O Pica

Lembro-me de um dos mais engraçados e curiosos 'doutores' de Coimbra, do meu tempo de caloiro, ainda fresco de chegar à cidade: o famoso Pica!

Pequenino, nariz afilado, sotaque beirão, olhar vivo e trocista, magrinho e moreno, vestia um fato escuro e camisa branca, sem gravata! Mordiscava um palito e debitava as gozações que por certo já estariam bem planeadas de casa...

Dele era lendário o jeito para 'gozar' os inditosos caloiros que lhe prantavam frente à sua satírica veia imaginativa!

Numa das primeiras tardes de então, pouco depois de iniciada a época da praxe, numa primeira mobilização para dar gozo, assisti a um entremez que reproduzo, centrado num intrincado problema Matemático! (Comigo o Pica não entrou, se calhar por falta de tempo!)

O Diniz - assim se chamava o meu colega metido no olho do furacão - foi instado a responder (com demonstração de cálculos...), ao seguinte:

"O Farol de Aveiro tem 75 degraus, ilumina num raio de 60 km em redor e o faroleiro chama-se António! Com todos estes dados, o caloiro terá que calcular a que preço está o kilo do feijão!...

"Claro que nem o Diniz se aguentou e tudo desatou numa risada desbragada, sem daí ter resultado nada de mal, não se tendo conseguido apurar o preço da leguminosa...

Passados uns bons anos-luz sobre o acontecimento, fica a foto do dito farol!

Ainda nessa mesma tarde, o Pica lembrou-se de pôr o Diniz e outro caloiro a jogar ping-pong, numa mesa virtual, com uma bola imaginária, mas... as raquetas eram... as nádegas!

E ver os dois contorcer, voltear, levantar as nádegas a correr a rematar e defender (segundo as instruções do Pica), foi um dos 'gags' mais chocarreiros e divertidos a que assisti na Coimbra dos anos 60!

José Paracana

(Do seu Blog, artenosatos)