Longe vão os tempos em que a Universidade de Coimbra passava bem sem qualquer estratégia publiciária. Para trás ficam também as conhecidas atitudes de sobranceiro orgulho de uma Academia de Coimbra que desconfiada da Reitoria (o Reitor não manda na AAC nem nos organismos académicos, e muito menos diz como devem os estudantes praticar as suas tradições, soía dizer-se!) e dos jornalistas, chegou ao final do século XX habituada a considerar o marketing como intolerável acto de prostituição.
Que o diga quem por alguns anos trabalhou na Secção de Jornalismo da AAC, paredes meias com múltiplos organismos, secções académicas e Direcção Geral da AAC.
A proliferação de estabelecimentos de ensino superior público e privado na década de 1980 ditaria o fim da inocência da Academia de Coimbra e da própria Reitoria da UC que tradicionalmente se abstinha de invocar em proveito próprio " as coisas dos estudantes".
O pudor da Reitoria da UC em relação às tradições estudantis e demais práticas culturais e desportivas extra-curriculares não era propriamente secundado pelos regimes políticos. Basta ver que durante a Primeira República e o Estado Novo, houve da parte dos governos atitudes claras no sentido de acompanhar digressões ao estrangeiro, conceder condecorações ou oficializar recepções a organismos estudantis como o Orfeon Académico, a TAUC e o TEUC.
Os jornais académicos e revistas da década de 1980 fazem eco do mal estar resultante da proliferação de estabelecimentos de ensino superior (as escolas de "alguidares de baixo", escrevia-se) e sobretudo do imparável fenómeno de "nacional-panpraxismo" e de importação de costumes estudantis à escala continental e insular.
Vozes havia, como a do prestigiado estudante de Direito João Cunha (membro da Direcção Geral da AAC que em 1979 reabilitou as tradições estudantis, muito ligado à Equipa de Futebol da AAC/OAF) que insistentemente instigavam a uma espécie de "Coimbra Pride" alicerçada no princípio "Se Coimbra é diferente, então Coimbra deve assumir com orgulho e sem complexos a sua diferença".
Por 2005 começaram a aparecer nos jornais portugueses páginas de publicidade à Universidade de Coimbra. Além de colocarem em destaque a "singularidade" da instituição, apareciam parágrafos expressamente destinados a enfatizarem em linguagem positiva as "tradições multisseculares" e "um conjunto sem paralelo de actividades extra-curriculares".
Era o que acontecia com esta página A5, publicada no "Guia do Estudante"/Expresso, de 29 de Julho de 2006, concebida no grafismo e nos dizeres pelo gabinete do Reitor Fernando Jorge Rama Seabra Santos (empossado no cargo em 12 de Fevereiro de 2003).
Por aquilo que nos é dado saber, esta nova atitude da Reitoria da UC perante a Academia de Coimbra, seus organismos e tradições, veio atrasada quanto baste quando comparada com projectos idênticos desenvolvidos na Grã-Bretanha, na Universidade do Minho ou mesmo em algumas universidades privadas portuguesas. Foi necessário chegar esse redentor chamado processo de candidatura do Paço das Escolas a Património da UNESCO.
AMNunes
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