"As Pupilas do Senhor Reitor" e outras dúvidas
Por António M. Nunes
Na sequência da edição on line de um artigo sobre Manuel Simões Julião, o historiador Armando Luís de Carvalho Homem exortou-nos a recolher dados sobre a banda sonora do filme "As Pupilas do Senhor Reitor" (1935), película que conteria os fundamentos da variante de "Fado Hylario Moderno" interpretado por Manuel Julião em 1964 na Serenata do Centenário de Augusto Hilário.
A este propósito solicitámos uma informação à Cinemateca em Janeiro de 2006. A resposta chegou em 23/01/2006, pela mão de Ricardo Martins. Foi possível averiguar que nem todas as canções do filme de 1935 se acham inventariadas na base de dados da Cinemateca. Só é possível reportar:
-VIRA DA DESFOLHADA, letra de Fernanda de Castro, música de Cruz e Sousa;
-CANÇÃO DA CABREIRA, letra de autor desconhecido, música de Afonso Correia Leite;
-CANÇÃO D'AMOR, letra de autor desconhecido, música de Afonso Correia Leite.
Há neste mesmo filme pelo menos mais duas canções de autorias não apuradas:
-CANÇÃO AO DESAFIO??
-MARCHA PARA AS VINDIMAS??
Nada é possível adiantar, para já, quanto à inclusão de "Fado Hylario Moderno" na abertura da película e muito menos quem seja o intérprete. Mais se acrescenta que este filme chegou a ser comercializado em cassete vídeo pela Lusomundo e pela Videotrónica, estando essas edições fora do mercado.
As questões oportuna e amavelmente formuladas por Armando Luís de Carvalho Homem conduzem-nos necessariamente a alguns esclarecimentos. O Blog "guitarradecoimbra" não tem cessado de aumentar o número de ciberbaunatas, quer em Portugal, quer em comunidades estrangeiras como sejam o Brasil ou a Alemanha. Em 5/02/2006 o contador arrolava mais de 48.000 frequentadores. Alguns dos leitores do Blog, por certo mais interessados em aprofundar este ou aquele assunto, deixam-nos questões que gostariam de ver respondidas.
A este propósito convém esclarecer que, embora o Blog tenha vindo a funcionar como base de dados e arquivo documental, não é nem pode ser considerado um centro de investigação onde supostamente trabalham a tempo inteiro diversos investigadores. É um Blog criado por um antigo estudante da Universidade de Coimbra, a título de hobby. Como tal, não há centro documental, não há corpo de investigadores, não há remunerações nem subsídios. Existem pessoas dedicadas à causa da Canção de Coimbra - vista como género artístico e património que importa salvaguardar e divulgar - que vão dando a sua colaboração, sem continuidade regular e a título puramente amadorístico.
Excluindo duas situações de reforma profissional (Octávio Sérgio e Anjos de Carvalho), de minha parte o Blog é apenas um hobby, sujeito às contingências da profissão docente, dos filhos pequenos e dos afazeres familiares. Confrontados com tais contingências, o Blog não pode milagrosamente suprir em meia dúzia de meses (ainda não fez um ano de existência!) a lacuna de um Centro de Recursos da Canção de Coimbra que deveria ter sido criado aquando da realização do 1º Seminário/1978 na Escola Municipal do Chiado (1978-1990), quiçá no momento da fundação da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra (1980), ou em complemento natural do Museu Académico.
Não compete a um blog, por mais dinâmico que seja, colmatar as lacunas deixadas em aberto pela negligência das instituições conimbricences que hipocritamente sacodem a água do capote, fingindo um festival aqui, colando um cartaz ali. A cidade de Buenos Aires, considerada pelo hemisfério norte uma urbe de terceiro mundo, criou os mais impressionantes centros documentais de apoio e divulgação do Tango. Basta fazer amena passeata pela internet para vermos o quanto o Tango é levado a sério pelas instituições culturais argentinas. Ele são as monografias sobre a História do Tango, em castelhano, francês e inglês, ele são as recolhas iconográficas, ele são as transcrições musicais, ele são as impressionantes reedições de "frituras" (discos antigos), ele são as divulgações de letras cantadas e os recenseamentos biográficos. A seu tempo Coimbra pagará o preço da leviana negligência. E só o perceberá quando um qualquer oportunista munícipe de uma qualquer "Aguidares de Baixo" se lembrar de zelar por aquilo que lhe der fama e lucro propagandístico.
Se aos olhos dos leitores parecem simples algumas das interpelações formuladas, aos nossos são questões merecedoras de grande seriedade de abordagem, de molde a evitar a repetição de erros crassos ou a propalação de mais "estórias de encantar". Confrontados com tão escassos meios e falta de tempo útil para realizar as necessárias investigações de fundo que tais questões nos merecem, optamos por não editar quaisquer respostas de menor qualidade ou que possam comprometer o grau de exigência imposto a nós próprios. Os leitores do Blog compreenderão tais limitações. Mais vale assumir que não sabemos tudo, do que adoptar ares de vendilhões de banha da cobra. "Especialistas" de CC é coisa que não falta! Infelizmente não podemos dizer aos nossos leitores, "aguarde um pouco, vou ali à nossa base de dados ver o que há sobre esse assunto". Se a nossa ocupação a tempo inteiro fosse apenas esta, talvez um dia se pudesse dizer "temos base de dados". Tal como está, temos hobby!
A eventual elaboração de respostas a questões obedecerá aos seguintes critérios: a) clarificação de fraudes autorais que possam prejudicar autores, seus legítimos herdeiros, ou lançar a confusão sobre obras de autor entretanto caídas no domínio público; b) necessidade de salvaguarda de obras desconhecidas ou em risco de perda patrimonial; c) arrolamento de suportes materiais e mecanismos de divulgação; d) desocultamento de biografias.
As questões, além de endereçadas ao titular do Blog, devem ser pertinentes, não anónimas, e tendo por objecto a Canção de Coimbra. O sucesso das respostas dependerá muito da informação existente nos arquivos particulares dos colaboradores do Blog, podendo em determinadas situações alargar-se aos campos das Tradições Académicas de Coimbra e etnografia e folclore de Coimbra.
Nota: se a Cinemateca Portuguesa respondeu prontamente ao nosso pedido, da parte da Lusomundo Audiovisuais, a reacção foi exasperante e inconclusiva. Entre as confusões dos serviços informativos telefónicos, a mudança de nome, a alteração do endereço, a confusão com empresas de venda de bilhetes de cinema, o passar de chamadas entre secções, a remissão para o "nosso site" que não está acessível, tudo redundou no mais inqualificável fracasso. A edição de "As Pupilas do Senhor Reitor" em cassete vídeo pela Lusomundo deve ter ocorrido na década de 1990, a fazer fé noutros filmes saídos por esses anos (Camões, em 1991; Capas Negras, em 1993; Inês de Castro, em 1997).
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