.

Informação complementar
A Sassetti editou esta canção sob o título “BALLADA DOS MALMEQUERES”, copyright de 1924. A edição tem capa de Stuart Carvalhais, é omissa quanto à autoria da letra mas nela consta que a música é de António Menano, dedicada «Ao muito amigo Varella Cid». Trata-se do maestro Lourenço Soares Varella Cid (Lisboa, 27-09-1898; idem 03-09-1987), professor do Conservatório Nacional e notável pianista.
A letra da edição musical é a gravada por António Menano no início de 1927, em Paris, sob o título Canção dos Malmequeres (discos ODEON, 187.506 e A187.506 - Og 609). A letra é de António Botto e a 1ª quadra encontra-se numa placa de prata de uma caixa de charutos oferecida por António Botto a um seu muito grande e íntimo amigo, aristocrata e grande esteta, de Oliveira do Hospital, na casa-museu da família deste na dita vila. Na discografia, a 3ª quadra aparece por vezes a(du)lterada por vários cantores sem se descortinar motivo plausível, salvo uma deficiente e pouco cuidada aprendizagem.
A referida gravação encontra-se disponível em vinil (“Album de Fados de Coimbra – António Menano”, Vol. I, disco 2, EMI-VC 2605991, editado em 1985) e em cassete; também em compact disc: CD “António Menano – Canções”, EMI-VC 7243 8 37495 2 2, editado em Setembro de 1996.
Gravações disponíveis em compact disc de outros cantores:
-“Tempo(s) de Coimbra”, disco 1, EMI 0777 7 99608 2 8, editado em 1992 (José Mesquita) a partir da edição vinil de 1984, com estropiamento da letra. Acompanhamento feito por António Brojo/António Portugal (gg), Aurélio Reis/Luís Filipe (vv);
-Col. “Um Século de Fado”/Ediclube, CD Nº 5/Coimbra, EMI 7243 5 20639 2 5, de 1999 (José Mesquita).
Adriano Correia de Oliveira, com uma letra diferente e sob o título «Balada do Estudante» (Capa negra, rosa negra), gravou esta mesma música (EP Orfeu, ATEP 6033, editado em 1961), servindo de acompanhamento um arranjo de Paulo Alão na viola de cordas de nylon:

Capa negra, rosa negra,
Rosa negra sem roseira,
Abre-te bem nos meus ombros
Como, ao vento, uma bandeira.

Eu sou livre como as aves
E passo a vida a cantar;
Coração que nasceu livre
Não se pode acorrentar.

Quem canta por conta sua
Canta sempre com razão
Mais vale ser pardal na rua
Que rouxinol na prisão.

No disco vem a indicação de ser música “popular”. Na verdade, a música é a da CANÇÃO dos Malmequeres (Um amigo meu mandou-me), de António Menano. Reeditado em long play (LP’s “Fados de Coimbra – Adriano Correia de Oliveira”, Orfeu, SB 1224, SB 2002 e SBIAT 5021); neles se persevera novamente ser música popular. Remasterização na antologia Adriano. Obra Completa, CD Adriano. Fados e Baladas de Coimbra, Orfeu 35. 004/Movieplay Portuguesa, ano de 1994, faixa nº 9; idem, CD Adriano. Cantigas Portuguesas, Orfeu 35. 005/Movieplay Portuguesa, ano de 1994, faixa nº 6, colegidos por José Niza. Em Carlos Caiado, Antologia do Fado de Coimbra, Coimbra, 1986, págs. 48-49, confunde-se o tema que se pretende transcrever (Capa Negra, Rosa Negra, de 1963), com a falsa Balada do Estudante (gravação de 1961).
As duas primeiras quadras são de Manuel Alegre. A 3ª quadra é de António Aleixo e apresenta-se substancialmente modificada no 2º e 3º versos, quadra cuja versão original é a seguinte (Cf. "Este Livro Que Vos Deixo", 7ª edição, Loulé 1983, pág. 74):

Quem canta por conta sua
Quer ser, com muita razão,
Antes pardal, cá na rua
Que rouxinol na prisão.

Adriano Correia de Oliveira voltou a gravar esta mesma letra, mas optando por uma música de sua própria autoria, sob o título Capa Negra, Rosa Negra (Disco Orfeu, ATEP 60 97, ano de 1963). Nesta outra composição, subsitui a quadra de António Aleixo por outra de Manuel Alegre (Eu sou livre como as aves).

relojes web gratis