Costumes académicos e outros
Bedel da Universidade de Paris, com gibão preto, calções de balão e entretalhos, barrete de cantos, toga preta talar enrolada no braço e maça de prata ao ombro.
O bedel, huissier, mestre de cerimónias, maceiro ou rei de armas, destacou-se desde a Idade Média como funcionário protocolar nas casas reais, universidades, catedrais, confrarias, câmaras municipais e corte papal.
Em Portugal, a casa real manteve a figura do rei de armas até ao final da Monarquia Constitucional. De acordo com a tradição, o rei de armas português vestia uma dalmática rica em brocado vermelho enramado e agaloado a ouro (havia quem lhe chamasse "tabardo"), com guarnição de castelos, chapéu armado, grande colar em prata dourada com castelo pendente e maça de prata segundo versão do reinado de D. José I. Uma das suas derradeiras aparições públicas ao serviço do protocolo de Estado terá ocorrido em Outubro de 1905, na recepção solene ao Presidente da República Francesa, Émile Loubet. Após a queda da monarquia, que saibamos, só a Universidade de Coimbra, a Sé de Braga e a Sé Patriarcal de Lisboa continuam a manter a figura do Bedel ou Mestre de Cerimónias.
Quanto às câmaras municipais portuguesas, do que havia em termos de cerimonial, trajos de gala, varas e insígnias, tudo foi abandonado em 1910. Nesta matéria, o contraste entre os municípios portugueses e os espanhóis ou britânicos é flagrante. No após 1974 não se verificou da parte dos municípios e seus serviços/gabinetes de protocolo qualquer movimentação institucional. Ainda assim, na Coimbra da década de 1980, o edil socialista Manuel Machado organizou uma cerimónia solene de investidura no salão nobre dos Paços do Concelho com utilização das antigas varas de presidente e de vereadores. O demorado silêncio dos edis portugueses em termos de produção simbólica, não deixa de parecer um pouco estranho, especialmente se tivermos em consideração a movida portuguesa pós-1974 vivida por confrarias gastronómicas, confrarias báquicas, tunas académicas, academias universitárias e politécnicas (múltiplos trajos e insígnias discentes), bem como novos trajos docentes (o mundo politécnico não parece ter secundado a movida vestimentária universtária pública e privada).
Em França, algumas universidades mais antigas guardam nas reitorias ou nos gabinetes de direcção das faculdades as velhas maças dos bedéis, utilizando-as nas cerimónias de abertura solene (ex: Poitiers). Nas universidades da Inglaterra, Escócia e Austrália, o bedel continua a ocupar lugar de destaque na vida universitária. No caso de Oxford, o bedel antecede sempre o reitor com longa vara de prata alçada que simboliza a autonomia da instituição. As ancestrais universidades italianas conservaram também as suas maças de bedeis (Bolonha, Perugia). Da mesma família e com idêntico significado são as maças de prata em uso no Parlamento de Londres, Parlamento do Canadá, Parlamento da Escócia, Irlanda e Câmara Municipal de Londres.
Nas grandes cerimónias da Casa Real Britânica ainda persistem as maças de prata que integram a colecção das jóias da coroa. Quanto ao Vaticano, desconhecemos se o Mestre de Cerimónias continua a usar as antigas vestes e insígnias (maça, sotaina e mantelleta ou garnacha curta), tendo em conta as simplificações da sumptuária implementadas pelo Papa Paulo VI em 1969.
Em Espanha, a figura do "macero" persiste na casa real, nas antigas universidades e nos ayuntamientos (câmaras municipais), desfilando em lugar destacado nas galas universitárias, recepções régias, festividades municipais, procissões da Semana Santa e do Corpo de Deus.
Em Coimbra Bedel e Mestre de Cerimónias configuravam funções distintas, existindo actualmente um bedel por cada Faculdade. A antiga vestimenta era constituída por Loba talar (sem capa), barrete de cantos ou chapéu de alguidar (=sombreiro, saturno), luvas brancas e maças da soberania. A insígnia de gala era uma maça de prata com haste, charola e corrente. Excepcionalmente, nos actos que os bacharéis de Teologia faziam para atingir a licenciatura (Princípios, Augustiniana, etc.), o bedel poderia trazer uma maça de pau preto, de três palmos de comprido, ornada de anéis de prata, que ao cabo e ao resto constituía uma versão encurtada da vara do Provedor da Santa Casa da Misericórdia. Com a progressiva laicização da UC, os bedéis passaram a envergar um traje preto reportado à primeira metade do século XVII, praticamente idêntico ao traje de gala que presidente e vereadores usaram na Câmara Municipal de Coimbra até 1910. Esta opção, datável do advento do Liberalismo, não deixa de causar perplexidades, pois os bedéis sempre se distinguiram de todos os restantes oficiais e funcionários administrativos nas velhas universidades europeias continentais. E o que os bedeis da UC usam desde sensivelmente 1834 é o traje de cerimónia próprio dos funcionários que justamente não são bedéis...
Fonte: desenho oitocentista de Léopold Massard, reportado ao reinado de Henrique III de França (1574-1589), http://www.costumes.org/history/100pages/HENRI3-HTM.
AMNunes
Em França, algumas universidades mais antigas guardam nas reitorias ou nos gabinetes de direcção das faculdades as velhas maças dos bedéis, utilizando-as nas cerimónias de abertura solene (ex: Poitiers). Nas universidades da Inglaterra, Escócia e Austrália, o bedel continua a ocupar lugar de destaque na vida universitária. No caso de Oxford, o bedel antecede sempre o reitor com longa vara de prata alçada que simboliza a autonomia da instituição. As ancestrais universidades italianas conservaram também as suas maças de bedeis (Bolonha, Perugia). Da mesma família e com idêntico significado são as maças de prata em uso no Parlamento de Londres, Parlamento do Canadá, Parlamento da Escócia, Irlanda e Câmara Municipal de Londres.
Nas grandes cerimónias da Casa Real Britânica ainda persistem as maças de prata que integram a colecção das jóias da coroa. Quanto ao Vaticano, desconhecemos se o Mestre de Cerimónias continua a usar as antigas vestes e insígnias (maça, sotaina e mantelleta ou garnacha curta), tendo em conta as simplificações da sumptuária implementadas pelo Papa Paulo VI em 1969.
Em Espanha, a figura do "macero" persiste na casa real, nas antigas universidades e nos ayuntamientos (câmaras municipais), desfilando em lugar destacado nas galas universitárias, recepções régias, festividades municipais, procissões da Semana Santa e do Corpo de Deus.
Em Coimbra Bedel e Mestre de Cerimónias configuravam funções distintas, existindo actualmente um bedel por cada Faculdade. A antiga vestimenta era constituída por Loba talar (sem capa), barrete de cantos ou chapéu de alguidar (=sombreiro, saturno), luvas brancas e maças da soberania. A insígnia de gala era uma maça de prata com haste, charola e corrente. Excepcionalmente, nos actos que os bacharéis de Teologia faziam para atingir a licenciatura (Princípios, Augustiniana, etc.), o bedel poderia trazer uma maça de pau preto, de três palmos de comprido, ornada de anéis de prata, que ao cabo e ao resto constituía uma versão encurtada da vara do Provedor da Santa Casa da Misericórdia. Com a progressiva laicização da UC, os bedéis passaram a envergar um traje preto reportado à primeira metade do século XVII, praticamente idêntico ao traje de gala que presidente e vereadores usaram na Câmara Municipal de Coimbra até 1910. Esta opção, datável do advento do Liberalismo, não deixa de causar perplexidades, pois os bedéis sempre se distinguiram de todos os restantes oficiais e funcionários administrativos nas velhas universidades europeias continentais. E o que os bedeis da UC usam desde sensivelmente 1834 é o traje de cerimónia próprio dos funcionários que justamente não são bedéis...
Fonte: desenho oitocentista de Léopold Massard, reportado ao reinado de Henrique III de França (1574-1589), http://www.costumes.org/history/100pages/HENRI3-HTM.
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