sexta-feira, novembro 11, 2005

DISCOGRAFIA DE EDMUNDO BETTENCOURT E RESPECTIVAS LETRAS

Por José Anjos de Carvalho

Edmundo Alberto Bettencourt (Funchal, 07-08-1999; Lisboa, 01-02-1973) concluiu o curso dos liceus no Funchal e matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa no ano lectivo de 1918-1919, curso que frequenta durante 4 anos.
No ano lectivo de 1922-1923, deixa Lisboa e ruma à Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, levando concluído o 2º Ano de Direito.
Edmundo Bettencourt[1] ganha grande notoriedade como cantor logo no ano de 1923, ao lado do guitarrista Artur Paredes que entretanto conhece e de quem fica muito amigo. A sua estreia pública em palcos ocorreu no princípio de Março de 1923, em Viseu, numa digressão da Tuna, a que se segue, no final dessa mesma quinzena, a Figueira da Foz, onde cantou dois fados do compositor Fortunato Roma da Fonseca, o FADO DE SANTA CRUZ e CRUCIFICADO. Os seus êxitos continuam e vai integrar com António Menano e Artur Paredes o Grupo de Fados na digressão da Tuna e Orfeon por terras de Espanha, em Abril desse mesmo ano de 1923. Nos anos seguintes credita-se como um dos mais notáveis cantores da Universidade de Coimbra.
Continua cantando, e a poetar também, até que, na noite de 08 de Maio de 1926, no Teatro Nacional de São João, no Porto, foi cantar o FADO DO CHOUPAL, de António Menano. Na repetição dos 2ºs dísticos das quadras, há um intervalo de uma oitava justa, cinco tons e dois meios-tons, nota essa a repetir pouco depois de forma ainda sustentada. Não é fácil fazer esse salto, sobretudo se essa oitava está no limite da tessitura vocal e, então, se ela se situa entre o extremo da tessitura e o limite superior da extensão vocal, pior ainda. Edmundo Bettencourt deu uma fífia ao cantar a 1ª quadra e quando toda a gente esperava, e desejaria, que conseguisse fazer o mais difícil, isto é que se redimisse na 2ª quadra, volta redondamente a falhar as ditas notas. Com ou sem razão, o facto é que Edmundo Bettencourt atribuiu tanta importância a este episódio que nunca mais subiu a um palco para cantar.

Edmundo Bettencourt efectuou duas séries de gravações, ambas para a Columbia, uma em Fevereiro de 1928 e outra em Dezembro de 1929 que se estendeu por Janeiro de 1930.
A 1ª série de gravações teve lugar no Porto, em Fevereiro de 1928, no Palácio dos Carrancas, antiga Casa Real. Foi acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca, mas os seus nomes não figuram nos discos. Foram editados 5 discos de 78 rpm, todos com etiqueta castanha e, numa 2ª edição, todos com etiqueta verde e com um outro número de catálogo.
Nesta 1ª série houve ainda a gravação do soneto NO CALVÁRIO (Passada a hora enorme da agonia), de Fausto José dos Santos Júnior (1903-1975), musicado por D. José Pais de Almeida e Silva (1899-1968), composição em que foi acompanhado exclusivamente à viola, e só à viola, por Mário Faria da Fonseca, mas a gravação não chegou a ser editada em disco.
A 2ª série de gravações teve lugar em Lisboa, em Dezembro de 1929, cuja última gravação foi já realizada em Janeiro de 1930. Esta última gravação, bem como algumas outras efectuadas do mês anterior não chegaram a ser editadas.
Nesta 2ª série de gravações foi acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Afonso de Sousa (que substituiu Albano de Noronha) e, à viola, pelo mesmo Mário Faria da Fonseca, mas os seus nomes não figuram nos discos. Dela foram editados apenas 3 discos de 78 rpm, todos com etiqueta castanha e, numa 2ª edição, todos com etiqueta verde e com um outro número de catálogo.
Edmundo Bettencourt é autor da música de um fado e da respectiva letra, intitulado Adeus a Coimbra (Quando em noites de luar), gravado pela primeira vez em Setembro de 1957, por Augusto Camacho, acompanhado à guitarra por Carlos Paredes e, à viola, por António Leão Ferreira Alves (EP Columbia, SLEM 2008, editado em 1958).

DISCOGRAFIA

Gravações de Fevereiro de 1928
Disco Columbia, 8120
Disco Columbia, GL 101
P 300 – Menina e Moça (Coimbra, menina e moça)
P 308 – Fado da Sugestão (Não digas não, dize sim)

Disco Columbia, 8121
Disco Columbia, GL 102
P 301 – Samaritana (Dos amores do Redentor)
P 309 – Canção do Alentejo (Lá vai Serpa, lá vai Moura)

Disco Columbia, 8122
Disco Columbia, GL 103
P. 307 – Inquietação (Quanto mais foges de mim)
P. 331 – Fado do Anto (A Cabra da Velha Torre)

Disco Columbia, 8123
Disco Columbia, GL 104
P. 306 – Fado de Santa Cruz (Igreja de Santa Cruz)
P. 333 – Mar Alto (Fosse o meu destino o teu)

Disco Columbia, 8124
Disco Columbia, GL 105
P. 302 – Canção da Beira-Baixa (Era ainda pequenina)
P. 332 – Crucificado (Ave-Marias são beijos)

Gravações de Dezembro de 1929
Disco Columbia, BL 1000
Disco Columbia, GL 106
P. 470 – Fado dos Olhos Claros (A luz dos teus olhos claros)
P. 633 – Alegria dos Céus (Ó Alegria dos Céus)

Disco Columbia, BL 1001
Disco Columbia, GL 107
P. 647 – Balada do Encantamento (Dentro de ti, ó Leiria)
P. 662 – Saudades de Coimbra (Ó Coimbra do Mondego)

Disco Columbia, BL 1005[2]
Disco Columbia, GL 108
P. 634 – Senhora do Almotão e Senhora da Póvoa
P. 659 – Saudadinha (Ó tirana saudade)

LETRAS

MENINA E MOÇA (Coimbra, menina e moça)
Música: Fausto de Almeida Frazão (Quintanista Medicina 1919-20)
Letra: 1ª Quadra: Américo Cortez Pinto (idem, idem)
2ª Quadra: Popular
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Coimbra, menina e moça,
Rouxinol de Bernardim,
Não há terra como a nossa,
Não há no mundo outra assim...

II
Coimbra é de Portugal
Como a flor é do jardim,
Como a estrela é do céu,
Como a saudade é de mim.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
A música é a do Fado da Récita de Despedida do V Ano Médico de 1919-1920 (Coimbra, menina e moça) e, bem assim, a 1ª quadra.
Gravado pela primeira vez em Fevereiro de 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, 8120 e Columbia, GL 101, master P. 300). No referido disco indica-se que a música é de Fausto Frazão mas, quanto à letra, a indicação de popular que figura no disco não está totalmente correcta, pois só a 2ª quadra é que o é; o autor da 1ª quadra, que é também a 1ª quadra do Fado da Récita de Despedida do V Ano Médico de 1919-1920, foi o Quintanista de Medicina Américo Cortez Pinto.
O Fado dessa Récita tem quatro quadras, todas de Américo Cortez Pinto, que são as seguintes:

I
Coimbra, menina e moça,
Rouxinol de Bernardim,
Não há terra como a nossa,
Não há no mundo outra assim...

II
A sorrir de madrugada,
De mãos postas à tardinha,
És Inês, a bem amada
E Santa como a Rainha.

III
Nunca houve em Portugal
Nem há terra tão bonita,
És a taça de São Graal
Onde o meu sangue palpita.

IV
Coimbra toda é um verso
Prà balada do luar,
Os meus olhos são um berço
Onde te quero embalar.

Quem cantou o Fado da Récita foi o próprio autor da música, Fausto de Almeida Frazão, um excelente tenor, dos melhores de então, que não chegou a gravar pois rumou como médico para Angola e lá faleceu, em 1946, em Benguela, onde foi Presidente da Câmara.

Menina e Moça é dos fado mais emblemáticos que continua ainda a ser cantado e gravado por numerosos cantores de Coimbra e não só.
Na discografia aparecem frequentemente erradas as autorias, quer da música, quer da letra, e o título vem muitas vezes substituído pelo incipit; além disso, o nome de Edmundo Bettencourt figura por vezes como co-autor, o que não está correcto, pois ele nada tem a ver com a autoria, quer da música, quer da letra; o fado é de 1920 e Edmundo Bettencourt só foi para Coimbra em fins de 1922.

Discos provenientes da mesma gravação de Edmundo Bettencourt:
De 78 rpm: Columbia, 1072-X (edição americana).
De vinil: LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, EMI-VC, editado em 1984.
Compact disc: CD Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, editado em 1999;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 6/Coimbra, editado em 1999.

Alguns CD’s de outros cantores:
CD Fados e Baladas de Coimbra – Coimbra tem mais encanto, Vidisco, 11.80.1304, editado em 1991 (canta Valdemar Vigário);
CD Tertúlia do Fado de Coimbra – Coimbra...terra de encanto! Videofono, VCD 50001, editado em 1993 (canta Victor Nunes);
CD Relíquia – Tertúlia do Fado de Coimbra, Edisco, 25, editado em 1994 (canta José Paulo);
CD Fados de Coimbra – Nº 45/O Melhor dos Melhores, Movieplay, MM 37.045, editado em 1994 (canta Manuel Branquinho);
CD Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra da Madeira, EMLI, s/n, s/d (canta Luis Filipe Costa Neves);
CD 15 anos depois... antigos tunos da Universidade de Coimbra, editado em 2000 (canta José Paulo);
CD Frederico Vinagre – Eternos Fados de Coimbra, Metro-Som, CD 101, editado em 2000;
CD Mar Lágrima – Grupo Madeirense de Fados de Coimbra, s/n, s/d (canta Carlos Bettencourt);
CD Ribeiro da Silva – Coimbra Menina e Moça, SPA 2004, não disponível no circuito comercial.

Variantes e versões com o mesmo título:
Sob o mesmo título, Menina e Moça, mas com uma outra letra, este fado foi gravado em Dezembro de 1928, em Berlim, por António Menano, acompanhado à guitarra por João Fernandes, à viola por Mário Marques e, ao piano, por Afonso Correia Leite (disco Odeon, LA 187807, master Og 1007). No disco não consta a participação de Correia Leite e quanto aos autores apenas indica entre parêntesis o nome Fausto Frazão sob o título Menina e Moça. A letra que António Menano canta é a seguinte:

I
É preciso ter sofrido
E ter-se de amores chorado
Pra se entender o sentido
Que há na tristeza do fado.

II
Numa noite de luar,
Sob um céu doce e calado,
Nada se pode igualar
À mágoa de um triste fado.

Esta gravação encontra-se disponível em vinil (LP do Álbum Fados de Coimbra – António Menano, 1º volume, editado em 1985) e, também, em compact disc: Heritage, HT CD 31, da Interstate Music, editado em 1995;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995;
CD António Menano – Fados, editado em Setembro de 1995 sob etiqueta Odeon.

Além da gravação de António Menano apenas se conhece, com esta mesma letra, uma outra gravação, mas apresenta estropiamentos no canto (alguns estropiamentos desta letra também se encontram em livros).

Com outros títulos e letras:
Deste fado de Fausto de Almeida Frazão há ainda mais uma gravação, com uma outra letra e um outro título, o fado Dom Portugal (Nada é impossível no mundo), gravado por Loubet Bravo, cuja letra é a seguinte:

I
Nada é impossível no mundo
Quando os homens são valentes;
Olhai o meu Portugal
Abraçando os continentes.

II
Minha Pátria, minha Terra,
Não há outro amor assim…
Portugal é muito grande
Mas cabe dentro de mim.

FADO DA SUGESTÃO (Não digas não, dize sim)
Música: Alexandre de Rezende (1886-1953)
Letra: (?)
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Não digas não, dize sim,
Muito embora amor não sintas
Que um não envenena a gente,
Dize sim inda que mintas.

II
Não digas não, dize sim,
Sê ao menos a primeira,
Falta-me embora à verdade,
Não sejas tão verdadeira.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por Edmundo Bettencourt, em Fevereiro de 1928, no Porto, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, 8120 e Columbia, GL 101, master P. 308). No disco vem indicado ser música de Alexandre de Rezende mas, quanto à letra, que aparentemente é de origem erudita, o disco é omisso.
Discos provenientes da mesma gravação:
De 78 rpm: Columbia, 1072-X (edição americana).
De Vinil: LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, editado em 1984.
Compact disc: CD Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, editado em 1999.

Este fado foi gravado por muitos outros cantores também; na discografia encontra-se por vezes como título o seu “incipit” e, quanto às autorias da música e da letra, aparece com alguma frequência o nome de Felisberto Ferreirinha (1897-1953), talvez por ele o ter gravado antes de Edmundo Bettencourt (disco Parlophone, 33.508, de 78 rpm); Felisberto Ferreirinha foi jornalista, funcionário dos Caminhos-de-ferro de Moçambique e gravou vários Fados de Coimbra.

Por vezes encontram-se variantes literárias e mesmo até estropiamentos da letra, quer em discos, quer em livros. Alguns CD’s de outros cantores:
CD Dr. Serra Leitão, Discossete, CD 951000, editado em1993;
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, SO 3003, editado em 1996;
CD Coimbra Eterna – Grupo de Fados da AAECP, Strauss, ST 5190, editado em 1998 (canta Napoleão Ferreira Amorim);
CD Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da AAECM, EMLI, s/n (canta Luis Filipe Costa Neves);
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.425/B, editado em 2001 (canta José Afonso).

Uma outra quadra com que também se terá cantado com este fado é a seguinte:

O não é mais venenoso
Que os venenos mais certeiros;
Antes um sim mentiroso
Que trinta nãos verdadeiros.

SAMARITANA (Dos amores do redentor)
Música: Álvaro Cabral (1865-1918)
Letra: Álvaro Cabral
Edição musical: Valentim de Carvalho (várias edições)

Dos amor’s do Redentor
Não reza a História Sagrada
Mas diz uma lenda encantada
Que o Bom Jesus sofreu d’amor.

Sofreu consigo e calou
Sua paixão divinal,
Assim como qualquer mortal
Que um dia d’amor palpitou.

Samaritana,
Plebeia de Sicar,
Alguém espreitando
Te viu Jesus beijar
De tarde quando
Foste encontrá-lo só,
Morto de sede
Junto à fonte de Jacob.

E tu, risonha, acolheste
O beijo que te encantou,
Serena, empalideceste
E Jesus Cristo corou.

Corou! Por ver quanta luz
Irradiava da tua fronte,
Quando disseste: - Ó Meu Jesus,
Que bem eu fiz, Senhor, em vir à fonte.

Samaritana
Plebeia de Sicar, etc. etc.

Informação complementar:
Cantam-se as duas primeiras quadras, o refrão, as duas quadras seguintes e novamente o refrão, sem repetir verso algum.

A música e a letra são ambas de Álvaro Cabral (Vila Nova de Gaia, 22-06-1865; Porto, 22-10-1918) que, além de compositor e de ser um boémio muito espirituoso e bom conversador, foi um excelente actor e autor de revistas e de letras de fados. Tinha 53 anos e era primeiro actor e director de cena da companhia que trabalhava no Teatro Nacional de São João, do Porto, quando morreu.
A letra integral deste fado consta das edições musicais da casa Valentim de Carvalho, inicialmente na Rua da Assunção, 37-39, em Lisboa (telefone nº 4.282). A 1ª edição foi impressa na Litografia Monteiro, Travessa das Pedras Negras, Nº 1, da mesma cidade. Foram feitas pelo menos três edições, as duas primeiras sem data e, a terceira, com desenho de capa datado de 1922, mas a primeira é bastante anterior, seguramente dos primeiros tempos da implantação da República.
As três edições que conheço são prova mais que segura da grande popularidade alcançada pelo fado Samaritana muito antes de Edmundo Bettencourt ter ido para Coimbra. Existe também uma edição para bandolim.

Este fado-canção, embora não seja propriamente um Fado de Coimbra, foi gravado em Fevereiro de 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia 8121 e Columbia, GL 102, master P. 301). O disco não contém qualquer indicação quanto às autorias da música e da letra, o que indicia desconhecimento do cantor e dos instrumentistas, inclusive desconhecimento das sucessivas edições musicais existentes à época.
Na reedição deste disco (Columbia, GL 102, etiqueta verde) figura erradamente, por gralha ou ignorância, o nome de Álvaro Leal como autor do fado, erro que se generalizou e se transformou num verdadeiro “erro sistemático” da discografia coimbrã.
A gravação de Edmundo de Bettencourt foi depois reeditada nos Estados Unidos sob etiqueta verde (disco Columbia, 1070-X).
Disponível em vinil (LP Fados de Coimbra – Edmundo Bettencourt, editado em 1984). Disponível também em compact disc: CD, Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 1/Coimbra, editado em 1999;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, edição de 1999.

Edmundo Bettencourt só canta metade da letra (trata-se de um disco de 25 cm e 78 rpm) e nela introduz a interjeição “Oh” no 3º verso da 4ª quadra, alterando-o para «Quando disseste: oh meu Jesus», ao que se julga para melhorar a prosódia.
A Academia de Coimbra apropriou-se deste fado e muitos têm sido os cantores que o gravaram, tendo-se transformado num dos mais emblemáticos fados de Coimbra.
Como se disse, na discografia existente (e em livros também) aparece com frequência o nome do compositor e escritor teatral Álvaro Leal (1893-1931), como autor da Samaritana, erro que, proveniente de um erro inicial, se transformou em erro sistemático, que se vai cometendo, repetindo-o sucessivamente. A letra também se encontra estropiada em diversos discos e em livros.

A outra metade da letra, a que não está gravada em disco, consta das diversas edições musicais e é a seguinte:

Fitando o azul celeste
Jesus seguiu a jornada,
Após o beijo que lhe deste
Naquela hora abençoada.

E a jovem Samaritana,
De lindo rosto moreno,
Como mulher sentiu-se ufana
Por ter beijado o Nazareno

Samaritana,
Plebeia de Sicar, etc. etc.

Mais tarde, na Galileia,
Seguida de fariseus,
Entravas pela Judeia
Perdida d’amor por Deus.

Dando gritos lancinantes
Suplicavas morte na cruz,
No mesmo lenho em que horas antes,
Bebendo fel, morrera o teu Jesus.

Samaritana,
Plebeia de Sicar, etc., etc.

Sicar é, provavelmente, a antiga Siquém (em hebraico Sichara), ou a actual aldeia de Askar, quase ao pé do Monte Ebal, próximo do Poço de Jacob.

Outros compact disc:
CD Fados e Baladas de Coimbra – Coimbra... tem mais encanto, Vidisco, 11.80.1304, editado em 1991 (canta Valdemar Vigário);
Tempo(s) de Coimbra, disco 1, EMI 0777 7 99608 2 8, de 1992 (canta Luis Marinho);
CD Tertúlia do fado de Coimbra – Coimbra... tem mais encanto, Videofono, VCD 50001, editado em 1993 (canta José Miguel Baptista);
CD Relíquias – Tertúlia do Fado de Coimbra, Edisco 25, editado em 1994 (canta José Miguel Baptista);
CD Valdemar Vigário, Vidisco, 11.81.1421, editado em 1995;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.332/B, editado 1996 (canta António Bernardino);
CD A nossa Selecção de Fados, Baladas e Guitarradas de Coimbra, Discossete, 1172-2, editado em 1997 (canta Alexandre Herculano);
CD Grupo de Fados Cantares de Coimbra – 1º. Aniversário, DCD 1024, editado em 1997 (canta Delfim Lemos);
CD Coimbra – Fados, ballads & guitars, Col. das Naus, NAU CD 017, editado em 1998 (canta Serra Leitão);
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 4/Coimbra, EMI 7243 5 20638 2 6, de 1999 (canta Luis Marinho);
CD Saudades de Coimbra – Grupo Serenata de Coimbra, Videofono, 50004, editado em1999 (canta Sutil Roque);
CD Victor Almeida e Silva – Coimbra enCanto e Poesia, Vidisco, 11.80.7854, editado em 2000;
CD Frederico Vinagre – Eternos Fados de Coimbra, Metro-Som, CD101, editado em 2000;
CD Fados de Coimbra e Tunas Académicas – Raízes e Tradições, CDsete, CD1, editado em 2001 (canta Alexandre Herculano).

António Menano gravou este fado em Dezembro de 1928, em Berlim, com uma outra letra e sob o título Conto d’Amor (Disco ODEON LA 187.809, master Og 1003). No disco vem correctamente o nome de Álvaro Cabral como autor da música e o de Afonso Correia Leite no acompanhamento do piano; o disco não contém qualquer indicação do nome do autor da letra, que é a seguinte:

Era uma vez um pastor,
D’alma alegre e sonhadora,
Que por uma linda pastora
Andava perdido de amor.

E não podendo esconder
O que no peito sentia,
Foi em segredo dizer
Uma canção que sabia:

Pastora linda!
Qu’eternamente vias
As minhas dores
E as minhas alegrias,
Quero-te muito
E juro-te por Deus
Daria a vida
Por um só dos beijos teus.

Mas o tempo que não mente,
A paixão tornou em nada
E ele deixou brutalmente
A pastora abandonada.

E a pastorinha hoje impura
Dos beijos dados a medo
Lembra talvez a falsa jura
E vai dizendo assim, quase em segredo:

Pastora linda!
Qu’eternamente etc. etc.

A referida gravação encontra-se disponível em vinil (disco 2 do II volume do Álbum António Menano – Fados de Coimbra, editado em 1986) e também em compact disc: CD António Menano – Canções, editado em Setembro de 1996.

O mesmo fado foi ainda gravado sob o título O Trovador, com letra de Manuel Henriques Guimarães, por Loubet Bravo, acompanhado à guitarra por Carlos Gonçalves e António Chaínho e, à viola, por José Maria Nóbrega (EP Fados de Coimbra, Marfer, MEL 2-155).
Loubet Bravo vivia no Porto, era empregado da CP, cantava no estilo Edmundo Bettencourt e colaborou diversas vezes com a Academia, nomeadamente no Carnaval de 1938, aquando da digressão do Orfeon Académico pelo Alentejo e Algarve, no que foi acompanhado pelo grupo de guitarras de Abílio de Moura, com o viola António Martins.

CANÇÃO DO ALENTEJO (Lá vai Serpa, lá vai Moura)
Música: Popular
Letra: Popular
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Lá vai Serpa, lá vai Moura
(Ai) E as Pias ficam no meio;
Quem vier à minha terra
(Ai) Não tem de que ter receio.

II
Teus olhos, linda morena,
(Ai) Fazem-m’a alma sombria;
Quero-te mais, ó morena,
(Ai) Do que à luz de cada dia.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Canção, de raiz folclórica alentejana, de que a Academia de Coimbra se apropriou através da voz privilegiada de Edmundo Bettencourt. A letra é a gravada no Porto, em Fevereiro de 1928, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, 8121 e Columbia, GL 102, master P. 309).
Discos provenientes da mesma gravação:
Em 78 rpm: Columbia, 1070-X (edição americana).
Em compact disc: CD Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, editado em 1999.
Na discografia encontram-se diversas variantes literárias destas duas quadras e, como título aparece por vezes «Canção de Serpa».
Os Ais entre parêntesis são o que ainda se poderia chamar de neumas (Do grego pneuma = sopro, pelo latim tardio), sinal empregado na notação do cantochão que indicava que a voz deveria elevar-se (ou abaixar-se), com duração ad libitum. Daí que se escrevam entre parêntesis dado não pertencerem aos versos.

António Menano gravou em Dezembro de 1928, em Berlim, uma canção intitulada Motivos Alentejanos, acompanhado ao piano por Afonso Correia Leite (disco Odeon, Lxx 174800, master xxOg 1045, de 30 cm), em que na primeira parte canta duas quadras com esta melodia, sendo a primeira uma variante literária da primeira quadra desta canção. Contudo, os cantores de Coimbra que vieram a cantar esta canção, e são bastantes, seguiram antes a versão gravada por Edmundo Bettencourt.

Alguns CD’s de outros cantores:
CD Grupo de Fados da AAECM – Do Choupal até à Lapa, EMLI, s/n (canta António Macedo);
CD João Queiroz – Nº 24/Fados do Fado, Movieplay, FF 17.024, editado em 1998.

INQUIETAÇÃO (Quanto mais foges de mim)
Música: Alexandre de Rezende (1886-1953)
Letra: Edmundo Bettencourt
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Quanto mais foges de mim,
Mais corro e menos te alcanço;
O meu amor não tem fim,
Morrerei mas não me canso.

II
Todo o bem que não se alcança
Vive em nós, morto de dor;
Quem ama, de amar não cansa
E se morrer é de amor.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se apenas o 4º verso.
A música é de Alexandre Rezende, compositor, cantor e guitarrista, de seu nome completo Alexandre Augusto de Rezende Mendes (Campinas, Brasil, 09-08-1886; Lisboa, 02-02-1953).
Gravado com esta letra em 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, 8122 e Columbia, GL 103, master P. 307). Esta gravação foi reeditada no Brasil, sob etiqueta preta (disco Columbia, 5319-B, master P. 307).
Disponível em compact disc:
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, casa Valentim de Carvalho, edição de 1999.

Vários cantores de Coimbra gravaram este fado de Alexandre de Rezende, cujos títulos e respectiva letra variam de uns para outros:
C. 1920-25, Carvalho de Oliveira, Fado da Mágoa (A minha tristeza é tanta);
Em 1926, António Batoque, Fado de Coimbra Nº 4 (Ceifeira que andas à calma);
Em 1927, Paradela de Oliveira, Um Fado de Coimbra (És linda mas foras feia);
Em 1928, António Menano, Fado dos Namorados (Não digas não dize sim);
Em 1928, Edmundo Bettencourt, Inquietação (Quanto mais foges de mim);
Em 1929, Almeida d’Eça, Fado (Eu tenho tanto cuidado);
Em 1981, José Afonso, Inquietação (És linda… se foras feia).

Outros CD’s sob o título Inquietação, com letra de Edmundo Bettencourt, no todo ou em parte:
CD Dr. Serra Leitão, Discossete, CD 951000, editado em 1993;
CD Valdemar Vigário, Vidisco, 11.81.1421, editado em 1995;
CD Alma Mater – Grupo de Fados de Coimbra, SecFado/AAC, CD-SF-005, editado em 1995 (canta Carlos Pedro);
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, SO 3003, editado em 1996;
CD A nossa Selecção de Fados, Baladas e Guitarradas de Coimbra, Discossete, 1172-2, disco 1, editado em 1997 (canta Serra Leitão);
CD Coimbra – Fados, ballads & guitars, Col. Naus, NAU CD 017, editado em 1998 (canta Serra Leitão);
CD Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra da Madeira, EMLI, s/n e s/d (canta António Macedo);
CD Mar Lágrima – Grupo Madeirense de Fados de Coimbra, s/n e s/d (canta Carlos Bettencourt);
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.425/A, editado em 2001 (canta José Maria Lacerda e Megre);
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.425/B, editado em 2001 (canta José Afonso);
CD Fados de Coimbra e Tunas Académicas – Raízes e Tradições, Cdsete, CD 1, editado em 2001 (canta Tito Costa Santos);
CD Ribeiro da Silva – Coimbra, Menina e Moça, SPA 2004, não disponível no circuito comercial.

FADO DO ANTO (A Cabra da Velha Torre)
Música: Francisco Menano (1888-1970)
Letra: António Nobre (1867-1900)
Edição musical: Livraria Neves, de Coimbra (1915)

I
A Cabra da Velha Torre,
Meu amor, chama por mim...
Quando um estudante morre
Os sinos tocam assim...

II
Ó quem me dera abraçar-te
Junto ao peito, assim, assim...
Levar-me a Morte e levar-te
Toda abraçadinha a mim!

Informação complementar:
Composição originariamente com refrão mas que, cantada só com estas duas primeiras quadras, é como se fosse uma composição com duas partes musicais. Os dísticos cantam-se e repetem-se sucessivamente, funcionando o refrão como se fosse a 2ª parte musical.
A música deste fado foi propositadamente feita por Francisco Menano para as Festas em Homenagem de Respeito e Saudade a António Nobre, que tiveram lugar em Coimbra em Fevereiro de 1915.

Gravado em 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt, que só canta estas duas quadras, funcionando o refrão como 2ª parte musical, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e à viola por Mário Faria da Fonseca, sob o título “Fado do Anto” (discos Columbia, 8122 e Columbia, GL 103, master P. 331). Esta gravação foi reeditada no Brasil sob etiqueta preta (Disco Columbia, 5319-B, master P. 331)
A gravação de Bettencourt encontra-se disponível em vinil (LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, EMI, editado em 1984) e também em compact disc:
Um Século de Fado/Ediclube , CD Nº 1/Fado de Coimbra, editado em 1999.

A versão literária primitiva deste fado, uma folhinha impressa na Minerva Comercial, Coimbra, em Fevereiro de 1915, compreendia três quadras e refrão, referindo em nota de rodapé que a música do Fado d’Anto não chegara a tempo mas que brevemente estaria à venda nas livrarias. Essas três quadras de António Nobre são por esta ordem as seguintes: «Minha capa vos acoite», «A cabra da velha torre» e «E só porque o mundo zomba» e, como refrão, a segunda quadra da versão gravada por Bettencourt «Ó quem me dera abraçar-te».

António Menano gravou este fado com duas quadras e refrão, na Primavera de 1928, em Lisboa, sob o título Fado d’Anto (Discos Odeon, 136.824 e A 136.824, master Og 657); por limitação de tempo, imposta pelos discos de 78 rpm, António Menano não repete o 1º dístico do refrão. Gravação disponível em compact disc:
CD António Menano (1927-1928), Heritage, HT CD 31, editado em 1995;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995;
CD António Menano – Fados, Volume II, editado em Dezembro de 1995.
As duas quadras cantadas por António Menano diferem ligeiramente das versões cantadas por Edmundo Bettencourt.

Outros compact discs:
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, SO 3003, edição de 1996;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.332/A, editado em 1996 (canta José Maria Lacerda e Megre);
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.425/B, editado em 2001 (canta José Afonso).

FADO DE SANTA CRUZ (Igreja de Santa Cruz)
Música: Fortunato Roma da Fonseca
Letra: 1ª Quadra: Popular
2ª Quadra: Popular (?)
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Igreja de Santa Cruz,
Feita de pedra morena,
Dentro de ti vão rezar
Uns olhos que me dão pena.

II
Quando estavas na igreja,
A teus pés ajoelhei:
– À Virgem por mim rezavas,
À Virgem por ti rezei.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, 8123 e Columbia, GL 104, master P. 306). No disco vem a indicação de a música ser de Fortunato Roma da Fonseca mas, quanto à letra, é omisso. Esta gravação foi reeditada no Brasil sob etiqueta preta (disco Columbia, 5320-B, master P. 306).
Gravação disponível em vinil: LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, edição de 1984; disponível também em compact disc:
CD Heritage, HT CD 15, da Interstate Music, editado em 1992;
Arquivos do Fado/ Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, edição de 1999.

A 1ª quadra é popular e não do autor do fado, como erradamente aparece na discografia coimbrã. José Leite de Vasconcelos, em apontamentos por ele recolhidos em 1892 na Quinta da Ponte, freguesia de Espinho, anotou a seguinte quadra popular:
Adeuzz... igrâija de Sã Pedro
Fâita de pedra muréna
Cândo eu lá ôiço missa
Doiz ólhos é que me dão péna.
(Cf. Leite Vasconcelos, OPÚSCULOS, Volume VI, Parte II, IN-CM, 1985, págs. 358-360)

José Paradela de Oliveira gravou este fado em Maio de 1927 e foi efectivamente o primeiro que o gravou, acompanhado à guitarra por Francisco da Silveira Morais e António Lopes Dias (disco His Master’s Voice, E.Q. 86 master 7-62173), mantendo-lhe o título mas substituindo a 2ª quadra por esta outra:

Lágrimas de portugueses,
Se todas fossem ao mar,
Já não houvera no mundo
Terra firme onde chorar.

A gravação do Paradela encontra-se disponível em compact disc:
CD Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 1/Coimbra, editado em 1999.

António Menano gravou este fado em Dezembro de 1928, em Berlim (Disco ODEON, LA 187.815, master Og 1034), acompanhado à guitarra por João Fernandes e, à viola, por Mário Marques. Na letra que António Menano canta não há referência alguma ao nome da igreja que dá o título ao fado; começa por cantar a 2ª quadra (Quando estavas na igreja) e, como 2ª quadra, canta esta outra:

E na crença e na vertigem
Foi então que eu me perdi;
Em vez de rezar à Virgem
Rezava mas era a ti.

Gravação disponível em vinil (Álbum de Fados de Coimbra – António Menano, Volume II, disco 2, editado em 1986); também em compact disc:
CD António Menano – Fados, EMI-VC, editado em Setembro de 1995.

Adriano Correia de Oliveira que cantava este fado mas que não o gravou, substituía a 2ª quadra por esta outra:

Ingrata, se fores à missa
Não te aproximes da Cruz
Que o pobre Cristo não veja
O teu olhar que seduz.

Muitos outros cantores gravaram este fado. Por vezes, na discografia, aparece erradamente como título o incipit Igreja de Santa Cruz. Gravações disponíveis em compact disc de outros cantores:
Tempo(s) de Coimbra, disco 1, editado em 1992 (canta Alfredo Correia);
CD Tertúlia do Fado e Coimbra – Coimbra... terra de encanto, Videofono, VCD 50001, editado em 1993 (canta Victor Nunes);
CD Dr. Serra Leitão, Discossete, CD 951000, editado em 1993;
CD Fados e Baladas de Coimbra – do Choupal até à Lapa, Vidisco, 11.80.1208, editado em 1994 (canta Valdemar Vigário);
CD Doutor Camacho Vieira – Colectânea de 1880-1994, Discossete, 1014-2, editado em 1995;
CD A nossa Selecção de Fados, Baladas e Guitarradas de Coimbra, Discossete, 1172-2, disco 2, editado em 1997 (canta Serra Leitão);
CD Coimbra – Fados, ballads & guitars, Colecção das Naus, NAU CD 017, editado em 1998 (canta Serra Leitão);
CD João Queiroz, Movieplay, FF 17.024, editado em 1998;
CD Frederico Vinagre – Fados e Guitarradas de Coimbra, Metro-Som, CD 151, editado em 2001.
CD Ribeiro da Silva – Coimbra, Menina e Moça, SPA 2004, não disponível no circuito comercial.

MAR ALTO (Fosse o meu destino o teu)
Música: Mário Faria da Fonseca
Letra: Edmundo Bettencourt
Edição musical: desconheço a sua existência

I
Fosse o meu destino o teu,
Ó mar alto, sem ter fundo!
Viver tão perto do céu,
Andar tão longe do mundo.

II
Antes as tuas tormentas
Do que todas as revoltas,
Num sólio azul te adormentas
E a soluçar nunca voltas.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e à viola por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia 8123 e Columbia, GL 104). No disco 8123 não existe indicação alguma sobre o nome do autor da letra pelo que não se compreende bem a omissão se efectivamente o seu autor foi Edmundo Bettencourt. Esta gravação foi reeditada no Brasil sob etiqueta preta (disco Columbia, 5320-B, master P. 333). Disponível em vinil (LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, EMI-VC, edição de 1984); também em compact disc:
CD Heritage, HT CD 15, da Interstate Music, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, edição de 1999;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 6/Fado de Coimbra, EMI, editado em 1999.

Das gravações que conhecemos de outros cantores, à excepção de uma de 1997 do Grupo Serenata de Coimbra, todos eles estropiaram o 3º verso da 2ª quadra; dizem sol azul, sonho azul, céu azul...
Outros compact discs:
CD Coimbra na voz do doutor Camacho Vieira; Discossete, CD 86400, editado em 1992;
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, SO 3003, editado em 1996;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.332/B, editado em 1996 (canta José Afonso);
CD Grupo Serenata de Coimbra...para o mundo, Videofono, 50008, editado em 1997 (canta Tito Costa Santos);
CD Mar Lágrima – Grupo Madeirense de Fados de Coimbra, s/n, s/d (canta Jorge de Freitas);

CANÇÃO DA BEIRA-BAIXA (Era ainda pequenina)
Música: Popular
Letra: Popular
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Era ainda pequenina,
Acabada de nascer,
Inda mal abria os olhos
Já era para te ver.
Acabada de nascer.

II
Quando eu já for velhinha,
Acabada de morrer,
Olha bem para os meus olhos
Sem vida – inda te hei-de ver.
Acabada de morrer.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Cantam-se e repetem-se sucessivamente os três primeiros versos, canta-se o 4º verso e repete-se o 2º.
A letra que se apresenta é a gravada em Fevereiro de 1928, no Porto, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (Discos COLUMBIA, 8124 e Columbia, GL 105, master P.302). Esta gravação foi reeditada no Brasil sob etiqueta preta (disco Columbia, 5321-B). Disponível em vinil (LP Fados de Coimbra – Edmundo Bettencourt, edição de 1984); também em compact disc:
CD Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, edição de 1999.

Esta famosíssima canção monsantina entrou para o foro musical Coimbrão após ter sido cantada e gravada por Edmundo Bettencourt. Trata-se de uma cantiga bailada, cantada com adufe na Romaria de Nossa Senhora da Póvoa. A sua notação musical foi recolhida diversas vezes e encontra-se em:
Rodney Gallop, Cantares do Povo Português, Ed. Instituto de Alta Cultura, pág. 103;
Lopes Graça, A Canção Popular Portuguesa, Europa-América, col. Saber, 3ª edição, pág. 124 e 142;
Michel Giacometti, Cancioneiro Popular Português, Ed. Círculo de Leitores, pág. 260.
Nos livros citados a letra que apresentam é diferente da cantada por Edmundo Bettencourt. No 4º verso da 2ª estrofe, Bettencourt canta “Sem vida – inda te hei-de ver”, como acima se indica, enquanto que nos ditos livros o referido verso é, em todos eles: “Inda são para te ver”. Naqueles livros também existe divergência quanto ao compasso: Gallop apresenta duas hipóteses, 6/8 ou 3/4, enquanto que para Lopes Graça o compasso deve ser 3/8.
Ainda quanto à 2ª quadra (Quando eu já for velhinha / Acabada de morrer / Olha bem para os meus olhos / Inda são para te ver), Lopes Graça, a pág. 142 do citado livro, transcreve esta quadra e afirma que lhe “foi dito pelo poeta Edmundo de Bettencourt ter sido por ele composta (ele, Bettencourt) e depois vulgarizada através da sua gravação da formosa canção monsantina”. Ora, nem ele gravou “Inda são para te ver”, nem a que ele gravou, “Sem vida – inda te hei-de ver”, se vulgarizou através da gravação do Bettencourt. E, se a quadra era dele, porque não a cantou na gravação? Por outro lado, o diplomata inglês Rodney Gallop, eminente folclorista e músico, que viveu em Portugal entre 1931 e 1933, aproveitou tal estadia para fazer recolhas in loco de que resultou o livro publicado em 1936, em Cambridge (Portugal – A Book of Folkways). A recolha desta canção terá ocorrido entre 1932 e 1º semestre de 1933.
N’A Canção Popular Portuguesa, Lopes Graça apresenta, na já referida página 124, duas variantes, indicando as respectivas origens, a 1ª das quais é a cantada por Edmundo Bettencourt:
“Sem vida - inda te hei-de ver” (António Joyce - É a variante que o Bettencourt canta)
“Sem ter vida, querem ver” (Eurico Sales Viana, Cancioneiro Monsantino)
Salvo melhor opinião, parece-me que algo estará mal no que diz Lopes Graça, o que me leva a pensar haver nisto tudo alguma confusão.

Outros compact discs:
CD Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra, Movieplay, PE 51.019, editado em 1995;
CD Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da AAEC da Madeira, EMLI, s/n e s/d (canta Luis Filipe Costa Neves);

CRUCIFICADO (Ave-Marias são beijos)
Música: Fortunato Roma da Fonseca
Letra: Francisco Bastos (1864-1901)
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Avé-Marias são beijos,
(Ai) Padres-nossos são abraços,
Rosário dos meus desejos,
A Cruz é abrires-me os braços.

II
De rezar beijos e abraços,
(Ai) E desejos, estou cansado,
Abre depressa os teus braços,
Quero ser crucificado.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
A música é de Fortunato Roma da Fonseca e a letra de antigo estudante brasileiro Francisco Bastos de Oliveira Bastos (Paraíba do Sul, 1864; ibidem, 1901), quintanista de Direito no ano de 1890-1891, co-autor da peça da Récita de Despedida desse ano, «De Coimbra a Constantinopla», uma nefelibatada em 3 actos e 5 quadros.
Edmundo Bettencourt gravou este fado com esta letra em 1928, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, 8124 e Columbia, GL 105 master P. 332). Esta gravação foi reeditada no Brasil sob etiqueta preta (disco Columbia, 5321-B, master P. 332). Disponível em vinil (LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, EMI, edição de 1984); também em compact disc:
CD Fados de Coimbra 1926-1930, Heritage HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/ Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, edição de 1999;
Um Século de Fado – Fado de Coimbra, CD Nº 6, EMI, editado em 1999.

No disco Columbia, 8124, a indicação de popular para a letra não é correcta. Apesar de Edmundo Bettencourt ser homem de cultura, verificam-se omissões e incorrecções nos dizeres dos seus discos pelo que não se podem considerar como fonte absolutamente segura. A letra é efectivamente do brasileiro e antigo estudante de Coimbra Francisco Bastos de Oliveira Matos, embora já estivesse popularizada passados quatro decénios. Veja-se Alberto Pimentel, A Triste Canção do Sul, publicada em 1904, mas já no prelo desde 1902, págs. 220, e Quadras de Estudantes a Coimbra e para as Tricanas, edição d’O Rancho de Coimbra”, organizada por Octaviano de Sá, Coimbra, 1940, pág. 9.
No disco Columbia, GL 105 o erro da autoria da letra é ainda mais grosseiro, figurando o nome «E. de Bettencourt» do cantor, como autor.

Vários cantores, uns de Coimbra, outros não, também gravaram este fado mas não se pode dizer que a letra tenha sido sempre respeitada escrupulosamente, tanto por uns, como por outros, consequência das aprendizagens de outiva.
Gravações disponíveis em compact disc de outros cantores:
CD Dr. Serra Leitão, Discossete, 951000, editado em1993;
CD Valdemar Vigário, Vidisco, 11.81.1421, editado em 1995;
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, Série Ouro, SO 3003 editado em 1996;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV: 30.332/B, editado em 1996 (canta José Afonso);
CD A nossa Selecção de Fados, Baladas e Guitarradas de Coimbra, Discossete, 1172-2, disco 1, editado em 1997 (canta Serra Leitão);
CD Coimbra – Fados, ballads & guitars, Col. Naus, Nau CD 017, editado em 1998 (canta Serra Leitão);

FADO DOS OLHOS CLAROS (A luz dos teus olhos claros)
Música: Mário Faria da Fonseca
Letra: Edmundo Bettencourt
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
A luz dos teus olhos claros
É uma estrela a lucilar
Que eu ora vejo no céu,
(Ai2) Ora nas ondas do mar.

II
Ó olhar da claridade,
Olhar de luar e água,
Sagrado espelho onde vejo
(Ai2) A sombra da minha mágoa.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado pela primeira vez em Dezembro de 1929, em Lisboa, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Afonso de Sousa e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia BL 1000 e Columbia, GL 106, master P. 470-1). No Disco vêm indicadas as respectivas autorias.

Os Ais, indicados entre parêntesis na letra do fado, são o que ainda se poderia chamar de neumas (Do grego pneuma = sopro, pelo latim tardio), sinal empregado na notação do cantochão que indicava que a voz deveria elevar-se (ou abaixar-se), com duração ad libitum. Daí que se escrevam entre parêntesis dado não fazerem parte dos versos das quadras. No caso em apreço só quando se repetem os dísticos é que se devem cantar esses ais; daí que se tenha aposto o índice 2 a seguir a cada um deles.

Existe uma variante literária da 2ª quadra dado que, numa outra gravação do mesmo fado, Edmundo Bettencourt não canta a 2º quadra exactamente como a transcrita acima, cujo 2º verso é alterado para “Oh olhar de luar na água”. Existem portanto duas matrizes e estamos em crer que a versão que se apresenta seria a preferida pelo autor.

Discos provenientes das referidas gravações: Em vinil: LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, EMI-VC 2402451, editado em 1984. Em compact disc: CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, edição de 1999; Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 6/Coimbra, editado em 1999.
Fado gravado por numerosos cantores de Coimbra e não só. Na discografia aparece por vezes com o título de «Olhos Claros», tout court, e também se encontra um ou outro estropiamento da letra, quer em discos, quer em livros.
CD’s de outros cantores:
CD Dr. Serra Leitão, Discossete, 951000, editado em1993;
CD Relíquias – Tertúlia do Fado de Coimbra, Edisco, 25, editado em 1994 (canta Victor Nunes);
CD Alma Mater – Grupo de Fados de Coimbra, SecFado/AAC, CD-SF-005, editado em 1995 (canta Carlos Pedro);
CD Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra da Madeira, EMLI, s/n (canta Luis Filipe Costa Neves);
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, SO 3003, editado em 1996;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.332/A, editado em 1996 (canta Adriano Correia de Oliveira);
CD A nossa Selecção de Fados, Baladas e Guitarradas de Coimbra, Discossete, 1172-2, disco 1, editado em 1997 (Grupo de Fados da Universidade do Porto)
CD Coimbra – Fados, ballads & guitars, Col. Naus, NAU CD 017, editado em 1998 (Grupo de Fado Académico do Orfeão Universitário do Porto);
CD Clássicos da Renascença – Adriano Correia de Oliveira, Movieplay, MOV 31.028, editado em 2000;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.425/B, editado em 2001 (canta José Afonso);
CD Fados de Coimbra e Tunas Académicas – Raízes e Tradições, Cdsete, CD 3, editado em2001 (Grupo de Fado da Universidade do Porto);
CD Ribeiro da Silva – Coimbra, Menina e Moça, SPA 2004, não disponível no circuito comercial.

ALEGRIA DOS CÉUS (Ó Alegria dos Céus)
Música: Mário Faria da Fonseca
Letra: José Campos de Figueiredo (1899-1965)
Edição musical:

I
Oh Alegria dos Céus
Tua luz bendita seja;
Quem vive em graça com Deus
Tem aquilo que deseja.

II
Luz divina da alegria
Venha a nós a tua graça;
Que a gente possa sorrir
Na ventura e na desgraça.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado pela primeira vez em Dezembro de 1929, em Lisboa, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Afonso de Sousa e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, BL 1000 e Columbia, GL 106, master P. 633). No disco vêm as indicações das respectivas autorias.
Discos provenientes da mesma gravação:
Em vinil: não existe disco.
Em compact disc: CD O Poeta Cantor, EMI-VC 560 5231 0047 2 5, editado em 1999.

Alguns CD’s de outros cantores:
CD Grupo Serenata de Coimbra – Saudades de Coimbra, Videofono, 50004, edição de 1993 (canta Tito Costa Santos);
CD Grupo Madeirense de Fados de Coimbra – Mar Lágrima, s/n e s/d (canta Luis Filipe Costa Neves)

BALADA DO ENCANTAMENTO (Dentro de ti, ó Leiria)
Música: D. José Pais de Almeida e Silva (1929)
Letra: D. José Pais de Almeida e Silva (1929)
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Dentro de ti, oh Leiria,
Vive uma moira encantada...
Não sabes, é minha amada
E tem por nome Maria.

II
Leiria foste um ladrão,
Leiria do rio Lis,
Roubaste-me o coração
E, vê lá tu... sou feliz.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Os versos cantam-se e repetem-se sucessivamente.
A música e a letra são ambas de D. José Pais de Almeida e Silva, então quintanista de Matemática e regente da Tuna Académica.
A Balada do Encantamento foi dedicada a uma dama que então conheceu em Janeiro de 1929, em Leiria, por ocasião da ida da Tuna àquela cidade, onde realizou dois saraus, Senhora que mais tarde viria a ser sua Esposa.
Gravada pela primeira vez em Dezembro de 1929, em Lisboa, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Afonso de Sousa e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, BL 1001 e Columbia, GL 107, master P. 647). No disco vêm indicadas as autorias da música e da letra.
Discos provenientes da mesma gravação:
Em vinil: LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, editado em 1984.
Em compact disc:
CD O Poeta e o Cantor, EMI-VC 560 5231 0047 2 5, editado em1999;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 1/Coimbra, EMI 7243 5 20633 2 1, de 1999.

CD’s de outros cantores:
CD Fados e Baladas de Coimbra... do Choupal até à Lapa, Vidisco, 11.80.1208, editado em 1992 (canta José Mesquita);
CD João Queiroz, Movieplay, FF 17.024, editado em 1998;
CD Grupo de Fados da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra da MadeiraDo Funchal até à Lapa, EMLI, s/n (canta Luis Filipe Costa Neves);
CD Grupo Madeirense de Fados de Coimbra – Mar Lágrima, s/n e s/d (canta Carlos Bettencourt).

Este mesmo fado, entenda-se a música, foi cantado na década de 40 numa das Serenatas de Coimbra que a antiga Emissora Nacional transmitia aos domingos, repetidas na sexta-feira seguinte. A letra cantada nessa serenata foi a seguinte:

I
Sofro e rezo Ave-Maria
E, por destino de Deus,
Teus olhos passam nos meus
E a noite parece dia.

II
Nossa Senhora das Dores
Tem sete espadas no peito:
– Saudade tem sete letras
Que ferem do mesmo jeito.

Já não sei quem foi que cantou mas, a ideia que tenho, é que foi muito bem cantado.

SAUDADES DE COIMBRA (Ó Coimbra do Mondego)
Música: Mário Faria da Fonseca
Letra: António de Sousa (1898-1981)
Edição musical: Desconheço a sua existência

I
Oh Coimbra do Mondego
E dos amores que eu lá tive,
Quem te não viu, anda cego,
Quem te não ama, não vive.

II
Do Choupal até à Lapa
Foi Coimbra os meus amores.
A sombra da minha capa
Deu no chão, abriu em flores.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado pela primeira vez em Dezembro de 1929, em Lisboa, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Afonso de Sousa e à viola por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, BL 1001 e Columbia, GL 107, master P. 662-1). No disco vêm indicadas as respectivas autorias.
Discos provenientes da mesma gravação:
Em vinil: LP Fados de Coimbra – Edmundo de Bettencourt, EMI-VC, editado em 1984.
Em compact disc:
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, edição de 1999;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 6/Coimbra, editado em 1999.

Tenho perfeita consciência de nos anos 40, quando andava no Liceu de Évora, ter ouvido variadas vezes este fado em que a última quadra era a última quadra da Balada da Récita de Despedida do V Ano Médico de 1919-1920, que é esta:

Não se esquecem nunca mais
As horas aqui passadas;
A Saudade e a partida
Andam sempre de mãos dadas.

Até à presente data nunca encontrei esse disco, cujo cantor tinha excelente voz com timbre de tenor e cantava muito bem; ainda o “oiço” a cantar esta quadra. Julgo, mas disso já não tenho a certeza, que cantava as três quadras, as duas deste fado e finalizava com esta da Balada da Despedida de 1920.

Saudades de Coimbra também é dos fados mais emblemáticos pelo que tem sido gravado por numerosos cantores. Quer nos discos, incluindo cantores de nomeada, quer em livros, a letra apresenta-se por vezes com algumas incorrecções, maiores ou menores, chegando a atingir o estropiamento.
Alguns CD’s de outros cantores:
CD Fados e Baladas de Coimbra... do Choupal até à Lapa, Vidisco, 11.80.1208, editado em 1992 (canta José Mesquita);
CD Saudades de Coimbra – Grupo Serenata de Coimbra, Videofono, 50004, editado em 1993 (canta João Frada)
CD Relíquias – Tertúlia do Fado de Coimbra, Edisco, 25, editado em 1994 (canta José Miguel Baptista);
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, SO 3003, editado em 1996;
CD Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra da Madeira, EMLI, s/n e s/d (canta Luis Filipe Costa Neves);
CD Frederico Vinagre – Eternos Fados de Coimbra, Metro-Som, CD 101, editado em 2000;
CD Victor Almeida e Silva – Coimbra enCanto e Poesia, Vidisco, 11-80.7854, editado em 2000;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.425/A, editado em 2001 (José Afonso);

SENHORA DO ALMOTÃO E SENHORA DA PÓVOA
Música: Popular; arranjo de Artur Paredes
Letra: Popular
Edição musical: Desconheço a sua existência

Senhora do Almotão,
Ó minha rosa encarnada,
Ao cimo do Alentejo
Chega a vossa nomeada.

Senhora do Almotão
Minha tão linda arraiana,
Vira as costas a Castela,
Não queiras ser castelhana!

Não queiras ser castelhana
(Ai) Nossa Senhora da Póvoa, (bis)
Minha boquinha de riso,
Minha maçã camoesa (bis)
Criada no paraíso. (bis)

Senhora do Almotão,
A vossa capela cheira:
Cheira a cravos, cheira a rosas,
Cheira à flor da laranjeira.

Cheira à flor da laranjeira
(Ai) Nossa Senhora da Póvoa, (bis)
Minha boquinha de riso,
Minha maçã camoesa (bis)
Criada no paraíso. (bis)

Informação complementar:
Canção gravada em Dezembro de 1929, em Lisboa, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Afonso de Sousa e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, BL 1005 e Columbia, GL 108, master P. 634). O disco contém as seguintes indicações: “Canção da Beira-Baixa” e “Arranjo de Arthur Paredes”; em boa verdade, trata-se duas canções, como aliás o próprio título sugere, Senhora do Almotão, uma, e Senhora da Póvoa, outra, ambas da Beira-Baixa, reunidas numa só, como numa suite, funcionando a 2ª como refrão.

A Senhora do Almotão, venerada em Idanha-a-Nova, tem a sua festa 15 dias após a Páscoa. Em tempos antigos, esta canção não se cantava com refrão mas, ultimamente, têm-lhe acrescentado algumas formas de refrão. A canção tem variantes, podendo a melodia ser em tom maior ou em tom menor. No disco vem Almotão e não Almurtão; uma outra forma é Almortão; todas estas variantes são correctas mas, a primeira, a que vem no disco, parece-me ser a preferível para efeitos da discografia.
A Senhora da Póvoa, festejada na antiga aldeia de Vale de Lobo, hoje Vale da Senhora da Póvoa, concelho de Penamacor, é na 2ª feira de Pentecostes. A canção também tem variantes musicais e literárias.

A gravação de Edmundo de Bettencourt encontra-se disponível em vinil (LP Fados de Coimbra – Edmundo Bettencourt, EMI, editado em 1984) e também está disponível em compact disc:
CD Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
Um Século de Fado/Ediclube, CD Nº 1, editado em 1999:
CD O Poeta e o Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, editado em 1999.

Vários outros cantores gravaram esta linda canção mas, por vezes, a letra aparece a(du)lterada, incluindo em livros, consequência de aprendizagens de outiva.
Outros compact discs:
CD José Afonso – Fados de Coimbra, Movieplay, SO 3003, editado em 1996;
CD Do Choupal até à Lapa – Grupo de Fados da AAEC da Madeira, EMLI, s/n e s/d (canta Luis Filipe Costa Neves);
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.332/B, editado em 1996 (José Afonso).

SAUDADINHA (Ó tirana saudade)
Música: Popular
Letra: Popular
Edição musical:

I
Ó tirana saudade,
Ó minha saudadinha,
Foste nada no Faial,
Baptizada na Achadinha.

II
Saudade, onde tu fores
Leva-me, podendo ser:
Eu quero ir a acabar
Onde tu fores morrer.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. O 1º e 3º versos cantam-se três vezes seguidas e o 2º e o 4º apenas se cantam uma só vez, precedidos da palavra saudade (substituída por no Faial no 3º para o 4º verso da 1ª quadra.
A letra é a gravada em 1929, em Lisboa, por Edmundo Bettencourt, acompanhado à guitarra por Artur Paredes e Afonso de Sousa e, à viola, por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia, BL 1005 e Columbia, GL 108, master P. 659); nele vem a indicação de “Canção Açoriana”.
Disponível em vinil a partir de 1984 (LP Fados de Coimbra – Edmundo Bettencourt, EMI). Também em compact disc:
CD Fados from Portugal, Heritage, HT CD 15, editado em 1992;
CD Arquivos do Fado/Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994;
CD O Poeta Cantor, 560 5231 0047 2 5, Valentim de Carvalho, editado em 1999.

A 1ª quadra vem no Cancioneiro Geral dos Açores, 2º volume, pág. 321, com a variante “Foste nada na cidade”; a 2ª quadra vem no Cancioneiro Popular Português, II volume págs. 106, 110 e 119, uma outra variante vem em Um Esquema do Cancioneiro Popular Português, de Afonso Duarte, da Seara Nova, a pág. 10, e uma outra no Cancioneiro de Fernando de Castro Pires de Lima, FNAT, 1962, a pág. 53.

Esta canção foi depois gravada por Luiz Goes, acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão e Aires de Aguilar e, à viola, por António Toscano e Fernando Neto Mateus da Silva (EP Columbia, 8E 016 40135, de 45 rpm); o disco foi depois incluído no LP Canções da Vida e do Mar – Columbia, 11C 072-40015. Disponível em compact disc:
CD Luiz Goes – Canções do Mar e da Vida, EMI-VC, editado em 1995;
CD Luiz Goes – Homem só meu Irmão, EMI-VC (Caravela), editado em 1996;
Integral 1952-2002 de Luiz Goes, editado em 2002, CD N.º 2.

Gravações disponíveis em compact disc de outros cantores:
CD Relíquias – Tertúlia do Fado de Coimbra, Edisco 25, editado em 1994 (canta Nuno de Carvalho).

Lisboa, 25 de Outubro de 2005

[1] Para um melhor conhecimento do Cantor e do Poeta recomenda-se NO RASTO DE EDMUNDO BETTENCOURT, de António Nunes, Funchal, 1999, e RETRATOS DE POETAS QUE CONHECI, de João Gaspar Simões, Brasília Editora, 1974.
[2] Os discos BL 1002, BL 1003 e BL 1004, cujos números de catálogo talvez estivessem destinados à 2ª série das gravações de Edmundo Bettencourt, são do tenor Tomás Alcaide (Gosto de ti, Amor é cego e vê, Beira Mar, Não quero o teu amor…). Só nos discos da 2ª edição é que a numeração é seguida (GL 101 a GL 108).

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