terça-feira, fevereiro 07, 2006


Verso da Fotobiografia de José Afonso Posted by Picasa
Inquietante e comovente texto de contracapa do livro de José Salvador, "José Afonso. O rosto da utopia", 1ª edição, Lisboa, Terramar, 1994. Repórter da TSF numa homenagem promovida por uma escola de Matosinhos a José Afonso, em finais de Fevereiro de 1994, o autor arrepiou-se ao perceber que os alunos do secundário pouco ou nada sabiam de José Afonso. As civilizações e os paradimas culturais não são imortais, como escreveu Paul Valéry no após Primeira Grande Guerra. As grandes causas de uma geração podem nada dizer às gerações seguintes. A única forma de evitar o esquecimento é produzir memória.
A caminho do 19º aniversário da morte de José Afonso, gostaríamos de perceber porque motivos não encontramos nas bibliotecas escolares portuguesas esta fotobiografia e pelo menos um exemplar de uma das várias antologias de textos cantados que se editaram desde finais da década de 1960. Entre Dezembro de 2005 e Janeiro de 2006 debalde temos percorrido livrarias em busca de antologias de textos de canções de José Afonso. A resposta é invariável: "não temos. Está esgotado"! Em vão vasculhámos casas de venda de discos, procurando uma impossível reedição completa da obra fonográfica de José Afonso.
Tendo em conta a pessoa e a obra, não deveria ser um Ministério da Cultura a tomar em mãos a iniciativa e os encargos de reedição da obra discográfica completa de José Afonso? Ok, estamos em Portugal, os tempos são de crise e de retorno ao liberalismo feroz e putrefacto de antes de 1929. Que nos diria José Afonso deste regresso ostensivamente musculado às razões de Estado despótico-pombalinas, à tão salazarenta e odiosa primazia do Poder Executivo que nos bastidores do Conselho de Ministros viola o respeito pelo Judicial e pelo Legislativo, aos patéticos apelos à mística do sacríficio nacional unindo nação e chefe naquele ideal que levou as mães italianas a ofertarem a Mussolini as alianças de casamento para superar as sanções decretadas pela Sociedade das Nações contra a Itália invasora da Etiópia, ao calvário dos funcionários públicos flagelados por aquela ameaça inspectorial presente na carta do humanista António Ferreira "A medo vivo/A medo escrevo e falo,/Hei medo do que falo só comigo,/Mas ainda a medo vivo, cuido,/A medo calo"?
AMNunes

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