Alguns chapéus de estudantes
"CAP" ou "MORTARBOARD" é um barrete académico e clerical oriundo da Grã-Bretanha, em forma de calote sobrepujada por uma copa de pala quadrangular, de cujo centro nasce uma borla que descai em franja como no Fez. É tradicionalmente usado por reitores, lentes, estudantes e bispos anglicanos em mandato na Câmara dos Lordes.
A partir de velhas universidades como Oxford e Cambridge, a Cap migrou para as universidades da África do Sul, Canadá, EUA e Austrália, para apenas exemplificarmos algumas situações de deslocalização tributárias da cultura britânica.
Nas universidades norte-americanas, a toga académica (gown) não é um traje de uso corrente durante os anos de realização dos cursos. A toga e o barrete costumam ser comprados expressamente para as mega-festas de entrega dos diplomas de fim de curso, com outros acessórios como o anel.
A massificação das universidades norte-americanas, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, originou o aparecimento de empresas especializadas na organização da "Graduation Ceremony", empresas essas que marcam as datas, arrendam estádios e pavilhões desportivos, disponibilizam equipas de fotógrafos e de filmagens, vendem peluches, anéis, impressos e diplomas, álbuns fotográficos e borlas de diversas cores para aplicação nas copas dos barretes.
De forma bem mais moderada, a "Graduation Ceremony" também ocorre nos estabelecimentos de ensino superior do Canadá, Austrália ou Grã-Bretanha (aqui como investidura ritualizada), com tendência visível para ser adoptada em países europeus, latino-americanos e asiáticos.
De olhos postos no paradigma universitário, a "Graduation" à americana estendeu-se aos liceus e aos infantários.
A fotografia seleccionada documenta o estudante norte-americano Linus Pauling, no dia da sua graduação pelo Oregan Agricultural College (1922).
Com o abolicionismo republicano vivido em Outubro de 1910 e anos subsquentes, a Universidade de Coimbra deixou cair no esquecimento as antigas cerimónias de investidura dos seus bacharéis e licenciados, apenas subsistindo a Imposição de Insígnias de Doutores e as laureas Honoris Causa. Para estes graus existiam na Alma Mater Studiorum Conimbrigensis insígnias distintas das doutorais bem como cerimonial próprio.
Ao longo do século XX sempre se levantaram vozes isoladas em Coimbra, lamentando justamente a perda das Imposições de Insígnias correlativas aos actos de bacharel e de licenciado, reclamação que se ouvia na década de 1980 na boca de lentes mais conhecedores do velho Universitatis Splendor. Não há dúvida nenhuma que estes rituais persistiram nas instituições britânicas, mormente no oxfordiano Encaenia, e após anos de esquecimento voltaram a ser retomados na Alma Mater Salmantinensis em 13 de Maio de 2000 (Graduationes de Alumnos). Universidades fundadas nos séculos XIX e XX nos EUA, na Guatemala, Canadá ou Austrália, implementam "graduations".
É certo que na UC os estudantes dos anos terminais realizam espontaneamente eventos como a récita de despedida, a missa católica com benção de pastas e consagração de quintanistas, o desfile de cartolados no cortejo anual da Queima das Fitas, mas nenhuma destas iniciativas configura uma cerimónia oficial da própria universidade consagrada no seu Cerimonial interno.
Em conjuntura de candidatura da UC a património da Unesco, e quando por todo o lado se consagram os graus de licenciado e de mestre conformes ao "Processo de Bolonha", não faz mal recomendar à UC que, à semelhança do que tem vindo a fazer a sua congénere salmantina, pondere na revitalização modernizada do seu velho cerimonial.
AMNunes
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