Cordofones Tradicionais Portugueses em "escolas"
Após a Revolução de 1974 consolidou-se a necessidade de proteger e divulgar alguns cordofones tradicionais portugueses. No tocante às violas de arame regionais, algumas quase tinham desaparecido (caso da Toeira na Região de Coimbra, da Beiroa e da Campaniça), devido à morte dos tocadores mais idosos, ao esboroamento da prática das modas e danças regionais e, à acelerada mudança de gostos musicais. Relativamente a Lisboa, a prática do Fado e da Guitarra de Fado não desapareceram, mas o género e os cultores foram alvo de complicados processos de denegrimento, fruto de forçadas e equívocas tentativas de assimilação do Fado à ideologia do Estado Novo em processo de liquidação.
Em Coimbra viveram-se anos particularmente difíceis entre 1969-1978, marcados pela perseguição violenta aos cultores da Canção de Coimbra. Num registo mais popular, tinham desaparecido as Fogueiras de São João e , verificada a morte e o fechamento da oficina de Raul Simões, era caso para dizer "Toeira é morta"!
Nunca as violas de arame tradicionais, nem as guitarras, tinham sido ensinadas em academias ou conservatórios de música em Portugal. Perguntar ao director de um conservatório se havia hipótese de criar uma classe facultativa de Viola Braguesa ou de Guitarra de Coimbra poderia ser tomado como uma ofensa grave ou até sinal de menoridade cultural e intelectual.
Os primeiros passos com vista à implementação de planos de salvaguarda dos cordofones tradicionais portugueses surgiram nos Açores. A Viola da Terra estava em franco declínio na passagem dos anos 70 para os anos 80. Em algumas ilhas praticamente não existiam gravações discográficas da música tradicional local. O grande terramoto que em 1980 fustigou impiedosamente a Ilha Terceira terá ajudado a solidificar a consciência patrimonial local.
Se a década de 1980 ficou marcada nos Açores pela introdução experimental de duas classes de Viola da Terra nos conservatórios de Angra e de Ponta Delgada, a década de 1990 assistiu à entrada da Guitarra de Coimbra nos conservatórios continentais.
Aqui ficam algumas informações sumárias sobre o processo:
-Conservatório Regional de Angra do Heroísmo: existe uma disciplina de Viola da Terra em funcionamento desde 1983. Foi primeiro formador José Luís Lourenço. Desde 1996, o ensino tem estado a cargo de Lázaro Silva. Utiliza-se a Viola da Terra de modelo típico da Iha Terceira, com caixa grande, boca redonda, seis ordens metálicas (15 cordas), instrumento que se tem ressentido da falta de violeiros fabricantes activos na Iha Terceira. Contactos e informações através do telefone 295215021.
-Conservatório Regional de Ponta Delgada: existe uma disciplina de Viola da Terra, ministrada pelo tocador Ricardo Melo. A classe funciona desde 1982, ano em que começou com o Mestre Miguel de Braga Pimentel. Os resultados são considerados excelentes ao nível da adesão dos formandos, salvaguarda, divulgação e construção. Utiliza-se o modelo geral açoriano com caixa de 2 corações, escala de 12 pontos extra caixa e 5 ordens metálicas. O formador tinha em agenda editar um método no dia 18 de Fevereiro de 2006. Contactos e informações através do telefone 296285840.
-Conservatório de Música de Coimbra: no ano lectivo de 1997/1998 começou a funcionar uma classe de Guitarra de Coimbra com o formador Paulo Soares (JóJó). Posteriormente, a disciplina tem sido ministrada pelo executante Prof. José dos Santos Paulo, formador que tem pronto para edição um método didáctico.
-Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra: em 1980 foi criada uma classe de Guitarra de Coimbra com João Moura. Posteriormente asseguraram esta escola Fernando Monteiro, Jorge Gomes e diversos discípulos daqueles dois formadores.
-Escola dos Antigos Orfeonistas do Orfeon Académico de Coimbra: classe de Guitarra de Coimbra aberta em 2002 sob orientação de Paulo Soares (Jójó). O formador editou um método em 1997.
-Museu do Fado (Lisboa): classe de Guitarra de Lisboa a funcionar regularmente, sob orientação do guitarrista António Parreira. Contactos através do telefone 218823470.
-Conservatório de Música do Porto: tem em funcionamento uma disciplina de Guitarra de Coimbra, com horário completo, ministrada pelo formador Carlos Jesus. Esta classe foi iniciada em finais da década de 1990 por Paulo Soares (Jójó). Contactos através do telefone 222073250.
Agradecimentos: Conservatório de Angra do Heroísmo, Conservatório de Ponta Delgada, Conservatório do Porto, Museu do Fado (Lisboa), Prof. José dos Santos Paulo (Conservatório de Coimbra), Dr. Jorge Gomes (Secção de Fado da AAC), Prof. Lázaro Silva, Mestre Miguel Pimentel
AMNunes
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