Mário de Albuquerque e António Sérgio: revisitação de uma polémica
Armando Luís de Carvalho HOMEM*
Nota prévia: Em 2006/11/04 publicou o Dr. António M. M. Nunes neste blog um post reproduzindo a capa (e dando uma breve ideia do conteúdo) do opúsculo de Alexandre de ALBUQUERQUE, Carta á [sic] Academia de Coimbra, Coimbra, Tipographia e Litographia Minerva Central, 1898. O Autor do post identifica Alexandre de Albuquerque como conhecido no seu tempo de estudante de Direito por «Xandre», tendo sido amigo de Afonso Lopes Vieira e do Pad'Zé. No opúsculo «polemiza com António Macieira (republicano, futuro Ministro da Justiça), Egas Moniz e outros, após uma cena de pugilato com o citado Macieira». Pela minha parte posso acrescentar que Alexandre Correia Teles de Araújo e Albuquerque viveu entre 1875 e 1937. Formado em Direito, nos alvores da República participou nas incursões monárquicas de Paiva Couceiro, após o que se exilou no Brasil (de 1915 à década de 30). Entre os seus antepassados conta-se o célebre jurista José Homem Correia Teles (1780-1849). Um dos seus filhos será o futuro lente de História da FL/UL Doutor Mário Correia Teles de Araújo e Albuquerque (1898-1975). Este cursou Histórico-Geográficas e Direito na UC a partir de 1916, formando-se, respectivamente, em 1921 e 1922 (por sinal com a mesma classificação: 17 valores). Radicado em Lisboa, cursou a respectiva Escola Normal Superior e passou a exercer advocacia (que acumularia com a ulterior docência universitária). Doutorado em 1930 pela UL, seria lente da FL/UL de 1932 a 1968. Algumas das ideias expensas na tese doutoral (O Significado das Navegações e Outros Ensaios, Lisboa, s.e., 1930) constituem uma severa crítica às posições de António Sérgio sobre Ceuta e a política norte-africana dos monarcas portugueses. Sérgio respondeu em texto depois recolhido no vol. 4 dos Ensaios. Mas a ausência de tréplica de M. Albuquerque fez morrer a questão, da qual ficou, no entanto, uma memória «desequilibrada», como escrevo adiante. Este trabalho está em vias de publicação no volume In Memoriam Mário de Albuquerque, coord. António VALDEMAR; Maria do Rosário Themudo BARATA; Martim de ALBUQUERQUE et al., Lisboa [no prelo]. Lembrei-me de o divulgar já neste forum. É claro que os mais fundamentalistas poderão questionar a pertinência de tal publicação hic & nunc. Mas vejamos:
a) Tem prevalecido no blog um entendimento do mesmo como largamente transcendente do título, abarcando assim os mais diversos domínios da Vida e da Tradição Académica, em Coimbra como noutros meios universitários portugueses, no domínio estudantil como no domínio magistral.
b) Alexandre de Albuquerque foi um estudante de Direito interveniente como monárquico.
c) Mário de Albuquerque apoiou o sidonismo em 1917, como subscritor de um manifesto que congregaria múltiplos futuros lentes da UC.
d) O seu júri de doutoramento foi presidido por um Vice-Reitor da UL que iniciara carreira na UC (Carneiro Pacheco) e inclui praticamente todos os lentes «ordinários» (i.e., no topo de carreira) da FL/UC, sua ALMA MATER (juntamente com a FD/UC).
e) Tive acesso a fontes que me facultaram a transcrição de parte dos diálogos travados em provas entre Mário de Albuquerque e os seus dois arguentes, num universo ambiencial evocador das múltiplas «Estórias à lente» que aqui publiquei no último Verão.
f) Lente e advogado em Lisboa, Mário de Albuquerque nunca esqueceu a ALMA MATER. Em 1972, jubilado e com uma saúde já algo frágil, deslocou-se a Coimbra para as comemorações do cinquentenário do seu Curso Jurídico. Encarregado pelos Colegas de, em nome de todos, saudar a Escola, produziu uma riquíssima oração largamente transcendente da circunstância, e que, como tal, surpreendeu o Director da FD/UC, Doutor Afonso Queiró; para responder teve este, de improviso, que lançar mão de todos os recursos da sua eloquência (que não era propriamente pequena…).
Por tudo isto não julguei deslocada esta publicação, apesar de se tratar de texto erudito e extenso. Mas aí digo como o Doutor José Sebastião da Silva Dias (1916-1994) em intervenção como arguente na Sala dos Capelos (1988, Dez.):
- Senhores espectadores, se possível um pouco de paciência…
0. Verdade e bom-gosto, virtudes de memorialista
«”Spengler!” – a palavra exclamada, o nome
incógnito a todos nós, ribombou, como um tiro
de canhão ressoando na sala dos actos, acanhada sob
o retrato do senhor D. Pedro V, fundador triste da
Faculdade. ”Spengler!” voltou a ouvir-se, e terceira
vez ainda, no silêncio siderado em que todos ficámos,
nessa primeira e solene aula que nos acontecia, e era
um tanto à traição; de qualquer modo, foi o maior susto
da minha vida, e seria, durante os quatro anos do curso !
O homenzinho roliço, de barriga e calvo, nada “fáustico”,
empertigado nos bicos dos pés, que tais berros lançava, de
uma altura que não tinha, continuou enfim a frase, com a citação
desejada para o efeito. O Spengler tinha dito tal e tal, sobre
as civilizações e em especial a nossa – não a portuguesa, entendesse-
se. Era o autor particularmente prezado pela filosofia do nazismo, certa
da decadência do Ocidente democrático e pronta a pôr ponto final no
caso. A edição da “Revista del Ocidente” madrilena trouxera ao apreço
oficioso português tal visão das coisas e ali estávamos nós a aprendê-la.
Não teve mais consequências a gana ideológica do Professor Mário de
Albuquerque que era um fiel deputado do regime – que aliás
não parecia tomá-lo muito a sério e nunca o levando a catedrático»
(José-Augusto FRANÇA) [1].
Não direi muito. Começarei por retomar passagens do excerto transcrito:
i. «(...) foi o maior susto da minha vida, e seria, durante os quatro anos do curso»: sem comentários.
ii. «(...) homenzinho roliço, de barriga e calvo, nada “fáustico”, empertigado nos bicos dos pés, (...) berros lançava, de uma altura que não tinha»: se está em causa a apreciação intelectual – e ideológica – de um Mestre, a que vêm as venturas e desventuras da figura física ?! [2]
iii. «Spengler (...) Era o autor particularmente prezado pela filosofia do nazismo»: o nacional-socialismo teve em rigor uma «filosofia» ?
iv. «(...) gana ideológica»: seria realmente o caso ?
v. «[O] regime (...) nunca o levando a catedrático»: tem o memorialista a certeza do que escreve ?
Limito-me a acrescentar o seguinte quesito: escreve-se mais adiante [3] que da «mesma promoção sairam nomes ilustres para o futuro das ciências humanas», que se enumeram; (quase) plenamente de acordo; mas não gostaria o memorialista de esclarecer os leitores sobre o ano em que se verificou a dita promoção, que tese apresentou ele próprio no acto de licenciatura e quem a arguiu ? Não deixando eu de dizer, para concluir, que uma coisa é a ego-história de um Homem de Ciência e, por maioria de razão, de um cultor das Ciências Humanas; outra, substancialmente diversa, é um memorialismo de remota referência no In illo Tempore... Mas de géneros literários seria suposto o ora memorialista saber mais do que eu, que não passo de um historiador e, como tal, um (ilustre ?) desconhecido 3a...
1. Ainda «a morte dos historiadores» [4]
«(...) cada geração foi um absoluto sobre si, cada uma
se sente como a predestinada para colher o que foi
a sua aventura, iniciada com ela e não repetida com
nenhuma outra. (...) Com emoção eu conversando um dia
com um mestre universitário de agora [5] verifiquei que ele ignorava
quem eram alguns dos vultos da realidade coimbrã do meu tempo.
E não já,evidentemente, os que eram então estudantes,
mas lentes, reitores, figuras políticas, agora desaparecidas
na total aniquilação. Que significado pode ter, para os que
não foram do meu tempo, relembrar os mestres da minha faculdade,
os mestres de direito, de medicina ? Quantos deles não estão
suspensos do que eu os mencione aqui para durarem um pouco
mais ? Quem se lembra do Pedro Penedo [6] se não fosse o António
Nobre ? [7] E do Basílio [8] se não fosse a geração do Eça ?
Que extraordinária desproporção entre a sua glória de então
e o silêncio que hoje os cobre. Quem se lembra hoje
dos reitores que tive ? O Popó [9], o Maximino [10], outros ?
Quem se lembra do Faraó que foi meu professor
de Grego 10a ? E outros, e outros» (Vergílio FERREIRA) [11].
Num trabalho datado de 1991, tive a oportunidade de escrever o seguinte: «Com Michel de Certeau, eu lembraria que, na sua prática, o historiador se situa em função de um lugar e de uma instituição. Instituição (…) implicará poder. E um poder demasiado cioso de si próprio pode ter dificuldade em suportar a evidência de que antes e noutros lugares houve/há outros homens do Poder (e com Poder). Daí que os termos de carreira possam não ser fáceis – Braudel foi Braudel e não deixou de o sentir... – e que às retiradas (com homenagem ou sem ela) se siga não raro um véu de silêncio, que por vezes nem a própria morte levanta. Mas há mais. Morte é corte. E na “realidade passada” o corte não existe, o corte é produto do próprio historiador no seu trabalho sobre a “realidade histórica”, apreendida qual sucessão de imagens projectadas num “écran”, na consciência (fluida) de uma mudança de imagem residindo, em última análise, o acontecimento. Interrogação (inevitável ?): a morte dos historiadores perturba os historiadores ?» [12].
Onde é que tudo isto nos leva ?
Fiz a minha licenciatura em História na Universidade do Porto / Faculdade de Letras entre 1968 e 1973. Quando lá entrei – Outubro do primeiro dos anos mencionados, vindo de uma efémera passagem pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra [13] –, a Casa, ‘restaurada’ [14] por Decreto de Agosto de 1961 [15], levava apenas seis anos de funcionamento desde aquele memorável alvor do ano lectivo de 1962/63 e contava somente as licenciaturas em História e em Filosofia, acrescidas do mal-amado Curso de Ciências Pedagógicas [16].
O ano concreto de entrada proporcionou-me – bem como aos meus condiscípulos, para usar um termo completamente dépassé [17] – experiências irrepetíveis para quem veio depois.
Antes de mais porque entrei em sincronia com uma reforma curricular: a reforma dos bacharelatos, decretada pelo primeiro Executivo de Marcello Caetano, sendo ministro da Educação José Hermano Saraiva [18]. Depois porque já só limitadamente conheci alguns docentes da fase inicial da Escola e que não teriam sequência de carreira; em compensação, acompanhei a ‘estreia’ de alguns dos primeiros licenciados da Casa a aceder à docência: Carlos Alberto Ferreira de Almeida (1934-1996), Eugénio dos Santos, Luís Adão da Fonseca, Cândido dos Santos e um pouco mais tarde Francisco Fortunato Queirós, Aurélio de Oliveira, Graziela Silvestre e Fernando de Sousa; este ‘subgrupo’, aliado à maior experiência de um António Cruz (1911-1989), de um José António Ferreira de Almeida (1913-1981), de um Luís de Oliveira Ramos, de um Bernardo Xavier Coutinho (1909-1987) ou de um José Vieira de Carvalho (1938-2002) [19], fazia do Corpo Docente uma equipa aberta e diversificada. O ano lectivo de 1968/69 foi assim ímpar, pelo que representou de ‘últimos vestígios’ dos anos de arranque, associados à entrada em cena dos primeiros produtos da própria Escola. Marcaram-me especialmente, a partir do 2.º ano curricular, História da Cultura Medieval [20], História da Idade Média [21], História da Expansão [22], História Moderna e Contemporânea [23], História Moderna e Contemporânea de Portugal [24] e Paleografia [25]. Um pouco por tudo isto – e muitos alia & varia por onde me poderia espraiar – , julgo bem que quem frequentou História na FL/UP entre ca. 1967 e ca. 1975 pôde desfrutar de uma experiência gratificante, profissionalmente compensadora [26] e completamente diversa da auferível nas duas Escolas congéneres.
É evidente que o ano de 1974 marcou uma ruptura, ‘controlada’, sem dúvida, por comparação com o que se viveu alhures, mas nem por isso menos ruptura. Só que a plena normalização – os anos 1979/81 – acabou por marcar, «mutatis mutandis», outra ruptura. Porquê ? Em Novembro de 1979 foi promulgado o aguardadíssimo Estatuto da Carreira Docente Universitária (ECDU) [27]. As disposições finais e transitórias previam a subida automática [28] de um patamar para os docentes doutorados: os auxiliares para associados, os extraordinários e agregados para catedráticos. Como o ECDU entrava em vigor a 1 de Dezembro de 1979, os meses finais do dito ano assistiram a uma verdadeira corrida às agregações por parte de professores auxiliares de fresca data. Bem tentaram, a partir de Jan.80, o ministro e o secretário de Estado do Executivo subsequente (Vítor Crespo e Sebastião Formosinho) travar o processo: nada conseguiram – havia direitos adquiridos...; e no Verão de 1981 assiste-se a uma turbamulta de posses de novos catedráticos, alguns com doutoramento feito em finais de 1977 / alvores de 1978 e sem obra ulterior significativa; para cúmulo, nos meses de Julho a Outubro do dito ano de 81 jubilam-se António Cruz e Rafael Ávila de Azevedo (1911-1985) [29] e morre José António Ferreira de Almeida. A instalação então de um novo poder é pois mais que óbvia. E o silenciamento dos saídos de cena é, não raro, escandaloso – particularmente no caso de Antó nio Cruz 30], cujo simples rememorar do nome é por vezes quanto baste para provocar expressões silentemente contrariadas em alguns dos seus sucessores de cátedra, esquecidos do que lhe ficaram a dever; para além de não haver na Casa rigorosamente nada que o recorde [31].
A minha Escola de origem tem portanto cerca de 40 anos de funcionamento ininterrupto. Ainda sobram no Corpo Docente e no Pessoal Técnico, Administrativo e Auxiliar um ou outro elemento dos que ‘abriram’ a Casa em 1962 [32] ou nos anos imediatamente subsequentes; e uns tantos mais aí estão, vivos e activos, apesar de jubilados ou aposentados; ao que acrescem as centenas de licenciados que, enquanto estudantes, ajudaram a protagonizar os primeiros passos da Escola. Se esta desmemória institucional se dá em tal contexto, que se há-de esperar da nonagenária Escola [33] onde Mário de Albuquerque ensinou, ainda por cima num 4.º Grupo (História, hoje Departamento) não raro de atitude madrasta para com os seus servidores e tendo entretanto conhecido um verdadeiro processo de morte e renascimento nos anos 70 e 80 ?
O presente texto assume-se assim como um tentame de alguém que nada teve a ver, na sua formação, com a Escola de Lisboa [34], que não conheceu pessoalmente Mário de Albuquerque nem António Sérgio e que entende que esta polémica andou por aí muito tempo nem sempre bem contada; o reavivá-la, num contexto de olvido de ambos os contendores, será necessariamente uma atitude saudável, ainda que a muitos – de várias ‘cores’ – não vá, com toda a certeza, agradar.
2. Memória e desmemória das instituições (um pouco mais de «ego-história»... e não só)
«Contavam-se muitas anedotas sobre os professores de Coimbra,
que eram considerados muito piores do que
os professores de Lisboa. As anedotas sobre o Mário Brandão
e o Lopes de Almeida eram um nunca acabar... Dizia-se
que tudo era decorado com pouco ou nenhum
discernimento. Em tudo isto, havia muito exagero»
(A. H. de Oliveira MARQUES) [35].
Ser professor jamais terá sido ofício materialmente compensador ou socialmente prestigiante. Provavelmente nunca as sociedades ocidentais – e tomemos a 1.ª Revolução Industrial como terminus a quo – terão dado o devido valor e a devida atenção aos formadores dos seus filhos[36]. Todo um memorialismo do século XIX e das primeiras décadas do XX nos dá uma imagem quase ‘proletária’ do professor primário, do instituteur francês, do mestre liceal ou até do lente do Studium Generale, isto por muito sólida que fosse a respectiva preparação e a competência demonstrada [37]; no último caso mencionado, mesmo o destaque local da corporação no caso de uma Universidade sita numa urbe socialmente atrasada como Coimbra poderia de imediato desvanecer-se transpostos os limites do alfoz: no meio, hipoteticamente, do bulício e do trânsito de uma grande cidade (Lisboa, neste caso), lá se ia, como escreveu Marcello Caetano (1906-1980), a «importância catedrática» [38].
Simplesmente, e independentemente do magister dixit ou da «importância catedrática» que Marcello Caetano aborda no texto citado, o que é que faz (ou não faz) o prestígio de um Mestre ? Mal pago e socialmente pouco cotado – salvo nos casos, raros até à década de 60 [39], em que os cultores de saberes aplicáveis de tal puderam tirar partido material [40] –, também, nas mais das vezes, não viria por certo dos escolares o reconhecimento da dívida intelectual ou a consideração para com a competência que o Mestre pudesse deter [41]. Já assim era no meu tempo – sou da geração nascida na viragem da década de 40 para a de 50; e o fenómeno não deixou de se acentuar ulteriormente.
Mas algo de especial podia – e pode – ocorrer no caso concreto das Letras ou das Ciências Sociais e Humanas: a situação do docente capaz, pelo verbo ou pelo gesto, de exercer uma sedução ‘erótica’ lato sensu sobre quem o ouve ou quem o lê; a voz, a construção do discurso, o estilo da escrita, a gestualização ou um pouco de tudo isso podem criar geniais comunicadores, eventualmente suscitadores, em ambos os sexos, de expressões, quase emocionadas, do tipo «Ai, Fulano !!!!!»; nalguns casos pode tratar-se de inequívocos homens de Ciência: vejam-se Jorge de Sena (1918-1978), Óscar Lopes, António José Saraiva (1917-1993), Luís Filipe Lindley Cintra (1925-1991), José-Augusto França, José Mattoso, Jorge de Alarcão, Boaventura de Sousa Santos, Vítor Oliveira Jorge, Luís Llach Krus (1954-2005), António M. Hespanha, Fernando Catroga, Ivo Castro, Vítor Serrão e outros mais [42]; noutros, estamos meramente no campo do ensaísmo ou da crítica (literária, fílmica, de artes plásticas...) – Eduardo Lourenço, Eduardo Prado-Coelho, David Mourão-Ferreira (1927-1996), Arnaldo Saraiva, José Augusto Seabra (1939-2004) e mais n avatares das «várias Faculdades de Letras de Lisboa» [43] –, e isto num tempo em que Sérgio há muito nos deixou e que poderosos textos na linha do materialismo histórico [44] ‘passaram de moda’; noutros, enfim, teremos o Mestre universitário que ensina sem investigar.
Ora o problema dos universitários que escassa obra escrita tenham deixado não carece de oportunidades de exemplificação, no domínio das Letras e das Ciências Sociais e Humanas, para o século XX português [45]. Limitar-me-ei aqui, no entanto, a um Mestre meu, já pontualmente citado: José António Ferreira de Almeida. Talvez com alguma injustiça, nunca fui seu particular admirador. O que caracterizou este lente de «brilhantes lições mas “ágrafo”» [46], com carreira feita sensivelmente fifty/fifty nas U’s de Lisboa e do Porto ? Fundamentalmente uma profunda e diversificada preparação cultural e um extraordinário sentido de comunicação que dele faziam o tal Mestre sedutor, fomentante de ideias e até orientante dos seus alunos para aquilo que ele muito limitadamente praticou[47]: a pesquisa[48]. Daí a sua popularidade, em Lisboa como no Porto, até pelo contraste com lentes de bem menos brilhante performance pedagógica.
Mas eu já não terei conhecido a fase áurea de Ferreira de Almeida. Entre 1969 e 1971 fui seu aluno em 3 disciplinas [49]: História da Arte [50]; História da Arte Portuguesa e Ultramarina; e História da Cultura Moderna [51]. A bem dizer, apenas a última me marcou (pelas leituras de J. Burckhardt, de A. Renaudet, de J. Huizinga, de L. Febvre, de F. Braudel, de G. Gurvitch, de G. Gusdorf, de R. Mousnier, de E. Garin e de outros mais). A sua docência h istórico-artística era indubitavelmente elitista («Na Arte convergem todas as vivências do espírito humano; é uma disciplina só plenamente acessível a quem tiver uma preparação prévia fora do comum; o historiador da Arte destaca-se acentuadamente entre os restantes historiadores», etc., etc., etc.). Acresciam abordagens concretas entre a «gramática dos estilos» [52] e a «vida das formas» [53]. Quanto ao mais, vivia em conjuntura de – natural – preocupação com o aproximar dos concursos que lhe faltavam para o culminar da carreira [54].
A cátedra não lhe fez bem. O 25 de Abril também não [55]. E a normalização também não: alçapremado a Presidente do Conselho Científico [56], cargo que exerceria de finais de 76 a Jan. 81, não lhe faltaram atitudes, no mínimo, discutíveis [57].
Em tudo isto está presente uma questão de fundo: que lugar para a erudição na prática intelectual do historiador ? Muitas das fracturas narradas ou aludidas passam por aqui. Pela minha parte, tenho um posicionamento inequívoco, que se demarca dos excessos dos sistemas de pensamento (particularmente, no que à minha geração diz respeito, o estruturalismo) ou dos desconstrucionismos da post-modernidade (e podem à vontade chamar-me neo-positivista, que eu não me ofendo). Defendendo, sempre, o império da Razão, a indispensabilidade da fundamentação – qual aportação da realidade passada à realidade histórica [58] –, o livre formar de opinião, a independência das opções, o acicate ao(s) poder(es) e ao acrítico lugar-comum (sempre que se justifique) e a recusa do lobby, qualquer que ele seja.
Um pouco à luz de quanto acabo de escrever me decidi de pronto a aceitar o repto para o recordar de uma polémica de muitos esquecida e de muitos mais nunca sabida.
3. Dois trajectos (I): António Sérgio de Sousa (1883-1969)
Traçar sintecticamente o percurso biográfico de Sérgio não é hoje tarefa transcendente [59].
António Sérgio de Sousa nasceu em Damão (Índia portuguesa) em 3 de Setembro de 1883, numa família de militares da Armada, sendo neto do almirante Visconde Sérgio de Sousa. Destinado, por tradição familiar, à carreira naval, seguiu-a efectivamente, mas por pouco tempo: o abandono deu-se aquando da implantação da República, estando então Sérgio no posto de segundo-tenente.
A década seguinte não é normalmente muito glosada pelos biógrafos, ainda que se dê já conta de circunstâncias prefigurantes de momentos futuros (colaboração em revistas como A Águia – e correlativa participação no movimento da «Renascença Portuguesa» –, Atlântida e Pela Grei); tempo de leituras e de arranque do magistério ensaístico, por aí se situam alguns dos primeiros textos pré-explicativos da polémica que adiante se abordará.
Bem mais ricos serão os anos 20. No pré-28 de Maio apontam-se normalmente a adesão ao projecto da Seara Nova (1921) e ao grupo da Biblioteca Nacional e o exercício efémero (três meses) do cargo de Ministro da Instrução Pública no gabinete de Álvaro de Castro (1923/1924)[60]: ficou como tal a dever-se-lhe o decreto criador do Instituto Português de Oncologia (IPO) – longamente na dependência desta área governamental – e a tentativa (frustrada) de criação de uma «Junta Propulsora dos Estudos». No post-28 de Maio destaca-se a participação no movimento republicano de Fevereiro de 1927 e um subsequente exílio em Espanha e em França, prolongado até à amnistia de 1932; em Espanha ensinou pontualmente na Universidade de Santiago de Compostela, no que foi a sua única experiência docente.
O regresso a Portugal marca a concentração na sua pedagogia da reforma das mentalidades, na teorização do cooperativismo ou num ensaísmo que dele fez um inequívoco maître-à-penser de múltiplas gerações, de múltiplos campos ideológicos; não raro, o racionalismo extreme, a defesa pujante dos pontos de vista e o modo de argumentar tornaram controversas as suas teses, com as naturais consequências em termos de desencadeamento de polémicas (v.g. com Carlos Malheiro Dias, com Adolfo Casaes Monteiro, com Leonardo Coimbra, com Abel Salazar, com Bento de Jesus Caraça, com António José Saraiva ou com Jofre Amaral Nogueira, entre outros), como veremos; sem se considerar historiador, tocou em numerosas questões do passado nacional, em termos inéditos pelos questionamentos que fazia, com base num limitado corpus informativo; e a partir da década de 50 a Historiografia universitária, bem como os ensaístas de gerações subsequentes, souberam beneficiar – e não pouco – com os textos sergianos (v.g. em temáticas como a caracterização de fundo da economia medieval portuguesa [61], a questão dos cereais e das crises de subsistências na nossa Idade Média, as actividades marítimas e a salicultura, a Peste Negra e o seu cortejo de consequências, 1383-85, Ceuta e os pródromos da Expansão & so on, numa exemplificação que intencionalmente se fica por tempos medievos).
Sérgio projectou mesmo uma História de Portugal, de que chegou a elaborar o 1.º volume (Introdução Geográfico-Sociológica); o desaire censório impeditivo ao tempo da sua circulação no País [62] marcou-o profundamente. E o Sérgio das décadas de 40 e 50 concentra-se ainda mais na reflexão ou no debate de ideias em círculos restritos, ao mesmo tempo que vai dirigindo a (e colaborando na) Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e publicando os sucessivos volumes dos Ensaios [63].
Nos anos 50 ainda intervirá civicamente, v.g. nas campanhas presidenciais de Quintão Meireles (1951) e de Humberto Delgado (1958); depois, em 1961, já só muito sobriamente o fará, aquando da ocupação indiana dos seus territórios-natais [64]; no ano anterior, a morte de sua Mulher prostrara-o; e os anos subsequentes serão de confinamento na residência, encerrada a escrita, a intervenção, a convivialidade tertuliar.
Em Dezembro de 1968, gravemente doente, António Sérgio será internado na Cruz Vermelha Portuguesa, em Benfica, curiosamente a mesma clínica onde Oliveira Salazar se encontrava há meses e por onde, pela mesma altura, passarão, também em situação de internamento, o presidente da Assembleia Nacional, Mário de Figueiredo (1890-1969), e o cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira (1888-1977). Sérgio morrerá em finais de Janeiro de 1969, no meio de discretas evocações da Comunicação Social escrita.
Nos anos 70 [65] a Livraria Sá da Costa procederá à edição das suas «Obras Completas», a cargo de Idalina Sá da Costa e Augusto Abelaira, com uma equipa de consultores integrando Castelo Branco Chaves, Vitorino Magalhães Godinho, Rui Grácio e Joel Serrão (total de 13 volumes). E por altura do centenário do nascimento (de 1983 a circa 1985) não faltarão conferências, colóquios, reuniões científicas e mesmo um número monográfico de uma Revista [66]; em rigor, não era o chegar de Sérgio à Universidade, uma vez que, explícita ou implicitamente, isso se vinha verificando desde a década de 50; mas era indubitavelmente uma consagração.
Só que consagração sem sequência: os anos 90 não veriam manter-se este interesse pela obra de Sérgio, até porque o avanço da pesquisa erudita transformou muitos dos seus questionamentos em interrogações respondidas, datadas ou passadas a colocar de outro modo [67].
Ignoro se a edição Sá da Costa está inteiramente esgotada, embora creia que não. Mas julgo bem que Sérgio, Mestre de Mestres, é hoje pouco lido e pouco estudado e que muitas das questões que, controversamente ou não, abordou, caíram no olvido, olvido injusto, porventura, mas olvido que, tendo em conta o que se escreveu, se apresenta como natural neste virar de século.
4. Dois trajectos (II): Mário Correia Teles de Araújo e Albuquerque (1898-1975) [68]
Vindo ao Mundo em Viseu no seio de uma família monárquica, Mário Correia Teles de Araújo e Albuquerque nasceu em 9 de Março de 1898; entre os seus ascendentes agnáticos conta-se o célebre jurista José Homem Correia Teles (1780-1849).
Estudou na Universidade de Coimbra (1916 ss.), formando-se em Ciências Histórico-Geográficas (1921) e em Direito (1922). Enquanto estudante, subscreveu, em 1917, o telegrama dos «Estudantes Conservadores da Academia», saudando o advento do sidonismo [69].
Radicado em Lisboa, cursou a Escola Normal Superior – habilitação de então para o magistério – e passou a exercer advocacia, actividade que manteria praticamente até ao fim da vida. Constituíra entretanto família: consorciara-se com D. Maria Manuela Joana Côrte-Real de Albuquerque, sua prima, e do matrimónio haverá 5 filhos [70].
Em finais da década de 20, e após uma breve estadia no Brasil – onde seu pai, Alexandre Correia Teles de Araújo e Albuquerque (1875-1937), se encontrava exilado desde 1915 –, decidiu-se a tentar uma carreira no Ensino Superior, e como tal se preparou para o doutoramento em História na Universidade de Lisboa. É a dissertação respectiva que vai estar na base da polémica com Sérgio. Note-se que Mário de Albuquerque constituirá, com Manuel Heleno (1894-1970), o duo dos únicos doutorandos que, em História, foram abrangidos por legislação dos anos 20 que determinava que a dissertação de doutoramento e as teses a sortear para os interrogatórios complementares [71] fossem incluídos no mesmo volume: daí que este se intitule, textualmente, O Significado das Navegações e Outros Ensaios [72]. As provas terão lugar em 14 e 16 de Dezembro de 1930, perante júri presidido pelo Vice-Reitor da Universidade, o lente de Direito António Faria Carneiro Pacheco (1887-1957) [73], sendo vogais os lentes de Letras José Leite de Vasconcellos (1858-1941), Manoel Maria de Oliveira Ramos (1862-1931), José Maria Queiroz Vellozo (1860-1952), David de Mello Lopes (1867-1942), Agostinho José Fortes (1869-1940), António Matos Romão (1882-1960), Luís Filipe de Lencastre Schwalbach Luci (1886-?) e Francisco Lopes Vieira de Almeida (1888-1962), acrescidos dos Mestres de Coimbra José Joaquim de Oliveira Guimarães (1877-1960), Eugénio de Castro e Almeida (1869-1944), Ferrand Pimentel de Almeida (1885-1963) e João da Providência de Sousa Costa (1893-1965); o candidato foi aprovado [74].
A Comunicação Social (Diário de Notícias, O Século, A Voz...) publicará, nos dias subsequentes, amplos relatos das provas, que foram vivas e por vezes duras. Valho-me dos relatos do último periódico citado (16 e 18 de Dezembro), assinados por Artur Maciel. Assim, o primeiro dia de provas terá decorrido de forma aparentemente calma. O articulista d’A Voz intitula a sua crónica «No campo da dialectica». Reportando-se à discussão das teses sorteadas («O génio português é apolíneo» e «O mito da decadência») [75], o jornalista dá-nos uma sensação geral de consenso entre arguentes (Manoel de Oliveira Ramos e Agostinho Fortes, respectivamente) e candidato.
Mas tudo muda em parte da prova seguinte, e por isso a 2.ª crónica de Artur Maciel se intitula «No campo... da exaltação !». Oliveira Ramos foi de novo o primeiro arguente, agora do trabalho doutoral: começando por realçar «a argucia, a audacia e o ímpeto mental» do candidato, classificou a dissertação como «ao mesmo tempo resumida e prolixa», bem como «falha de cronologia, afirmando que não se historia sem cronologia e não há cronologia sem prioridade»; posto o que apontou ainda algumas omissões bibliográficas, um aparente desrespeito para com Herculano e opiniões expressas acerca da «descoberta de Colombo».
Dada a palavra ao candidato, desencadeia-se a parte mais viva de toda prova. Considerando a memória quase perdida dos actos académicos desses tempos remotos, há perto de três quartos de século, cedamos um pouco o passo ao discurso directo, mediatizado pela pena do jornalista:
[...]
- Mário de Albuquerque: A resposta que eu tenho de dar a V. Ex.cia é uma resposta difícil porque V. Ex.cia criticou o meu livro e V. Ex.cia não leu o meu livro.
- Oliveira Ramos: Sr. Mario de Albuquerque, eu sou um homem de bem ! (...) Tenho 68 anos e era incapaz de vir para este local discutir o seu trabalho sem o ter lido ! (...) Sr. Mario de Albuquerque, o advogado tem de estar fora da porta desta sala.
Segundo o jornalista, «A irritação do lente vai ao ponto de querer abandonar o acto. E o vice-reitor, presidente do juri, intervem. Acalma o professor e diz que o candidato lhe dara todas as satisfações o que, por certo, fará sem qualquer hesitação ou relutancia. E, coisa curiosa, todo o incidente decorre sem que o doutorando tenha conseguido fazer escutar a sua explicação. Finalmente, pôde dizer»:
- Mário de Albuquerque: Senhor doutor, eu não tive o minimo intuito de o magoar, eu era incapaz de o ofender. Quando disse que V. Ex.ª não tinha lido o meu livro, eu queria dizer que V. Ex.ª havia estado a criticar e a censurar muitas coisas que não existem no meu livro. (...) V. Ex.ª atacou-me por prolixo, dizendo que eu trato de muitos assuntos. Ora prolixidade não é tratar muitos assuntos. É dizer sobre cada assunto mais do que necessario. V. Ex.ª combateu-me por apresentar dogmas mas não me disse quais eram esses dogmas.
- Oliveira Ramos: V. Ex.ª afirma que Colombo morreu com a convicção de que não tinha descoberto um continente. Isto é dogmatico porque V. Ex.ª não o provou.
- Mário de Albuquerque: Eu não digo que morreu nessa convicção. O que digo no meu livro é que Colombo não sonhou a America. Julgou, sim, que tinha aportado à Ásia (...).
[...]
- Oliveira Ramos: V. Ex.ª é um homem inteligente, culto, trabalhador. Tem um defeito: a soberba intelectual. Hei de combater sempre esse defeito (...).
[...]
- Mário de Albuquerque [interrompendo]: V. Ex.ª dá-me licença... A exaltação de V. Ex.ª perturbou-me tanto que quasi cheguei a não responder a V. Ex.ª. Mais do que a minha inteligência, feriu-se o meu coração porque V. Ex.ª foi sempre para mim um amigo. (...) Não ofendi Herculano, como V. Ex.ª disse. Apenas afirmei que Herculano, como apaixonado medievalista que era, não teve sempre a exacta compreensão do século XVI. (...) Só as personalidades pouco vincadas é que se não apaixonam pelos assuntos que tratam. (...) As palavras com que V. Ex.ª me condenou foram quasi idênticas aquelas com que, a certa altura do meu trabalho, condeno o sr. Antonio Sergio.
[...]
- Oliveira Ramos [concluindo]: Eu não fico ressentido com V. Ex.ª. V. Ex.ª é um caracter e continua a merecer-me toda a consideração (...) – o que teve foi uma expressão infeliz. Testemunho-lhe a minha simpatia. É como se não tivesse havido nada entre nós !
* * *
Mais calmo foi o diálogo com o segundo arguente, de novo Agostinho Fortes. Vejamos alguns passos:
- Agostinho Fortes: Não posso discutir a sua dissertação pois V. Ex.ª apresentou ideias que há 15 anos eu defendo junto dos meus alunos. Contudo, há pequenas coisas sobre que temos de conversar. (...) Há na sua dissertação 23 páginas de critica ao sr. Antonio Sergio. Não recebi procuração deste sr. para o defender. Concordo até com alguns ataques que lhe faz. Todavia, encontro-o, por vezes, vivaz de mais.
- Mário de Albuquerque: Foi apenas intransigência com o êrro.
- Agostinho Fortes: Aqui, o sr. Jaime Cortezão é melhor tratado. Não apanha tanta tareia.
- Mário de Albuquerque: Porque o seu trabalho é muito mais sério.
[...]
- Agostinho Fortes: Que ideia forma V. Ex.ª das cidades alemãs de então ?
- Mário de Albuquerque: O cavaleiro Poppeliovo estabeleceu a semelhança entre Lisboa, Colonia e Londres.
- Agostinho Fortes: Não é exacto. Colonia tinha 30.000 habitantes.
- Mário de Albuquerque: E acha V. Ex.ª pouco para a Idade Media ?
- Agostinho Fortes: Mas Lisboa no seculo XVI possui 100.000 almas.
- Mário de Albuquerque: Mas Poppeliovo visitou-nos no seculo XV, antes do grande urbanismo e da influencia [sic] 76a de estrangeiros.
[...]
- Agostinho Fortes [quase concluindo]: V. Ex.ª chama a Engels o companheiro e amigo de Karl Marx. Esqueceu-se de dizer que um era genro do outro...
- Mário de Albuquerque: Não interessava para o meu objectivo porquanto o que importava era fixar a unidade de pontos de vista entre eles. E não foi do parentesco que veio essa unidade mas sim dessa unidade que veio o parentesco.
[...]
O júri demorou uma hora a deliberar sobre as provas dos dois candidatos [76].
* * *
Em 1932 – ou seja, com alguma solução de continuidade em relação às provas de doutoramento – o agora doutor será contratado como professor auxiliar (equivalente à futura categoria de professor extraordinário) do 4.º Grupo (História) da FL/UL; em 1935, por morte do lente brasileiro Manuel Alves de Sousa Pinto [77], ser-lhe-á confiada a cadeira anexa de Estudos Brasileiros (existente desde 1923) [78], e por essa via passará de professor contratado a professor do quadro.
Mário de Albuquerque terá uma carreira longa na FL/UL (até 1968). Para além de Estudos Brasileiros (que regerá de 1934/35 a 1956/57) [79], ensinará, como era vulgar nesse tempo, um avultado número de disciplinas [80]: Epigrafia (de 1932/33 a 1938/39), História da Antiguidade Clássica (de 1939/40 a 1940/41 e de 1952/53 a 1956/57), História da Antiguidade Oriental (em 1939/40 e 1940/41), História Geral da Civilização (de 1931/32 a 1934/35 e de 1939/40 a 1959/60) [81] – uma das suas cadeiras emblemáticas –, História Medieval (em parte do ano lectivo de 1933/34) [82], História Moderna e Contemporânea (de 1934/35 a 1951/52), Numismática (de 1932/33 a 1938/39) [83], História da Cultura Moderna (em 1959/60, tendo sido o primeiro responsável desta disciplina, introduzida pela reforma de 1957) e História da Cultura Medieval (também ‘fundador’ da disciplina, que regerá de 1958/59 a 1967/68, ano da jubilação; foi a sua última ‘grande’ regência, coroada pela elaboração de umas volumosas Lições policopiadas) [84]. Dos finais da década de 30 aos da década de 50 foi o Secretário dos Cursos de Férias da Escola.
Em 8 de Março de 1968 Mário de Albuquerque proferirá no Grande Anfiteatro da FL/UL a sua derradeira lição, perante vasto auditório; o acto foi presidido por Virgínia Rau, ao tempo Directora da Escola, que abriu e encerrou a sessão [85]. Note-se que, à data, Mário de Albuquerque se encontrava na situação de equiparado a professor catedrático (1962 ss...), para que transitara após a extinção da «cadeira anexa» de Estudos Brasileiros, de que era titular desde os anos 30, como vimos [86].
Exteriormente á Universidade foi vereador da Câmara Municipal de Lisboa (1949-1954) 86a e deputado à Assembleia Nacional (1939-1969) 86b.
Pertenceu ainda à Academia Portuguesa da História, à Associação dos Arqueólogos Portugueses, ao Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, à Associação Luso-Espanhola para o Progresso das Ciências, à Comissão Nacional da União Latina, ao Gabinete de Etnografia (que dirigiu) e ao Gabinete de Heráldica Corporativa 86c; foi ainda vogal da Comissão Portuguesa do Comité International des Sciences Historiques (anos 60) 86d. De 1946 a 1949 e de 1951 a 1954 ministrou no Palácio Galveias, em sucessivas edições, um Curso Livre de Estudos Olisiponenses, organizado em ‘parceria’ pela FL/UL e pelo Município da Capital, iniciativa esta sem sequência imediata no plano universitário [87].
Morrerá em 5 de Janeiro de 1975, após prolongada doença. Apesar da tórrida conjuntura política[88], o facto não passará despercebido à Comunicação Social, e o certo é que nos dias subsequentes o Diário de Notícias, O Século e A Capital noticiarão o seu passamento. Para além disto, Vitorino Nemésio (1901-1978), seu grande Amigo, evocá-lo-á numa das últimas emissões do célebre programa televisivo Se bem me lembro, que vinha sendo emitido desde 1968.
5. Nos primórdios do ensaísmo sergiano: a «interpretação não romântica» do texto de Zurara (1919) e os seus antecedentes (1915) [89]
Sérgio aborda pela primeira vez a questão de Ceuta em 1915 [90]. No pequeno livro em tal ano editado, o Autor defende a insuficiência cerealífera do Portugal medievo, problema agravado com a «crise agrícola portuguesa desde o reinado de Afonso IV»; pretende assim apontar «alguns factos de ordem económica» até então «desprezados pela historiografia», mas que se lhe afiguravam de «grande importância para quem se aplicasse à determinação positiva das causas essenciais decisórias das nossas guerras, de além do Estreito»; os «nossos políticos de então», nomeadamente, terão concebido «a ideia de virem a abastecer Portugal com os trigos produzidos em Marrocos» [91].
Contudo, o seu texto a marcar época na questão surgirá em 1919, datado do Rio de Janeiro, Dezembro do ano em causa: o título é, singelamente, «A conquista de Ceuta», mas o subtítulo enuncia já um propósito claro de demarcação face a anteriores pontos de vista: «(Ensaio de interpretação não romântica do texto de Azurara)» [92]. O texto abre com citações de Quevedo, Claude Bernard, Pasteur, De Morgan e Ramon y Cajal. Relembrando no início as Considerações histórico-pedagógicas..., e o não-atentar então no relato do cronista – por desconfiança face a «fontes directas oficiais» [93] – Sérgio demarca-se igualmente de Oliveira Martins (Os Filhos de D. João I, 1891), posto o que procede à exegese do texto de Zurara, propõe a «interpretação não-romântica» do mesmo e remata com uma breve conclusão. Percorramos mais detidamente o seu texto:
I. Sérgio começa por analisar comparativamente os textos de Os Filhos de D. João I e da Crónica de Zurara, rogando aos seus leitores o anotar das «divergências dos dois relatos» e o consentimento para «sublinhar umas passagens que me hão-de servir no meu discurso» [94].
II. Entrando na análise do texto de Zurara, procede a uma transcrição longa, entrecortada de comentários; inicia-se a mesma com a paz com Castela e a vontade de armar os filhos cavaleiros, para terminar no financiamento da expedição e no «apanhar quanto cobre e prata se pôde achar no reino» [95]; é aqui que o insuficientemente identificado João Afonso [de Alenquer], Vedor da Fazenda [96], começa a adquirir uma notoriedade que claramente o afasta do que é comum para a oficialidade da Chancelaria (por mor do Cronista, obviamente, que não do compulsar de registos da dita Chancelaria);
III. Passando à exposição das suas próprias ideias, Sérgio, salientando à partida o «alto espírito de inteligência, de estudo, de organização, de tino, de responsabilidade no mando e de zelo da coisa pública daquela capacíssima elite de príncipes e burgueses que com tanta consciência e sabedoria governavam a nacionalidade», sintetiza em cinco pontos os «apartes da incredulidade» que lhe suscita o relato cronístico:
i. A aparente impreparação dos 4 infantes quanto a apresentar uma alternativa à ideia régia de um torneio, que lhes não agradaria [97];
ii. a «sem-cerimónia sanchopancesca» com que o Vedor da Fazenda «penetrava nas câmaras» «onde deliberavam os quatro príncipes acerca de um “feito de grande peso”» e a eles se dirigia [98];
iii. a interrogação de João Afonso aos infantes sobre o que urdiam «na câmara de el-rei» e, face à resposta, a sugestão da praça norte-africana como projecto e destino [99];
iv. o aparente desconhecimento da «urdidura» pela Rainha, informada que é «depois dos teólogos, dos ministros, dos conselheiros», tratando-se da «mestra, a confidente, a conselheira, a directora espiritual de toda a corte» [100];
v. «os escrúpulos de moralidade» da «rude consciência do guerreiro de Avis», escrúpulos «que não perturbavam moralistas como D. Duarte e como D. Pedro» [101].
IV. Posto o que, propõe como «probabilidades», «sujeitas à emenda dos historiadores», as seguintes «hipóteses e verosimilhanças», expostas «das menos ponderosas para as mais graves»:
i. O conhecimento pela Rainha de tudo o que se preparava, sendo «ela que originava as delongas de D. João I com os seus escrúpulos de consciência; foi para derrotar os escrúpulos dela que se mobilizou a teologaria» [102];
ii. Ceuta como proposta oriunda do Vedor da Fazenda, «o financista do rei», vendo na expedição um gasto que, por prestadio, mais facilmente mobilizaria capitais [103];
iii. «o ex-mestre de Avis» como «monarca de uma revolução: a revolução da burguesia do comércio marítimo, com carácter cosmopolita», burguesia que, na circunstância, teve em João Afonso «o representante [...] junto da pessoa do monarca»[104];
iv. a participação dos infantes, já ao tempo, na governação do Reino, permitindo, na conjuntura, torná-los «os intermediários entre o vedor da fazenda e o monarca», tal como o Vedor era «o intermediário entre os interessados e os infantes»[105]; mas tudo isto terá ficado em relativo sigilo e em muita discrição – o que explicaria os romanceamentos de Zurara;
v. os pretensos informes sobre Ceuta prestados a João Afonso «por um certo criado que por lá passou» disfarçariam afinal a circunstância de tal «fâmulo» lá ter sido expressamente enviado pelos interessados, «sob o pretexto de resgatar cativos, para colher informes mais seguros acerca da cidade e das suas forças»[106];
vi. o financiamento da empresa ter-se-á feito sem «levantar impostos», obtendo-se os cabedais necessárias junto d’«aquela classe de dinheirosos» para quem o que se preparava apresentaria especial interesse [107].
A fechar, Sérgio opina que «as navegações [...] não se fizeram “a acertar”», qual «efeito de pensamentos vagos», antes corresponderam a «um plano de conjunto muito bem estudado nas suas minúcias, - um querer consciente e positivíssimo, - e todas as forças da nação se coordenaram para um grande fim» [108].
6. O detonar da polémica: O Significado das Navegações, de Mário de Albuquerque (1930)
A tese doutoral de Mário de Albuquerque, nas suas 404 páginas[109], compreende, nos termos da lei vigente ao tempo, duas grande partes: Dissertação («O significado das navegações»)[110]; e Teses [111]; não me demorarei sobre estas últimas, que não concernem a temática em discussão com Sérgio; limitar-me-ei por isso a dizer que as 6 teses apresentadas versam sucessivamente: «O claro genio lusiada» [Tese: O genio português é apolineo][112]; «O mito da decadência» [Tese: Portugal não está, nem nunca esteve em decadência][113]; «O falso helenismo da Renascença» [Tese: A Renascença é um afastamento do genio grego][114]; «A renovação scientifica do seculo XVI» [Tese: Sem as Navegações a civilização caminhava para um barbarismo intelectual][115]; «As linhas politicas da Arquitectura» [Tese: A cada regímen politico corresponde uma expressão arquitectural particular][116]; e «O simbolismo do escudo nacional» [Tese: A numismatica e a esfragistica indicam que o simbolismo actual do escudo português não é o primitivo][117].
Quanto à dissertação (I parte: «O significado das navegações»), compreende uma «Introdução»[118] e 10 capítulos, a saber[119]:
i. «Causas da Conquista de Ceuta»[120];
ii. «Outras Causas da Expansão»[121];
iii. «A Herança do Infante»[122];
iv. «Desorganização Eugenica e Despovoamento»[123];
v. «Desorganização Moral»[124];
vi. «Servilismo Politico»[125];
vii. «A Ruina Economica»[126];
viii. «Expansibilidade da Lingua»[127];
ix. «Expansibilidade Intelectual»[128];
x. e «A Influencia Espiritual das Navegações»[129].
Referem-se assim a Ceuta e ao Norte de África, «demoradamente»[130], os capítulos I e II, onde, portanto, se polemiza com Sérgio (nomeadamente no I).
As ‘hostilidades’ abrem praticamente com a 1.ª parte do capítulo inicial («Causas da Conquista de Ceuta»), discordando desde logo o Autor da «complicada e longa exegese» dos «últimos tempos», exegese considerada «inútil, deante do claro texto de Azurara». A explicação ensaiada anos antes pelo «conhecido publicista, sr. António Sérgio» resultaria efectivamente em não-romântica, antes «ultra-romântica»[131]. Insurge-se desde logo Albuquerque face à circunstância de Sérgio admitir estar a génese do seu texto numa (pura) reacção face às teses celto-poetas de Teófilo Braga e Oliveira Martins, considerando o «desejo de reagir» como incompatível com o «amor à verdade». Contesta igualmente a universalidade das explicações tradicionais de Ceuta como «simples praxe de cavalaria», apontando ideias contrastantes do cardeal Saraiva e de Oliveira Martins[132].
Posto o que procede ao percurso das 5 incredulidades de Sérgio face ao texto do Cronista[133], as quais de seguida rebate; concretizando:
a) Albuquerque rejeita a crítica de inverosimilhança de Sérgio ao passo de Zurara segundo o qual Ceuta não ocorreria de imediato aos infantes quando momento de propor «empresa séria» como alternativa ao torneio[134];
b) face à crítica sergiana da «sem-cerimónia sanchopancesca» de João Afonso no entrar na Câmara régia e aí se dirigir aos infantes, considera que Zurara, «que viveu na época, e escreveu sobre informes dados pelos príncipes», seria por certo, «em questões do protocolo palaciano do seculo XV» «uma autoridade um pouco maior do que um burguês letrado do século XX»; a sequente argumentação sergiana levando à tese da iniciativa burguesa do feito, com o Vedor como ‘porta-voz’ do sector social em causa, considera-a uma «pura operação dialetica» chamando a atenção para as cerca 3 décadas e meia decorridas entre Ceuta e a escrita da Crónica, para a qual se utilizaram, como fontes orais, «informes» de protagonistas, mormente o infante D. Pedro – ao tempo regente – e o infante D. Henrique[135];
c) a condição social de João Afonso [de Alenquer] consubstancia o passo seguinte de Albuquerque, que contesta a categoria de «serviçal» atribuída por Sérgio a um oficial régio[136];
d) segue-se a questão do momento de informação da Rainha sobre a iniciativa; Albuquerque discorda da postergação, salientando a simultaneidade de princípio – e prioridade de facto – em relação a Nuno Álvares Pereira; e opina que se uma coisa era a interferência de D. Filipa «nos casos de moralidade da côrte», outra seria «a interferência nos negócios de estado»[137];
e) por último, Albuquerque debruça-se sobre o problema das «hesitações do monarca», quando dois moralistas como os infantes D. Duarte e D. Pedro não aparentavam tais escrúpulos; Albuquerque aponta um equívoco: «D. Duarte e D. Pedro foram moralistas na idade madura; agora ardiam na exaltação heróica da mocidade. Ao contrário, o monarca tinha a ponderação dos anos»[138]; outra questão levantada no ponto presente é a do parecer pedido, «com resposta por escrito», aos letrados: forma de aumentar o sigilo e de a Rainha «discretamente poder examinar o assunto» ? Albuquerque não o crê, opinando em contrapartida que «é no retardamento da resposta e não na redução desta a escrito que [se] vê forma do monarca ocultar sua resolução (seu segredo)»[139].
Ao que se segue o exame da «cupula do edificio», sintetizando-se as ideias de Sérgio em 3 tópicos:
I. «A conquista foi obra da burguesia cosmopolita»: Albuquerque começa por apontar como círculos viciosos os argumentos sergianos da realeza de D. João I como resultado de uma «revolução fomentada pela burguesia comercial cosmopolita» e do «poderoso auxílio» do comércio internacional na expedição a Ceuta; embora aceitando como consensual, desde João Pedro Ribeiro, o papel da «burguesia nacional» em 1383-1385, Albuquerque não se deixa convencer pelo facto de o tesoureiro do Mestre de Avis ser um inglês; lembra a embaixada à Corte inglesa, integrada por Fernando Afonso de Albuquerque [Mestre de Santiago] e Lourenço Anes [Fogaça, Chanceler-Mor][140] e o auxílio militar decidido pelo monarca britânico; sobre a participação de meios comerciais internacionais na empresa, escreve, refutado Sérgio e relido Zurara: «Em conclusão: mobilizavam-se todas as forças náuticas de Portugal. Se alem dos navios reais apenas iam os navios do comércio, é porque não havia outros»; e quanto à participação individual de estrangeiros: «Os infantes não contavam que de fora viessem homens de comércio, mas gente desejosa de fazer “suas honras”, atraída pelo rumor da emprêsa. E não se enganaram; foi de facto essa espécie de pessoas “para quem a heráldica era uma arte e a cavalaria um ritual”»; e termina frisando o que acha ser a «ignorancia por parte do comércio internacional, sobre a emprêsa», do que haveria amostra «nos avisos de alguns genoveses “estantes na cidade de Lisboa” “a outros seus parceiros estantes em Sevilha”, recomendando-lhes que tirassem “de ali sagestemente suas mercadorias e cousas” por parecer aos mais sisudos que a expedição se preparava contra esta cidade»[141];
II. «A expedição teve como finalidade a posse do comércio com o Oriente»: Albuquerque é muito conciso neste ponto; afirma que Sérgio se limita «a repetir uma opinião de O. Martins», deixando para o ponto seguinte, «ao tratar da doutrina ecléctica do sr. Jaime Cortesão», a crítica respectiva[142];
III. «A conquista teve como objecto a posse duma região produtora e expostadora de trigo»: também muito brevemente, Albuquerque faz-se eco de David Lopes, opinando que «se fosse essa a finalidade imediata da expedição a armada teria seguido para alguns dos lugares da costa ocidental, onde D. Manuel estabeleceu o seu domínio pois a “região cerealífera por excelência” de Marrocos começa nas planícies do rio Cebú para sul e leste e tem por escoante a vertente do Atlântico»; e lembra ainda os agravos de Viana, Ponte de Lima e Vila do Conde nas Cortes de 1456, já que para Ceuta «tinhamos de enviar trigo» e a esses concelhos se cobravam «tributos de cereais»[143].
Sérgio será ainda pontualmente criticado na 3.ª parte do mesmo capítulo, bem como no subsequente («Outras causas da Expansão»), e isto quando se analisam criticamente os pontos de vista de Jaime Cortesão (depois de se ter igualmente divergido de parte das ideias de David Lopes[144]):
a) No primeiro caso, ao iniciar-se a crítica a Jaime Cortesão, lembrando-se a afirmação deste último segundo a qual «António Sérgio teve a intuição da verdade quando notou que “conquistar Ceuta era o primeiro passo decisivo para a solução do problema em que se empenha o alto comércio: o do tráfico do Oriente” »[145];
b) o segundo destes pontos tem ainda a ver com o Oriente e com as explicações de tipo económico para a génese das «navegações»; M. Albuquerque aponta o ideário sergiano em tal matéria como tendo antecedentes num livro do brasileiro Sylvio Romero (1906) e aproxima as explicações económicas, na sua forma última («exclusivismo dogmático»), do materialismo histórico remontante a Marx, notando a propósito algumas discrepâncias de Engels, ao considerar «adulteração grosseira da doutrina a explicação completa e única dos fenómenos pela economia»[146].
Não me demorarei na análise dos restantes pontos da dissertação de Mário de Albuquerque, coisa que iria ultrapassar em muito os objectivos do presente trabalho. Salientarei que Albuquerque busca também, e de facto, uma explicação englobante para as «navegações» em geral, e para o Norte de África em particular; a simples sucessão dos capítulos – cuja titulação se indicou já – o indicia. A reacção às explicações de tipo económico – Sérgio, Cortesão, Lúcio de Azevedo... – não o leva propriamente a proscrever tal factor, embora não no quadro das duas grandes facetas que as explicações de tipo económico até à data enunciadas apresentavam, a saber:
§ Fomos a Ceuta para tentar resolver o problema cerealífero ?
§ fomos a Ceuta na mira do acesso a correntes do comércio com o Oriente ?
Assim, e reconhecendo embora «o princípio da deficiência cerealífera do nosso País antes do século XVI, Mário de Albuquerque rejeita o princípio da procura de cereais na conquista de Ceuta»[147]. Igualmente o não convence o burguesismo do Portugal de Trezentos e Quatrocentos[148]. Mas o económico (voire, económico-social...) não está ausente: «as razões da conquista da cidade [deveriam] ser buscadas no “chômage da nobreza, crise económica, espírito de cavalaria, idiais religiosos”, contribuindo, para a eleição de Ceuta como destino, ”a riqueza da cidade”»[149]. Com maiores ou menores desenvolvimentos, estão igualmente presentes «a desvalorização da moeda» e a «necessidade da lei mental»[150]; sendo pois de concluir, tal como faz Oliveira Marques ao sintetizar as ideias de Albuquerque[151], que «D. João I procurou na guerra estrangeira um derivativo para a crise nacional»[152].
7. A reacção de Sérgio (1932)
A contestação de Sérgio à tese doutoral de Mário de Albuquerque – «Repercussões duma hipótese: Ceuta, as navegações e a génese de Portugal», secção [3] – está datada de Paris, 21 de Junho de 1932, e viria a ser recolhida no volume IV dos Ensaios [153]. Escrito de exílio[154], o facto poderá não ser estranho à contundência do texto, logo visível no desdém implícito na frase inicial[155]. Adjectivações de Mário de Albuquerque – nunca referido nominalmente no texto, tão só indiciado em nota pelo título do trabalho – não faltam neste ponto: autor «vivo, campeador, diserto», procedendo a uma «investida» com «ira ingénua», «ímpeto», «rancor»; acrescem os qualificativos de «reaccionário», alucinado «pela paixão política» e produtor de uma «crítica atrabiliária, de refutação facílima, mas cujo exame e contestação me levaria à análise de alegações pueris, e a entrar em minúcias desproporcionais ao caso»[156].
O final desta frase de Sérgio começa a dar-nos uma ideia do que vai ser a sua resposta a Albuquerque, até que porque logo de seguida se afirma que a crítica recebida lhe oferece «ensejo de tratar agora de certos problemas que creio interessantes, e em que julgo conveniente que me explique bem»[157]. Ou seja: Sérgio não vai replicar em função de uma reapreciação de fontes e de reargumentação das suas teses sobre Ceuta e o Norte de África; vai antes intentar esclarecer os seus procedimentos de laboração intelectual, na medida em que eles o separem do seu oponente.
Assim e a propósito do «círculo vicioso» em que consistiria a sua análise de Zurara e de uma ideia não provada (a interferência da burguesia cosmopolita na empresa de Ceuta), Sérgio fala com algum desenvolvimento do que separa a Dogmática da Ciência e nessas bases coloca a questão da objectividade e da crítica dos testemunhos[158]. O problema das divergências entre autores é o que seguidamente o ocupa, a propósito das discordâncias prévias com Teófilo Braga e Oliveira Martins[159], situando-se numa perspectiva não de historiador ou de filólogo mas de «pedagogista»[160]. Recorda que ao escrever sobre Ceuta se limitou a propor um conjunto de «probabilidades», «sujeitas à emenda dos historiadores»[161].
Posto o que, e citando sucessivamente Keyserling, Lessing, Claude Bernard e Poincaré[162], define a Problemática como o seu terreno dilecto de intervenção, retomando pontualmente questões como a da verdade ou a da objectividade. E escreve a terminar. «Não pensa bastante o erudito arquivista a que ponto a voracidade da bicharia ignara, manducando os papéis, destruiu uma infinidade de acontecimentos históricos que ficaram digeridos para todo o sempre (...) O físico, em suma, reconhece a idealidade do fenómeno físico, ao passo que o arquivista, muito ao contrário, só vê realidades no seu sonho histórico (...)... E aí está por que, ao lado da Miragem Retórica (formosíssima dama) e do Historicismo Arquivístico (cavalheiro imponente), eu tenho pedido uma funçãozinha activa para as empresas tímidas da Problemática. Na opinião dos filósofos, tem a problemática seu valor em si, que eles consideram como o maior de todos; os homens, porém, que não nasceram [para] críticos, nem [para] filósofos, [nem para obreiros da ciência,] e que só apreciam a erudição (ou só a arte) lembrem-se de que a livre criação problemática se tem revelado na humanidade culta como um grande excitante da actividade erudita, das belas-artes e das belas-letras. Provam-no os historiadores que me quiserem honrar, discutindo as hipóteses que lancei ao vento; prova-o no caso que tratei aqui o sanhudo inimigo que me acutilou. Estou-lhe gratíssimo pelo seu furor belicoso, que me incitou a explicar-me neste breve artiguete, porventura útil. Pena sinto eu de não ter ele mais préstimo, para assemelhar-me à macieira carregadinha de frutos, - a qual, se lhe jogam pedradas, larga logo um [seu] pomo, [dadivosa e impassível,] com um cicio de folhas que parece um riso. Escuta, leitor: riso de bonomia, e não de desdém»[163].
8. Os frágeis ecos da polémica
A inexistência de resposta por parte de Albuquerque fez praticamente ‘morrer’ a questão, até porque Sérgio não prolongará as suas razões. Se autores outros intervieram ainda na querela, é questão que só uma análise demorada de Revistas e de páginas culturais de periódicos (entre 1932 e circa 1935) permitiria resolver. Mas não creio que uma tal prospecção levasse a descobertas bibliográficas significativas.
Antes de Magalhães Godinho, dois nomes abordarão ainda as questões de Ceuta, do Norte de África e da génese dos Descobrimentos: David Lopes e Veiga Simões.
O primeiro em 1937, no que terá sido um dos seus derradeiros trabalhos[164]: no essencial, David Lopes reafirma as ideias que vinha defendendo desde 1924, i.e., admite a penúria cerealífera do Portugal medievo, mas não reconhece tal factor como determinante da empresa[165]; esta teria antes sido «norteada por um factor religioso e por uma necessidade de dominar o estreito de Gibraltar e de pôr termo à actividade dos corsários»[166].
No mesmo ano, e na mesma obra colectiva, Alberto da Veiga Simões (1888-1954) edita o seu estudo sobre o infante D. Henrique[167]. Também para este Autor a questão cerealífera se não coloca como causa de primeiro plano da empresa. O essencial estará, para ele, na «necessidade, comum ao rei, à nobreza e à burguesia, de dominar a crise económica pelo alargamento das terras»[168].
Nem David Lopes nem Veiga Simões referem – o que é natural numa obra de síntese com as características da citada – a troca de argumentos entre Sérgio e Albuquerque.
O que fica então da polémica ? Uma memória desequilibrada – direi. Mário de Albuquerque não respondeu, como já se disse, e o seu livro não conheceu reedições. Mas a réplica de Sérgio ressurgiu por 3 vezes, nas sucessivas edições do vol. IV dos Ensaios (1934, 1959 e 1972); um leitor de tal volume fica portanto a saber que Sérgio polemizou com um lente da U. de Lisboa nunca referenciado pelo nome, como vimos, mas tão somente pelo título da obra, há muito desaparecida do mercado. Um estudante ou profissional da História ainda poderia saber de quem se tratava[169]; um leitor comum nem isso167a.
E este mesmo tombar na desmemória se verifica quando as controvérsias sergianas começarem a ser objecto de estudo; é o que veremos de seguida.
9. Abordagens do polemismo de Sérgio [170]
9.1. Em vida
Nos anos 60 foi editada a obra As Grandes Polémicas Portuguesas, em 2 volumes prefaciados por Vitorino Nemésio[171].
É no quase termo do 2.º volume que o então muito jovem Jaime Nogueira Pinto aborda as «Polémicas de António Sérgio»[172]. O texto é breve e leve, e centra-se, com o complemento de alguns textos sergianos, em querelas como as mantidas com Carlos Malheiro Dias ou Luís Cabral de Moncada, e em problemáticas como o sebastianismo, o seiscentismo ou idealismo versus realismo. Nada, portanto, sobre a controvérsia que nos vem ocupando.
9.2. No centenário do seu nascimento
Entre as realizações editoriais que marcaram o centenário de Sérgio (1983) avulta o vol. 5 (2 tomos), da Revista de História das Ideias, órgão do Instituto de História e Teoria das Ideias da FL/UC, fundada por José Sebastião da Silva Dias (1916-1994) e dirigida ao tempo por Luís Reis Torgal; coordenaram este n.º temático Fernando Catroga e Amadeu José Carvalho Homem.
O polemismo sergiano é abordado em 2 trabalhos:
§ António Pedro Pita versa uma polémica dos anos 30 com o ensaísta e professor liceal Jofre Amaral Nogueira (1917-1973)[173];
§ e Jorge Borges de Macedo (1921-1996) trata do «Significado e evolução das polémicas de António Sérgio. A ideologia da razão (1912-1930)»[174].
O primeiro trabalho reporta-se, obviamente, a factos posteriores aos que de momento nos ocupam.
Já o texto de Macedo, na intenção englobante indiciada pelo título para a cronologia indicada – 1930 como terminus ante quo –, poderia fazer esperar uma referência à controvérsia com Albuquerque, ou pelo menos ao seu trabalho que a desencadeou – a tese doutoral –, mesmo considerando que a resposta de Sérgio só virá em 1932. Puro engano, e com o seu quê de inesperado: a secção 11. do artigo de Macedo[175] anuncia a abordagem dos debates sergianos feitos «exclusivamente à volta dos princípios», os quais começam a desenvolver-se, segundo o Autor, «nas [três] polémicas de Sérgio com professores universitários», acrescentando em nota serem «muito pouco referidas, a tal ponto que duas foram omitidas num recente artigo de jornal, para uso do centenário de António Sérgio»[176]. Indicando as polémicas em questão – com Martinho Nobre de Melo (1891-1985, lente da FD/UL), com Luís Cabral de Moncada (1888-1974, lente da FD/UC) e com Mário de Albuquerque – , o Autor desenvolve depois as duas primeiras – ambas também dos anos 20 – [177] e deixa-nos em total silêncio quanto à terceira, cuja cronologia nem sequer aponta ![178]
Diz a terminar que a partir de 1930 Sérgio «diversificará as suas posições perante novos antagonistas»[179]. Certo é que da polémica com Mário de Albuquerque nem (mais) uma linha...
Distracção ou intenção ?
10. Nos alvores do novo século: para um rever da querela, sem caricaturas nem lugares-comuns
O texto de Mário de Albuquerque é de 1930, e diverge de trabalhos sergianos publicados na década anterior. Em 1930 o nosso País vive em «Ditadura Nacional», remontante ao 28 de Maio de 1926. E ainda que por essa data o ministro das Finanças se prefigure já como líder político – para além de mago orçamental –, ainda que o Presidente do Ministério em exercício, Gen. Domingos de Oliveira (1873-1957), possa já parecer-nos figura decorativa, a verdade é que a criação da União Nacional, o processo constituinte que conduzirá ao Texto Fundamental de 1933, a presidência do Executivo por Salazar ou a configuração de determinadas instituições-chave do Regime – para além da União Nacional, a Mocidade e a Legião Portuguesas, a Polícia Política, os Tribunais Plenários, as «medidas de segurança» and so on – são posteriores (e por vezes bem posteriores); a polémica não pode portanto ser encarada como um afrontamento Situação/Oposição ou Ditadura/República: é cedo para isso; para além do que, os sectores a que Sérgio se vinha ligando desde os anos 20 – o movimento da Seara Nova, o grupo da Biblioteca Nacional – não raro haviam marcado distâncias face à I República, no quadro de um ideal de regeneração da vida portuguesa; é certo que em 1930 Sérgio se encontra no exílio, na sequência da participação na revolta de Fevereiro de 1927; mas é também certo que no próprio ano da sua réplica – 1932 – uma amnistia lhe permitirá regressar.
Monarquia vs. República ? Também este dilema tem que se lhe diga: Sérgio tinha antecedentes monárquicos; Mário de Albuquerque era-o indiscutivelmente, desde logo por tradição familiar; mas há (havia) monárquicos e monárquicos; uma referência na «Introdução» a António Sardinha[180] poderia conotá-lo com o Integralismo Lusitano, que não coexistiu com Sérgio em termos propriamente idílicos...; mas tal referência é pontual, no quadro de uma fundamentação que repousa num «corpus» documental-diplomatístico – manuscrito ou impresso – que hoje se nos afigura reduzido[181], e preferencialmente em fontes cronísticas, bem como na discussão – em termos argumentativos que indiciam o jurista que Mário de Albuquerque também era – de pontos de vista de autores precedentes.
É também evidente que estamos perante um trabalho doutoral bem distinto da fisionomia que os mesmos irão assumir na segunda metade do século[182]. Embora formado por Coimbra e aluno de António de Vasconcelos (1860-1941), Mário de Albuquerque não é – e para citar só nomes de gerações próximas da sua – um historiador do tipo de um Joaquim de Carvalho (1892-1959), de um Manuel Gonçalves Cerejeira (1888-1977), de um Mário Brandão (1900-1994), de um Manuel Lopes de Almeida (1900-1980) ou, «mutatis mutandis», de um Torquato de Sousa Soares (1903-1988)[183]. Curiosamente até, o «fazer História» patenteado na tese doutoral – onde, significativamente, falta a apresentação autónoma de um elenco de fontes e estudos compulsados, limitando o leitor aos dados das notas de rodapé – aproxima muito mais o Autor de um tipo de enciclopedismo de problemática classificação como positivista, reinante no Curso Superior de Letras e na subsequente Faculdade de Letras do Studium Generale olisiponense – a Escola onde não se formou mas para onde concorreu e onde ensinou longamente; ou seja, intelectualmente Mário de Albuquerque afigura-se menos próximo dos seus antigos Mestres e dos seus Condiscípulos do que dos seus futuros Colegas, porventura com uma menor propensão para um estrito factualismo e mais para um debate de ideias, em termos – também ele – de ensaísmo e assumindo contornos polémicos na tese doutoral, ao mesmo tempo que se ‘denuncia’ a formação em Leis que também tivera.
Assim sendo, também não se torna fácil encarar a controvérsia como travada entre um erudito universitário clássico – que Albuquerque, portanto, não era – e um ensaísta voltado para a discussão dos problemas da Grei; até porque este último aspecto não estava também ausente das preocupações de Mário de Albuquerque, bem pelo contrário: atente-se, por exemplo, na preocupação que as teses constando da 2.ª parte de O Significado das Navegações revelam quanto ao génio português [184].
Mais: contrariamente ao que Sérgio insinua em 1932, quando fala da admissão de Mário de Albuquerque no Corpo Docente da Universidade de Lisboa[185], os vogais do júri que aprova o seu opositor intelectual[186] não são propriamente uma súcia de reaccionários, admitindo um candidato monárquico ultramontano e de «nulo» valor intelectual; pelo contrário: os da Universidade de Lisboa são Mestres maioritariamente ainda ‘sobreviventes’ do Curso Superior de Letras (Leite de Vasconcellos, Queiroz Vellozo[187], Manoel de Oliveira Ramos, David Lopes), ou então ingressados na FL/UL nos seus tempos iniciais, i.e., em plena República Velha (Agostinho Fortes[188], Matos Romão, Vieira de Almeida[189]); quanto aos Mestres de Coimbra presentes, ou se nos depara ainda um sobrevivente da erudição nada na velha Faculdade de Teologia (Oliveira Guimarães189a) ou dois dos expoentes directamente saídos do magistério de Carolina Michaëlis (Ferrand de Almeida, Providência Costa); ou seja, um júri política e intelectualmente ‘acima de toda a suspeita’ e integrando algumas glórias do Ensino Superior do tempo, as quais, pelos seus posicionamentos intelectuais e ideológicos, seriam mesmo virtualmente pouco receptivas ao perfil do candidato189b.
Em suma: a polémica, nunca encarada como das fundamentais de Sérgio, terá com toda a probabilidade sido vista como fait-divers a não merecer grande atenção[190], e isto à luz dos préjugés da vida intelectual portuguesa das décadas de 40 e 50. O anacronismo é óbvio.
E hoje, face ao olvido de Sérgio e ao total desconhecimento de Mário de Albuquerque, a começar por lentes e escolares da Casa onde laborou durante 36 anos? Poucos revelam, de facto, conhecimento da troca de argumentos; nas raras eventualidades, reproduzem-se os lugares-comuns de tempos subsequentes à controvérsia... O que não é razão de contentamento algum para quem pretenda um conhecimento rigoroso da genealogia dos saberes e dos meandros da vida intelectual e universitária portuguesa do século que passou...
E assim direi, para concluir:
a) Polemizar foi uma prática intelectual que o primeiro século XX exerceu um pouco em moldes herdados de Oitocentos; e significativo é que o já citado volume As Grandes Polémicas Portuguesas [191] encerre justamente com as controvérsias que envolveram um autor desaparecido a meio da centúria: Alfredo Pimenta; para as sequentes décadas de Novecentos ocorrer-nos-ão as querelas em torno do neo-realismo, suficientemente pujantes para que em Janeiro de 1993, aquando do cinquentenário da obra literária de Vergílio Ferreira (1916-1996), ainda se trocassem no Público palavras de certa aspereza entre o próprio, Alberto Ferreira e Baptista-Bastos; no domínio da Historiografia apenas pontuais refregas, por vezes em sequela a recensões críticas[192]; ou seja, a polémica, como prática intelectual, decai nitidamente à medida que o século XX se aproxima do termo;
b) 1930 insere-se numa conjuntura sui generis da vida portuguesa: a ditadura que está, a República que ainda não deixou completamente de o ser, uma liderança militar que como que se ‘apresta’ a passar o testemunho a uma liderança financeira, política e civil, alguns primeiros indícios do que virá a ser essa ordem nova institucionalmente plasmada no Texto Fundamental de Abril de 1933...; é neste contexto, propício a crispações, que Albuquerque ‘rompe as hostilidades’; é num contexto já muito mais proto-Estado Novo que Sérgio responde;
c) Sérgio foi Mestre de Mestres, já o disse; o seu olvido actual tem pois muito de injusto;
d) apontou sólidos caminhos à erudição universitária, e isto com resultados palpáveis já na década de 50; o seu esquecimento mostra uma reduzida preocupação com a filiação dos saberes, por muito datados que os seus pontos de vista hoje se possam afigurar, face aos desenvolvimentos da História Medieval ou da História da Expansão, por exemplo;
e) Sérgio amou profundamente o País que é o nosso; Albuquerque também;
f) ao prestar provas de doutoramento, Mário de Albuquerque fá-lo quase 10 anos decorridos sobre a sua dupla licenciatura e num meio universitário diverso do que frequentara; para além da dissertação e das teses que apresentou, não ostentava então qualquer currículo significativo em matéria de publicações; segundo a praxe do tempo, terá feito as consultas oficiosas que lhe garantissem um mínimo de receptividade pela Instituição a que se apresentava como doutorando[193]; mas não deixava de ser alguém proveniente de alhures; face a um júri de Mestres de quem, maioritariamente, não fora discípulo, o jovem Albuquerque (32 anos) poderia impor-se de uma de duas maneiras:
i. ou por uma erudição documental profunda, um pouco à Coimbra, sua ALMA MATER; mas este não era o seu perfil; e Albuquerque, presumivelmente muito mais aplicado estudante de Direito que de Histórico-Geográficas 193a, não conheceu, pela cronologia, o ensino de Gonçalves Cerejeira (nem, ulteriormente, de Amorim Girão ou Virgílio Taborda) na disciplina de Propedêutica Histórica 193b, introduzida pela reforma de 1918 e traduzindo, no modo como foi ensinada em Coimbra e no Porto, pelo menos, a recepção entre nós da preceptiva metodológica de Ch.-V. Langlois e Ch. Seignobos e do clássico manual Introduction aux Études Historiques (1898)[194];
ii. ou pela novidade dos pontos de vista, estribados numa argumentação sólida e, eventualmente, numa postura iconoclasta face a ‘autoridades’, reais ou supostas; foi este o caminho seguido194a;
g) «Porque fomos a Ceuta ?»: Questão de fundo da polémica, surgirá naqueles anos 20 terminais e 30 iniciais em conjuntura historiográfica que em termos europeus corresponde ás renovações do post-I Guerra Mundial; tomando de empréstimo palavras de Peter Burke, o afrontar de um «Antigo Regime» historiográfico com a «Revolução», protagonizada por movimentos como o dos Annales [195]; será isto ver demais no Portugal do tempo ? talvez...; mas o certo é que já vimos ser apontado o tentame explicativo de Sérgio para a empresa de Ceuta – expresso em textos dos anos 10[196] – como uma ruptura, face à quase invariabilidade até então de explicações épicas, cavalheirescas, religiosas..., com uma concomitante entrada em cena do factor económico[197]; no debate em torno de Ceuta, muitos se ficaram por explicações mono-dimensionais, enquanto que outros visaram uma compreensão global do arranque da Expansão, Ceuta incluída; é o que vai acontecer, cada um à sua maneira, com Sérgio, Cortesão, João Lúcio de Azevedo ou David Lopes, e mais tarde com Veiga Simões ou Vitorino Magalhães Godinho; Mário de Albuquerque integra também este não muito numeroso grupo, e a ambição abarcante da sua dissertação – que, como vimos, lhe valeu em provas a crítica de «prolixidade» por Manoel de Oliveira Ramos[198] – não pode deixar de ser vista, em tal contexto, como moderna, ainda que em reacção contra os pontos de vista do porventura maior protagonista da mudança paradigmática; «reaccionarismo», «ira ingénua da sua investida e do seu rancor», «alucinação pela paixão política», «crítica alucinada e turva, cheia de escapanços e de alçapões», «[crítica] atrabiliária, de refutação facílima», como dirá Sérgio na sua réplica de 1932 ? um exilado político poderia senti-lo: Albuquerque usara um tom mentalmente impetuoso [199], explicável num contexto de provas doutorais e no meio universitário em que as prestava, mas que no exterior – e maxime no seio dos sectores política ou intelectualmente afectos a Sérgio – teria um impacto obviamente pouco positivo; naturalmente que todas as contribuições historiográficas já referidas para a questão de Ceuta tiveram a sua importância; mas os atrasos da nossa Historiografia ditaram que só em tempos ulteriores (anos 40 ss.) o problema, mais investigado e menos ensaiado, se encarasse com outras bases e consequentemente se tornasse de mais pacífica abordagem: pensemos na Obra de Magalhães Godinho, pensemos nas renovações da História Medieval a partir da década de 50 – e particularmente na História rural –, em torno do esclarecimento da problemática das crises e, numa segunda fase, das tensões sociais de Trezentos e de Quatrocentos (Virgínia Rau, A. H. de Oliveira Marques, Iria Gonçalves, Humberto Baquero Moreno, Maria José Lagos Trindade [† 1980], Maria José Ferro Tavares, José Mattoso, Maria Helena da Cruz Coelho, José Marques, Armindo de Sousa [1942-1998] e outros mais, num processo que se prolongará até aos anos 80)[200]; abram-se hoje as mais recentes sínteses de História da Expansão: Ceuta e o Norte de África afiguram-se um «dossier» muito mais pacífico e menos propício a controvérsias[201]; e será por acaso que o comemoracionismo descobrimentista dos anos 80 e 90 do século findo se fixou preferencialmente na viragem de Quatrocentos para Quinhentos, em torno de determinados ciclos/eventos/figuras (Bartolomeu Dias e o Atlântico, Gama e a Índia, Cabral e o Brasil), com escassas reperspectivações de tempos ou problemas anteriores? para além do que, as evoluções historiográficas no rumo do mental e do neo-político tornaram menos démodé o trazer à colação as explicações tradicionais com que Sérgio rompera, num quadro explicativo que havia suscitado a crítica de Albuquerque...
h) Mário de Albuquerque não terá sido um lente particularmente entusiasmante para o estudante médio, nem é normalmente citado como integrante da plêiade de Grandes Mestres da FL/UL, e isto sobretudo a partir da década de 50; mas sobre o que seja um Grande Mestre já escrevi supra quanto baste...; ao que acrescentarei que as Lições e apontamentos que integram o seu espólio revelam uma preocupação com as aulas bem longe de ser a regra, isto independentemente dos resultados concretos em termos de recepção pelos escolares;
i) não deixou uma obra particularmente extensa; nisso não está de modo algum sozinho no panorama universitário português do tempo[202]; ainda assim, o compulsar da sua produção dispersa por Revistas ou obras colectivas[203] revela um montante de títulos mais elevado do que pareceria à primeira vista, bem como – e isso está também patente nas Lições e apontamentos de aulas – um conhecimento de autores que não seriam ainda de citação muito corrente entre nós na altura em que referidos[204]: O. Spengler, sem dúvida, mas também B. Croce, E. Fueter, N.-D. Fustel de Coulanges, A. Renaudet, P. Renucci, M. Scheller, W. Sombart, A. Toynbee, M. Weber e outros ainda;
j) das suas aulas sobrou algum anedotário, como o referenciado pelo memorialista citado a abrir ? sem dúvida ! mas foi caso único ? ou não serão bastante mais risíveis estórias outras, como estas que seguem ?
i. Para os alvores da década de 40, Orlando Ribeiro fala de um lente de Arqueologia que, por deficiente dicção, fez o sebenteiro perceber, a propósito de certos artefactos líticos, «pontas de osso rachado» em vez de «pontas de dorso rebaixado»; e foi a primeira expressão a que surgiu nas Lições; tendo a matéria saído em exame, de tanto resultou a reprovação de praticamente todo o curso, compelido à transferência para Coimbra[205];
ii. Oliveira Marques, por seu turno, refere para os anos 50, entre outros, lentes como o que «ocupava grande parte das aulas com narrativas da sua vida pessoal – aliás muito rica e divertida», como o que «era tido por excêntrico por usar de linguagem mais livre e despreconceituada» ou como o que «recebia fortes críticas por pedir às alunas a tradução [para Alemão] de termos do vestuário íntimo feminino»[206];
iii. e se entrarmos em estórias de alcova..., que manancial, em terrenos em que a FL/UL se vê prolongada e complementada pela FCSH/UNL a partir da década de 70 !...
Mas hoje e aqui importa, insisto, separar o que seja memorialismo informal, ego-História ou História da Cultura / Ciência / Ensino. Como importa evitar o esquecimento de autores que, por datado ou limitado que seja o estado dos saberes que enunciem, não deixam de continuar a constituir factor de enriquecimento para potenciais leitores no abrir do novo século. Se esta já longa arenga em algo puder contribuir para um retorno a Sérgio ou para um reeditar da obra dispersa (e um editar da inédita) de Mário de Albuquerque[207], então não terão sido vãs as palavras que aqui deixo...
Lisboa / Morelinho (Sintra), Junho-Outubro de 2002
NOTAS:
* U. Porto. Agradeço penhoradamente aos familiares de Mário de Albuquerque – e muito especialmente a seu Filho, Doutor Martim de Albuquerque – as informações que me prodigalizaram e os elementos a que me facultaram acesso.
[1] Memórias para o Ano 2000, Lisboa, Horizonte, 2001, p. 51.
[2] Já Mário SOARES (Portugal Amordaçado, Lisboa, Arcádia, 1974, p. 24) enveredara, ainda que muito mais moderadamente, por esta via, ao utilizar os adjectivos «balofo» e «vazio». De qualquer modo, Portugal Amordaçado é uma obra de combate escrita no exílio; nos anos 90, no 1.º vol. do livro-entrevista de Maria João AVILEZ (Soares: Ditadura e Revolução, Lisboa, Jornal PÚBLICO, 1996, p. 40), Mário Soares volta a evocar a FL/UL e, sem deixar de recordar o decréscimo de nível ao tempo, por comparação com a fase fundacional (1911 ss.), deixa no entanto em silêncio os nomes dos Mestres que menos tenha considerado.
[3] Op. cit., p. 53.
3a Sobre esta problemática, cf. Armando Luís de Carvalho HOMEM, «Historiadores (Os), esses desconhecidos», Revista Portuguesa de História, XXIX (1994), pp. 33-53; e IDEM, «Ser historiador em Portugal, hoje», in Atas do I Encontro Internacional de Estudos Medievais, São Paulo, USP/UNICAMP/UNESP, 1995, pp. 2-17.
[4] Retomam-se algumas considerações expendidas na alínea inicial (“Da morte dos historiadores”) de Armando Luís de Carvalho HOMEM e Judite Gonçalves de FREITAS, «”On a medievalist’s death”: Joseph R. Strayer (1904-1987)», Revista da Faculdade de Letras [UP]. História, II sér., VIII (1991), pp. 439-445; cf. também Armando L. de Carvalho HOMEM, «António Cruz (1911-1989): um testemunho», Revista da Faculdade de Letras [UP]. História, II sér., VI (1989), pp. 457-69; e IDEM, «Em torno do “Historicismo neo-metódico”, da Escola de Coimbra e do mais que adiante se verá», Vértice, 73 (1996, Jul.-Set.), pp. 127-131.
[5] Por outras passagens ficamos a saber tratar-se do Doutor Jorge [Nogueira Lobo] de Alarcão [e Silva] (n. 1934), lente de Letras/Arqueologia.
[6] Doutor Pedro Augusto Monteiro Castelo Branco, por alcunha «Pedro Penedo» (1822-1903), lente de Direito.
[7] Cf. por todos Guilherme de CASTILHO, Vida e Obra de António Nobre, 3.ª ed., Amadora, Bertrand, 1979, pp. 56, 64, 81, 110 et passim.
[8] Doutor Basílio Alberto de Sousa Pinto, visconde de São Jerónimo (1793-1881), lente de Direito, Reitor da UC de 1859 a 1863. Cf. Manuel Augusto RODRIGUES, Universidade de Coimbra (A) e os seus Reitores. Para uma História da Instituição, Coimbra, Arquivo da Universidade, 1990, pp. 226-234.
[9] Doutor João Duarte de Oliveira, por alcunha «João Popó» (1875-1946), lente de Medicina, Reitor da UC de 1931 a 1939. Cf. M. A. RODRIGUES, Op. cit. na n. anterior, pp. 345-359.
[10] Doutor Maximino José de Morais Correia (1893-1969), lente de Medicina, Reitor da UC de 1943 a 1960. Cf. M. A. RODRIGUES, Op. cit. nas nn. anteriores, pp. 370-371.
10a Doutor Carlos Simões Ventura (1893-1975), por alcunha «o Faraó», lente de Letras/ Filologia Clássica. Cf. Manuel Augusto RODRIGUES [Dir.], Memoria Professorvm Vniversitatis Conimbrigensis: 1772-1937, Coimbra, Arquivo da Universidade, 1992, pp. 84-85.
[11] Conta-Corrente, V (1984-1985), s.l., Bertrand, 1987, p. 400; apontamento de 1985/ 04/03.
[12] Cf. Armando L. de Carvalho HOMEM e Judite Gonçalves de FREITAS, «Art. cit.» supra n. 4, pp. 439-440. Suprimiram-se as notas, onde se citam Philippe Ariès, Michel de Certeau, Albert Silbert, Jean-Philippe Genet e Krzysztof Pomian.
[13] Onde conheci um dos Mestres que tive na vida, Francisco de Lucas Pires (1942-1998), regente de Direito Constitucional nesse ano lectivo de 1967/68.
[14] Vexata quaestio: o surgimento da FL/UP em 1961 foi «criação» (léxico do art. 1.º do Decreto-Lei cit. na n. seguinte) ou restauração ? O que poderia parecer uma bizantinice está na realidade longe de o ser. Que relação genética (ou não) entre a Escola aberta em 1962 e a ‘Escola’ de Leonardo Coimbra (1919-1931) ? Certo é que o assunto nunca terá ‘solução’ nem será gerador de consenso; até no vocabulário: por alguma razão se fala ora de 1.ª (e 2.ª) FL/UP ou até de «antiga FL/UP», ora de «restauração da FL/UP» (expressão que nos anos 60 enfurecia alguns lic.os dos anos 20, que contrapunham «salazarização da FL/UP» !) ou de 2.ª (e 1.ª) fase da FL/UP... A questão de fundo é esta: os governantes de 1961 não quiseram de todo falar de «restauração» mas de «criação»; o primeiro termo ‘daria razão’ aos que achavam retrógrada e revanchista a extinção da 1.ª FL/UP em 1928, por um dos governos da Ditadura Militar pré-Estado Novo (Decreto 15.365, de 14 de Abril, presidente do Ministério Óscar Carmona, ministro da Instrução Pública Alfredo Magalhães), em Decreto que pretendeu extinguir também, entre outras Escolas, a Fac. Direito/UL (o que não se concretizou, pela forte reacção gerada) e a Fac. Farmácia/UC (a qual acabou, tal como a sua congénere da UL, despromovida a Escola Superior de Farmácia – ministrando somente o Curso Profissional, 3 anos – até 1968; ou seja, durante 40 anos a Fac. Farmácia/UP foi rigorosamente a única do País, atribuidora exclusiva dos graus de lic.º e de dr.). Alguns docentes e escolares da nova FL/UP começam num dado momento a falar de restauração, o que os converteria em herdeiros dos alegados pergaminhos da Escola da Quinta Amarela !... Pessoalmente – e deixando de lado (pelo menos para já) um juízo de fundo sobre Leonardo Coimbra, José Teixeira Rego (e suas práticas didácticas), José Marinho, Álvaro Ribeiro, Eugénio Aresta, Augusto Saraiva, José Augusto Sant’Anna Dionísio, George Agostinho Baptista da Silva e suas legiões de seguidores (incluindo o movimento da Filosofia Portuguesa), sem esquecer os bem mais tardios (e em muitos casos nada portuenses) António Quadros, Afonso Botelho, Orlando Vitorino, Jesué Pinharanda Gomes, Dalila Pereira da Costa e Paulo Samuel, entre muitos outros, que incluem, a partir de um dado momento, Manuel da Cruz Malpique ou José Augusto Seabra (1939-2004) –, lembrarei apenas que na 1.ª FL/UP ensinaram também Hernâni Cidade, Urbano Canuto Soares, Luís Cardim, Francisco Torrinha, António Augusto Mendes Correia, Damião Peres (que arrancou com o projecto da História de Portugal «de Barcelos» justamente nesta fase), Francisco Newton de Macedo, Aarão de Lacerda (Filho), Artur Magalhães Basto e, em início de carreira, Torquato de Sousa Soares. Conheci, pessoalmente ou enquanto leitor, múltiplos diplomados em Filologia Românica (v.g. António Salgado Júnior – que com Agostinho da Silva constitui o duo dos drs. pela 1.ª FL/UP –, Feliciano Ramos, Joaquim Magalhães, Francisco Miranda de Andrade ou Maria Alice Tâmega de Almeida) e em Histórico-Geográficas (v.g. Adolfo Casaes Monteiro, Olindo Casal Pelayo, Manuel Marques Teixeira) da 1.ª FL/UP cuja obra e/ou competência enquanto professores liceais está acima de toda a suspeita ! Já os propriamente filósofos... Que falem os professores liceais da disciplina (e seus alunos) que tiveram em tempos de ensinar (e estudar) pelos ‘rebarbativos’ manuais de Augusto Saraiva ou de Eugénio Aresta e que relembrem as dificuldades que sentiram (uns e outros)... E atente-se no espectáculo deprimente dos actuais admiradores de Agostinho da Silva, o barbado e profético Agostinho da Silva dos anos 40 e subsequentes, já sem nada do positivismo que lhe marcara a juventude (e a viragem foi, nos anos 60, muito justamente apontada por Raul Rego), incluindo a tese de doutoramento (em Filologia Clássica), Sentido Histórico das Civilizações Clássicas (1929), confessadamente escrita para contestar um ponto de vista de Spengler... Sobre as acidentadas circunstâncias genésicas da 1.ª FL/UP cf. a Bibliografia que citei em «Revistas universitárias de História no Portugal do século XX», Revista de História das Ideias, 18 (1996), p. 345, n. (15). Atente-se, por último, nesta questão: o que significou a 1.ª FL/UP perante o Studium Generale portuense no seu conjunto ? Alguns tópicos para uma resposta: a) A UP não foi parte directamente interessada nem directamente participante nos dissídios que opuseram em 1919 o ministro da Instrução Leonardo Coimbra à UC; b) à saída do dissídio recebeu uma nova Escola que não pedira e que, embora não estivesse fora dos projectos de expansão disciplinar, se reportava a uma área científica (a das Ciências Humanas) apenas com uma limitada presença prévia nas cadeiras de Direito e Economia Política existentes na oitocentista Academia Politécnica; além do que, ficara por concretizar o projecto de um Instituto Superior de Comércio, só de algum modo materializado na década de 50, com a Fac. Economia; c) o funcionamento da 1.ª FL/UP sintonizar-se-ia com a praxis portuense ? não creio; no seio de uma Universidade concentrada em toda uma área bem central da Urbe («dos Clérigos ao Carregal», como já escrevi), a nova Escola viveu parte da sua vida na casa da Quinta Amarela, a caminho do então suburbano Carvalhido; para além disso, a legislação da 1.ª República permitia a atribuição do grau doutoral e a nomeação como professor ordinário por simples proposta dos Conselhos Escolares das Faculdades; exemplos não faltaram na própria UC; mas... e no Porto ? convém não esquecer que as Escolas pré-universitárias de Oitocentos (Médico-Cirúrgica e Academia Politécnica) ostentavam já uma respeitável tradição de provimento dos seus lentes por concurso público; naqueles alvores dos anos 20, como encararia um lente de Medicina, de Ciências ou da então novel Fac. Técnica (de Engenharia a partir de 1926) aquela ‘legião’ de catedráticos de aviário «avant-la-lettre», ressalvando-se apenas o caso de Mendes Correia, lente de Ciências por concursos de provas públicas ? julgo que este aspecto – até agora pouco notado (veja-se uma ilustre excepção em Rui RAMOS, «Coimbra, Leonardo José», in Dicionário de História de Portugal, vol. VII/ Suplemento A-E, coord. António BARRETO e Maria Filomena MÓNICA, Porto, Figueirinhas, 1999, pp. 345-347, maxime 345, 2.ª col.) – da deficiente consagração académica dos Mestres da 1.ª FL/UP foi também uma das razões da efémera e atribulada existência da Escola e do seu fim isento de grandeza. Três anotações a fechar: 1) Em finais dos anos 80 alguém suscitou na FL/UP a questão da precedência protocolar entre Letras (cuja antiguidade se conta por referência a 1961) e Economia (idem reportando-se a 1953) e sugeriu o meu nome para a elaboração de uma memória justificativa da alteração das precedências; é óbvio que declinei tão abstruso encargo: a 1.ª FL/UP foi «criada» em 1919, extinta em 1928 (com funcionamento terminal até 1931) e nunca restaurada; a 2.ª FL/UP foi «criada» 30 anos depois do encerramento de facto da 1.ª, ninguém falando, ao tempo, de «restauração» (bem pelo contrário, atendendo à conjuntura política e à procedência da maior parte dos novos Mestres; Carlos Eduardo Bastos de Soveral, por exemplo, e para só citar o caso mais radical, vinha do cargo de subsecretário de Estado da Educação...); ninguém levantou então, evidentemente, a questão da precedência em relação à Fac. Economia, entretanto «criada»; que sentido teria fazê-lo agora nos anos 80 ? poderei às vezes ser quixotesco; mas um hipotético ‘embarcar’ numa destas parece-me antes algo de sancho-pancesco... 2) Em 1999 o Conselho Directivo da FL/UP começou, num dado momento, a ‘inundar’ os envelopes da correspondência expedida com auto-colantes falando nos «80 anos da Fac. Letras»; estranhei; mas logo percebi: estava em causa espólio museológico da 1.ª FL/ UP, incorporado na FC/UP após a extinção da anterior; e havia quem sonhasse ‘recuperá-lo’; é evidente que tudo ficou pelo nada... 3) Orgulho-me de ter estudado História na UP e de ter pertencido ao Orfeão Universitário; orgulho-me de exercer funções docentes na minha ALMA MATER desde 1973, com topo de carreira atingido em 1998; mais me orgulho de ser bacharel, licenciado e agregado em História e dr. em História da Idade Média pela UP; mas «Faculdade de Letras» é algo que hoje nada significa para mim, forçado que sou a trabalhar no que, há muito, mais não constitui que um conglomerado de saberes nem sempre compatíveis, em edifícios de discutíveis concepção e execução e na vizinhança de áreas outras sofrendo de bulimia institucional, como é o caso de um dado sector de reaccionaríssimos lentes de Línguas e Literaturas Românicas (alguns dos quais com mentalidade de verdadeiros fedelhos !... felizmente já se aposentaram todos). «Faculdade de Letras»? Prefiro sonhar, sonhar com uma nova unidade orgânica da UP que associasse – mesmo que em termos muito informais – a História à (por enquanto inexistente intra-muros) Ciência Política ou às áreas de Ciências Histórico-Jurídicas ou Jurídico-Políticas da novel Faculdade de Direito ou pura e simplesmente aos lentes de boa vontade interessados no passado dos seus saberes... Provavelmente vou ter que sonhar até ao fim da vida... Post-Scripta (Jun.2002): 1) Estando este trabalho já em elaboração, foi publicado o artigo de Luís A. de Oliveira RAMOS, «Faculdade de Letras: da história de hoje para a História», Revista da Faculdade de Letras [UP]. História, III sér., 1 (2000), pp. 147-152. Dois pontos me separam radicalmente dos posicionamentos deste meu Mestre: a) A ideia de continuidade das duas FFLL/UP, ainda que discretamente expressa; b) o encarar da actual FL/UP como um todo a preservar... Aqui só posso dizer frontalmente NÃO, com eventual tradução em todas as línguas da UE !!!!!... Os porquês julgo-os já suficientemente expressos em tudo o que escrevi supra. 2) Sobre Augusto Saraiva († 1975), cf. Luís de ARAÚJO, «Pensamento (O) filosófico de Augusto Saraiva», Revista da Faculdade de Letras [UP]. Filosofia, II sér., XVIII (2001), pp. 123-127.
[15] Decreto-Lei 45.864, de 17 de Agosto do ano em causa; era ministro da Educação Manuel Lopes de Almeida (1900-1980).
[16] Filologia Românica arrancaria em 1969/70; Geografia e Filologia Germânica em 1972/73; as variantes História/Arqueologia e História/História da Arte em 1981 (embora com antecedentes a partir de 1978); e Sociologia e a post-graduação em Ciências Documentais em 1985. Mais recentemente, e em organização trans-departamental, mencionem-se Estudos Europeus, Estudos Africanos e Ciência da Informação. Os mestrados arrancaram nos princípios da década de 80. A plena departamentalização é recente, e compreende, desde 1997, o Departamento de Ciências e Técnicas do Património (albergando Arqueologia e História da Arte – já como licenciaturas autónomas –, Ciência da Informação e as post-graduações em Museologia e em Ciências Documentais, sobrando ainda o ‘sonho’ da Antropologia).
[17] Mas, por outro lado, quantas ocorrências se detectam hoje de «colega de curso» ?...
[18] Decreto 48.627, de 1968/10/12 (Diário do Governo, I sér. da mesma data).
[19] Acrescidos de alguns Mestres de Filosofia, responsáveis por disciplinas de História da Cultura ou por outras, frequentadas a título de Opção: Maria Cândida Pacheco, Álvaro Penedos, Maria Laura Fernandes Tomaz de Araújo, João Pereira de Freitas ou o actual prelado D. Januário Torgal Ferreira, assistente de Filosofia entre 1971 e 1989.
[20] Em 1969/70, regência de Maria Cândida Pacheco; nesta cadeira ouvi pela primeira vez falar de J. Le Goff.
[21] Idem, regência de Luís Fonseca; da Bibliografia desta cadeira constavam nomes como os de H. Pirenne, M. Bloch, R. Latouche, G. Duby, R. Boutruche, J. Ellul, R. Fossier, G. Fourquin, M. Pacaut e R. S. Lopez, entre outros.
[22] Idem, docência de Luís de Oliveira Ramos e Eugénio dos Santos; da Bibliografia constavam Sérgio, Cortesão, Magalhães Godinho, Luís de Albuquerque, Ch.-R. Boxer, F. Mauro ou Manuel Nunes Dias, entre outros.
[23] Em 1970/71, regência de Cândido dos Santos; programa vasto (1.º semestre de História Moderna, 2.º de Contemporânea), uma Bibliografia compreendendo M. Weber, F. Braudel, E. Labrousse, E. Hamilton, P. Chaunu, R. Mousnier, F. Mauro, Cl. Fohlen, E. R. Palmer, G. Lefebvre, J. Godechot, A. Soboul ou J. Touchard, e uma análise de fontes que ia d’O Príncipe de Maquiavel a... Proudhon e ao Manifesto de Marx/Engels (utilizando-se, neste último caso, uma ed. brasileira que se vendia nalgumas livrarias por baixo do balcão e que, no vizinho café «Âncora d’Ouro» – vulgo Piolho –, se lia com alguns cuidados...).
[24] Idem, docência de Luís de Oliveira Ramos e Eugénio dos Santos; da Bibliografia constavam Sérgio, Cortesão, Magalhães Godinho, Luís de Albuquerque, Ch.-R. Boxer, F. Mauro ou Manuel Nunes Dias, entre outros.
[25] Em 1971/72, docência de António Cruz e José Vieira de Carvalho. Mais do que os suportes bibliográficos, importa salientar o carácter intensivo do ensino desta disciplina, frequentemente com os 2 docentes na sala, e ministramento de aulas suplementares, ao fim da tarde, nos meses de Abril/Junho; os destinatários eram à partida os alunos voluntários; mas a comparência era normalmente alargada.
[26] Por alguma razão nos anos de 1972 e 1973 os 1.os classificados nacionais de História no Exame de Estado que então coroava o Estágio Pedagógico foram licenciados da FL /UP.
[27] Na vigência do V Governo Constitucional, primeira-ministra Maria de Lurdes Pintasilgo, ministro da Educação Luís Veiga da Cunha, secretário de Estado do Ensino Superior J. Manuel Nazareth.
[28] Apenas mediante parecer favorável de dois professores catedráticos da especialidade.
[29] Lente de História da Educação, que desde 1974 prestava também serviço na área de História Contemporânea.
[30] Que ainda ensinaria nas U’s Livre/Porto (até 1986) e Portucalense (de 1986 ao termo da vida).
[31] O nome numa sala, num Instituto, num sector da Biblioteca-Central... Sobra apenas um pequeno retrato em traje académico e insígnias, cedido para a Exposição dos 25 anos da recriação da FL/UP (Jan.87), e de que o autor destas linhas efectuou uma cópia, há muito patente na secretária de que dispõe no gabinete.
[32] Maxime a lente de Filosofia Medieval Maria Cândida Pacheco [Obs.: Jubilada em Julho de 2005].
[33] Acrescidos os cerca de 50 anos prévios do Curso Superior de Letras.
[34] Tirando o facto de ter tido um avatar da dita Escola como orientador da tese de doutoramento.
[35] A. H. de Oliveira Marques: o Homem e o Historiador. Balanço de seis décadas, diálogos com João Pedro FERRO, Lisboa, Presença, 1994, p. 37.
[36] Embora a situação se acentue em Novecentos, no primeiro post-Guerra e depois, exponencialmente, a partir de 1945. Para uma abordagem-síntese do caso francês v. por todos Pierre GUIRAL e Jean THUILLIER, Vie (La) quotidienne des professeurs en France de 1870 à 1940, Paris, Hachette, 1982.
[37] Para o Ensino Primário cf. os testemunhos patentes em Memórias da Escola Primária, coord. Sara Marques PEREIRA, Lisboa, Horizonte, 2002.
[38] Minhas Memórias de Salazar, 2.ª ed., com estudo prévio de José Freire ANTUNES, Lisboa, Verbo, 2000, p. 219 (1.ª ed.: 1977).
[39] Tirando as situações muito específicas da Medicina ou, «mutatis mutandis», das Engenharias e outros saberes aplicados.
[40] V.g. o Direito (mas ainda assim com situações muito diversas de Coimbra para Lisboa) ou, mais tarde, a Economia, as Finanças, a Gestão.
[41] E daí que os Mestres dos níveis elementares do Ensino tendessem a orientar a prole para os cursos com «melhores saídas»; e falo por experiência própria, filho que sou de um professor liceal de Ciências Físico-Químicas.
[42] E estou completamente à vontade para referir tais nomes, já que apenas Jorge de Sena (que não conheci), Lindley Cintra (idem), Óscar Lopes, Vítor Serrão (que conheço mal) ou Ivo Castro (praticamente idem) me suscitam uma incondicional admiração.
[43] Expressão de Manuel Alegre em entrevista que não consegui re-localizar, mas que julgo remontar ao princípio dos anos 90.
[44] Pense-se em Álvaro Cunhal (1913-2005), em Armando Castro (1918-1999), em Joel Serrão, em António Borges Coelho.
[45] Citem-se, en passant, Arnaldo Miranda Barbosa (1916-1973) ou Délio Nobre Santos (1912-1977).
[46] Joaquim Romero MAGALHÃES, «De Victorini Magalhães Godinho vita, scriptis et in adversis animi fortitudine», in Estudos e Ensaios em homenagem a Vitorino Magalhães Godinho, Lisboa, Sá da Costa, 1988, p. 6.
[47] A obra de Ferreira de Almeida compreende uma tese de licenciatura sobre o conceito de História em Ibn-Khaldun (1936), uma tese de doutoramento sobre lucernas romanas em Portugal (1953), a edição de um texto do oratoriano António Pereira de FIGUEIREDO - «Antiguidade e religião das estátuas», I parte, ed. J. A. Ferreira de ALMEIDA, Cale. Revista da Faculdade de Letras do Porto, vol. I [único publ.] (1966), pp. 381-450, a funcionar como antecâmara ao que seria uma tese de concurso para professor extraordinário, exigência desaparecida no final da década de 60 -, alguns artigos na Enciclopédia Verbo, a tradução de uma História da Arte de um autor norte-americano (H. JANSON), a coord. do volume Tesouros Artísticos de Portugal (Reader’s Digest, 1975), e centenas (presumo) de conferências na então Emissora Nacional («O homem e a sociedade», anos 50/princípios de 70) e na RTP («O sentido das formas», finais da década de 70); nenhum desses textos foi publicado – o que, a ter acontecido, lhe daria uma produção ensaística extensa.
[48] V.g., quando Mestre em Lisboa (1940-1962), o domínio da Demografia Histórica (dirigiu a pioneira tese de Maria de Lurdes do Carmo Neto sobre a freguesia de Santa Catarina /Lisboa [1958]); e, já no Porto (1962-1981), múltiplas teses de licenciatura no domínio da História da Arte, matéria em que preferencialmente se fixou então. Os actuais lentes da UP Natália Marinho Ferreira-Alves e Joaquim Jaime Ferreira-Alves têm o seu início de carreira a ele profundamente ligado.
[49] Note-se que J. A. Ferreira de Almeida, qual segunda versão do seu Mestre Agostinho Fortes (v. infra, n. 81), regerá também um avultadíssimo número de disciplinas; mais: gostará de o fazer e de tal se orgulhará, como se de válida credencial de um diversificado saber se tratasse e tal perfil constituisse paradigma do Mestre universitário !!! Só para o período olisiponense contam-se 14 disciplinas: Arqueologia, Epigrafia, História da Antiguidade Clássica, História da Antiguidade Oriental, História Medieval, História Moderna e Contemporânea, História de Portugal, História de Portugal I, História de Portugal II, Numismática, Paleografia, Estética e História da Arte, História da Civilização Romana e História da Cultura Moderna (cf. A. H. de Oliveira MARQUES, «Notícia histórica da Faculdade de Letras de Lisboa [1911-1961]», in ID., Ensaios de Historiografia Portuguesa, Lisboa, Palas, 1988, pp. 183 ss). No Porto regeu, entre outras: História da Antiguidade Oriental, História da Civilização Grega, Arqueologia, Epigrafia, História da Arte, História da Arte Portuguesa e Ultramarina, História do Brasil, História da Cultura Moderna, Seminário de Arqueologia e História da Arte, História da Arte I, Sociologia e Psicologia da Arte, Iconografia e Iconologia, História Cultural e das Mentalidades (séculos XVIII-XX), Pedagogia e Didáctica e História da Educação.
[50] Em 1969/70.
[51] Ambas em 1970/71.
[52] Fomentadora, para o caso da arquitectura medieval, de um discurso cheio de pórticos, tímpanos e arquivoltas, pilares, colunelos e arcobotantes, naves, cruzeiros e absides, transeptos, charolas e rosáceas, janelões, liernes e tercierões, clerestórios, pendentes e trompas.
[53] Com o inevitável destacar do período clássico dos estilos (a perfeição e o sumo equilíbrio da forma), antecedido do arcaico e sucedido do tardio (eventualmente amaneirante).
[54] E que, vencidas n resistências derivadas do seu limitado currículo, pôde efectuar com pleno êxito em Abr.71 (para professor extraordinário) e em Mai.72 (para professor catedrático).
[55] A devassa de actas de Senados e Conselhos permitiu muita acusação saneante, com fundamento ou sem ele. Também aí haverá muito anedotário a aguardar narrador. Ferreira de Almeida escapou ao saneamento mercê de uma (indubitavelmente) corajosa e bem documentada defesa perante uma tumultuosa Assembleia Magna, em Jun.74.
[56] Órgão agrupando os docentes doutorados, criado em 1976 por legislação do I Governo Constitucional (ministro Mário Sottomayor Cardia [† 2006]).
[57] De todas elas, avulta o comportamento num concurso para professor extraordinário (Abr.78) de que resultou a reprovação de Victor de Sá (1921-2004), isto depois de o candidato, pressentindo o ambiente, se ter, perante ele, prontificado a desistir. E note-se que Ferreira de Almeida não guardou depois qualquer silêncio sobre a atitude que tomara…
[58] Jean-Philippe GENET, «Histoire, Informatique, Mesure», Histoire & Mesure, I/1 (1986), pp. 7-18.
[59] A Bibliografia passiva é, naturalmente, incomensurável. Destaque-se, para a fase do Centenário do nascimento, o vol. 5 (2 tomos, 1983) da Revista de História das Ideias. Mais recentemente salientem-se: António REIS, «Sousa, António Sérgio de», in Dicionário de História do Estado Novo, dir. Fernando ROSAS e J. M. Brandão de BRITO, II/M-Z, Venda Nova, Bertrand, 1996, pp. 951-952; e Rui RAMOS, «Sousa, António Sérgio de», in Dicionário de História de Portugal, vol. IX, Suplemento P/Z, coord. António BARRETO e Maria Filomena MÓNICA, Lisboa/ Porto, Figueirinhas, 2000, pp. 469-473.
[60] Sobre este passo da vida de Sérgio cf. Rogério FERNANDES, «António Sérgio, ministro da Instrução Pública», Revista de História das Ideias, 5/** (1983), pp. 603-700.
[61] «Monarquia agrária» versus «comércio marítimo», universo de questões entretanto também colocadas por um João Lúcio de Azevedo ou por um Jaime Cortesão.
[62] A obra só circulará a partir de 1973, na colecção das «Obras Completas»: cf. A. SÉRGIO, Introdução geográfico-sociológica à História de Portugal, Lisboa, Sá da Costa, 1973.
[63] O 1.º remontava a 1920.
[64] Informação verbalmente transmitida pelo Doutor António Barreto (1979).
[65] 1971 ss.
[66] Cf. a primeira publicação cit. supra, n. 60.
[67] V.g. a questão do alto-burguesismo da oficialidade régia, colocada a propósito de Álvaro Pais e de João Afonso de Alenquer, nas conjunturas de 1383 ou pré-Ceuta. V. por todos o que escrevi em Desembargo (O) Régio (1320-1433), Porto, INIC/CHUP, 1990, pp. 179-183, 231-244, 281-282, 327-329, 405-406, 430-431 et passim.
[68] Dados biográficos conforme «Albuquerque, Mário Correia Teles de Araújo e», in Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 37, Lisboa/Rio de Janeiro, s.d., p. 830 e vol. 1 de Actualização, Lisboa/Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, 1981, pp. 171-172; cf. igualmente Teresa Sancha PEREIRA, Mário Albuquerque: 1898-1975, Lisboa, Câmara Municipal /Comissão Municipal de Toponímia, 2000, 12 pp. [opúsculo editado aquando da atribuição do nome de Mário de Albuquerque a uma artéria de Lisboa].
[69] Cf. a reprodução em A. H. de Oliveira MARQUES, História de Portugal, II, Lisboa, Palas, 1973, extra-texto a pp. 288-289, fig. 71. Entre os subscritores deparam-se-nos igualmente os futuros lentes Mário Brandão (1900-1995), Aarão de Lacerda (1890-1947), Virgílio Correia (1888-1944) e Guilherme de Barros e Cunha (1893-1985).
[70] Entre os quais os lentes de História do Direito da UL Ruy Manuel e Martim Eduardo Côrte-Real de Albuquerque (nn. 1933 e 1936, respectivamente).
[71] Sobre este tipo de provas cf. Fernando de Almeida RIBEIRO, Doutoramentos em Coimbra: impugnação de cinco teses, Coimbra, Por Ordem da Universidade, 1951, pp. 11-32.
[72] Lisboa, s.e., 1930, 404 pp.
[73] Antigo lente da UC, futuro ministro da Educação (1936-1940) e embaixador, sucessivamente, no Vaticano e em Madrid (1940 ss.).
[74] Note-se que pelos mesmos dias prestou igualmente provas outro candidato – Durval Pires de Lima –, que acabou «excluido» pelo júri, «em virtude [como escreve o articulista d’A Voz, 1930/12/18] da sua dissertação – Historia da dominação portuguesa em Çafim (1506-1542) – não ser um trabalho expressamente feito para o acto de doutoramento, como indica a lei. [...] esta resolução foi acolhida com surpresa geral. Melhor: com indignação. E preguntava-se [sic]. Se não estava de acordo com a lei, porque aceitaram e porque discutiram o trabalho do sr. dr. Durval Pires de Lima ?! Ficamos com a impressão de que a Faculdade de Letras de Lisboa voltou ante-ontem a desprestigiar-se» (Obs.: Manteve-se a ortografia do original, como, aliás, em todas as transcrições deste periódico referentes ao doutoramento de Mário de Albuquerque).
[75] V. infra, ponto 6., a relação global das teses apresentadas por Mário de Albuquerque, constando da II parte de O Significado das Navegações (cit. supra, n. 73), pp. 229 ss.
76a Será, presumivelmente, «afluência».
[76] Sobre o resultado do 2.º, Durval Pires de Lima, v. supra, n. 75.
[77] Que regia desde 1923/24.
[78] O estatuto das cadeiras anexas das FFLL (Estudos Brasileiros, Língua Hebraica, Língua Árabe, Estética e História da Arte, História do Teatro, História da Música, Estudos Camonianos...) sofreu algumas vicissitudes: na década de 30 os titulares respectivos, ainda que professores contratados, chegaram a receber o vencimento de catedráticos; nos alvores dos anos 40, o ministro Mário de Figueiredo (em funções de 1940 a 1944) ‘despromoveu-os’, desse ponto de vista, a professores extraordinários; pelo que Mário de Albuquerque se não apresentou a concurso para professor catedrático, para o qual havia vagas disponíveis (tudo isto pode ver-se numa exposição do Conselho Escolar da FL/UL ao ministro Lopes de Almeida, circa 1961, sobre a situação profissional de Mário de Albuquerque; doc. dactilografado, cópia incompleta de 6 págs., na posse do Doutor Martim de Albuquerque). Noutras Escolas os professores de cadeira anexa (v.g. Desenho nas Faculdades de Ciências ou Economia Política na Fac. Engenharia/UP) eram providos por concurso de provas públicas, incluindo a defesa de uma dissertação. Sobre a cadeira de Estudos Brasileiros v. por todos Arnaldo SARAIVA, «Meio século de Estudos Brasileiros na Universidade Portuguesa», Revista da Faculdade de Letras [UP]. Série Filologia, I (1973), pp. 159-166.
[79] Dados conforme A. H. de Oliveira MARQUES, «Art. cit.» supra n. 49, p. 193. Nos termos da reforma curricular de 1957 (Decreto 41.341, de 30 de Outubro, Diário do Governo, I sér. da mesma data, ministro da Educação Francisco Leite Pinto), cessa a situação de «cadeira anexa», passando a existir uma disciplina anual de Literatura Brasileira (para Filologia Românica e Opção para outras licenciaturas; o seu primeiro titular na FL/UL foi Vitorino Nemésio [1901-1978], sucedido nos anos 70 por Fernando Cristóvão) e uma semestral de História do Brasil (para História; o seu primeiro titular na FL/UL foi Manuel Heleno [1894-1970; em 1960/61].
[80] Ficando de qualquer modo longe do máximo atingido por Agostinho Fortes (1869-1940): 25 disciplinas em 30 anos de carreira (1910 ss.), chegando a deter 8 regências em simultâneo (1923-1928). Sobre o assunto cf. Armando Luís de Carvalho HOMEM, Sociedade, Economia e Política na Época Medieval, I. Programa, Conteúdos, Métodos, relatório de concurso para professor associado/UP, policop., Porto, 1989, pp. 10 e 47; igualmente bem abaixo fica dos níveis quantitativos de José António Ferreira de Almeida (v. supra, n. 50).
[81] Desta disciplina ficou-nos, para 1933/34, um volumoso caderno de apontamentos manuscritos em folhas pautadas, de formato verbete, organizados por Madalena da Câmara Fialho (539 pp., Espólio de Mário de Albuquerque, na posse de seus familiares; doravante referido como ESP).
[82] No ano lectivo em causa a cadeira foi inicialmente regida por Manuel Heleno. Para a parte leccionada por Mário de Albuquerque temos 10 pp. de apontamentos manuscritos por Madalena da Câmara Fialho (ESP).
[83] Também para o ano lectivo de 1933/34 nos ficaram apontamentos manuscritos (109 pp.) por Madalena Câmara Fialho (ESP).
[84] Cf. Mário de ALBUQUERQUE, História da Cultura Medieval, 3 vols. dactilo-policops., Lisboa, 1963/1964, 528 + 192 + 165 pp.; o vol. 1.º contém os apontamentos das aulas teóricas, coligidos pelos alunos Felisbela C. Godinho e José Jorge Couto Ferreira, o 2.º transcreve Textos de S. Pedro Damião e o 3.º inclui apontamentos referentes às aulas práticas, a cargo de Ana Maria Bracinha Machado; sobre esta docente de carreira relativamente efémera e o início da entrada mais regular de mulheres no Corpo Docente de História da FL/UL, cf. Armando Luís de Carvalho HOMEM, «Mulheres historiadoras no Portugal das últimas décadas (anos 50 / anos 90)», in Actas dos 3.ºs Cursos Internacionais de Verão de Cascais [Jul.1996], 1. Mulher (A) e a Sociedade, Cascais, Câmara Municipal, 1997, p. 84. Sobre o serviço docente de Mário de Albuquerque, cf. A . H. de Oliveira MARQUES, «Art. cit.» supra, n. 50, pp. 183-186 e 198.
[85] Cf. as reportagens do Diário de Notícias e d’O Século do dia subsequente.
[86] E aqui se vê o bem fundado da afirmação final do memorialista cit. supra, n. 1. V. também supra, n. 79.
86a Nesta qualidade foi Secretário-Geral e Presidente da Comissão Executiva do II Congresso das Capitais do Mundo e orador oficial da celebração dos Poetas de Lisboa.
86b Enquanto deputado interveio quase exclusivamente sobre questões culturais, v.g.: a precária situação da Biblioteca Nacional no velho edifício do Largo da Academia Nacional de Belas-Artes [cf. no ESP uma carta de Júlio Dantas, agradecendo, na qualidade de Inspector Superior das Bibliotecas e Arquivos, uma intervenção parlamentar sua, em princípios de 1940]; o Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro (1944); o estatuto não-Superior do Ensino da Pintura e da Escultura nas Escolas de Belas-Artes e a própria estruturação geral destes Estabelecimentos de Ensino (1950 e 1956); a carreira dos bibliotecários e arquivistas (1956); o destino da Biblioteca da Manizola (ulteriormente integrada na Biblioteca-Central da FL/UL) [sobre as suas intervenções nos terceiro e quarto pontos existem no ESP diversos telegramas e cartas de agradecimento; salientem-se missivas de Leopoldo de Almeida, ao tempo Presidente da Sociedade Nacional de Belas-Artes (1950/04/20), e de Joaquim Lopes, ao tempo Director da Escola de Belas-Artes do Porto (1950/05/20)]; pugnou ainda pela criação do Museu da Marinha [no ESP existem cartas de agradecimento de Gago Coutinho e de Quirino da Fonseca].
86c Nesta qualidade presidiu à organização das Exposições do Trabalho e de Heráldica Corporativa.
86d No ESP encontra-se um ofício de 1962/01/22, do Secretário do Instituto de Alta Cultura, A. de Medeiros-Gouvêa, comunicando-lhe a nomeação, bem como os restantes membros do elenco, presidido por Manuel Heleno e tendo também como vogais Torquato de Sousa Soares, Possidónio Laranjo Coelho e Luís Silveira, secretariados por Artur Moreira de Sá e António Machado de Faria; haveria ainda uma Subcomissão de História Eclesiástica, constituída por António da Silva Rego, Miguel de Oliveira, Avelino de Jesus da Costa e Salvador Dias Arnaut.
[87] Cf. Armando Luís de Carvalho HOMEM, «A propósito da criação de um curso de ESTUDOS OLISIPONENSES na UAL», Anais da Universidade Autónoma de Lisboa/série História, II (1995), pp. 285-286, com notas a pp. 299. Veja-se também o opúsculo Faculdade de Letras de Lisboa: Estudos Olisiponenses. Instituídos e patrocinados pela Câmara Municipal de Lisboa. Programa para o ano de 1948-1949, Lisboa, Oficinas Gráficas da Câmara Municipal, s.d., 10 pp. (transcreve os sumários das lições proferidas desde 1946).
[88] Em tempo de primeiras acusações de sabotagem económica pelo governo de Vasco Gonçalves (a partir de 13 de Dezembro de 1974), em fase de discussão da institucionalização do MFA (que será um facto depois de 11.Mar.75) e em vésperas da querela da unidade/ unicidade sindical.
[89] Ao iniciar a análise dos textos da polémica forçoso me é remeter para o completo «dossier» da questão de Ceuta patente na parte inicial do cap. 9 («O Norte de África») do livro de A. H. de Oliveira MARQUES, Introdução à História da Agricultura em Portugal. A questão cerealífera durante a Idade Média, 3.ª ed., Lisboa, Cosmos, 1978, pp. 231-237. Para lá das posições dos 2 Autores aqui em apreço, Oliveira Marques lembra predecessores remotos (caso do cardeal Saraiva) ou mais recentes (Oliveira Martins, Luciano Cordeiro), bem como toda uma panóplia de autores novecentistas: Pedro de Azevedo, Bento Carqueja, David Lopes, Jaime Cortesão, João Lúcio de Azevedo, Veiga Simões e Vitorino Magalhães Godinho. Cumpre-me salientar, hoje e aqui, a importância que para mim teve, em finais de 1970, iniciando o 3.º ano da licenciatura, a leitura da 2.ª ed. (1968) desta Obra e o quanto ela influenciou as minhas ulteriores opções intelectuais. Daí que eu costume dizer que Oliveira Marques não foi, escolarmente, meu Mestre, mas que o considero como se tivesse sido.
[90] Considerações historico-pedagogicas antepostas a um manual de instrução agricola na escola primaria, Porto, Biblioteca de Educação, 1915.
[91] Ibid., p. 16. Cf. também A. H. de Oliveira MARQUES, Op. cit. supra n. 90, p. 232.
[92] In Ensaios, I, Lisboa, Sá da Costa, 1971, pp. 253-273 (1.ª ed.: 1920).
[93] Ibid., p. 255.
[94] Ibid., pp. 256-257.
[95] Ibid., pp. 257-263.
[96] V. supra, n. 68.
[97] Ibid., p. 264
[98] Idem.
[99] Ibid., pp. 264-265.
[100] Ibid., p. 265. Sérgio faz-se aqui eco de uma imagem «vitoriana» de D. Filipa, elaborada no século XIX em larga medida por Ramalho Ortigão e objecto da crítica de Jorge de Sena na década de 1960; cf., a este respeito, J. SENA, «Vitorianismo (O) de D. Filipa de Lancaster», in IDEM, Estudos de História e de Cultura, Lisboa, Revista «Ocidente», 1967, pp. 93-100; e Rita Costa GOMES, Corte (A) dos Reis de Portugal no Final da Idade Média, Lisboa, Difel, 1995, pp. 51-59 et passim.
[101] Idem.
[102] Ibid., pp. 265-266.
[103] Ibid., p. 266. A propósito de João Afonso como «financista do rei», lembremos que Vedor da Fazenda é ofício plural, com 2 titulares simultâneos em boa parte do século XV; o outro Vedor à data, coevo, em parte, de João Afonso de Alenquer (1400-1433), é Álvaro Gonçalves de Freitas (1404-1418), a quem serão cometidas amplas responsabilidades governativas durante a ausência régia (cf. A. L. de Carvalho HOMEM, Desembargo (O) Régio, cit. [v. supra, n. 68], pp. 279-280 e 404-405).
[104] Ibid., pp. 266-267. Também aqui Sérgio nos dá traços de um ideário legado por alguma Historiografia do século anterior. Veja-se a crítica respectiva em Bernard GUENÉE, «Histoire (L’) de l’État en France à la fin du Moyen Age vue par les historiens français depuis cent ans», Revue Historique, 232 (1964), pp. 333-334; e em Françoise AUTRAND, Pouvoir et société en France (XIVe-XVe siècles), Paris, PUF, 1974, pp. 12-23, 77-78 et passim.
[105] Ibid., pp. 267-268.
[106] Ibid., p. 268.
[107] Ibid., pp. 268-269.
[108] Ibid., pp. 269-271.
[109] Montante elevado para a época se tivermos em conta a totalidade do volume; normal se atentarmos apenas nas 228 pp. da I parte (Dissertação).
[110] Pp. 9-228.
[111] Pp. 229-399.
[112] Pp. 231-277.
[113] Pp. 279-320.
[114] Pp. 321-343.
[115] Pp. 345-358.
[116] Pp. 359-369.
[117] Pp. 371-399.
[118] Pp. 9-20.
[119] Note-se que o Índice final (p. 401) apresenta inexactidões.
[120] Pp. 21-67.
[121] Pp. 69-102.
[122] Pp. 103-108.
[123] Pp. 109-136.
[124] Pp. 137-152.
[125] Pp. 153-160.
[126] Pp. 161-195.
[127] Pp. 197-203.
[128] Pp. 205-220.
[129] Pp. 221-228.
[130] A. H. de Oliveira MARQUES, Op. cit supra, n. 90, pp. 235-236.
[131] P. 23.
[132] Pp. 25-26.
[133] V. supra, ponto 5.
[134] Pp. 27-29.
[135] Pp. 29-34.
[136] Pp. 34-35. À luz de um estado actual de conhecimentos, creio que Albuquerque tem especial razão neste ponto, uma vez que os burocratas da Chancelaria eram desde meados do século anterior correntemente designados como «seus [de el-Rei] vassalos» e no primeiro terço de Quatrocentos não raro ascenderam a cavaleiros ao fim de significativo tempo de serviço; a ideia de uma «nobreza de serviço» (J. Mattoso) em vias de constituição casa aqui mal com o burguesismo das teses sergianas. Cf. A. L. de Carvalho HOMEM, Desembargo (O) Régio, cit. (v. supra, n. 68), pp. 183-187; Rita Costa GOMES, Corte (A) dos Reis de Portugal, cit. (v. supra, n. 101), pp. 64-108, 129-151 e 212-220; e Judite A. Gonçalves de FREITAS, “Teemos por bem e mandamos”. A Burocracia Régia e os seus oficiais em meados de Quatrocentos (1439-1460), vol. I, Cascais, Patrimonia, 2001, pp. 187-215.
[137] Pp. 35-38. Neste ponto a Historiografia recente diverge de Mário de Albuquerque no seu – porventura – pessimismo quanto ao papel na Corte da Rainha e das mulheres em geral, bem como a um entendimento como que estanque do que sejam Casa [real] e Corte. Cf. Rita Costa GOMES, Corte (A) dos Reis de Portugal, cit. (v. supra, n. 101), pp. 46-62.
[138] Cumpre entretanto salientar que a afirmação política dos infantes radica na montagem das suas Casas (1408) e que D. Duarte está claramente associado à governação a partir do início da segunda década de Quatrocentos, incluída a produção de legislação e de actos de Chancelaria. Cf. A. L. de Carvalho HOMEM, Desembargo (O) Régio, cit. (v. supra, n. 68), pp. 245-250; e Judite A. Gonçalves de FREITAS, Burocracia (A) do “Eloquente” (1433-1438). Os textos, as normas, as gentes, Cascais, Patrimonia, 1996, pp. 25-32.
[139] Pp. 38-40.
[140] Sobre esta embaixada v. por todos A. L. de Carvalho HOMEM, «Diplomacia e Burocracia nos finais da Idade Média. A propósito de Lourenço Anes Fogaça, chanceler-mor (1374-1399) e negociador do Tratado de Windsor», in Estudos e Ensaios em homenagem a Vitorino Magalhães Godinho, Lisboa, Sá da Costa, 1988, pp. 217-228.
[141] Pp. 40-46.
[142] P. 46.
[143] Pp. 46-47.
[144] Pp. 49-53. A discordância reporta-se às ideias expressas por D. LOPES no livro História de Arzila durante o domínio português (1471-1550 e 1577-89), Coimbra, Academia das Sciências de Lisboa, 1924.
[145] P. 55.
[146] Pp. 76-78.
[147] A. H. de Oliveira MARQUES, Introdução à História da Agricultura, cit. (v. supra, n. 90), p. 236.
[148] Burguesismo entretanto atenuado pelos ulteriores desenvolvimentos da nossa Historiografia, no quadro de uma organização social medieva bem mais complexa do que o concebível nesse primeiro século XX. Veja-se, por exemplo, e a propósito da questão das élites, Rita Costa GOMES, «Elites (As) urbanas no final da Idade Média: três pequenas cidades do interior», in Estudos e Ensaios em homenagem a Vitorino Magalhães Godinho, Lisboa, Sá da Costa, 1988, pp. 229-237. Sobre as recentes utilizações historiográficas do conceito de élite, cf. os volumes: État (L’) moderne et les élites, XIIIe-XVIIIe siècles. Apports et limites de la méthode prosopographique, ed. Jean-Philippe GENET e Günther LOTTES, Paris, Publications de la Sorbonne, 1996; e Élites (Les) du pouvoir et la construction de l’État en Europe, dir. Wolfgang REINHARD, trad. franc., Paris, PUF, 1996.
[149] A. H. de Oliveira MARQUES, Introdução à História da Agricultura, cit. (v. supra, n. 90), p. 235. A passagem transcrita encontra-se em Mário de ALBUQUERQUE, Significado (O) das Navegações, p. 66.
[150] ID., Ibid., loc. cit.
[151] Idem.
[152] Mário de ALBUQUERQUE, Significado (O) das Navegações, p. 62.
[153] Lisboa, Sá da Costa, 1972, pp. 204-224 (1.ª ed.: 1934).
[154] V. supra, ponto 3. Significativamente, Sérgio começa por escrever que «Só agora vi, por acaso, uma tese de concurso para professor de História, apresentada a uma Universidade há mais de dois anos...» (p. 204). Em anterior edição, Sérgio escrevera «uma tese de doutoramento em História» (cf. nota [37] dos editores, p. 287 do mesmo volume). Esta confusão doutoramento/concurso ressurge ainda em mais 2 pontos: a) Na nota * à p. 216, onde Sérgio identifica o trabalho pelo título, opina pela nulidade do seu valor e afirma que «Logo depois, o autor foi admitido a professor de História. Era de esperar, em Portugal [, - sobretudo no Portugal destes nossos dias]»; b) numa nota final (p. 224 do volume em causa, nota [*]), onde se diz que «graças a» esta tese, «o autor [...] foi admitido no corpo docente da Faculdade de Letras de Lisboa», o que não é exacto, como se viu no percurso biográfico de Mário de Albuquerque (v. supra, ponto 4.).
[155] Cf. a passagem cit. no início da n. anterior.
[156] A. SÉRGIO, «Art. cit.» supra, n. 154, p. 204.
[157] Idem.
[158] Pp. 205-209.
[159] Pp. 210 ss.
[160] P. 211.
[161] P. 213, onde se transcreve uma passagem do texto de 1919.
[162] Pp. 214-221.
[163] Pp. 223-224.
[164] Cf. D. LOPES, «Conquista (A) de Ceuta. A sua importância política e económica», in História da Expansão Portuguesa no Mundo, dir. António BAIÃO, Hernâni CIDADE e Manuel MÚRIAS, vol. I, Lisboa, Ática, 1937, pp. 131-136.
[165] Ideias estas com eco no trabalho de M. Albuquerque, como vimos (v. supra, ponto 6.).
[166] Cf. A. H. de Oliveira MARQUES, Introdução à História da Agricultura, cit. (v. supra, n. 90), p. 234.
[167] «Infante (O) D. Henrique. O seu tempo e a sua acção», in História da Expansão Portuguesa no Mundo, vol. I, cit. (v. n. 165), pp. 353 ss. Sobre Veiga Simões v. por todos o clássico artigo de Vitorino Magalhães GODINHO, «Simões, Alberto da Veiga», in Dicionário de História de Portugal, dir. Joel SERRÃO, reimpr., vol. V, Porto, Figueirinhas, 1984, pp. 590-591.
[168] «Op. cit.» na n. anterior, p. 353.
[169] Como aconteceu comigo em 1969/70, quando aluno de História da Expansão.
169a Aponte-se a este respeito o livro de J. de Montezuma de CARVALHO, António Sérgio: a obra e o homem, Lisboa, Arcádia, 1979. O Autor – um jurista filho do grande Mestre que se chamou Joaquim de Carvalho (1892-1959) – aborda muito de passagem a questão, no capítulo «O Historiador»: «Em 1915 publicaram-se as Considerações Histórico-Pedagógicas com as teses inovadoras já descritas. As teses não despertaram atenção aos maiorais. Só o ensaio A Conquista de Ceuta, navegando nas mesmas teses, é que despertou a curiosidade alheia. Primeiro, com David Lopes; depois, com Jaime Cortesão; mais tarde, em 1930, com a tese de doutoramento de um ‘carreirista’ que se guindou batendo em Sérgio (dirá Sérgio: “a tese a que aqui se responde não mereceria discussão se ele não fosse um documento típico sobre a nossa realidade universitária. De facto, o autor, graças a ela, foi admitido no corpo docente da Faculdade de Letras de Lisboa”, a p. 224, E.[nsaios] IV)» (p. 230). Ou seja: Montezuma de Carvalho fala da polémica baseando-se exclusivamente no texto de Sérgio de 1932; destarte, ignora quem é o ‘carreirista’ – não identificado por Sérgio, como foi patente – e, obviamente, não leu O Significado das Navegações. Assim se fazia ainda ensaio no Portugal de finais da década de 70 !... Sem embargo, a obra de Montezuma de Carvalho tem méritos e não seria descabida uma reedição: mas com os necessários Índices e uma correcta apresentação da Bibliografia...
[170] Deixam-se de lado trabalhos, eles próprios, polémicos, eventualmente contra-polémicos, v.g. António José SARAIVA, Caprichismo (O) polémico do sr. António Sérgio, Lisboa, 1951.
[171] Lisboa, Verbo, 1964-1967.
[172] Op. e vol. cit., pp. 425-441. O último polemista a ser analisado é Alfredo Pimenta.
[173] A. P. PITA, «Duas (As) faces da razão. Nota sobre a polémica entre António Sérgio e Jofre Amaral Nogueira», Revista de História das Ideias, 5/* (1983), pp. 147-165.
[174] Vol. cit. na n. anterior, pp. 471-531.
[175] Pp. 519 ss. do vol. cit.
[176] Vol. cit., p. 519 e n. (98).
[177] Vol. cit., pp. 520-527.
[178] Será no entanto o texto de Sérgio de 1932 algo de concebível no âmbito de uma polémica «exclusivamente à volta dos princípios» ? (v. supra, ponto 7., a análise do texto sergiano do ano em causa). Antes de mais, seria necessário saber o que é que um Autor cujo discurso não raro roçou a ininteligibilidade, e com um léxico singular no seio da comunidade historiográfica do nossso País, entenderia por «princípios»: questões do domínio da Ética da Ciência ou da Deontologia dos Homens de Ciência ? problemas do foro da Epistemologia e/ou da Metodologia das Ciências Humanas em geral e da História em particular (incluindo aqui o domínio da crítica de fontes) ? A resposta implicaria uma análise do discurso de Jorge Borges de Macedo e não já do de António Sérgio ou do de Mário de Albuquerque... Admitamos de qualquer modo, em função da análise do texto sergiano de 1932, que o mesmo se desenvolve «exclusivamente à volta dos princípios», mesmo que a expressão não prime pela clareza nem por uma especial elegância no uso da língua de Cesário Verde. Nem com isto a questão fica encerrada, a propósito agora do ideário daquele desaparecido Mestre da UL († 1996): a) quase sempre mais propenso à Teoria da História do que à investigação empírica (cf. a este respeito as observações de Joaquim Romero MAGALHÃES, «Economia e Sociedade de Portugal Quinhentista», Revista de História Económica e Social, 18 [Jul.-Dez. 1986], p. 119); b) objecto em vida de quase sistemáticas sobrevalorizações – sem esquecer as adulações, vindas quase por norma de pessoas menos inteligentes e que, nem o admirando nem na verdade seguindo os seus ensinamentos, o temiam, mas eventualmente desejavam um pouco do seu Poder, quando ele existiu...; c) e em vias de rápido esquecimento após a morte (cf. a este respeito as recentes observações de António José TELO, «Um livro que eu li: A Elite da Historiografia», História, ano XXIII [III sér.], 35 [2001, Abr.-Mai.], pp. 74-75, a propósito da História Diplomática de Portugal e da dificuldade de hoje encontrar no mercado tal livro, publicado em 1988 mas de forma alguma esgotado).
[179] Vol. cit., p. 531.
[180] Mário de ALBUQUERQUE, Significado (O) das navegações, cit. (v. supra, n. 73), pp. 19-20 e nota (1) da segunda destas pp.; a referência reporta-se ao livro póstumo de Sardinha, Ao Ritmo da Ampulheta.
[181] Fundamentalmente referências à Chancelaria de D. Afonso V, ainda que por vezes através dos Documentos das Chancelarias Reais anteriores a 1531 relativos a Marrocos, t. I, ed. Pedro de AZEVEDO, Lisboa, 1915.
[182] Nos anos 50, em conversa com alunos, Mário de Albuquerque, mostrando um humor cáustico que talvez nas aulas se não lhe adivinhasse, mas que em boa verdade não poupava ninguém – mesmo que se tratasse de membros do Governo –, dava-se conta das mudanças em curso, ao afirmar: «Agora já não se fazem teses, fazem-se... !» [queira o leitor intuir o termo suprimido; testemunho do Doutor Humberto Baquero Moreno].
[183] Sobre o «fazer História» da Escola de Coimbra v. por todos João Paulo Avelãs NUNES, História (A) Económica e Social na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O historicismo neometódico: ascensão e queda de um paradigma historiográfico, 1911-1974, Lisboa, IIE, 1995.
[184] Tornando natural que um Autor que viria a revelar uma atenção demorada às «constantes estruturais» da História portuguesa, Jorge Borges de Macedo (1921-1996), o considerasse seu Mestre. Outros destacados diplomados pela FL/UL o consideraram como tal; um dos mais significativos – e insuspeitos – será José Gentil da Silva.
[185] Cf. as referências supra, n. 155.
[186] Apenas o Vice-Reitor nos surge qual prefiguração do Estado Novo...
[187] Que na I República será Vice-Reitor da UL e Chefe da Repartição do Ensino Superior do Ministério da Instrução Pública.
[188] Chefe de gabinete de Teófilo Braga enquanto Presidente do Governo Provisório da República, saliente-se. Anos decorridos (1935) será responsável por uma das bolas pretas que Vitorino Nemésio recebe nas suas provas de doutoramento [testemunho de um familiar de Nemésio no documentário Vitorino Nemésio: viagem, RTP/1, Fev.98 – 20.º aniversário da morte de VN -, ed. em video, RTP/RTC, 1999].
[189] Que mais tarde se definirá como monárquico oposicionista. Grande amigo de Mário de Albuquerque.
189a Que, curiosamente, se transferirá para a FL/UL em 1938, regendo, até se jubilar (1947), Pedagogia e Didáctica; será Director da Escola nos seus últimos 7 anos de carreira (cf. A. H. de Oliveira MARQUES, «Notícia Histórica...», cit. [v. supra, n. 49], pp. 164 e 192).
189b A excepção seria, porventura, o lente-poeta Eugénio de Castro.
[190] E saliente-se que Mário de Albuquerque chegou a pensar em responder a Sérgio; mas cedo desistiu de tal propósito. Note-se ainda que Sérgio conheceu um dia dois dos filhos de Mário de Albuquerque, numa viagem de eléctrico na Lisboa dos anos 50: surpreendido com o entusiasmo com que um pequeno grupo de jovens adolescentes discutia tópicos do programa liceal de Filosofia, interpelou-os, perguntando idades e nomes; face ao apelido Albuquerque, inquiriu de um eventual parentesco com o seu ex-adversário; e perante a resposta pediu aos jovens que dissessem ao Pai que «o António Sérgio lhe mandava um abraço»; ao que o próprio industriou os jovens no sentido de, se reencontrassem aquele Senhor já idoso, lhe dizerem que «o Pai também lhe mandava um abraço»... O que poderá querer dizer que, mais de 20 anos decorridos, os dois contendores atribuíam uma já bem diminuta importância ao episódio que os separara.
[191] V. supra, nn. 172 e 173.
[192] A mais conhecida e de maior vulto foi a que, no final dos anos 70, opôs Joaquim Veríssimo Serrão e Joaquim Romero Magalhães, recenseador, o segundo, dos volumes iniciais da História de Portugal do primeiro; os textos de J. Romero Magalhães (referentes aos 4 primeiros vols. de J. V. Serrão) podem encontrar-se na Revista de História Económica e Social [RHES], 3 (1979, Jan.-Jun.), pp. 121-129 e 4 (1979, Jul.-Dez.), pp. 136-140; a réplica de J. Veríssimo Serrão consta do opúsculo Resposta a um pseudo-crítico da «História de Portugal», Lisboa, s.e., 1980; a tréplica de J. R. Magalhães pode ler-se, sequentemente à recensão ao vol. 5 de J. V. Serrão, em RHES, 6 (1980, Jul.-Dez.), pp. 123-132.
[193] Sobre estas consultas veja-se Fernando de Almeida RIBEIRO, Doutoramentos em Coimbra, cit. (v. supra, n. 72), pp. 12-13, onde o Autor, reportando-se aos anos iniciais de Novecentos, escreve o seguinte: «(...) em Coimbra havia a prática tradicional, e útil para todos, das consultas prévias, feitas pelos candidatos, e dos oportunos avisos, dados pelos mestres. (...) Porque só quem não pense nos prejuízos da perda inglória de tempo, de trabalho e de dinheiro de um candidato sem probabilidades, não achará que seriam úteis e de agradecer os avisos que habilitassem este a saber, com probabilidade de acerto, com o que poderia e com o que não poderia contar»; e Luís Cabral de MONCADA, Memórias. Ao longo de uma vida (Pessoas, factos, ideias). 1888-1974, s.l., Verbo, 1992, pp. 105-106, onde o Autor escreve: «[Em 1915] Meti-me no comboio e fui a Lisboa e a Coimbra bater à porta das suas Faculdades de Direito. A que se me entreabriu em melhores condições foi a segunda. [A José Alberto dos Reis], como director da faculdade, apresentei a hipótese da minha candidatura ao professorado. Consultada a escola, foi-me oficialmente respondido que ela, sem de modo algum me convidar, me não repeliria contudo, antes neutralmente encararia as provas que eu prestasse sob minha inteira responsabilidade. Não podia querer mais. Declarei-me candidato e comecei a trabalhar na preparação de uma tese de História Jurídica».
193a Ainda que obtendo a mesma classificação final (17 valores) em ambas.
193b Albuquerque foi aluno de Cerejeira e de A. Girão, sim, mas noutras disciplinas. Propedêutica Histórica funcionou pela primeira vez em 1918/19 para o 1.º ano de Histórico-Geográficas, quando Mário de Albuquerque frequentava já o 3.º ano desta licenciatura.
[194] Cf. Armando Luís de Carvalho HOMEM, «Nótula sobre as disciplinas teórico-metodológicas no âmbito dos currículos da licenciatura em História», in Ensaios em homenagem a Joaquim Ferreira Gomes, Coimbra, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, 1998, pp. 397-401, com análise dos sumários dos 3 Mestres referidos para a UC (1927-1933) a pp. 399 ss.
194a O testemunho do Doutor Martim de Albuquerque aponta ainda a importância, na laboração intelectual de seu Pai, da retórica e da metodologia argumentativa; para além do que, e ainda que não tenha praticado uma erudição de arquivo, Mário de Albuquerque não foi propriamente indiferente à crítica das fontes primárias: na sua «ego-história» dos anos 50 e 60 [texto inédito], Eduardo Borges Nunes dá-o como motivado, já então, para o que hoje chamaríamos «Paleografia como História da Escrita». Sobre as diferentes posições epistemológicas nas primeiras décadas de Novecentos, veja-se, até por se centrar num dos Mestres de Mário de Albuquerque, o livro de Sebastião J. FORMOSINHO, Ciência e Religião. A Modernidade do Pensamento Epistemológico do Cardeal Cerejeira, Cascais/Viseu, PRINCIPIA/ Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional das Beiras, 2002.
[195] Cf. P. BURKE, Revolução (A) Francesa da Historiografia: A Escola dos Annales (1929-1989), trad. port. (2.ª ed.), São Paulo, UNESP, 1992. «O antigo Regime na Historiografia e seus Críticos» é precisamente o título do capítulo 1, pp. 17-22.
[196] V. supra, ponto 5., nn. 91 e 93.
[197] Cf. A. H. de Oliveira MARQUES, Introdução à História da Agricultura, cit. (v. supra, n. 90), p. 231.
[198] V. supra, ponto 4.
[199] Na expressão, uma vez mais, do arguente Manoel de Oliveira Ramos.
[200] Vejam-se os balanços historiográficos de Armando Luís de Carvalho HOMEM, Amélia Aguiar ANDRADE e Luís Carlos AMARAL, «Por onde vem o medievismo em Portugal ?», Revista de História Económica e Social, 22 (Jan.-Abr.1988), pp. 115-138; e de A. L. de Carvalho HOMEM, «Medievismo (O) em liberdade (anos 70 / anos 90)», in Um Século de Ensino da História, coord. Maria Cândida PROENÇA, Lisboa, Colibri/Instituto de História Contemporânea da FCSH/UNL, 2001, pp. 183-213; versão revista e adaptada, com o título «Medievismo (O) em liberdade: Portugal, anos 70 / anos 90», Signum. Revista da ABREM: Associação Brasileira de Estudos Medievais, 3 (2001), pp. 173-197.
[201] Cf., fundamentalmente: António Dias FARINHA, «Norte de África», in História da Expansão Portuguesa, dir. Francisco BETHENCOURT e Kirti CHAUDURI, voI. I, Lisboa, Temas & Debates, 1998, pp. 118-123; Paulo Drumond BRAGA, «Expansão (A) no Norte de África», in Expansão (A) Quatrocentista, coord. A. H. de Oliveira MARQUES ( = Nova História da Expansão Portuguesa, dir Joel SERRÃO e A. H. de Oliveira MARQUES, II), Lisboa, Estampa, 1998, pp. 237-256; Luís Filipe F. R. THOMAZ, De Ceuta a Timor, Lisboa, Difel, 1994, pp. 65-68; Luís Miguel DUARTE, «Regresso a Ceuta», in Portogallo mediterraneo, ed. Luís Adão da FONSECA e Maria Eugenia CADEDDU, Cagliari, Consiglio Nazionale delle Ricerche/Istituto sui rapporti italo-iberici, 2001, pp. 99-127; e IDEM, «Fidalgos e degredados: a frontaria portuguesa de Marrocos», in Frontiere del Mediterraneo. Seminario Internazionale di Studi [Cagliari, 2002], ed. Maria Eugenia CADEDDU a Maria Grazia MELE, Pisa, Edizioni ETS, 2003, pp. 77-89.
[202] Para além de outros já pontualmente referidos, veja-se o caso do seu Colega de geração Manuel Heleno, cuja intensa actividade arqueológica se traduziu em diminutas publicações.
[203] Ao que acrescem ainda os inéditos.
[204] Com excepção das Lições de História da Cultura Medieval, que se reportam aos anos 60, os elementos desta natureza que ficaram no espólio de Mário de Albuquerque datam de 1933/34 (v. supra, nn. 82, 83, 84 e 85).
[205] O. RIBEIRO, «Ruben Leitão», in In Memoriam Ruben Andresen Leitão, vol. I, Lisboa, IN/CM, 1981, pp. 267-268.
[206] A. H. de Oliveira MARQUES, «Universidade (A) do Estado Novo: memórias de um percurso universitário», in Universidade(s): História, Memória, Perspectivas. Actas do Congresso “História da Universidade” (No 7.º Centenário da sua Fundação) [Mar.1990], vol. 5, Coimbra, Comissão Organizadora do Congresso “História da Universidade”, 1991, pp. 434 e 442.
[207] V.g., e para além das Lições universitárias, os artigos publicados nas Revistas Rumo (que fundou e dirigiu) e Panorama ou a colaboração deixada nos 3 vols. da História da Expansão Portuguesa no Mundo (Lisboa, Ática, 1937-1940), em Os Grandes Portugueses (dir. Hernâni CIDADE) ou no Dicionário das Literaturas Portuguesa, Galega e Brasileira, dir. Jacinto do PRADO-COELHO (Lisboa, 1959; ulteriores reeds. em 5 vols. [última em 1994], com o título Dicionário de Literatura: Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira, Literatura Galega, Estilística Literária).
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