terça-feira, dezembro 26, 2006



Os primeiros membros da Academia Real Italiana (1929)

A Academia Real de Itália, instituída pelo regime ditatorial de Benito Mussolini, através da letra do Decreto-Lei de 07 de Janeiro de 1926, foi solenemente inaugurada a 28 de Outubro de 1929 no Palácio Farnésine, por ocasião do 7º aniversário da "Marcha sobre Roma".

Invocando a tradição militarista de Napoleão Bonaparte e o "habit vert" com folhas de louro bordadas, do Instituto de França, Mussolini impôs um modelo quase idêntico ao francês: uniforme composto por calça comprida, casaca, capa militar e bicórnio em "azul real"; vivos a fio de prata nas calças e casaca; bicórnio com plumas de avestruz; capa militar com alamares no peito; espada.

Na fotografia da primeira cerimónia solene de abertura, estão presentes os seguintes representantes:

-M. Copola (journaliste)

-M. Brasini (architecte)

-M. Mascagni (musicien)

-M. Marinetti (littérateur)

-M. U. Giordano (musicien)

-M. Piacentini (architecte)

-M. Fermi (physicien)

Fonte: reportagem de Théodore Vaucher para a "Illustration, Journal Universel". Reprodução coordenada porJean Noli, "Les grands dossiers de L'Illustration. L'Italie Fasciste. Histoire d'un siècle (1843-1944)", Paris, SEFAG et L'ILLUSTRATION, 1987, pp. 76-77. O arquitecto Marcello PIACENTINI (Roma, 1881; idem, 1960), segura a capa com uma das mãos. Foi seguramente um dos obreiros da aquitectura "monumental totalitária" feita por encomenda do regime, bem expressa em projectos como a Cidade Universitária de Roma. Piacentini teve os seus admiradores em Portugal. A aposta monumentalista de Cottineli Telmo na Cidade Universitária de Coimbra não deixa de traduzir esse "gosto fascista" que também se reflectiu nas obras públicas de regimes democráticos.

Como se pode constatar através do confronto visual com imagens recém divulgadas neste blog por Armando Luís de Carvalho Homem, este uniforme era quase uma imitação do modelo francês oitocentista. Quanto a Portugal, pode admitir-se que o uniforme franco-napoleónico tenha inspirado o legislador que postulou na letra da Lei de 01 de Outubro de 1856 a farda de gala da(s) Escola(s) Médico-Cirúrgicas (Armando Luís de Carvalho Homem propõe, parece-me que com boa intuição, que também se ponderem os uniformes dos diplomatas, pares do Reino e membros da Academia das Ciências de Lisboa).

Certamente influênciado pelo exemplo francês e traduzindo o sentir das correntes laicistas afirmadas após a Guerra Civil, chegou a redigir-se na UC um "Projecto do Uniforme para o Corpo Cathedratico da Universidade de Coimbra, para d'elle se servirem nas funções não académicas", composto pelos seguintes elementos:

-casaca azul bordada a ouro

-calça comprida azul com vivos de ouro

-colete branco

-gravata branca

-chapéu armado com plumas

-espadim

-faixa de sede sobre o uniforme, com medalha

Este projecto, não se encontra datado nem incorpora desenhos. Propunha ainda distintivos para o Reitor, sugerindo a continuidade do Hábito Talar apenas para os lentes da Faculdade de Teologia (cf. Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, "Bric-à-Brac. Notas históricas e arqueológicas", Porto, Livraria Fernando Machado & Ca. Lda., 1926, p. 288).

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Relativamente à questão suscitada sobre o "andamento" do Instituto de Coimbra, sem conhecer o estado da situação, creio poder escrever que se encontra desactivado. Os seus derradeiros presidentes foram os lentes já falecidos Luís Mendonça de Albuquerque (de 1974 a 1979) e Orlando de Carvalho (de 1980 até?). Quando cheguei a Coimbra em 1985 o IC mantinha as portas fechadas e sem qualquer actividade. Havia bastantes anos que deixara de publicar a centenária revista "Instituto". Ainda no reitorado de Rui Alarcão (ca. 1990?, 1991?), o edifício do Instituto passou por obras de remodelação e consolidação dos telhados. Nos dias em que esteve aberto foi livremente rapinado de livros raros por coleccionadores e alfarrabistas, à vista dos operários que lá trabalhavam sobre andaimes. Lembro-me e ter visto no chão uma estampa com o colar de honra dos sócios, estampa essa que fiz guardar não sei bem onde. Na actualidade, o edifício está arrendado ao Conservatório de Música de Coimbra.

Se "cópulas" em igrejas bizantinas tem o seu granum salis, o que dizer de alunos que recorrentemente escrevem "omeletes" (=cromeleques megalíticos) e "abóboras" (=abóbadas)?

AMNunes

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