FADO DOS BÚZIOS
Música: Armando do Carmo Goes (1906-1967)
Letra: autor não identificado
Incipit: De ser Maria o teu nome
Origem: Coimbra
Data: ca. 1925-1926
De ser Maria o teu nome,
Cometi uma heresia:
Esqueci o Padre-nosso,
Rezo só Ave-Maria.
Quem me dera o Senhor-fora
Mais a hora da Agonia,
Se cantasses o Bendito
À minha porta, Maria.
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Mi b maior, 2ªSol #, Sol # maior ///2ªMi b, Mi b maior;
2º dístico: 2ªFá, Fá menor ///2ªSol, Sol menor; (2ªMi b) (1ª vez)
2º dístico: 2ªMi, Mi b maior ///Lá b maior, 2ªMi b, Mi b maior; (2ª vez)
Informação complementar
Canção musical estrófica em compasso quaternário (4/4), vazada no tom de Mi Bemol Maior. Espécime gravado por Armando Goes, em Lisboa, no palco do Teatro Maria Victória, a 15 de Maio de 1927, acompanhado em Guitarra de Coimbra de 17 trastos por Albano de Noronha e em violão de cordas de aço por Afonso de Sousa: disco de 78 rpm His Master’s Voice, B 4693, posteriormente sob o nº de catálogo HMV, EQ 32. No disco, por baixo do título vem o nome “Goes” entre parêntesis, indicativo, em geral, da autoria da música e, não da música e da letra. A música é a mesma com que se canta a posterior variante vulgar São Tão Lindos os Teus Olhos, gravada por Fernando Rolim e José Paradela de Oliveira.
O título original desta composição suscita-nos dúvidas. Os “busos” são instrumentos de corda. O “Senhor-fora” é o viático, o sacramento da comunhão ministrado pelo pároco aos enfermos em suas casas. O “Bendito” é uma oração religiosa que tem por incipit «Bendito e louvado seja…». Será BUSOS, será BUSIOS, ou será BÚZIOS? No catálogo de 1928 da His Master’s Voice vem “busios”. Terá Armando Goes pretendido homenagear os moleiros do Lis, que chamariam a clientela a toques de búzios? Este é um daqueles títulos intrigantes para os quais não conseguimos respostas satisfatórias, à semelhança do que acontece com o tema instrumental “Fado da Trolha”, de Manuel Rodrigues Paredes. No nosso trabalho de reconstituição e inventariação optámos pelo título Búzios.
Este espécime anda vulgarizado com o título “São tão lindos os teus Olhos”, por via das interpretações de Maria Teresa de Noronha (1918-1993), sendo a 1ª quadra de Dom António José Manuel de Bragança (1895-1964) e a 2ª popular:
São tão lindos os teus olhos
Quando se fitam nos meus!
Dizem coisas, contam coisas...
Ai Jesus, valha-me Deus!
Ficam teus olhos em brasa
Quando algum noivado vês...
Deixa lá casar quem casa
Que ninguém nos tira a vez.
A 2ª quadra tem diversas variantes e é considerada popular. Uma dessas variantes consta do Cancioneiro Geral dos Açores, coligido por Armando Cortes-Rodrigues. No Fado de Coimbra Nº 6 (Sei lá se a dor me consome), gravado em 1926, António Marques Batoque canta uma outra variante desta mesma quadra.
A primeira variante coimbrã conhecida foi gravada em 1960, também em Mi Bemol Maior, pelo tenor Fernando Rolim, acompanhado por António Brojo/António Portugal e Aurélio dos Reis/Mário de Castro (violões aço): EP “Música de Portugal”, Parlophone, LMEP 1029, ano de 1960.
José Paradela de Oliveira, que gravou este tema em Madrid, em 17 de Outubro de 1960, acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão e José Maria Amaral e, à viola por Arménio Silva, canta uma outra variante da 2ª copla: Pôem-se-te os olhos em brasa (EP “Saudades de Coimbra Nº 1”, Philips, 431 901 PE, de 45 rpm). No referido disco vem a indicação de a música ser de Armando Goes e a letra popular, o que não corresponde inteiramente à verdade, pois a versão gravada por Paradela é a recebida de Maria Teresa de Noronha por intermédio de João Bagão. A gravação Paradela circulou no LP “Saudade de Coimbra”, Fontana, 6482, editado em Angola.
Transcrição musical: Octávio Sérgio (2005)
Texto e pesquisa: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Agradecimentos: Dr. Afonso de Sousa, Dr. Artur Ribeiro (Museu Académico), Dr. Aurélio dos Reis (disponibilização do arquivo sonoro particular), e José Moças (Tradisom)
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