segunda-feira, maio 23, 2005


Guitarra Inglesa: Guitarra Inglesa com tampo em pinho Flandres, escala de 14 pontos, chapa de latão com chavinha tipo relógio, boca redonda aberta, voluta circular, fabricada em Portugal por meados do século XIX. Pertence ao acervo do Museu da Música e vem fotografada no rico catálogo ilustrado "Fado. Vozes e Sombras", Lisboa, ELECTA, 1994, pág. 186, doc. 8.
Eram deste tipo as guitarras inglesas utilizadas pelos estudantes da UC na época de João de Deus Ramos, Antero de Quental e Mata Carochas (décadas de 1850 e 1860), no prolongamente de práticas que remontavam ao século XVIII.
Já fomos divulgando neste blog obras musicais que provam inequivocamente a presença da "guitarra" na cidade de Coimbra pelo menos um século antes do ano de 1870, data que tem sido citada por Afonso Lopes Vieira, Armando Leça, Ernesto Veiga de Oliveira, Armando Simões, Pedro Caldeira Cabral e Ruy Vieira Nery, para indicar a pseudo entrada da "guitarra do fado" oriunda de Lisboa. Aceitando este dogma, Armando Simões (A Guitarra, 1974, pág. 114), contradita-se na página 130 do seu clássico estudo, pois baseado nas recordações orais prestadas pelo guitarreiro Armando Neves escreve (e bem!): não chegou ao século XX lembrança alguma de os violeiros activos em Coimbra terem fabricado "guitarras do fado", ou do tipo lisboeta vulgar com a famosa pá de madeira e cravelhas (depreciativamente rotuladas de "fancaria" e "cepos"); desde que a indústria local de guitarras conquistou volume digno de registo, ou seja por volta de 1870, nas oficinas dos Brunos ao Paço do Conde e de António dos Santos em Montarroio, iniciou-se logo o fabrico e aplicaçãoo da chapa de leque com sistema de parafuso sem fim, pelo que a haver alguém na cidade que tocassse o modelo lisboeta de pá de madeira só mesmo nas Fogueiras de São João numa noitada de toque ao rasgado (diz-se que a desafinação era aflitiva). No entanto, ainda se continuaram a fabricar localmente guitarras na mais pura tradição da "guitarra inglesa", seja aplicando artísticas rosáceas nas bocas (Hilário teve uma guitarra com rosácea), seja rematando o braço com a chapa de tarracha e chavinha. Assim fazia, por exemplo, Bento Lobo, herdeiro da violaria dos Brunos, que na década de 1880 vendia em Coimbra e nas feiras e romarias dos concelhos vizinhos. Recordemos que a primeira guitarra de Antero da Veiga, adquirida em 1885, era de marca Lobo e ainda apresentava a clássica chapa de chavinha.
Comprei o catálogo aqui referido em 2001 no Museu de Lamego, por dois pequenos "grandes" motivos: o primeiro foi o desejo de querer inteirar-me sobre os grandes investimentos que o projecto Lisboa Capital Europeia da Cultura 1994 dedicara ao Fado; o 2º , e mais importante, residiu no facto de o coordenador do projecto, Prof. Joaquim Pais de Brito vir pela primeira vez muito lucidamente em cem anos escrever que não integrava a Canção de Coimbra na História do Fado de Lisboa. Valeu!
Foto e texto enviados por António M. Nunes.
Posted by Hello

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