sábado, fevereiro 04, 2006


A Viola Toeira Posted by Picasa
Exemplar fabricado em Coimbra nos inícios do século XX por Augusto Nunes dos Santos, vendido a um tocador popular de Arganil. Fotografia extraída de José Alberto Sardinha, "Viola Campaniça", 2001, pág. 150. Confirma-se uma vez mais a profusa venda de cordofones fabricados em Coimbra pelas feiras dos concelhos circunvizinhos, como Montemor, Arganil, Mortágua, Mealhada, Cantanhede, Penacova, Miranda. De reparar na pouco usual escala traçada (prolongamento de 4 trastos sobre a caixa, também fabricada por Raul Simões) e a insólita aplicação da chapa de guitarra com voluta floral grosseira. Tal pormenor suscita-nos ponderosas dúvidas. Será fabrico de origem? Ou trata-se de um acrescento feito localmente (em Arganil)? Os tambores das tarrachas parecem ser da 1ª metade do século XX. Estas dúvidas justificam-se. Nas ilhas do Faial, Pico e Graciosa, continuando o uso da Viola da Terra com pá de madeira, começaram a surgir nas décadas de 1940 e de 1950 aplicações de cabeça de guitarra para evitar desafinações nas tocatas dos ranchos folclóricos. Cheguei mesmo a ver uma dessas violas, reformada na década de 1950. O braço fora serrado logo abaixo da antiga pá, com aplicação da prótese (cabeça de guitarra).
Da mesma forma que acho a aplicação da cabeça de guitarra na Viola da Terra (com chapa e voluta de caracol) uma violenta violação estética, também não aprecio o encaixe da cabeça de guitarra na Viola Toeira. A última é um cordofone de estrema delicadeza e graciosidade, que tira grande parte do seu impacto visual da singular pá de madeira com cravelhas. Há na actualidade sistemas de afinação eficazes e modernos, perfeitamente aplicáveis sem necessidade de optar pelas cabeças de guitarra, ou ainda pior, de violão.
Esperemos que a Viola Toeira, um dos símbolos de Coimbra e da Beira Litoral, venha a merecer as devidas atenções em termos de salvaguarda. Pelo sim pelo não, sublinhemos que se a Guitarra de Coimbra tem sido ensinada no Conservatório de Coimbra e no Conservatório do Porto, a Viola da Terra integra o leque de opções dos alunos do Conservatório de Angra do Heroísmo e Ponta Delgada desde os alvores da década de 1980. Tendo este cordofone em Fernando Meireles o seu mais completo e fiável construtor, não se vê qualquer razão para o esquecimento a que tem sido votada esta viola regional. Além do mais, não vale a pena continuar a fingir que a História da Canção de Coimbra não passou por ela.
AMNunes

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