Retrato de Família: também Ribeiro Sanches?
De ascendência judaica, filho de Simão Nunes e de Ana Ribeiro, António Nunes Ribeiro Sanches nasceu em Penamacor a 07/03/1699. Faleceu na cidade de Paris em 14/10/1783. Famoso estrangeirado iluminista, médico de renome internacional, tratadista, especialista em doenças venéreas, colaborador na "Enciclopédia" francesa, Sanches frequentou a UC entre 1716-1719. Deixou interessantes descrições dos costumes estudantis e do Trajo Académico, tendo fixado uma imagem negativa das praxes e da vida ociosa dos académicos do seu tempo.
De acordo com os informes mais reiteradamente consagrados, ter-se-ia doutorado em Medicina na Universidade de Salamanca no ano de 1726. Como acontece as mais das vezes, a partir de uma primeira dicionarização/recensão enciclopédica (cujos dados estão longe de ser exaustivos ou definitivos), reproduzem-se passivamente nomes, datas e lugares não confirmados em segunda mão. Segundo informações prestadas por M. Marques Inácio, o investigador Victor de Sá contrariava estes dados, precisando que Sanches se graduou em 1724, tendo exercido Medicina na Vila de Benavente entre 1724-26. Não vemos motivos para rejeitar estes dados, tendo em conta lacunas semelhantes detecadas na triagem crítica de elementos sobre dois outros proto-agentes da CC, António José da Silva e Domingos Caldas Barbosa. Suspeito de judaísmo, abandonou Portugal em 1726, tendo feito demorados périplos por Itália, Londres, França e Holanda, até se radicar em Moscovo (1731-1747), donde passou a Paris (1747-1783).
Sanches foi um jovem franzino, enfermiço, sujeito a frequentes enxaquecas, desmaios e dores de estômago. Por volta dos 12 anos era um jovem invulgarmente culto, voraz consumidor de leituras e amante da pesquisa, lendo latim, castelhano, dominando música e conhecendo Plutarco e Montaigne. Precisamente aos 12 anos (1711) foi enviado pelo progenitor de Penamacor para a Guarda, localidade onde consolidou estudos musicais e aprendeu a arte de tocar CÍTARA. Assim, quando, no "Método para aprender a estudar a Medicina", refere em tom condenatório os seus condiscípulos boémios do período coimbrão que em vez de estudarem se dedicavam aos versos, aos instrumentos e ao jogo, Sanches está perfeitamente contextualizado. Ele próprio teria no seu quarto uma cítara, conjugando a prática do instrumento com o estudo proveitoso.
Pista aqui, pista ali, a pouco e pouco vão surgindo pequenos cacos que, de alguma forma, corroboram a hipótese defendida por Pedro Caldeira Cabral e José Alberto Sardinha quando pretendem que a "Guitarra-Cítara" ou "Guitarra-Bandurra" já estava popularizada em Portugal antes da proliferação da "Guitarra Inglesa", sendo que a certa altura do percurso os violeiros fizeram convergir os dois modelos.
Agradecimentos: M. Marques Inácio (informes de 09/01/2006)
Texto e imagem: AMNunes
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