sábado, março 17, 2007



Alguns chapéus de estudantes

Em louvor de Jean Baudrillard, nascido em Reims a 27 de Julho de 1929 e falecido na cidade de Paris no pretérito dia 06 de Março de 2007

O que a fotografia documenta é o vulgar boné de fabrico industrial internacional, considerado chapéu identificativo nos meios estudantis do Gão-Ducado do Luxemburgo.

Supõe-se que este boné seja o resultado final de um longo percurso que, passando pelo Shako (barretina militar muito em uso na Guerra Peninsular e décadas ss.) e pelo Képi dos anos de 1860 (boné cilíndrico de pala, tipo "gendarme" francês e GNR), que se popularizou nos EUA na década de 1920.

O primeiro grande agente de popularização deste boné terá sido o lendário Babe Ruth, jogador dos Yankies de Nova York na década de 1920. A partir de 1954, a "casquette" foi apropriada como imagem de marca e símbolo do baseball norte-americano.

Inicialmente masculina, a "casquette" foi democratizada pela indústria do pronto-a-vestir norte-americana, passando a ser fabricada em todas as cores e modelos unissexo, de calote mais rígida ou flexível, pala plana e arqueada, ajustador posterior de botão, fivela e velcro, incorporando letras e emblemas de toda a sorte. Na infinita gama de "casquettes" que se conhecem, há variantes para todos os gostos: "army", "new era cap", "yankies", infantário, clube de baseball, clube de futebol, cores do movimento Hip-Hop.

Não se sabe exactamente em que altura os estudantes luxemburgueses passaram a considerar a "casquette" como símbolo identificativo. Talvez a partir do Maio de 1968, pois no final dos "sixties" era assumida pelos estudantes norte-americanos como signo de contestação.

Antes das lojas de vestuário portuguesas terem começado a vender este tipo de boné, ele já era bem conhecido em todas as ilhas dos Açores (crescente divulgação e uso na década de 1960), por via dos emigrantes radicados nos EUA, país onde passara a ser usado por desportistas, madeireiros, camionistas, trabalhadores da construção civil, gasolineiros, empregados de restaurantes e supermercados.

Com a implementação da sociedade de consumo em Portugal, a "casquette" passou a integrar as mercadorias de fruição acessível: visitas de estudo e passeios de infantários, viagens de idosos, romarias, trabalhadores rurais (Açores), adeptos do Hip-Hop, bombeiros, comícios partidários, campanhas partidárias, causas humanitárias, promoção de filmes ou discos, com crescente adesão nos estudantes do Ensino Básico (1º, 2º e 3º Ciclos) e Secundário. À medida que os clubes de futebol foram abrindo lojas de souvenirs e transformaram as suas cores e emblemas em mercadoria, o clássico "kit" boné/camisola/cachecol não mais parou de vender-se a bom ritmo.

Sintomaticamente, cerca de meio século após o abandono dos chapéus masculinos em todo o Ocidente, os jovens estudantes portugueses do Básico e do Secundário apropriam-se deste acessório kitschesco e fazem dele uma espécie de símbolo internacional do adolescente.

No caso de Portugal, a "casquette", que em nada se relaciona com o historial do traje académico, tem sido motivo de orgulho para os estudantes e quebra-cabeça para os docentes nas salas de aula e gabinetes escolares. Em geral, os alunos teimam em estar nas salas de aula com os bonés. Quanto aos professores, uns mandam retirar os bonés, outros fazem de conta que não os vêem e outros ainda defendem que os costumes evoluiram e, como tal, já se não deverá considerar falta de educação estar na aula com a cabeça coberta...

Fonte: http://fr.wikipedia.org/wiki/Casquette.

AMNunes

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