quarta-feira, fevereiro 01, 2006

O Renascer da Canção de Coimbra
















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Por volta do ano de 1899 a Academia de Coimbra começou a alicerçar a Queima das Fitas com a realização do "Centenário da Sebenta". Tal tradição que animaria a cidade de Coimbra ano após ano, só viria a atingir alguma regularidade a partir de 1919, depois de ultrapassada a turbulência sócio-económica motivada em grande medida pela 1ª República e 1ª Grande Guerra.
É nesta fase das décadas de 20 e 30 e 50 que a Canção de Coimbra atravessa uma época "dourada". Segue-se novamente uma fase atribulada na década de 60 em que a Academia exige, por vezes de forma mais vincada, o respeito pelos valores que defende e que o Terreiro do Paço insiste em não reconhecer. O fado e a balada tornam-se instrumentos importantes nesta luta.
Em 17 de Abril de 1969, na cerimónia inaugural do Edifício das Matemáticas, o Presidente da República de então e a sua comitiva assistem aos violentos protestos académicos. Logo a seguir, dia 18 de Abril, há Assembleia Magna e a 22 de Abril de 1969 é decretado o "Luto Académico". Desde esse dia a Canção de Coimbra não voltou ao adro da Sé Velha com timbre das guitarras e com encanto da voz dos estudantes. Era o protesto possível.
Chegámos à Velha Academia em 1977. Pelas ruas da cidade não se ouvia a sua canção romântica e de revolta.
Tinha acontecido o 25 de Abri de 1974 e no nosso entendimento já não havia motivo para não cantarmos publicamente o que nos ia na alma. A guitarra estava na posse dos mais antigos, pois 10 anos de silêncio esbatem a tradição, mas a viola estava ali sempre à mão para acompanhar uma balada do Zeca ou do Adriano se necessário fosse.
O José António Coelho Nobre (Zé Tó) o Rui Figueiredo e o Vítor Baltasar não se faziam rogados para que depois de um petisco no "Poeta" , em Cernache, ou no "Zé Manel", da Adémia, fizessem ouvir uma balada. Também o Carlos Caiado e o Tó Pedroso (este já com guitarra) iam "arranhando" uns "fadunchos" à sombra dum copo cheio de juventude. Começámos a encontrar-nos no saudoso café Moçambique embalados pelo mesmo espírito académico e com a perfeita noção de que era necessário ir mais além, e fazer ressurgir a Canção de Coimbra. O João Moura, nosso colega da Faculdade de Farmácia, tinha comprado uma guitarra e depressa se associou ao restante grupo. Com o Xico Alte da Veiga, colega de curso do Zé Tó em Medicina, estavam reunidas as condições para a convocação de ensaios periódicos no 21 da Rua Lourenço A. Azevedo. Mais tarde haveríamos de ensaiar em casa do João Moura na quinta dos Sardões. Ressurgia, assim, a Canção de Coimbra junto dos estudantes depois de 10 ou 11 anos de luto académico.
Estávamos em Janeiro de 1978 e aparecia o 1.º convite para actuar em público, nas festas de S. João de Arcozelo da Serra em Junho desse ano.




24 de Junho de 1978 – ponte granítica sobre o Mondego em Arcozelo da Serra.
Da esquerda para a direita: Carlos Caiado, João Moura, Alte da Veiga, Zé Tó e de pé o Vítor Baltasar.

Foi uma noite inesquecível com o recinto das festas cheio de gente a aplaudir os estudantes de Coimbra.
Regressados a Coimbra, foram algumas janelas das nossas colegas a abrir-se ao som dos trinados das guitarras. Era a irreverência saudável dos saudosos 20 anos.
Avizinhava-se o novo ano lectivo 78/79. Foram muitos ensaios regulares, alguns dos quais em casa do saudoso amigo e mestre ímpar da guitarra, o Professor Pinho Brojo. Também por lá, o Dr. António Portugal evidenciava muita paciência ao mostrar como se deveria tocar e cantar. Seria injusto não realçar o papel importantíssimo que o Dr. Alfredo da Gória Correia teve na orientação e estímulo aos rapazes do novo grupo percursor da Canção de Coimbra. Lembramo-nos de algumas das noitadas de ensaio, com ele cheio de juventude, na " Real República Pyn-Guyns".
2 de Junho de 1979 - serenata – semana académica. Vítor Baltasar (canta), Carlos Caiado (de pé segura uma colher de pau), Zé Tó na viola, Tó Pedroso e João Moura na guitarra.
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Chegou o dia 2 de Junho de 1979, depois de um jantar no "Lampião" na Av. Fernão de Magalhães, subiram às pálidas pedras da Sé Velha os novos e os "velhos". Tivemos direito a escolta policial. O largo estava cheio, como cheios de comoção se viam os olhares de muitos estudantes e futricas. Depois de 11 anos, voltava a ouvir-se o fado na Sé. Foi o "Vira de Coimbra" por Vítor Baltasar (na imagem) a iniciar e "Adeus Minho Encantador" por Carlos Caiado, a confirmar que era mesmo a malta nova que ali estava cheia de vontade e emoção. Hoje são tenores dos Antigos Orfeonistas de Coimbra.
Cantaram ainda Camacho Vieira, Luíz Goes, Machado Soares, António Bernardino, Almeida Santos, Fernando Rolim e outros, acompanhados pelo grupo de guitarras de João Bagão, como ilustra a foto que se segue:

2 de Junho de 1979 - – semana académica – serenata. "Oh tirana, saudade…" cantou o Luíz Goes

Apesar de tudo não eram tempos pacíficos, havia quem não concordasse e se manifestasse (algo violentamente) contra esta serenata que estava a acontecer com direito a transmissão pela RTP e Rádio Renascença.
No ano seguinte ressurgia efectivamente a Queima das Fitas em Coimbra onde também participámos. Nessa altura já com o grupo do Henrique Ferrão em que cantou o Cravo e o Tó Nogueira. Com o nosso grupo, cantou o Zé Neves (actualmente também tenor dos ANTORF), Vítor Baltasar e Luís Cartarío.




1.ª Queima das Fitas 1980 – Sé Velha – Carlos Caiado, João Moura, Nuno Silva e Zé Tó. Canta Vítor Baltasar

Foram muitos os pormenores que rodearam estes anos dourados das nossas vidas e que um dia relataremos mais em pormenor se a memória e o bom senso o permitirem.
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Vitor Baltasar

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