Um notável guitarrista académico, figura de relevo da sua geração universitária
Pelo Dr. Octaviano do Carmo e Sá. Crónica publicada em O Primeiro de Janeiro, de 18 de Outubro de 1956. Poeta, conimbrógrafo de relevo, advogado e jornalista, Octaviano de Sá nasceu em Coimbra em 30 de Junho de 1884, cidade onde faleceu em 1956. Formou-se na Faculdade de Direito da UC em 1915. Publicou Nos domínios de Minerva (1939), A tricana no folclore coimbrão (1942), Quadras dos estudantes a Coimbra (1940). Acompanhou a Tuna Académica ao Brasil, no Verão de 1925, como correspondente da Gazeta de Coimbra. O texto relativo ao antigo guitarrista Manuel Mansilha foi-nos remetido pelo seu sobrinho, Dr. Francisco Mansilha em 2002. Transcrição e anotações de António M. Nunes.
No ano lectivo de 1897-1898, concluía o curso de Direito na Universidade de Coimbra, o quintanista Manuel Teixeira de Sampaio Mansilha, natural de Alijó[1]. Tinha nesse curso o número oitenta e era asa esquerda do poeta Fausto Guedes Teixeira.
O quinto ano jurídico constava apenas de oitenta e quatro alunos. O último, Carlos Fuzeta, foi reputado advogado algarvio. Ao curso pertenceram, entre outros, Alexandre Braga, Manuel Augusto Granjo, Cláudio Olímpio, Eugénio Carvalho e Silva, Gaspar Ferreira Baltar, Manuel Dias Gonçalves Cerejeira, António Alexandre de Matos, Pinto Osório, figuras de grande relevo no foro. Ficou nesta cidade Amadeu Ferraz de Carvalho, que se dedicou ao ensino nas escolas industriais, e foi uma autoridade nos assuntos toponímicos locais.
Manuel Mansilha, há pouco falecido já em idade avançada, teve renome na sua geração académica, sobretudo por bem poder considerar-se um “virtuose” na guitarra[2]. Não passou por Coimbra outro até Mansilha, que melhor dedilhasse as cordas desse instrumento. Saiu até dos acordes do Fado, que seria a expressão mais característica da guitarra[3], e compôs várias músicas que lhe deram novos aspectos[4]. Ainda hoje os guitarristas tocam uma valsa de Mansilha, de ritmo até então desconhecido na adaptação a esse instrumento[5]. Manuel Mansilha criou, assim, a justa fama do melhor guitarrista da Academia, e nas noites das suas saídas em serenata pela ruas desta Coimbra lendária tinha uma multidão a admirá-lo, e, mesmo, a aclamá-lo[6].
Nesse tempo, no entanto, havia como seus contemporâneos, guitarristas de mérito, como Manuel Luís Tavares, que compôs para uma récita de quintanistas alguns números de música, e, entre eles, um fado, que andou largo tempo em gargantas de trovadores, pelas veladas nocturnas coimbrãs, como motivo de grande inspiração e superior execução. Este académico e guitarrista era da região bairradina, próxima desta cidade. Ficou sempre com gosto pela guitarra e ouviam-no, algumas vezes, pessoas amigas nos seus verdadeiros concertos desse instrumento[7].
Outro, também, foi João de Deus Ramos, que cultivou muito o harpejo da guitarra, em que era igualmente exímio, deixando ao sair de Coimbra, bacharel formado em Direito, um fado no tom “dó menor” que ainda hoje se ouve muitas vezes tocado pelos melhores artistas da especialidade[8]. É certo que João de Deus Ramos, desde os primeiros anos da Universidade, começou a revelar o seu mérito em tal instrumento, mas dificilmente, alcançaria o renome de Manuel Mansilha verdadeiramente iluminado da guitarra.
É que Manuel Mansilha tinha uma expressão própria para a execução desse instrumento, e a sua figura de romântico, de sonhador, dava extraordinária expressão à sua arte. Era uma figura gentil de moço vivendo enlevado nesse sonho de guitarrista que deu, muitas vezes, às noites de Coimbra, um especial encanto nessas horas de balada. Apesar de ter morado para a Rua Garrett e aos Arcos do Jardim, vinha às noites à Baixa com os seus colegas, e daí saiam as serenatas até madrugada alta.
Tinha uma grande predilecção por ser ouvido no Arco de Almedina, naquela entrada para o Pátio dos Castilhos, rua de certa inclinação, sem saída alguma, que tem como cenário formoso a velha Torre, de pedra morena, e um arco de entrada para esse pátio curioso no aspecto arquitectónico. A Baixa era então local de certa boémia nocturna dos cafés Marques Pinto e Lobo da Sofia, da reunião dos estudantes, no Zé Magrinho, Julião das Iscas, e outros atractivos da mocidade.
Uma noite, o aluno de Medicina João Duarte de Oliveira que ao tempo fazia parte de uma República de beirões, à Couraça dos Apóstolos, e também tinha pretensões a guitarrista, passou e ouviu-o[9]. Não esperou mais tempo. Foi ao seu quarto, pegou da guitarra, e, junto de Manuel Mansilha, atirou-a à calçada, espatifando-a e dizendo ser o maior preito de admiração pelo grande artista, que desconhecia e tanto o havia impressionado na inspiração e na execução dos motivos saídos daquelas cordas de oiro.
Apesar disso, nunca deixou de tocar, de aprender guitarra. Já Professor da Universidade e Reitor, aliás muito distinto, desse estabelecimento científico, ainda a ocultas, nos momentos em que se confiava a si próprio, puxava ao peito a guitarra, e, fazia exercícios nas suas escalas; mas nunca pensou imitar ou desbancar o seu colega Manuel Mansilha[10].
Uma noite encontramo-nos no Teatro Avenida, num sarau académico, a aplaudir o guitarrista Artur Paredes. Falámos do êxito dessa noite, alcançado por aquele esplêndido executor da guitarra, e o ilustre Doutor João Duarte de Oliveira, sem esquecer a noite em que ouvira pela primeira vez que o obrigara a partir a guitarra, comentou o facto nestes termos: “exímio, mas como o Mansilha, nenhum!”
Da geração académica a que este guitarrista, executor e compositor, pertencera, faziam parte o célebre Augusto Hilário Alves, boémio académico coimbrão de nomeada, dilecto amigo do poeta Fausto Guedes Teixeira, a quem este deu tantas quadras de amor para a sua magnífica voz de trovador. O Hilário não sabia da guitarra mais do que os tons, em maior ou menor, que Manuel Mansilha lhe ensinara e nos quais compôs os seus fados.
Até então tocava bandolim, e foi este o instrumento de cordas a que alguns jornalistas se referiram quando da sua particular homenagem a João de Deus, na ocasião da grande consagração ao Poeta do Campo de Flores. Delfim de carvalho, “Phindel”, ao tempo jornalista desta cidade para O Primeiro de Janeiro, atribuía a Hilário a execução do bandolim de quatro cordas de tripa. O boémio teve muito tempo, porém, para aprender os tons na guitarra, ensinados por tão bom mestre. Andou largos anos em preparatórios Médicos e, quando Manuel Mansilha deixou Coimbra, entrava como estudante, francamente, naquela Faculdade[11].
No ano de quintanista de Manuel Mansilha, o seu condiscípulo Manuel Dias Gonçalves Cerejeira, foi autor duma récita que ficou entre as melhores dos estudantes de Direito. Deu-lhe o título Os Boémios e foi qualquer coisa de admirável pelo conjunto reunido. Tinha lindíssimas canções que o público chamou a si, trazendo-as para a notoriedade das canções populares.
Os versos eram de superior inspiração e o entrecho prestava-se, esplendidamente, a essas belas rimas. Manuel Mansilha contribuiu com a sua colaboração valiosa para tão extraordinário êxito. Ainda hoje, ao recordar tais festas académicas, se fala muito dos méritos dessa peça teatral dos estudantes, dum curso onde havia personalidades de grande valor.
Manuel Teixeira de Sampaio Mansilha, acabado o seu curso de Direito foi para Macau, onde exerceu o cargo de Secretário Geral do Governo dessa província. Proclamada a República, recordo-me de o ter visto de regresso ao Continente, fazendo parte duma espécie de “república” que antigos estudantes arranjaram na Capital. Foi este guitarrista académico coimbrão o último sobrevivente creio do seu curso, que há dias faleceu em Alijó.
[1] Manuel Teixeira de Sampaio Mansilha, filho do médico José Teixeira de Sampaio e de Guilhermina Mansilha, nasceu em Alijó, em 29 de Novembro de 1876. Formado em Direito no ano de 1898, dedicou-se à advocacia na sua terra natal. Em 22 de Novembro de 1900 foi nomeado Secretário Geral do Governo de Angola. Desempenhou idêntico cargo em Macau. Faleceu em Alijó, em 28 de Setembro de 1856, sem filhos, e deixando viúva Alzira Malheiro Vaz.
[2] Instrumento que tocou quase até à sua morte, usando sempre da afinação natural.
[3] Ideia totalmente errada e que pela gravidade do erro constitui um dos pseudo elementos que ajudaram a construir o mito da Canção de Coimbra como um “fado exótico”.
[4] Não se sabe ao certo que temas compôs, havendo notícias do Fado Mansilha (perdido?). A revista ilustrada Branco e Negro, nº 22, de 1898, pág. 346 noticiava “possue abundantes composições da sua lavra, umas publicadas outras popularizadas”. Até ao presente apenas foi possível resgatar Fado em Lá Maior, a partir de uma gravação de Ricardo Borges de Sousa.
[5] Provavelmente a valsa Nera.
[6] Liderou durante quase oito anos o Grupo Manuel Mansilha, onde alinhava o guitarrista Manuel Joaquim Correia. Este grupo acompanhou a Tuna com regularidade em Lamego, Braga, Vila Real, Tomar, Viseu, Leiria, Figueira da Foz, Coimbra. Mansilha também era bandolinista na Tuna.
[7] Outros guitarristas coevos de Mansilha, foram Augusto Hilário, José Cochofel, João de Deus Battaglia Ramos, Ricardo Borges de Sousa, Manuel Joaquim Correia, João Duarte de Oliveira, António Dias, Ramiro de Figueiredo, Joaquim Azevedo, Víctor Brandão, Alberto Morais, Jacinto Oliveira, F. Telo Gonçalves, Cláudio Dias, António Pires Martinho de Brito, António Ildefonso Coelho, Manuel Ribeiro Alegre, Cândido Pedro de Viterbo, Joaquim Calheiros.
[8] O guitarrista João de Deus Ramos (Filho) matriculou-se na Faculdade de Direito nos inícios de Outubro de 1896. É autor da melodia do Fado João de Deus, também tocado a título de peça instrumental. Esta peça não está em “dó menor”, sendo antes em compasso binário e tom de sol menor.
[9] João Duarte de Oliveira, filho de António Duarte de Oliveira e de Rosa Liberata, nasceu em 6 de Fevereiro de 1875 no lugar de Cebolais de Cima, Castelo Branco. Frequentou Filosofia desde 7 de Outubro de 1895, Matemática (1896), e Medicina (1898). Formou-se em Medicina a 30 de Julho de 1903. Médico municipal em Monforte, ingressou como assistente na Faculdade de Medicina em 1912, tendo ascendido a lente catedrático em 1920. Foi nomeado Reitor em 1931. Faleceu em 16 de Dezembro de 1946.
[10] Guitarrista de desempenho medíocre, segundo a tradição oral. Depoimentos confirmam que mantinha uma guitarra nas dependências da Reitoria, instrumento que dedilhava de quando em vez.
[11] Confusão do autor, pois Hilário faleceu em 1896 e Mansilha formou-se em 1898.
No ano lectivo de 1897-1898, concluía o curso de Direito na Universidade de Coimbra, o quintanista Manuel Teixeira de Sampaio Mansilha, natural de Alijó[1]. Tinha nesse curso o número oitenta e era asa esquerda do poeta Fausto Guedes Teixeira.
O quinto ano jurídico constava apenas de oitenta e quatro alunos. O último, Carlos Fuzeta, foi reputado advogado algarvio. Ao curso pertenceram, entre outros, Alexandre Braga, Manuel Augusto Granjo, Cláudio Olímpio, Eugénio Carvalho e Silva, Gaspar Ferreira Baltar, Manuel Dias Gonçalves Cerejeira, António Alexandre de Matos, Pinto Osório, figuras de grande relevo no foro. Ficou nesta cidade Amadeu Ferraz de Carvalho, que se dedicou ao ensino nas escolas industriais, e foi uma autoridade nos assuntos toponímicos locais.
Manuel Mansilha, há pouco falecido já em idade avançada, teve renome na sua geração académica, sobretudo por bem poder considerar-se um “virtuose” na guitarra[2]. Não passou por Coimbra outro até Mansilha, que melhor dedilhasse as cordas desse instrumento. Saiu até dos acordes do Fado, que seria a expressão mais característica da guitarra[3], e compôs várias músicas que lhe deram novos aspectos[4]. Ainda hoje os guitarristas tocam uma valsa de Mansilha, de ritmo até então desconhecido na adaptação a esse instrumento[5]. Manuel Mansilha criou, assim, a justa fama do melhor guitarrista da Academia, e nas noites das suas saídas em serenata pela ruas desta Coimbra lendária tinha uma multidão a admirá-lo, e, mesmo, a aclamá-lo[6].
Nesse tempo, no entanto, havia como seus contemporâneos, guitarristas de mérito, como Manuel Luís Tavares, que compôs para uma récita de quintanistas alguns números de música, e, entre eles, um fado, que andou largo tempo em gargantas de trovadores, pelas veladas nocturnas coimbrãs, como motivo de grande inspiração e superior execução. Este académico e guitarrista era da região bairradina, próxima desta cidade. Ficou sempre com gosto pela guitarra e ouviam-no, algumas vezes, pessoas amigas nos seus verdadeiros concertos desse instrumento[7].
Outro, também, foi João de Deus Ramos, que cultivou muito o harpejo da guitarra, em que era igualmente exímio, deixando ao sair de Coimbra, bacharel formado em Direito, um fado no tom “dó menor” que ainda hoje se ouve muitas vezes tocado pelos melhores artistas da especialidade[8]. É certo que João de Deus Ramos, desde os primeiros anos da Universidade, começou a revelar o seu mérito em tal instrumento, mas dificilmente, alcançaria o renome de Manuel Mansilha verdadeiramente iluminado da guitarra.
É que Manuel Mansilha tinha uma expressão própria para a execução desse instrumento, e a sua figura de romântico, de sonhador, dava extraordinária expressão à sua arte. Era uma figura gentil de moço vivendo enlevado nesse sonho de guitarrista que deu, muitas vezes, às noites de Coimbra, um especial encanto nessas horas de balada. Apesar de ter morado para a Rua Garrett e aos Arcos do Jardim, vinha às noites à Baixa com os seus colegas, e daí saiam as serenatas até madrugada alta.
Tinha uma grande predilecção por ser ouvido no Arco de Almedina, naquela entrada para o Pátio dos Castilhos, rua de certa inclinação, sem saída alguma, que tem como cenário formoso a velha Torre, de pedra morena, e um arco de entrada para esse pátio curioso no aspecto arquitectónico. A Baixa era então local de certa boémia nocturna dos cafés Marques Pinto e Lobo da Sofia, da reunião dos estudantes, no Zé Magrinho, Julião das Iscas, e outros atractivos da mocidade.
Uma noite, o aluno de Medicina João Duarte de Oliveira que ao tempo fazia parte de uma República de beirões, à Couraça dos Apóstolos, e também tinha pretensões a guitarrista, passou e ouviu-o[9]. Não esperou mais tempo. Foi ao seu quarto, pegou da guitarra, e, junto de Manuel Mansilha, atirou-a à calçada, espatifando-a e dizendo ser o maior preito de admiração pelo grande artista, que desconhecia e tanto o havia impressionado na inspiração e na execução dos motivos saídos daquelas cordas de oiro.
Apesar disso, nunca deixou de tocar, de aprender guitarra. Já Professor da Universidade e Reitor, aliás muito distinto, desse estabelecimento científico, ainda a ocultas, nos momentos em que se confiava a si próprio, puxava ao peito a guitarra, e, fazia exercícios nas suas escalas; mas nunca pensou imitar ou desbancar o seu colega Manuel Mansilha[10].
Uma noite encontramo-nos no Teatro Avenida, num sarau académico, a aplaudir o guitarrista Artur Paredes. Falámos do êxito dessa noite, alcançado por aquele esplêndido executor da guitarra, e o ilustre Doutor João Duarte de Oliveira, sem esquecer a noite em que ouvira pela primeira vez que o obrigara a partir a guitarra, comentou o facto nestes termos: “exímio, mas como o Mansilha, nenhum!”
Da geração académica a que este guitarrista, executor e compositor, pertencera, faziam parte o célebre Augusto Hilário Alves, boémio académico coimbrão de nomeada, dilecto amigo do poeta Fausto Guedes Teixeira, a quem este deu tantas quadras de amor para a sua magnífica voz de trovador. O Hilário não sabia da guitarra mais do que os tons, em maior ou menor, que Manuel Mansilha lhe ensinara e nos quais compôs os seus fados.
Até então tocava bandolim, e foi este o instrumento de cordas a que alguns jornalistas se referiram quando da sua particular homenagem a João de Deus, na ocasião da grande consagração ao Poeta do Campo de Flores. Delfim de carvalho, “Phindel”, ao tempo jornalista desta cidade para O Primeiro de Janeiro, atribuía a Hilário a execução do bandolim de quatro cordas de tripa. O boémio teve muito tempo, porém, para aprender os tons na guitarra, ensinados por tão bom mestre. Andou largos anos em preparatórios Médicos e, quando Manuel Mansilha deixou Coimbra, entrava como estudante, francamente, naquela Faculdade[11].
No ano de quintanista de Manuel Mansilha, o seu condiscípulo Manuel Dias Gonçalves Cerejeira, foi autor duma récita que ficou entre as melhores dos estudantes de Direito. Deu-lhe o título Os Boémios e foi qualquer coisa de admirável pelo conjunto reunido. Tinha lindíssimas canções que o público chamou a si, trazendo-as para a notoriedade das canções populares.
Os versos eram de superior inspiração e o entrecho prestava-se, esplendidamente, a essas belas rimas. Manuel Mansilha contribuiu com a sua colaboração valiosa para tão extraordinário êxito. Ainda hoje, ao recordar tais festas académicas, se fala muito dos méritos dessa peça teatral dos estudantes, dum curso onde havia personalidades de grande valor.
Manuel Teixeira de Sampaio Mansilha, acabado o seu curso de Direito foi para Macau, onde exerceu o cargo de Secretário Geral do Governo dessa província. Proclamada a República, recordo-me de o ter visto de regresso ao Continente, fazendo parte duma espécie de “república” que antigos estudantes arranjaram na Capital. Foi este guitarrista académico coimbrão o último sobrevivente creio do seu curso, que há dias faleceu em Alijó.
[1] Manuel Teixeira de Sampaio Mansilha, filho do médico José Teixeira de Sampaio e de Guilhermina Mansilha, nasceu em Alijó, em 29 de Novembro de 1876. Formado em Direito no ano de 1898, dedicou-se à advocacia na sua terra natal. Em 22 de Novembro de 1900 foi nomeado Secretário Geral do Governo de Angola. Desempenhou idêntico cargo em Macau. Faleceu em Alijó, em 28 de Setembro de 1856, sem filhos, e deixando viúva Alzira Malheiro Vaz.
[2] Instrumento que tocou quase até à sua morte, usando sempre da afinação natural.
[3] Ideia totalmente errada e que pela gravidade do erro constitui um dos pseudo elementos que ajudaram a construir o mito da Canção de Coimbra como um “fado exótico”.
[4] Não se sabe ao certo que temas compôs, havendo notícias do Fado Mansilha (perdido?). A revista ilustrada Branco e Negro, nº 22, de 1898, pág. 346 noticiava “possue abundantes composições da sua lavra, umas publicadas outras popularizadas”. Até ao presente apenas foi possível resgatar Fado em Lá Maior, a partir de uma gravação de Ricardo Borges de Sousa.
[5] Provavelmente a valsa Nera.
[6] Liderou durante quase oito anos o Grupo Manuel Mansilha, onde alinhava o guitarrista Manuel Joaquim Correia. Este grupo acompanhou a Tuna com regularidade em Lamego, Braga, Vila Real, Tomar, Viseu, Leiria, Figueira da Foz, Coimbra. Mansilha também era bandolinista na Tuna.
[7] Outros guitarristas coevos de Mansilha, foram Augusto Hilário, José Cochofel, João de Deus Battaglia Ramos, Ricardo Borges de Sousa, Manuel Joaquim Correia, João Duarte de Oliveira, António Dias, Ramiro de Figueiredo, Joaquim Azevedo, Víctor Brandão, Alberto Morais, Jacinto Oliveira, F. Telo Gonçalves, Cláudio Dias, António Pires Martinho de Brito, António Ildefonso Coelho, Manuel Ribeiro Alegre, Cândido Pedro de Viterbo, Joaquim Calheiros.
[8] O guitarrista João de Deus Ramos (Filho) matriculou-se na Faculdade de Direito nos inícios de Outubro de 1896. É autor da melodia do Fado João de Deus, também tocado a título de peça instrumental. Esta peça não está em “dó menor”, sendo antes em compasso binário e tom de sol menor.
[9] João Duarte de Oliveira, filho de António Duarte de Oliveira e de Rosa Liberata, nasceu em 6 de Fevereiro de 1875 no lugar de Cebolais de Cima, Castelo Branco. Frequentou Filosofia desde 7 de Outubro de 1895, Matemática (1896), e Medicina (1898). Formou-se em Medicina a 30 de Julho de 1903. Médico municipal em Monforte, ingressou como assistente na Faculdade de Medicina em 1912, tendo ascendido a lente catedrático em 1920. Foi nomeado Reitor em 1931. Faleceu em 16 de Dezembro de 1946.
[10] Guitarrista de desempenho medíocre, segundo a tradição oral. Depoimentos confirmam que mantinha uma guitarra nas dependências da Reitoria, instrumento que dedilhava de quando em vez.
[11] Confusão do autor, pois Hilário faleceu em 1896 e Mansilha formou-se em 1898.
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