Alguns chapéus de estudantes
A "Cap and gown", oriunda das universidades clássicas britânicas popularizou-se nos estabelecimentos de ensino superior tributários da cultura anglo-saxónica como o Canadá, EUA, África do Sul ou Austrália.
A instauração da sociedade de consumo nos EUA no decurso da década de 1920 e a crescente massificação do ensino secundário e primário estiveram na base da apropriação do traje académico como mercadoria desterritorializada e banal bem de consumo. Docentes, educadoras de infância, empresas de pronto-a-vestir e de organização de eventos sociais, passaram a realizar decalques da "Graduation Ceremony" nos anos terminais dos liceus (High School Graduation), Preschool (pré-escola), Kindergarden (infantários) e regime de Homeschool (ensino domiciliário).
A parafrenália mediática e consumista repete-se de infantário para infantário e de primária para primária: discursos, fotografias, pais e amigos, banquetes, trajes, peluches, diplomas revivalistas. Algumas empresas disponíveis na internet afirmam a sua capacidade para abastecer este tipo de eventos nos EUA, México, Canadá, Austrália ou Japão.
Para o caso português não temos notícias de eventos semelhantes aos descritos. Sabe-se que nos jardins de infância e escolas de primeiro ciclo (antigas primárias) do Distrito do Porto, por directa influência das festividades anuais da Universidade do Porto, há nas salas dos cinco anos dos infantários e nas turmas dos quartos anos do Primeiro Ciclo do Ensino Básico crescente propensão para a festa dos finalistas com capas pretas de licra, cartolas e bengalas cor-de-rosa, entrega de diplomas enrolados de estilo revivalista, sarau em salão paroquial ou de bombeiros, filmagens, e até eventual missa na igreja paroquial (translado da missa da Benção das Pastas dos estudantes católicos para o 4º ano da primária).
A invenção e crescente solenização de tais "tradições" parece constituir uma réplica portuguesa às norte-americanas festas de finalistas dos infantários e escolas de primeiro ciclo em tempos de globalização. Nesta suave e aparentemente divertida ritualização do fingir ser "doutor" avant la lettre, assiste-se à consagração de "insígnias" kitsh que, no caso coinimbricense, não são traje ou chapéu de estudante mas antes costume de fantasia de quintanistas que terminam os respectivos cursos.
Fonte: Jostens, http://www.jostens.com/graduation.home.asp; para a Austrália, veja-se Rhyme, http://www.rhymeuniversity.net/.
AMNunes
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