domingo, abril 01, 2007


Teófilo Braga (11)
Joaquim Teófilo Fernandes Braga (Ponta Delgada, 24/02/1843; Lisboa, 28/01/1924) cursou Direito na UC entre 1861-1867, distinguindo-se como sacrificado estudante trabalhador e incansável investigador.
Aluno discreto, Teófilo apenas se mostrou a propósito da Questão Coimbrã. A figura franzina e a personalidade ensimesmada faziam dele uma pálida sombra do fulgurante Antero de Quental.
Teófilo preparou-se cuidadosamente para o ingresso no claustro docente da Fac. de Direito. A vontade de fazer currículo cedo fez prevalecer o critério da quantidade sobre o da qualidade, revelando alguma falta de lisura da parte de Teófilo para com os mais directos colaboradores.
Um bom exemplo desta pouca escorreiteza é a obra "Cantos Populares do Arquipélago Açoriano, coligidos e anotados por Teófilo Braga", dada à estampa no Porto em 1869. Quem efectivamente efectuou esta extensa recolha e a entregou a Teófilo para edição comentada foi o antigo estudante de Coimbra Dr. João Teixeira Soares de Sousa (1827-1882), nativo da Ilha de São Jorge que na sua insula natal efectuou este pioneiro trabalho de campo.
Teófilo edificou árduo currículo e prestou actos magnos de doutoramento. Em 26 de Julho de 1868 recebeu as insígnias doutorais de Direito. Porém, o sucesso editorial experimentado por Teófilo não encontraria correspondente no mundo da docência. Já doutorado, concorreu a uma vaga na Academia Politécnica do Porto e viu-se preterido por falta de antiguidade. Em 1871 candidatou-se a uma vaga de lente na Fac. de Direito da UC e foi novamente preterido com o fatal argumento da pouca antiguidade. Finalmente pôde ver o seu mérito coroado de sucesso nas brilhantes provas de admissão ao Curso Superior de Letras, prestadas em 1872, e tendo à ilharga concorrentes de peso como Pinheiro Chagas e Luciano Cordeiro.
Teófilo considerou o resultado do concurso de 1871 uma afronta pessoal e jamais perdoou à UC de Coimbra e à sua Fac. de Direito. Sempre que se lhe ofereceu oportunidade, não deixou de amesquinhar a UC, usando de uma escrita ressentida que se espraia em centenas de páginas da sua "História da Universidade", da "História da Literatura Portuguesa" e noutras.
O Cónego Doutor Isaías da Rosa Pereira era detentor de uma colecção completa da "História da Universidade" e nas margens dos quatro tomos divertira-se durante anos a anotar a lápis "tolices!". Quando o interpelei sobre os comentários, respondeu como um comedido e cândido sorriso, "o Teófilo não era um investigador profundo".
Pontífice do positivismo em Portugal e desde cedo republicano, Teófilo dedicou-se à investigação, à docência e à divulgação dos ideais republicanos. A reprovação de José Eugénio Ferreira em 28 de Fevereiro de 1907 não deixaria Teófilo indiferente. Projectando no candidato reprovado as suas negativizadas experiências de 1871, Teófilo escreveu uma carta de solidariedade a José Eugénio Ferreira em 02 de Março de 1907, documento publicado pelo jornal "O Século", edição de 06 de Março.
No dia 03 de Março, a Academia deslocou-se a Lisboa de combóio com o fito de parlamentar com o Governo de João Franco. Eram perto de 400 os académicos desembarcados na Estação do Rossio nesse dia 03 de Março de 1907, pelas 8:40h da manhã. Festiva e solidariamente acolhidos pelos estudantes da Escola Médico-Cirúrgica, Curso Superior de Letras, Escola Politécnica e Instituto de Agronomia, a Academia reuniu às 14:00h no Ateneu Comercial para definir estratégias quanto aos rumos da manifestação.
Teófilo não resistiu a comparecer no Ateneu. Era então lente proprietário da cadeira de Literaturas Modernas no Curso Superior de Letras de Lisboa (1872-1910). Estrondosamente ovacionado, proferiu uma palestra sobre temas de Filosofia e Direito, mas como era seu hábito, caldeou ciência com propaganda e frases de protesto.
Após o 05 de Outubro, Teófilo exerceu o cargo de Presidente do Governo Provisório (1910-1911), tendo deixado uma imagem de marca de extrema austeridade vestimentária e de rigoroso despojamento protocolar. Em 1915 seria sufragado Presidente da República.
Apesar de ser autor de uma volumosa obra em quatro tomos sobre a UC, António José de Almeida não convidou Teófilo Braga para o cargo de reitor em Outubro de 1910. E não o fez seguramente por entender que Teófilo, eternamente ressentido e obstinado, não lhe dava garantias de moderação e de prudência para timonar o leme da reforma que AJA se propunha implementar.
Embora não gostasse de admitir, Teófilo tinha um flanco muito conservador, ligado aos estudos etnológico-positivistas, faceta que os integralistas reinvindicaram para fazerem do velho patriarca republicano um dos seus mestres fundamentadores.
Fontes on line:
-"Figuras da Cultura Portuguesa", por Amadeu Carvalho Homem,
-"Teófilo Braga",
-"Biografia do Presidente da República Teófilo Braga", por Maria Luísa Paiva Boléo (de onde extraímos a foto),
-"Antigos Presidentes: Teófilo Braga",
-"Joaquim Teófilo Fernandes Braga. Portugal. Dicionário Histórico",
AMNunes

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