CANÇÃO DAS LÁGRIMAS
Música: Armando do Carmo Goes (1906-1967)
Letra: atribuída a Armando do Carmo Goes (1906-1967)
Incipit: Lágrimas que a gente chora
Origem: Coimbra
Data: 1926-1927
Música: Armando do Carmo Goes (1906-1967)
Letra: atribuída a Armando do Carmo Goes (1906-1967)
Incipit: Lágrimas que a gente chora
Origem: Coimbra
Data: 1926-1927
Lágrimas que a gente chora
E sufocam nossos ais,
Deixemo-las ir embora
Que elas vão, não voltam mais.
Tanta dor, tanta amargura,
A sulcar faces tão belas
E tanta água que é pura
A lavar sujas vielas.
Canta-se cada quadra seguida e apenas se bisam os 2ºs dísticos.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: mi menor, 2ª mi, mi menor (mi maior) lá menor, mi menor;
2º dístico: 2ª mi, mi menor 2ª sol, sol maior; (1ª vez)
2º dístico: lá menor, 2ª mi, mi menor lá menor, 2ª mi, mi menor; (2ªvez)
Informação complementar:
Canção musical estrófica em compasso quaternário (4/4), vazada no tom de Mi Menor, da autoria de Armando Goes, que a cantou e gravou em Lisboa, a 19 de Outubro de 1928, acompanhado em 1ª guitarra toeira de Coimbra de 17 trastos por Albano de Noronha e em 2ª guitarra por Afonso de Sousa: disco de 78 rpm His Master’s Voice EQ 183, 7-62227. É uma das mais belas composições do barítono Armando Goes, bem elaborada, “com um crescendo magnífico e culminando de forma a pôr em destaque as vozes dos bons cantores” (Octávio Sérgio). O arranjo de acompanhamento proposto por Albano de Noronha é singelo, prejudicado pela ausência do violão de cordas de aço. A letra transcrita corresponde à versão gravada por Armando Goes. Não existem provas irrefutáveis quanto à autoria das duas quadras, as quais sempre foram consensualmente atribuídas ao autor da melodia.
Nas versões vulgarizadas deste espécime – indiscutivelmente uma das mais representativas monodias clássicas coimbrãs da década de 1920, especificamente destinada a repertório de barítono solista - , verificam-se adulterações da letra (ex: “deixai-as lá”; “não voltem”; “a ocultar faces”), da sequência melódica (ex: repetição do 1º dístico de cada copla, quando esta ocorre unicamente nos segundos dísticos=3º e 4º versos de cada copla), e substituições aleatórias da 2ª quadra.
Fernando Machado Soares canta a letra transcrita mas com ligeiras modificações, bisando os dísticos aos pares: LP “Fernando Machado Soares. Coimbra tem mais encanto”, Lisboa, Philips 830 371-1, ano de 1986, Lado A, faixa nº 3, acompanhado pelo guitarrista do Fado de Lisboa José Fontes Rocha e na viola por Durval Moreirinhas. Esta gravação de alcance comercial, efectuada quando Machado Soares se transformou num ícone nacional por meados da década de 1980, revela um velho talento desperdiçado, que estagnado se transformou num cultor da arte pela arte e do “belo horrível”. O cantor apoia-se num trabalho guitarrístico simulacro, abusando ad libitum da receita dos prolongamentos das sílabas de grande efeito. A referida gravação vinil foi remasterizada no CD “Fernando Machado Soares”, Lisboa, Philips, 808-108-2, compilação de gravações de 1986 e 1988. Anteriormente, e a propósito do programa da RTP1, Tempos de Coimbra (1983), Machado Soares interpretara “Canção das Lágrimas”, numa versão que veio a integrar a colectânea vinil lançada em 1984 e reeditada em 1990 “Tempos de Coimbra. Quatro Décadas no Canto e na Guitarra”. Este registo foi remasterizado no CD “Tempo(s) de Coimbra”, disco 2, EMI 0777 7 99609 2 7, remasterizado em 1992, a partir da antologia vinil de 1984, com reedição compact disc em 2005. No último caso, Machado Soares é acompanhado por António Brojo/António Portugal/Aurélio Reis/Luís Filipe, incorporando anacronicamente o tema no disco ilustrativo da década de 1950.
A letra gravada por Alcindo Costa é talvez a mais generalizada: LP “De Coimbra para a UNICEF. Grupo Serenata de Coimbra”, Lisboa, Vidiofono, VLP-2010, ano de 1985, Face A, faixa nº 2, acompanhado por Francisco Vasconcelos/Luís Plácido (gg) e João Alpoim/Álvaro Bandeira (vv). Registo remasterizado no CD “Saudades de Coimbra/Grupo Serenata de Coimbra”, Videofono, VCD 50004, editado em 1993). Como 2ª quadra canta a seguinte, cujo autor desconhecemos: De tantos beijos que demos,/Que tu me deste e eu te dei,/Tanto trocámos as bocas/Que eu nem da minha já sei.
José Mesquita, em gravação de 1979, substitui a 2ª quadra pela primeira quadra do Fado da Récita de Despedida do 5º Ano Jurídico de 1905-1906, que é de Camilo de Castelo Branco, cantada por Custódio José Vieira na dita Récita, e que é a seguinte: Ó fonte que estás chorando,/Não tardarás a secar;/Mas os meus olhos são fontes/Que não param de chorar: LP “Fados e Baladas de Coimbra por Antigos Estudantes”, Lisboa, RODA, SSRL 9001, ano de 1979, Lado A, Faixa nº 2, acompanhado por António Brojo/Jorge Gomes (gg) e Aurélio dos Reis/Manuel Dourado (vv). O arranjo de acompanhamento é da autoria de Brojo. Não obstante as modificações introduzidas na letra pelo cantor, o registo José Mesquita continua a ser um dos melhores exemplos de (re)abordagem deste tema.
Outros compact discs:
- Tempo(s) de Coimbra, disco 2, EMI 0777 7 99609 2 7, editado em 1992 (canta Fernando Machado Soares em registo inicial vinil de 1983, comercializado em 1984);
- CD Fados e Baladas de Coimbra... do Choupal até à Lapa, Vidisco, 11.80.1208, editado em 1992 (José Mesquita), retoma de um registo de 1979 com Brojo/Jorge Gomes/Manuel Dourado/Aurélio Reis;
- CD Saudades de Coimbra – Grupo Serenata de Coimbra, Videofono, 50004, editado em 1993 (Alcindo Costa);
- CD Valdemar Vigário, Vidisco, 11.80.1421, editado em 1995 (cantor profissional activo em casas de fado no Porto. Trabalho vocal e instrumental medíocre);
- CD Grupo de Fados Cantares de Coimbra – 1º Aniversário, DCD 1024, editado em 1997 (Nuno Oliveira);
- CD Mar Lágrima – Grupo Madeirense de Fados de Coimbra, Funchal, 2000 (Jorge de Freitas. Desempenho artístico banal);
- CD Fernando Machado Soares, Philips, 838 108, compilação de gravações de 1986 e 1988;
- Col. Um Século de Fado, CD Nº 2/Coimbra, EMI 7243 5 20635 2 9, editado em 1999 (Fernando Machado Soares);
- CD Frederico Vinagre – Eternos Fados de Coimbra, Metro-Som, CD 101, editado em 2000 (fadista activo em Lisboa. Escutámos este registo na cassete “Frederico Vinagre. Fados de Coimbra. Coimbra. April in Portugal”, Lisboa, METRO-SOM, ano de 1997, Lado 1, Faixa nº 2, com reedição no ano de 2001. Como instrumentistas são indicados Octávio Sérgio e Edgar Nogueira nas guitarras e Durval Moreirinhas na viola. Interpretação vocal medíocre, enxertando na CC o estilo vocal do Fado de Lisboa);
- CD Victor Almeida e Silva – Coimbra... enCanto e Poesia, Vidisco, 11.80.7854, editado em 2000.
Transcrição musical: Octávio Sérgio (2005)
Pesquisa e texto: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Agradecimentos: Drs. Afonso de Sousa e Aurélio dos Reis, José Moças (Tradisom)
E sufocam nossos ais,
Deixemo-las ir embora
Que elas vão, não voltam mais.
Tanta dor, tanta amargura,
A sulcar faces tão belas
E tanta água que é pura
A lavar sujas vielas.
Canta-se cada quadra seguida e apenas se bisam os 2ºs dísticos.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: mi menor, 2ª mi, mi menor (mi maior) lá menor, mi menor;
2º dístico: 2ª mi, mi menor 2ª sol, sol maior; (1ª vez)
2º dístico: lá menor, 2ª mi, mi menor lá menor, 2ª mi, mi menor; (2ªvez)
Informação complementar:
Canção musical estrófica em compasso quaternário (4/4), vazada no tom de Mi Menor, da autoria de Armando Goes, que a cantou e gravou em Lisboa, a 19 de Outubro de 1928, acompanhado em 1ª guitarra toeira de Coimbra de 17 trastos por Albano de Noronha e em 2ª guitarra por Afonso de Sousa: disco de 78 rpm His Master’s Voice EQ 183, 7-62227. É uma das mais belas composições do barítono Armando Goes, bem elaborada, “com um crescendo magnífico e culminando de forma a pôr em destaque as vozes dos bons cantores” (Octávio Sérgio). O arranjo de acompanhamento proposto por Albano de Noronha é singelo, prejudicado pela ausência do violão de cordas de aço. A letra transcrita corresponde à versão gravada por Armando Goes. Não existem provas irrefutáveis quanto à autoria das duas quadras, as quais sempre foram consensualmente atribuídas ao autor da melodia.
Nas versões vulgarizadas deste espécime – indiscutivelmente uma das mais representativas monodias clássicas coimbrãs da década de 1920, especificamente destinada a repertório de barítono solista - , verificam-se adulterações da letra (ex: “deixai-as lá”; “não voltem”; “a ocultar faces”), da sequência melódica (ex: repetição do 1º dístico de cada copla, quando esta ocorre unicamente nos segundos dísticos=3º e 4º versos de cada copla), e substituições aleatórias da 2ª quadra.
Fernando Machado Soares canta a letra transcrita mas com ligeiras modificações, bisando os dísticos aos pares: LP “Fernando Machado Soares. Coimbra tem mais encanto”, Lisboa, Philips 830 371-1, ano de 1986, Lado A, faixa nº 3, acompanhado pelo guitarrista do Fado de Lisboa José Fontes Rocha e na viola por Durval Moreirinhas. Esta gravação de alcance comercial, efectuada quando Machado Soares se transformou num ícone nacional por meados da década de 1980, revela um velho talento desperdiçado, que estagnado se transformou num cultor da arte pela arte e do “belo horrível”. O cantor apoia-se num trabalho guitarrístico simulacro, abusando ad libitum da receita dos prolongamentos das sílabas de grande efeito. A referida gravação vinil foi remasterizada no CD “Fernando Machado Soares”, Lisboa, Philips, 808-108-2, compilação de gravações de 1986 e 1988. Anteriormente, e a propósito do programa da RTP1, Tempos de Coimbra (1983), Machado Soares interpretara “Canção das Lágrimas”, numa versão que veio a integrar a colectânea vinil lançada em 1984 e reeditada em 1990 “Tempos de Coimbra. Quatro Décadas no Canto e na Guitarra”. Este registo foi remasterizado no CD “Tempo(s) de Coimbra”, disco 2, EMI 0777 7 99609 2 7, remasterizado em 1992, a partir da antologia vinil de 1984, com reedição compact disc em 2005. No último caso, Machado Soares é acompanhado por António Brojo/António Portugal/Aurélio Reis/Luís Filipe, incorporando anacronicamente o tema no disco ilustrativo da década de 1950.
A letra gravada por Alcindo Costa é talvez a mais generalizada: LP “De Coimbra para a UNICEF. Grupo Serenata de Coimbra”, Lisboa, Vidiofono, VLP-2010, ano de 1985, Face A, faixa nº 2, acompanhado por Francisco Vasconcelos/Luís Plácido (gg) e João Alpoim/Álvaro Bandeira (vv). Registo remasterizado no CD “Saudades de Coimbra/Grupo Serenata de Coimbra”, Videofono, VCD 50004, editado em 1993). Como 2ª quadra canta a seguinte, cujo autor desconhecemos: De tantos beijos que demos,/Que tu me deste e eu te dei,/Tanto trocámos as bocas/Que eu nem da minha já sei.
José Mesquita, em gravação de 1979, substitui a 2ª quadra pela primeira quadra do Fado da Récita de Despedida do 5º Ano Jurídico de 1905-1906, que é de Camilo de Castelo Branco, cantada por Custódio José Vieira na dita Récita, e que é a seguinte: Ó fonte que estás chorando,/Não tardarás a secar;/Mas os meus olhos são fontes/Que não param de chorar: LP “Fados e Baladas de Coimbra por Antigos Estudantes”, Lisboa, RODA, SSRL 9001, ano de 1979, Lado A, Faixa nº 2, acompanhado por António Brojo/Jorge Gomes (gg) e Aurélio dos Reis/Manuel Dourado (vv). O arranjo de acompanhamento é da autoria de Brojo. Não obstante as modificações introduzidas na letra pelo cantor, o registo José Mesquita continua a ser um dos melhores exemplos de (re)abordagem deste tema.
Outros compact discs:
- Tempo(s) de Coimbra, disco 2, EMI 0777 7 99609 2 7, editado em 1992 (canta Fernando Machado Soares em registo inicial vinil de 1983, comercializado em 1984);
- CD Fados e Baladas de Coimbra... do Choupal até à Lapa, Vidisco, 11.80.1208, editado em 1992 (José Mesquita), retoma de um registo de 1979 com Brojo/Jorge Gomes/Manuel Dourado/Aurélio Reis;
- CD Saudades de Coimbra – Grupo Serenata de Coimbra, Videofono, 50004, editado em 1993 (Alcindo Costa);
- CD Valdemar Vigário, Vidisco, 11.80.1421, editado em 1995 (cantor profissional activo em casas de fado no Porto. Trabalho vocal e instrumental medíocre);
- CD Grupo de Fados Cantares de Coimbra – 1º Aniversário, DCD 1024, editado em 1997 (Nuno Oliveira);
- CD Mar Lágrima – Grupo Madeirense de Fados de Coimbra, Funchal, 2000 (Jorge de Freitas. Desempenho artístico banal);
- CD Fernando Machado Soares, Philips, 838 108, compilação de gravações de 1986 e 1988;
- Col. Um Século de Fado, CD Nº 2/Coimbra, EMI 7243 5 20635 2 9, editado em 1999 (Fernando Machado Soares);
- CD Frederico Vinagre – Eternos Fados de Coimbra, Metro-Som, CD 101, editado em 2000 (fadista activo em Lisboa. Escutámos este registo na cassete “Frederico Vinagre. Fados de Coimbra. Coimbra. April in Portugal”, Lisboa, METRO-SOM, ano de 1997, Lado 1, Faixa nº 2, com reedição no ano de 2001. Como instrumentistas são indicados Octávio Sérgio e Edgar Nogueira nas guitarras e Durval Moreirinhas na viola. Interpretação vocal medíocre, enxertando na CC o estilo vocal do Fado de Lisboa);
- CD Victor Almeida e Silva – Coimbra... enCanto e Poesia, Vidisco, 11.80.7854, editado em 2000.
Transcrição musical: Octávio Sérgio (2005)
Pesquisa e texto: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Agradecimentos: Drs. Afonso de Sousa e Aurélio dos Reis, José Moças (Tradisom)
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