sexta-feira, agosto 18, 2006


O Orfeon nos Açores Posted by Picasa
"Capas Negras nos Açores", do Padre Dr. Manuel Alves Pardinhas, é um roteiro da digressão do Orfeon aos Açores entre 14 e 30 de Abril de 1961. O motivo de capa foi concebido por "Kim Reis", um conhecido caricaturista que ainda era muito solicitado na década de 1980.
Como seria de esperar, a esmagadora maioria dos textos e a totalidade das fotografias tratam da viagem marítima e do desempenho do Orfeon nas Ilhas de São Miguel e Terceira.
O Orfeon integrava, para efeito de complemento do seu espectáculo uma orquestra ligeira e uma formação de cultores de CC, constituída por Jorge Godinho/António Eduardo Nazareth (gg), Durval Moreririnhas (v nylon), e João Barros Madeira/José Lacerda e Megre (vozes).
Outros potenciais cultores seguiam nos naipes vocais do Orfeon, mas não consta que tenham desempenhado papel activo: António José de Sousa Pereira (de Vila do Conde), do naipe dos 1ºs tenores; José Miguel Baptista (Coimbra) e Arménio Assis e Santos (Vila Real), dos barítonos.
Na Serenata realizada em Ponta Delgada, nas Portas da Cidade, juntou-se à formação o Dr. António Sutil Roque. Em Angra do Heroísmo, na Serenata feita no adro da Sé, colaborou Anarolino Pacheco Fernandes.
A leitura do relato assinado por Alves Pardinhas (naipe dos baixos), e o seu cruzamento com artigos jornalísticos acoplados à narrativa principal, evidencia algumas linhas de força assaz curiosas. Um primeiro traço a salientar, conforme se frisou, respeita à omissão de fotografias das formações que abrilhantaram os actos de variedades dos saraus orfeónicos e à secundarização do seu papel artístico nos relatos escritos.
O grupo liderado por Jorge Godinho acompanhou o Orfeon, mas Pardinhas deixa bem claro quem era a estrela da digressão. Um segundo dado de relevo prende-se com as parcas descrições dos desempenhos do caloiro José Lacerda e Megre em contextos menos formais. Aí se enfatiza que Lacerda e Megre brilhou com cantor de fados de Lisboa, sendo alcunhado pelos seus colegas de imitador de "Marceneiro". Um terceiro dado a considerar prende-se com a fraseologia e vocabulário empregues por Pardinhas e pelos jornalistas para caracterizar as performances do grupo de Jorge Godinho. Predominam a incapacidade de distinguir com rigor entre "serenata" e "espectáculos de palco", o misticismo, o saudosismo e a invocação das guitarras plangentes e chorosas. Um discurso ultra-conservador, coincidente com o habitualmente veiculado nas "serenatas da Emissora Nacional", que na Coimbra dos sixties não estava para gozar dias de grande sossêgo!
Fonte: Manuel Alves Pardinhas, "Capas Negras nos Açores", Coimbra, Edição do Orfeon Académico de Coimbra, 1961.
AMNunes

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