segunda-feira, dezembro 25, 2006

REGRESSO À ESTRADA: Viagem ao Mundo das Casacas Académicas - O Institut de France (I)

Imagens actuais da sede do Institut de France (Palais de l'Institut), que compreende cinco Academias
(Quai de Conti, em frente à Pont des Arts, de onde foram colhidas a 1.ª e a 3.ª imagens)
Emblemática neste edifício é a «Coupole» ( = cúpula), sobre a sala redonda onde se realizam as sessões solenes. Note-se que a palavra «coupole» já criou problemas a estudantes de História da FL/UP: qual o equivalente português ? Um Colega meu teve testes com respostas a dizer que «nas igrejas bizantinas havia cópulas»...

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O Institut de France e a razão de ser da sua presença numa série de posts sobre trajes académicos e universitários
Nota prévia: Voltei; após a prometida pausa de Natal, que daria também para os frequentadores se pronunciarem sobre "guitarrismo" vs. "generalismo" no blog; ao mesmo tempo que eu aqui punha posts e comments em matéria estritamente do universo musical coimbrão (sobre Artur Paredes e sobre Octávio Sérgio, nomeadamente). Alguns leitores pronunciaram-se. E o Dr. António M. M. Nunes também não ficou calado; devo dizer que não posso de forma alguma concordar com a S. afirmação de que a suposta "deriva generalista" teria a ver com os dias mortos em que há poucas hipóteses de posts !... Então o alargamento temático consistiria em pôr feijão-verde quando não há brócolos ?! Onde é que isto nos leva ?!...
Mas passando às opiniões expendidas, creio que em geral - se bem interpretei - os leitores não desaprovam o "generalismo", desde que ele se não torne excessivamente assíduo e não faça perder de vista os temas estritamente musicais. Até porque se a Comunicação Social se divorcia do Canto e da Guitarra de Coimbra, se a Homenagem a Luiz Goes passa despercebida - ou quase -, se marcante discografia recente de Canto e de Guitarra dificilmente se encontra nas discotecas e por aí fora, ao menos que seja este blog a dar notícias, testemunhos, imagens (e que pena não ser um «site» com potencialidades sonoras...) sobre tudo isso. Parece-me assim poder concluir que, em função das opiniões apuradas, uma coisa não tira a outra desde que nenhuma desapareça. Deste modo, pausada e paulatinamente, prossigo no convite aos frequentadores para a viagem ao mundo do «traje dos lentes» e outros domínios conexos.
Nótula sobre o Institut de France - À data de 1789 existiam em França quatro Academias régias:
  1. A Académie Française, criada em 1634 pelo cardeal Richelieu; segundo o art. 24.º dos seus Estatutos, esta Académie teria por principal função trabalhar, com todo o cuidado e diligência possíveis, no sentido «de dar regras certas à nossa língua, torná-la pura, eloquente e capaz de tratar as artes e as ciências». Pelos nomes a que deu guarida foi longamente uma Instituição continuísta; mas a partir de 1746 a eleição sucessiva de Voltaire, Duclos, Condorcet e d'Alembert «associou-a plenamente ao movimento das Luzes que precedeu a Revolução».
  2. Em 1664 Colbert criava a Petite Académie, destinada a «trabalhar as inscrições, as divisas, as medalhas e a expandir sobre todos os monumentos o bom gosto ou e simplicidade que verdadeiramente lhes dão valor». A partir de 1683 esta Instituição foi sucessivamente designada como Academia das inscrições e das divisas (1683), Academia real das inscrições e medalhas (1701) e finalmente Académie royale des inscriptions et belles-lettres (1716). A Revolução veio a conferir-lhe o direito de apresentação dos lentes de Literatura do Collège de France e da École des langues orientales. No decorrer do século XIX veio a estar ligada à criação da École des Chartes (o estabelcimento de Ensino que ainda hoje forma os bibliotecários, arquivistas e documentalistas) e tutelou também a École française de Atenas (1846), a École française de Roma (1875), a École biblique de Jerusalém e a École française do Extremo Oriente.
  3. Entre 1635 e 1666 um grupo de «savants» foi dando corpo à Académie royale des sciences. A sua oficialização passou, entre 1666 e 1669, por políticos como Colbert e Fontenelle. Nos finais do século XVIII - e na sequência de uma reforma que teve no químico Antoine Lavoisier (1743-1794) o seu protagonista - compreendia as secções de matemática (geometria, mecânica, astronomia e física) e física propriamente dita (anatomia, química e metalurgia, botânica, agricultura, história natural e mineralogia). prestigiada internacionalmente, veio a participar na 2.ª ed. da Encyclopédie de Diderot e d'Alembert.
  4. Po último, a Académie des beaux-arts, de modelo italiano, passou pela criação por Lebrun de uma Académie royale de peinture et de sculpture (1648) e pela criação colbertiana (uma vez mais) de uma Académie royale d'architecture (1671).

Sem embargo da perfeita sintonia com o «esprit du temps», os ideais do Iluminismo e princípios que a Revolução viria a consagrar, a verdade é que o processo iniciado em 1789 não foi propriamente favorável a Instituições «gangrenadas por uma condenável aristocracia» (abbé Grégoire). O facto é que a partir de 1792 as Academias deixam de eleger novos elementos e diversos académicos renunciam. Em 1793-1794 a Convenção extingue as Academias e nacionaliza o seu património. E não esqueçamos que Lavoisier subiu ao cadafalso (1794)... Mas no mesmo ano de -93 a Convenção lança «um plano de organização de uma sociedade destinada ao avanço das letras e das artes». É esta a origem do Institut de France, «reflexo de uma época em que se impõe a selecção exclusivamente pelo mérito individual e não no quadro de uma sociedade de ordens». Como escreveu Antoine MARÈS, o Institut vem «privilegiar as cieências exactas (...) graças à reunião num só órgão de todas as classes do saber, com todos os membros do novo organismo em estrita igualdade. Assim desaparecia a preeminência das letras sobre as outras disciplinas». Desde cedo o Institut compreenderá 3 classes, classes que «não são órgãos independentes, como as antigas academias, mas formações especializadas no interior da Instituição», elas próprias organizadas em secções: e assim teremos a classe de Ciências físicas e matemáticas, a classe das Ciências morais e políticas e a Classe de gramática, línguas antigas, antiguidades e monumentos. Relativamente às antigas Academias a continuidade é manifesta; a grande novidade estará na classe das Ciências morais e políticas, bem na linha «do espírito das Luzes e, sobretudo, do saber dos Enciclopedistas».

Napoleão Bonaparte (1769-1821) será o primeiro grande reformador do Institut, de que aliás, orgulhosamente, era membro (desde 1797). Primeiro-cônsul a partir do 18 de Brumário (Novembro de 1799), a sua primeira medida reformadora para a Instituição esteve justamente na criação de um «uniforme», incluindo porte de espada (cf. a segunda parte deste painel). Virá depois a reorganização das classes, segundo agrupamentos de saberes que 'reproduziam' as antigas quatro Academias. Finalmente, em 1805, já imperador, Bonaparte decide instalar o Institut (sediado no Louvre) no collège Mazarin, ao Quai de Conti, antigo alojamanto de estudantes da Sabóia, da Alsácia, da Flandres, do Roussillon e da Catalunha. O edifício foi então rebaptizado como Palais des Beaux-Arts. Esta transferência seria, à partida, provisória; mas cedo evoluiu para definitiva: o collège Mazarin é, ainda hoje, o Palais de l'Institut.

A monarquia legitimista de Luís XVIII e Carlos X (1815-1830) e a monarquia orleanista de Luís-Filipe (1830-1848) completarão o quadro num sentido de que a organização actual é ainda espelho:

  1. Luís XVIII restaurou, no quadro do Institut, as Academias française, royale des inscriptions et belles-lettres, royale des sciences et royale des beaux-arts,
  2. enquanto que Guizot, ministro da Instrução Pública da monarquia de Julho, fez recriar, como Academia, a antiga classe das Sciences morales et politiques (1832).

Por último, a nascente III República (1871) fixou em 25 de Outubro - aniversário da criação - a «rentrée» anual do Institut.

Post-Scriptum: Alguém me sabe dizer se ainda existe o «Instituto de Coimbra» ? Sempre que lá passo (bem perto da Sé Velha) a porta está fechada. E há muitos anos - desde a década de 80, pelo menos - que não vejo publicada a Revista respectiva (O Instituto)...

Armando Luís de Carvalho HOMEM

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