domingo, dezembro 11, 2005

EM TORNO DE MANUEL RAPOSO MARQUES, DO «HÁBITO TALAR» E DO MAIS QUE ADIANTE SE VERÁ.

I.

Meu Caro Dr. António Nunes:

Sabe bem a consideração que tenho por Si e pela seriedade e solidez do que vem publicando sobre a CC e outras temáticas do universo coimbrão. Mas hoje tenho que discordar de algumas coisas que escreve a propósito de Manuel Raposo Marques. E não entro já na questão de uma certa 'crueza' do retrato, aspecto aliás apontado pelo Autor do 1.º «comment». É um facto que Raposo Marques pertenceu a um tempo em que os Coros amadores, estudantis (universitários ou liceais) ou não, eram essencialmente aquilo que o OAC então foi. Num plano inferior, o Orfeão Universitário do Porto (OUP) de Afonso Valentim (1897-1974, regente: 1942-1967) não terá sido substancialmente difererente. Que as coisas mudaram a partir das décadas de 50 e (sobretudo) de 60, plenamente de acordo; e, deste ponto de vista, Francisco Faria (que cita), Francisco d'Orey, José Robert, Günther Arglebe, Manuel Reis, José Luís Borges Coelho, Mário Mateus, Jorge Mata, Fernando Eldoro e tantos outros representaram de facto a mutação requerida por tempos em que, por amadores que fossem, os coralistas exigiam já outro tipo de repertório e de emissão vocal. Que o tema de Georg-Friedrich Haendel que refere teve realmente uma interpretação (e gravação) discutível, ainda de pleno acordo. Mas já quanto ao uso em cena do hábito talar com condecorações, aí vamos com alguma calma:

§ Aquilo a que se chama «hábito talar» constitui a versão novecentista (ca. 1920 ss.) da capa e batina de tradição eclesiástica que lentes e escolares trajaram no quotidiano escolar coimbrão ao longo de Oitocentos, só com modificações (laicizantes/aburguesantes) para os segundos nas décadas finais do século. Caído em desuso para os lentes por cerca de uma década a partir de 1910, o hábito ressurgirá – por acção, entre outros, do lente de Teologia (até 1911) e depois de Letras/História (1911 ss.) P.e António Garcia Ribeiro de Vasconcelos (1860-1941) –, com adaptações que passaram no essencial pelo encurtamento da batina para a zona do joelho e pelo abandono do colarinho de volta, de tipo clerical. Assim se configurou o traje que continuamos a ver na Sala dos Capelos e, hoje mais pontualmente, nas provas académicas e actos solenes de outras Universidades (com especial destaque para a Fac. Direito/UL). Este hábito não é forçosamente «doutoral»: por alguma razão os doutorandos o usam nas provas. Se tradição houvesse de participação dos assistentes em cerimónias trajados "a rigor", assim se apresentariam.

§ Ou seja, o uso do hábito talar por regentes artísticos de organismos estudantis musicais nada tem de estranho nem me parece que tenha sido 'invenção' de Raposo Marques. Hábito talar com condecorações usou também, no OUP, o mencionado Afonso Valentim[1]; e hábito talar usaram também Joel Canhão ou regentes da TAUC como Tobias Cardoso e João Rodrigues e, nos nossos dias, o agora regente dos AOOAC Virgílio Caseiro, entre outros; enquanto que, no Porto, José Luís Borges Coelho fundou o Coral de Letras da UP em 1966, sendo aluno de Letras/História e usando em público, naturalmente, a capa e batina estudantil (até 1971). É claro que depois muita coisa mudou: no OUP nenhum dos sucessores de Afonso Valentim usou hábito talar, mas antes casaca (Günther Arglebe – 1967-69[2] e, em saraus «de gala», Fernando Jorge Azevedo[3] – 1969-1973), «smoking» (Fernando Jorge Azevedo em ocasiões de menor «gala», Mário Mateus – 1973 ss.), fato escuro ou, nos anos 70, camisola de gola alta preta com calça da mesma cor. E estas outras opções foram sendo a regra, segundo a circustância, nas últimas cerca de três décadas e meia.

Aqui ficam pois estes reparos, que naturalmente não colidem com aquela velha máxima em latim macarrónico: «inter amicos non est geringontia»... Virgílio Caseiro já caracterizou muito bem na sua tese de mestrado – com excertos publicados neste blog em Julho último – os diferentes maestros do OAC; e não precisou de ser «ácido», para utilizar expressão do primeiro «comentarista» do Seu texto.
Receba um grande abraço do
Armando Luís de Carvalho Homem.

II.

Caro Doutor A. L. de Carvalho Homem:

Agradeço-lhe o envio do comentário relativo à minha croniqueta sobre RM. Não estou de todo arreliado, pois se houve alguém que deu azo a comentários, esse alguém fui eu próprio.
Por vezes, em textos de tipo crónica, acabo por fazer uma escrita distanciada (que não distante), algo niilista, que pode parecer cruenta. No campo da história das ideias, sobretudo no ramo da biografia como retrato de época, há quem escreva balizado por este tipo de parâmetros, como tem sucedido em Inglaterra e Espanha (são os casos que melhor conheço). Por cá, creio que só Rui Ramos, da UL, pratica uma discursividade próxima, e como é sabido, no tomo da 1ª República/Mattoso/Círculo de Leitores, foi muito mal recebido sobretudo nos meios conimbricenses.

Eu nunca me dediquei a investigar a vida e obra de RM, sendo que esta daria uma monumental monografia. RM regeu a TAUC, o Orfeon, o Coro Misto, foi Prof. Música do Liceu de Coimbra, Prof. História da Música da UC, regente do Orfeon da Escola Industrial Brotero, compositor, actor amador, compositor de partituras para récitas académicas e populares. A sua ascensão oficial coincidiu com a salarização da UC, o que não significa que RM fosse um homem do regime. Agora, é evidente que o percurso artístico do Orfeon reflecte a estética do regime. Cito apenas a ida do Orfeon em combóio de apoio à Falange franquista em 1937, com distribuição de mantimentos. RM fez ensaiar e regeu já em território espanhol o Hino da Falange.
Quando em 1953 foi substituído na TAUC por Alves Ferreira, as críticas a RM eram terríficas, mesmo a nível interno.
Quanto ao seu comportamento, não me interessa de todo entrar nos caminhos da vida particular e familiar de RM. Muita coisa me tem sido contada e alguns testemunhos verídicos são duros. Este assunto pelos vistos interessava muito aos orfeonistas de época e às relações de vizinhança, a tal ponto que vem mesmo referido na obrinha curiosa de António Santos Silva, "Zeca Afonso antes do mito". Contrariamente ao que se possa pensar, os juízos de valor sobre a conduta de RM não me interessam. Daquilo que sei (e sei muita coisa), posso apenas dizer que RM se comportava como um homem português tradicional do seu tempo, proclamando publicamente a sua masculinidade. Afinal era isso que os padrões sócio culturais do tempo esperavam dos homens portugueses.

Há portanto em RM duas longas fases que antecedem a decadência artística: a fase estudantil que vai da sua chegada à TAUC e ao Orfeon (2º tenor) em Outubro de 1923, com produções musicais e convites para regente provisório. RM faz frequentemente de bombeiro dos organismos musicais académicos; uma 2ª fase em que o eterno estudante de Direito começa a entrar num registo de afirmação oficial: nomeação para Prof. da Cadeira de Música do Liceu de Coimbra em 1928; Regente do Orfeon da Escola Comercial Brotero em 1933; Regente Oficial da TAUC (1937-1953); Regente Oficial do Orfeon (1937-1966); Lente da Cadeira de Música da UC (1937-1966), regente interino do Orfeon e da TAUC desde finais a década de 1920.
Foi em 1933, a propósito da estreia do Orfeon da Escola Brotero que o programa anunciou "Dr. Raposo Marques" e desde então o título entrou em circulação. Também não vou discutir este assunto pois tradicionalmente em Coimbra toda a gente era tratada por "Dr.", e também o Rei D. Pedro V recebeu esse tratamento. A alcunha, Palestrina, não lhe foi dada em Coimbra, mas sim pelo público portuense que em março de 1935 pateou violentamente o Orfeon no Coliseu do Porto. As vaias tremendas, foram originadas por causa de rivalidades entre Académica e FCP, e nos meio da confusão alguém gritou da plateia "Palestrina !". Não vou escrever aqui a resposta de RM.
Quanto às acusações de que RM não saberia assim tanta música, não sou eu que digo tal coisa. Não possuo qualquer prova abonatória de tal acusação. Julgo que terá sido um boato maldoso posto a correr na fase terminal da regência da TAUC, ou então poderá ter nascido em meados da década de 1950, na sequência das rivalidaes entre o Orfeon e o Coral das Letras (CELUC). RM sabia bastante música, tendo-a aprendido durante aí entre os 10 anos e o final do Liceu, com o regente da filarmónica da sua terra, actual Cidade da Ribeira Grande (Ilha de São Miguel). O que não está provado é que a esposa de RM soubesse a música que os rumores diziam que saberia.
Enquanto autor, RM oscila entre o clássico e os gostos do seu tempo, marcados pelo tango, bailarico, corridinho, malhão, serenata, fado corrido, rapsódia de cantos populares, fox-trot, etc..
Seja como for, aos anos fortes de RM estendem-se até meados da década de 1950. Por exemplo, no que respeita às gravações orfeónicas efectuadas em 1962 e divulgadas em disco em 1962, por alturas da digressão do Orfeon aos EUA, importa esclarecer que quase esse repertório tinha sido gravado no Funchal em 1949 e enviado para os EUA, precisamente quando o Orfeon viajava para Àfrica. É preciso lembrar que RM estaria sujeito a pressões governamentais, oriundas do Ministério da Educação, para ensaiar e apresentar em determinado repertório em certos contextos. É sabido que na preparação da digressão aos EUA em 1962, o governo indicou a inclusão de música folclórica representativa das tradições portuguesas. Para regime vigente, o Orfeon Académico não era um coral qualquer, era um embaixador oficioso. De qualquer das formas, muito antes do Ministro da Educação Carneiro Pacheco ter instaurado o canto coral obrigatório nas escolas, elogiando em tom fascista o "acordo em uníssono", já os regentes Arroyo e Joyce tinham aberto o caminho para os cantos nacionalistas e rapsódias populares.

Pelo que fica dito acima, RM foi efectivamente uma figura mítica da cultura e do imaginário conimbricenses. Quando se fundou o Coro dos Antigos Orfeonistas do OAC, pela década de 1980, foram ainda os "seus rapazes" que vieram cantar. E no primeiro disco deste coral, a herança do repertório RM ainda se faz sentir fortemente.

Relativamente ao assunto do Hábito Talar, não posso corroborar inteiramente o seu ponto de vista. Antes de RM não há qualquer registo de regente com "Batina de Lente". João Arroyo, de quem há boas fotografias trajado e a reger (1880), aparece com a Capa e Batina de estudante do seu tempo. António Joyce também se vestia com Capa e Batina do seu tempo (1908-1912), trazendo elementos dandis como o lenço, o monóculo e até coletes de fantasia. Quanto ao Padre Dr. Elias de Aguiar, as raras fotos e testemunhos indiciam que terá regido com Capa e Batina de estudante, usando a Volta em vez de camisa branca.
RM regeu o Orfeon e a TAUC frequentemente entre 1928 e 1936, como regente convidado e como regente interino, sempre com Capa e Batina de estudante. Foi nesta fase, em inícios dos anos 30, no Orfeon de Elias de Aguiar, que começou a entrar em palco e a deixar escorregar a Capa de Estudante.
Só após a sua nomeação oficial e tomada de posse, com assinatura de contrato para Regente Oficial do Orfeon, da TAUC, e Lente da Cadeira de Música da UC, com direito a ordenado mensal, é que RM mandou fazer um Hábito Talar de Lente, o qual passou a usar nas digressões artísticas, com aposição de condecorações.

Vejamos então:

a) antes de RM nenhum regente do Orfeon usou Hábito Talar de Lente, ou de Doutor como se dizia e ainda diz em Coimbra, embora no caso da TAUC eu possa adiantar que o regente António Simões Barbas se apresentava em público com Hábito Talar de Lente, visto ser docente titular da Cadeira de Música da UC;

b) o Trajo que RM passa a envergar desde 1937 não é o modelo estudantil da Capa e Batina consagrado entre a Revolução de 1910 e a década de 1920, mas sim o novo modelo de Hábito Talar de Lente/Doutor, surgido a partir de 1916, isto é, das propostas apresentadas pelo Doutor António de Vasconcelos;

c) não estou inteiramente seguro quanto ao argumento seguido por RM para adoptar o Trajo de Lente. Não li o decreto de nomeação, mas não terá sido porque já era Prof. do Música do Liceu (até 1880 os lentes do Liceu de Coimbra, organismo subordinado à UC, usavam Hábio Talar de Lente). Creio que também não terá sido porque era regente da TAUC e do Orfeon, mas sim porque foi integrado no claustro docente da UC;

d) na UC não há qualquer norma ou tradição que torne extensivo o uso do Hábito Talar de Lente aos assistentes. Ele é vestido pela 1ª vez para prestação de provas de doutoramente perante júri, e pela 2ª vez na imposição de insígnias doutorais. Ou então, é logo vestido para doutoramento honoris causa !

e) Quem inaugura a "tradição" da regência com Hábito Talar Doutoral, em Coimbra, é RM. Depois dele bastou seguir aquilo que já era considerado como tradição;

f) a única excepção a este "preceito", que seja do meu conhecimento, respeita ao Secretário Geral da UC e Mestre de Cerimónias, o qual também enverga o Hábito Talar de Lente. Aqui sim temos modificações, pois nos Estatutos antigos e nos Estatutos Velhos, a farda preceituada para o Mestre de Cerimónias era a Loba e Mantéu de Estudante (Capa e Batina). Porém, com as reformas dos uniformes após 1910, e respectiva laicização dos figurinos eclesiásticos, o Mestre de Cerimónias passou também a vestir a partir de 1916 Hábito Talar de Lente, tendo sido o 1º a fazê-lo o Dr. Manuel da Silva Gaio;

g) pode ser que num qualquer futuro a Reitoria da UC modifique o seu Cerimonial/Protocolo, alargando o uso do Hábito Talar aos docentes não doutorados, quiçá com eventual aposição de alguma insígnia identificativa de quem é Bacharel, Licenciado, Mestre, etc.. Por enquanto nada conheço a tal respeito. Como reagiriam a Reitoria e os doutores mais antigos se os seus assistentes aparecessem em cortejos, na Sala dos Capelos, etc., envergando Hábito Talar ? Boa coisa não diriam certamente...

Meu Caro Doutor A. L. de Carvalho Homem, receba uma vez mais renovados votos da muita estima, apreço intelectual e satisfação pela estimulante troca de ideias.

Um abraço do AMNunes

III.

Meu Caro Dr. António Nunes:

A Sua longa e articulada argumentação em torno do uso do «hábito talar» (deixemos a vulgata «batina de lente», que só serve para criar confusões)a por Raposo Marques (RM) acaba por dar razão ao essencial da minha tese:

1. RM usou tal traje não por ostentação, idiossincasia ou auto-arrogância daquilo que não era (lente), mas sim porque tal lhe terá sido inculcado pela autoridade académica do tempo (na circunstância, o Reitor João Duarte de Oliveira, vulgo «João Pó-Pó», sem esquecer o ministro António Carneiro Pacheco – ex-lente de Direito da UC e ao tempo da UL – e o Director-Geral do Ensino Superior, o lente de Ciências/Matemática da UC Doutor João Pereira Dias). E para isso de nada serve consultar o «decreto de nomeação», como diz no ponto a): não é uso tais diplomas trazerem normativa sobre traje de função, a qual, a existir, está já previamente estatuída, como é evidente. Mais: o mesmo ponto a) indica o que me parece ser afinal a verdadeira razão: a titularidade da cátedra de Música, ainda que pouco ou nada exercida de facto por RM; mas neste caso o precedente do Dr. António Simões Barbas parece-me elucidativo… Tanto mais que tudo parece dar-se por volta de 1937, ou seja, o ano das comemorações da reforma joanina e da definitiva instalação do Studium Generale em Coimbra; conjuntura, portanto, bem adequada ao reforço de cerimonialidades.

2. A Sua alínea f) – sobre o traje do Secretário-Geral, hoje Administrador – é coisa arqui-sabida: Luís Cabral de Moncada e outros memorialistas referem abundantemente Manuel da Silva Gaio. Acrescento que até à década de 70 o Secretário-Geral da UP (e ulterior lente de Letras/Filosofia António José de Brito) usou também hábito talar, enquanto que na UL o cargo foi em alguns momentos desempenhado por individualidades cumulativamente exercendo advocacia e usando a respectiva toga profissional.

3. Também as alíneas c) e g) contêm informação arqui-conhecida, quer quanto ao passado, quer quanto ao presumível futuro.

4. Mas há algo mais, que ultrapassa a gnose do Dr. António Nunes: até um determinado momento (anos 60 ?) nenhum grupo estudantil (organismo artístico, finalistas – ou não – em viagem de estudo…) podia ausentar-se da cidade-sede do Studium Generale sem a presença de um Mestre. Nos casos de digressões artísticas, seria normalmente um lente, não raro o próprio Reitor ou Vice-Reitor, eventualmente uma embaixada mais lata (v.g. OAC, Brasil/54: Vice-Reitor + Directores de Faculdade + Secretário-Geral [ + os cônjuges ]); e tais lentes não raro se apresentariam trajados em cerimónias de especial dimensão, nomeadamente em visitas a U’s de outros Países (v.g. o lente de Ciências/ Zoologia da UP Amílcar Mateus na digressão do OUP a Moçambique em 1959, ou o lente de Ciências/Botânica da UP Arnaldo Roseira na digressão do mesmo Organismo aos EUA na Páscoa de 1968). Nas viagens de estudo, à partida iria o regente da disciplina, que, nomeadamente a partir da década de 60, bem poderia ser um assistente. Os casos especiais reportam-se a dois momentos (e não devem ser únicos) em que o Reitor da UP se fez representar por um assistente-antigo orfeonista em digressões do Orfeão Universitário do Porto (OUP):

i. Aconteceu com Angola/1962: o representante reitoral foi o antigo orfeonista Lic.º Gustavo Rebolho Lapa, assistente de Ciências/ Geologia; usou hábito talar como orador no Sarau de abertura, em Luanda;

ij. E aconteceu com Angola-Moçambique-África do Sul/1969: representou o prelado o antigo orfeonista (e Presidente da Direcção em 1967/68) Lic.º Eugénio Francisco dos Santos, ao tempo assistente de Letras/História (hoje lente História Moderna e decano do Departamento de História); envergou hábito talar (pelo menos) numa visita à U. de Capetown, durante a qual usou da palavra.

Para fechar: não será, meu Caro Dr. António Nunes, que, como dizia Eça em carta a Pinheiro Chagas, «estamos fazendo muito barulho por um pedacinho de toucinho» ?

Um grande abraço e até breve

Lisboa, 6 de Dezembro de 2005

Armando Luís de Carvalho Homem.


IV.

Prezado Doutor A. L. de Carvalho Homem

Na generalidade do que se treplica sou levado a concordar consigo. Ressalvando a (minha) dúvida quanto a MRM ter envergado Hábito Talar porque passou a Maestro Regente do Orfeon Académico de Coimbra (escorado numa decisão não escrita da Reitoria da UC + Ministério Carneiro Pacheco), ou porque também foi nomeado professor da cadeira de Música da UC, não vejo razões de fundo que possam legitimar outro tipo de leituras/discordâncias. Numa eventual continuação desta conversa valeria a pena sondar os vários “estatutos” impressos dos organismos estudantis, os de antes de 74, e os posteriores, intentando descortinar o que ali se diga sobre os maestros. Não alinhei, para efeitos de argumentação, o assunto curioso e paternalista das digressões acompanhadas de dirigentes da UC, ou de lentes convidados para o efeito (efectivamente vestidos com Hábito Talar e também com insígnias), por me ter parecido menos relevante. Era, como sabe, uma prática que vinha pelo menos da 1ª República, com robusta intensificação durante o Estado Novo.
Quanto à eventual utilidade e pertinência desta nossa conversa (fazendo jus ao Eça), bem se poderá dizer que ela apenas interessa aos dois signatários… E se assim for, não darei o meu tempo por desperdiçado.
Queira receber a subida estima e o renovado testemunho do meu apreço,

António M. Nunes
(Dezembro de 2005)

[1] Obs.: Na proto-história do OUP, em 1937, Afonso Valentim vestiu casaca.
[2] Futuro maestro-titular da extinta orquestra Orquestra Sinfónica do Porto.
[3] Pianista e prof. do Conservatório de Música do Porto.
a Ainda um destes dias vou passar por uma casa de artigos académicos criada no Porto por antigos alunos da minha Faculdade, a mostrar-lhes o meu «hábito talar»; imagine que estão a vender capas-e-batinas estudantis a doutorandos…

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