quinta-feira, novembro 10, 2005

Bloco de notas 22

1987 ... Parti para Cabo Verde a 29 de Maio, rumo à Ilha do Sal e logo de seguida Ilha de S. Vicente, para a cidade do Mindelo. Foi uma visão desoladora, olhar para aquelas ilhas praticamente sem vegetação e sempre com um vento forte a soprar. Na digressão fui acompanhado por Durval Moreirinhas, António Bernardino e Arménio Santos. Tivemos o privilégio, depois de um magnífico jantar, de ver e ouvir o Quarteto de Malaquias, conjunto constituído por duas violas, cavaquinho e o violino do Malaquias. No penúltimo dia, na Ilha do Fogo, com um vulcão espectacularmente fantasmagórico, vimos e ouvimos o conjunto dirigido por João Honofre, este também violinista. Tocaram e cantaram a morna “Mar Eterno”, uma morna que muito me diz, das andanças do Liceu, em que a cantei acompanhando-me à viola, numa festa de fim de curso.
Mas a visão do vulcão é indescritível. Aparece-nos, de repente, depois de uma curva da estrada, em todo o seu esplendor, em todo o seu negro de azeviche! Nunca imaginei uma visão destas! Mas foi nesta ilha que pela primeira vez, desde a chegada, ouvi passarinhos chilrear! Aqui a água é de nascente e não dessalinizada, como nas outras ilhas. Voltámos a S. Vicente e daqui fomos para a cidade da Praia, na Ilha de Santiago. Cidade pequena, com as características de vida da cidade de Viseu, minha terra natal, quando ainda era criança. Demos aqui dois espectáculos; um num Centro Paroquial – não há teatros – e outro em casa do embaixador de Portugal, numa casa com uma grande piscina de água salgada. Ainda actuámos aqui mais uma vez, mas apenas para a comitiva portuguesa e pouco mais. Fomos sempre muito apreciados pelos portugueses. Os cabo verdianos não me parecem ser grandes entusiastas desta arte. Falta-nos o ritmo que eles tanto apreciam, nas mornas e coladeras.
Corremos a ilha, incluindo o Tarrafal, com a sua bela praia, melhor que a praia das Gatas de S. Vicente. Estivemos na célebre prisão e no cemitério, onde repousam antifascistas ilustres que a ditadura de Salazar para ali mandou desterrados. Passámos ainda pela Cidade Velha.
As comidas são muito apetitosas, desde a lagosta à chalupa, passando pela carne muito tenra.
Depois de vir de Cabo Verde, actuei no Algarve, e em Lisboa - no Campo Pequeno - em festa partidária, em que além dos habituais Berna, Durval e Sérgio, ainda foram Machado Soares, Carlos Couceiro e José Henrique Dias. Toquei o “Ré menor” de Almeida Santos, que no final nos veio cumprimentar. Seguiu-se Chafé, terra do Chefe dos Serviços Administrativos da Universidade de Lisboa, Manuel Oliveira, perto de Viana do Castelo e depois Boticas, perto de Chaves, a 14 de Agosto. Aqui foi o 2º Festival Mundial da Canção Migrante. Foram António Bernardino, Durval Moreirinhas e António Sérgio. A televisão gravou o programa e vai passá-lo um dia destes.
Novamente no Algarve, em Quarteira com Durval, Berna e Marta, no edifício S. Jorge, onde esperava encontrar Barros Madeira mas, desta vez, não quis aparecer em público. Cantaram-se 14 “Fados” e tocaram-se 4 instrumentais.
Novamente no Algarve, desta feita em Castro Marim, Albufeira e Alvor. Em Albufeira assistiu Pinho Brojo e o reitor da Universidade de Coimbra que, no final, vieram cantar a “Balada da Despedida” connosco. Toquei “Dor na Planície”. Na parte final desta, quando começa a parte em acordes, salta da ranhura o ré (bordão fino), o que me obrigou a abreviar a peça. À tarde tinha partido um lá e verifiquei que não tinha nenhuma em condições para a substituir. Tive que usar uma já usada, de comprimento excessivo, que tinha de outra guitarra. Depois do espectáculo, Pinho Brojo levou-me a casa dele e deu-me uma série de cordas que não me pareceram nada más.
No final de Agosto começámos a tocar no “Faia”, no Bairro Alto. Têm ido Durval Moreirinhas e António Bernardino, mas ontem fui com Armando Marta e António Sérgio, já que os outros dois ficaram no Algarve para três espectáculos com o grupo de Pinho Brojo e António Portugal.
Desde o Natal que ando com problemas na mão direita, com fortes dores. Tenho andado em tratamento com o fisioterapeuta Carlos Fernandes, na rua Filipa de Vilhena, em Lisboa, a conselho de Augusto Camacho.
Cancelei, entretanto, alguns programas, devido ao falecimento de minha mãe, que contava 89 anos. Era um desenlace já esperado a qualquer momento.
Entretanto a dor na mão não me passa. Curiosamente, depois desta nota, vejo aqui que numa actuação no “Faia”, toco o “Estudo em Lá” de Pinho Brojo e a “Aguarela Portuguesa” de António Portugal e que foram um sucesso espectacular.
No momento em que escrevo para este Blog, e lembrando-me das dores horrorosas que tive na mão, como pude tocar aquelas peças? Mas é o que consta no bloco de notas. Provavelmente tinha alturas em que doía menos. Já lá vai muito tempo para me lembrar. Só sei que ganhei imensos defeitos nesta mão, devido, provavelmente, a colocá-la de modo a que não me doesse tanto. Foram dois anos que andei com este problema. Ainda hoje tenho um alto na mão.
Continuam as idas ao “Faia”, duas vezes por semana. Há dias toquei a minha “Fantasia – a Espanhola”, acompanhada por António Sérgio (Sérgio Azevedo).

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