domingo, dezembro 11, 2005

PROPOSTA DE REEDIÇÃO FONOGRÁFICA. NO 75º ANIVERSÁRIO DAS GRAVAÇÕES DE 1928 RELATIVAS A MÚSICA DE COIMBRA
(memória solicitada por José Moças, da Tradisom, no primeiro semestre de 2003, estando em curso a programação da Coimbra Capital Nacional da Cultura 2003. Esta memória foi redigida inicialmente por José Anjos de Carvalho e reestruturada por António M. Nunes/José Anjos de Carvalho em 25 de Junho de 2003, tendo sido apresentada por José Moças junto das instituições vocacionadas para a promoção da cultura de matriz coimbrã. Nada se aprovou, nada se apoiou, nada se editou, argumentando-se que a proposta chegava tardiamente e que as verbas já se encontravam canalizadas para outros eventos. Aproveitamos agora para divulgar junto dos nossos cibernautas este projecto de “reedição virtual”, cuja urgência continua a esbarrar no mais espesso silêncio. Mas, a esperança é a última a morrer… Conforme tinha ficado combinado com José Moças, a memória revestia cariz elástico, por forma a adaptar-se sem delongas a contrariedades e escolhos. O texto que se apresenta contém integralmente a memória original, tendo contudo sofrido ligeiras adaptações. A mais importante é a inclusão de artistas amadores não activos em Coimbra entre 1902-1930, como Reynando Varela, Almeida Cruz, Eugénio de Noronha ou Luís Eloy)

O Canto e a Guitarra da chamada Década de Oiro da Canção de Coimbra, correspondente ao decénio de 1920, atingiram elevado expoente, a tal ponto que determinadas formas de vocalizar (ex. António Menano) e de interpelar a Guitarra de Coimbra (ex: Artur Paredes) se transformaram em paradigmas clássicos.
Para tanto contribuíram:
-a diversidade das vozes: grandes primeiros tenores ultra-românticos (António Menano; José Paradela de Oliveira; Lucas Junot); barítonos consagrados (Armando Goes, Artur Almeida d’Eça); tenores provenientes da Belle Époque, situados no “estilo Manassés” (Francisco Caetano);
-o recurso a um repertório cantável e instrumental em voga entre finais do século XIX e o primeiro quartel do século XX, cobrindo uma gama alongada de gostos e sensibilidades (baladas, serenatas, canções, variações, marchas, valsas, rapsódias populares, fados de Lisboa);
-a multiplicidade de sensibilidades instrumentísticas, abrangendo o piano (Afonso Correia Leite, Álvaro Teixeira Lopes), o violão de cordas de aço (José Caetano, Mário Faria da Fonseca, Guilherme Barbosa, Afonso de Sousa, Augusto Louro), a guitarra tocada em afinação natural (Antero da Veiga, Flávio Rodrigues da Silva, Ricardo Borges de Sousa), a guitarra alinhada pela “nova” afinação coimbrã (Artur Paredes, Afonso de Sousa, Albano de Noronha), o alaúde (Alberto Caetano);
-a concorrência aguerrida entre as várias editoras estabelecidas em Portugal, com “estúdios” em Lisboa e no Porto, editoras que além de descobrirem os seus artistas, custeavam despesas de deslocação, alojamento e cachés (Polydor, Columbia, Odeon, His Master’s Voice);
-o facto de alguns artistas terem efectuado as gravações no estrangeiro: Antero da Veiga em Barcelona; Lucas Junot em Londres; Flávio Rodrigues em Paris; António Menano em Paris e Berlim;
-as tiragens alinhadas pelos predicados da sociedade de consumo e pela prosperidade dos Anos 20 atingiram circulação internacional.

Tendo em conta as potencialidades da Indústria Fonográfica na década de 1920 e reescutando algumas dessas relíquias, rapidamente se depreende que os processos de gravação eram ainda rudimentares, quando comparados com a evolução sofrida nas décadas posteriores. Editoras como a Odeon, patenteiam menos qualidade nos processos de captação e prensagem dos sons. Não obstante a comercialização internacional então operada, a maioria desses discos desapareceu do mercado português. No caso de Coimbra muitos dos cantores e instrumentistas que entraram nos estúdios entre 1904-1930 caíram no esquecimento total, criando graves dificuldades às escolas de ensino da Guitarra e Canto de Coimbra no que respeita ao acesso aos antigos arquivos fonográficos.

Dessa já longínqua Década de Ouro, destaca-se, como ano áureo de gravações, o ano de 1928 (embora tenha havido registos em 26 e 27). Uma forma de comemorar o 75º aniversário de tão importante e incontornável evento, consistiria em remasterizar os discos gravados naquela década e reeditá-los em CD, fazendo-os acompanhar dos necessários estudos biográficos, cronológicos e autorais, permitindo assim o acesso generalizado a tão valioso ESPÓLIO/PATRIMÓNIO.
Acresce a este projecto a coincidência de Coimbra ser palco do evento Capital da Cultura, precisamente neste ano de 2003, quando se assinalam os 75 anos das gravações de matriz coimbrã.
Do referido Património cultural apenas uma pequena amostragem se encontra disponível em CD:
-no canto, refiram-se Edmundo de Bettencourt e António Menano;
-quanto a guitarradas, só uma ou outra peça sofreu recuperação (Artur Paredes)

A EMI-Valentim de Carvalho centrou-se em Edmundo de Bettencourt (totalmente reeditado) e em António Menano.
A Tradisom adoptou uma política cultural mais abrangente. Em 1994, das gravações da Década de Oiro, passaram a CD:
-António Batoque (1 tema)
-José Paradela de Oliveira (2 temas)
-Lucas Junot (4 temas)
-Edmundo de Bettencourt (10 temas)
-Artur Paredes (2 temas)
-José Joaquim Cavalheiro Jr. (activo no Porto, 2 temas)

Em 1995, a Tradisom reeditou 20 temas gravados por António Menano.
Em 1999 o EDICLUBE remasterizou diversos temas dos anos 20, porém aproveitando-se do trabalho feito por outras editoras, pelo que não veio suprir as lacunas existentes:
-António Menano (2 temas, via EMI-VC)
-Edmundo de Bettencourt (9 temas, via EMI-VC)
-Lucas Junot (2 temas, via Tradisom)
-Paradela de Oliveira (2 temas, via Tradisom)
-Artur Paredes (2 temas, via Tradisom)

Muitos outros nomes, activos entre 1880-1930, gravaram discos na década de 20, não tendo merecido ainda reedição.
Recordemos:
-Armando Goes, com cerca de 7 discos gravados a partir de 1927;
-Edgar Duarte de Almeida, com pelo menos 2 discos;
-Manuel Homem Cristo, com uns 2 discos;
-Artur Almeida d’Eça, com mais de 10 temas;
-Elísio de Matos, com pelo menos 6 temas;
-Alexandre de Rezende, com mais de 6 temas;
-José Paradela de Oliveira, com pelo menos 12 temas;
-Lucas Rodrigues Junot, com 8 temas;
-José Dias com diversos discos editados
-Francisco Caetano, com 24 temas gravados em 1928 e 1929;
-António Batoque com pelo menos 6 temas gravados em 1926.

Relativamente a peças instrumentais, vulgo “guitarradas”, a situação é bem pior:
-Manuel Rodrigues Paredes, com 8 variações;
-Flávio Rodrigues da Silva, com 5 variações registadas em 1927;
-Afonso de Sousa, com 2 variações e várias matrizes inéditas (4 temas no arquivo familiar)
-Albano de Noronha, com diversas gravações não comercializadas;
-Antero Dias Alte da Veiga, com 12 variações;
-Ricardo Borges de Sousa, com inúmeros discos, sendo 2 faixas coimbrãs;
-Artur Paredes, com 10 instrumentais;
-Alberto Caetano, com 2 instrumentais;
-José Parente, com diversas guitarradas ao estilo de Coimbra.

Considerando o elevado interesse deste Património Cultural, e a possibilidade de o tornar acessível aos estudiosos, coleccionadores, escolas de formação de aprendizes de Guitarra e Canto de Coimbra, conservatórios, associações recreativas e culturais, Fonoteca Municipal, Museu Académico, Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra e demais núcleos de ensino, propomos:

-assinalar o 75º aniversário das gravações ocorridas em 1928 com o lançamento de um CD duplo, acompanhado de livreto/memória (títulos, autorias, cronologias, biografias, transcrição de letras, identificação dos cantores e instrumentistas), através da celebração de um protocolo de colaboração com a Coimbra Capital Nacional da Cultura 2003;
-em termos de amostragem repertorial, seleccionar uma média de 2 temas por cada autor/ou intérprete, iniciando a partir das gravações de 1904 com Manassés de Lacerda Botelho e Avelino Baptista;
-excluir desta amostragem, numa primeira fase, temas do Fado de Lisboa, gravados por intérpretes da Canção de Coimbra.

Nem todos os registos dos artistas amadores que seguidamente referimos se encontram acessíveis, pelo que esta primeira triagem assentará num acordo prévio com o coleccionador Bruce Bastin, beneficiando também da boa vontade de particulares que se prestam a colaborar com os signatários da memória.
O esquema provisório seria o seguinte:

Arquivos da Canção de Coimbra
I – Décadas de 1880-1890
Antero Dias Alte da Veiga (2)
Manuel Rodrigues Paredes (2)
Ricardo Borges de Sousa (2)
Reynaldo Varela (2)
II- De 1900 a 1915
Manassés de Lacerda Botelho (2)
Avelino Baptista (2)
António de Almeida Cruz (2)
Luís Macieira (2)
Jorge Bastos (1)
Luís Ferreira (2)
António Ferreira (2)
Francisco Caetano (2)
Alberto Caetano (2)
Alexandre de Rezende (2)
Elísio de Matos (2)
Eugénio de Noronha (2)
III- De 1915 a 1930
António Paulo Menano (2)
Edmundo Bettencourt (2)
António Batoque (2)
José Paradela de Oliveira (2)
Armando do Carmo Goes (2)
José Dias (2)
Edgar Duarte de Almeida (2)
Manuel Homem Cristo (2)
Artur Almeida d’Eça (2)
Felisberto Ferreirinha (2)
Carlos Leal (2)
Ferreira de Lemos (2)
Lucas Rodrigues Junot (2)
Flávio Rodrigues da Silva (2)
José Parente (2)
Afonso de Sousa (2)
Artur Paredes (2)
Augusto Lopes (1)
José Carvalho de Oliveira (2)
Alberto Xavier Pinto (2)
Luís Eloy da Silva (2)
Miguel Peres de Vasconcelos (1)

José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes (Junho de 2003)

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