quarta-feira, agosto 09, 2006


Tradições musicais da Pampilhosa Posted by Picasa
Contracapa do folheto do CD "Pampilhosa. Tradição Musical", Lisboa, Estúdios Valentim de Carvalho, ano de 2002, num trabalho do GEDEPA (Grupo Etnográfico de Defesa do Património e Ambiente da Região da Pampilhosa/Mealhada).
A fotografia em destaque foi captada no escadório de uma casa rústica do século XVI, recuperada pelo GEDEPA e transformada em museu e centro de documentação. O GEDEPA edita regularmente a revista "Pampilhosa", efectua recolhas arqueológicas, documentais, orais e utensílios do quotidiano rural, faz teatro, reconstitui tradições populares caídas em desuso, desenvolveu acções de promoção dos gaiteiros e de recuperação do "Guitarrinho de Coimbra", tendo prestado apoio às recolhas do Dr. José Alberto Sardinha.
O disco contém 23 faixas sonoras, correspondendo a pregões tradicionais populares de artes, ofícios e mercadorias os números 1 (pichéis e capachos), 4 (fruta e água), 7 (chinelos e semente), 10 (areia fina e carqueja), 13 (bolos e jornais), 19 (tremoços e pirolitos) e 23 (babanis). Aliás, a jóia da coroa deste trabalho de recolha e reconstituição radica na riqueza e diversidade dos pregões populares.
Há modas de canto e dança que remetem o auditor para o Minho e o Douro Litoral, como sucede com os registos nº 3 (Tirana) e 17 (Loureiro). Outras modas são comuns ao cancioneiro da Região de Coimbra, com incidências em Penacova/Lorvão. O "Vira da Nossa Terra" obedece ao padrão rítmico clássico em ternário composto, com ares de família do "Vira de Coimbra" mais ancestral. O "Maneio "(nº8) era bailado nas Fogueiras de Coimbra com grande folgança. O "Abracito" é uma variante do conimbricense "Abracinho" (O Salgueiro à borda d'água). Quanto ao "José Retratado" (nº 18), quase poria um dedo no fogo para jurar que veio do Largo do Romal, dos tempos em que Adelino Veiga dava cartas, o mesmo acontecendo com o "Nó da Gravatinha" (gravado pelo grupo numa cassete pela década de 1980). No tema "Prima" (nº 21) as solistas empregam um lançamento de voz natural muito interesssante para quem tem informações sobre a forma como as mulheres de Coimbra interpretavam temas de serenata. E como se pode aferir por este exemplo, não eram propriamente vocalizações coladas ao Fado de Lisboa, ao Soul ou ao Jazz.
O GEDEPA ostenta um longo percurso, pautado por objectivos que visam melhorar a qualidade do seu espectáculo, a diversificação do reportório, a credibilização dos trajos populares e da sua tocata. Em geral, os objectivos traçados pelas várias direcções eleitas traduziram-se na melhoria dos resultados. Contudo, e falando da tocata, há ainda um excesso de acordeão que importaria relativizar. O acordeão não deve acompanhar todo o reportório, nem ficar no mesmo alinhamento dos cordofones pelo efeito de abafamento que provoca. Uma das mais valias implementadas pelo GEDEPA no ano de 2006 consistiu na aquisição de uma Viola Toeira.
De todas as modas gravadas no disco de 2002, destacamos a letra do tema nº 9, "Mariquinhas", com alusões ao imaginário estudantil que tão fortemente marcou Coimbra e povoados circunvizinhos. Trata-se de uma moda tonal, com estrutura estrófica muito vincada.
***
MARIQUINHAS
Mariquinhas como passou?
Olé, como tem passado?
Tenho corrido mil terras
Não a tenho encontrado.
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Não a tenho encontrado
Lá nos campos de Coimbra
Disseram os estudantes:
Oh que menina tão linda!
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(Ai) Oh que menina tão linda
Oh que menina tão bela
Disseram os estudantes
Eu hei-de casar com ela!
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Mariquinhas como passou?
Olé, como tem passado?
Eu tenho passado bem
Estimo tê-la encontrado!
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Agradecimentos: Dr. José Machado Lopes
AMNunes

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