Para quem busque conhecer um pouco melhor o contexto cultural e político que rodeou a investidura de Franco como doutor honoris causa pela Faculdade de Direito da UC vale a pena ler a obra de Luís Reis Torgal, "A Universidade e o Estado Novo. O caso de Coimbra (1926-1961)", Coimbra, Minerva, 1999. Passada a "Introdução", o livro subdivide-se em cinco longos e fundamentados capítulos: "Salazar e Coimbra nas origens do Estado Novo" (I), "Da indefinição política da Universidade à ligação da Universidade ao regime" (II), "A Universidade e o Estado Novo. Uma relação profunda e persistente" (III), "Autonomia ou autonomias. Factore(s) de unidade e de divisão" (IV), e finalmente a "Academia e Universidade. Política e apolítica".
Luís Reis Torgal, docente e investigador de História na Faculdade de Letras da UC, é autor de um vasto e acreditado currículo de alcance nacional e internacional. No campo das humanidades tem-se afirmado como um dos investigadores da área das humanidades que mais ajudou a divulgar trabalhos conimbricenses em países como Espanha ou o Brasil. E não apenas projectos de investigação, pois é o principal responsável pela divulgação do álbum discográfico de Jorge Cravo, "Folha a Folha" (2000) junto de colegas de ofício no Brasil.
Contemporanista, centrado em temas oitocentistas e novecentistas, Luis Reis Torgal lançou nos anos mais recentes o projecto CEIS20, cujos frutos começam a aparecer. No trabalho que acabamos de citar, o autor discorre com grande competência sobre um tema da sua especialidade, incorporando no campo de estudos do Estado Novo a Academia de Coimbra e a Universidade de Coimbra. Trata-se, de certa forma, de um projecto colectivo no qual o autor faz explícito eco de muitos trabalhos de investigação desenvolvidos pelos seus alunos de licenciatura, mestrado e até doutoramento (alunos que orientou e cujos nomes cita nas páginas do livro).
As matérias abordadas são delicadas, pelos afectos que invocam, pela proximidade temporal, e especialmente pelas ideossincrasias da Academia e Coimbra. Luís Reis Torgal termina acisadamente esta sua incursão em 1961, no dealbar de uma conjuntura em que a Academia de Coimbra começa a emitir sinais claros de ruptura com o regime. Daí em diante haverá que deixar aquietar os vulcões que ainda jorram entre as memórias dos vivos. Aliás, tanto Álvaro Garrido como Luís Reis Torgal sentiram na pele os escolhos dessa proximidade que nunca satisfaz expectativas.
AMNunes
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