Lembranças de Artur Paredes e Afonso de Sousa
Caro Amigo:
Quem é lhe lhe contou [a partida] do arbusto? Que me diz da da boneca que lhe revelei? Sei mais, que com o tempo lhe contarei. Tudo considerado, penso que o A. Paredes aceitava as partidas com algum gosto, embora mostrando-se furioso e molestado. Não tinha daquilo no seu dia-a-dia lisboeta, sempre rotineiro e descolorido. Gostava, mas fazia sempre a sua parte...
(...)
Artur Paredes é, de facto, uma personalidade dificil de reconstituir. A minha opinião será um bocado suspeita porque não consigo esquecer que, quando menino, ele me acarinhava com ternura. E até pretendia que eu aprendesse a tocar guitarra, o que era missão impossível para quem, de tanto ouvir tocar bem, bem sabia que não valia a pena, pois nunca lá chegaria. Tive a honra de "conviver" com A. Paredes como criança, adolescente e já adulto. As recordações que dele guardo são a de um homem introvertido, doentiamente tímido, sem sentido de humor activo, sujeito a depressões, sem qualquer preocupação de exaltação do "ego" (a não ser da sua música, que ele considerava uma entidade terceira, digna de estudo e de respeito). A. Paredes era incapaz de desejar mal a alguém, por inveja ou desencontro. Mas era terrível, se o atacassem nas suas concepções musicais (não direi tanto "estéticas" ou culturais, pois a sua capacidade expositiva ou argumentativa era parca ou deficiente - quem bem sabia falar por ele era o Bettencourt, também uma alma tímida, que por isso o compreendia). Ou o Régio, que não falava, mas poetava frases lapidares, definidoras ( 2Ai choro com que o Paredes, vibrando os dedos em garra, despedaçava a guitarra, punha os bordões a estalar..."). Mas tenho de convir que A. Paredes era um homem muito difícil.
(...)*
A. Paredes não era um homem mau. Era uma personalidade complexa, melhor diria complexada. E não se pense que o Carlos, por contraponto ao pai, era o ser complacente e humilde, quase apático em matéria de controvérsias, que é a imagem que alguns dele guardam. Uma vez, estando eu a trabalhar no escritório com o meu Pai, entrou nele, de rompante o Carlos e quase sem nos cumprimentar, disparou: " O Fernando Lopes Graça é uma besta! Teve a ousadia de dizer que aquilo que eu faço não é Música! " Suprema ofensa, que ele, igualzinho ao pai, não podia tolerar .
Por aqui me fico, por hoje.
Um abraço
Afonso de Oliveira Sousa (Leiria, 30 de Novembro de 2006)
Por aqui me fico, por hoje.
Um abraço
Afonso de Oliveira Sousa (Leiria, 30 de Novembro de 2006)
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*Em acordo com o autor do e-mail supra transcrito, optei pela supressão deste parágrafo, cujo conteúdo mais familiar não importa agora revelar, AMNunes
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