quinta-feira, fevereiro 09, 2006

ASAS BRANCAS
Música: Afonso de Sousa (1906-1993)
Letra: Afonso de Sousa (1906-1993),”sobre um tema de Almeida Garret”
Incipit: Quando era pequenino a desventura
Origem: Coimbra
Data: 1928



Quando era pequenino a desventura
Trazia-me saudoso e triste o rosto,
Assim como quem sofre algum desgosto,
Assim como quem chora de amargura.

Um anjo de asas brancas muito finas,
Sabendo-me infeliz mas inocente,
Cedeu-me as suas asas pequeninas,
Para me ver voar e ser contente.

E as asas de criança, meu tesoiro,
Ao ver-me assim tão triste, iam ao céu...
Tão brandas, tão macias - penas de oiro -
Tão leves como a aragem... como eu!

Cresci. Cresceram culpas juntamente,
Já grandes são as mágoas mais pequenas!
As asas brancas vão-se... e ficam penas!
Não mais subi ao céu, nem fui contente.

As quadras cantam-se duas a duas, sem repetir verso algum.
Esquema do acompanhamento:
1º dístico: Mi menor, 2ª Mi, Mi menor /// Mi menor, Dó maior, 2ª Mi;
2º dístico: Lá menor, Sol 7, Ré 7 /// Lá menor, Ré 7, 2ª Mi menor;
3º dístico: Mi menor, 2ª Mi, Mi menor /// Sol 7, Dó maior;
4º dístico: Lá menor, Ré 7, Mi menor /// Mi menor, Solb maior, 2ª Mi, Mi menor;

Informação complementar:
Canção com uma só parte musical, originariamente em compasso quaternário (4/4) e tom de Mi Menor. A primeira gravação foi concretizada por Armando do Carmo Goes, em Lisboa, nos inícios de Setembro de 1929: 78 rpm “Azas Brancas”, His Master’s Voice E. Q. 238, master 30-2092, acompanhado em 1ª e 2ª guitarras toeiras de Coimbra por Albano Félix de Noronha e Afonso de Sousa. Estamos em presença de uma inspirada composição de Afonso de Sousa, de grande beleza musical e poética. Armando Goes interpreta o tema com grande escorreiteza fonética, clareza de dicção e moderação sentimental. Albano de Noronha apresenta um arranjo criativo, sobretudo na Introdução e no Separador situado entre a 2ª e a 3ª estrofes. Trata-se de uma composição emblemática da comummente chamada “Década de Oiro do Canto e da Guitarra de Coimbra”, ou mais rigorosamente, de uma master piece do Primeiro Modernismo da Canção de Coimbra. A letra transcrita corresponde integralmente à versão fonográfica fixada por Armando Goes. Afonso de Sousa, "Do Choupal até à Lapa", 2ª edição, Coimbra, Coimbra Editora, Lda., 1988, pág. 65, fixa como versão definitiva uma variante literária da primitiva, com alterações na 3ª estrofe (3º e 4º versos) e na 4ª (3º e 4º versos).
António Bernardino gravou ASAS BRANCAS no tom de Ré Menor, no 45 rpm “Fados de Coimbra”, ALVORADA, FPD EP 6848-B, ano de 1966, Lado B, acompanhado por António Portugal/Manuel Borralho (gg) e Rui Pato (v). Registo banal, ressentindo-se da falta de vivacidade, com esmorecimento nas notas mais graves.
Canção gravada em 1969 por Luiz Goes, no tom de Ré Menor, acompanhado à guitarra por João Carlos Bagão e Aires Máximo de Aguilar e, à viola, por António Toscano e Fernando Neto Mateus da Silva (disco Columbia, 8E 016 40135, de 45 rpm). Disponível em long play (LP “Luiz Goes – Canções do Mar e da Vida”, Columbia, 11C 072-40015) e em compact disc: CD “Luiz Goes – Canções do Mar e da Vida”, EMI 7243 8 33480 2 2, editado em 1995; idem, “Luiz Goes. Canções para quem vier. Integral (1952-2002)”, Lisboa, EMI-Valentim de Carvalho 7243 5 80297 2 7, ano de 2002, cd nº 2, faixa nº 18. Interpretação a todos os títulos excepcional, tanto do ponto de vista da vocalização, como do arranjo instrumental alinhavado por João Bagão. Afonso de Sousa que possuía um exemplar do disco, ofertado por Luiz Goes, considerava esta versão superior as quaisquer outras conhecidas até ao ano de 1989. Em todo o caso, Luiz Goes não segue com fidelidade o texto originalmente cantado por seu tio Armando Goes.
Canção gravada em 1983 por José Mesquita, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Luis Filipe Roxo Ferreira: álbum vinil “Tempo(s) de Coimbra”, editado em 1984, disco 2, reeditado em 1990, vertido em compacto disc em 1992 e 2005. A letra cantada por José Mesquita afasta-se das variantes de Afonso de Sousa e da versão de Luiz Goes:
-no 6º verso canta “Ao ver-me assim tão triste mas inocente”;
-no 9º suprime a conjunção copulativa inicial, ouvindo-se “As asas de criança, meu tesoiro”;
-no 11º verso, 3ª quadra, ao substitui “brandas”por “brancas”;
-no 13º verso, ao substitui “culpas” por “penas”;
-no 15º verso acrescenta a conjunção copulativa «e», que não figura nem na versão Armando Goes, nem na de Luiz Goes, nem na letra publicada pelo próprio Afonso de Sousa.
Luís Alcoforado gravou também esta composição em Março de 1991: LP “Coimbra em Canções. Praxis Nova”, Paços de Brandão, AURASTÚDIO, 1991, Lado A, Faixa nº 2, acompanhado por Paulo Soares (g) e Luís Carlos Santos/Carlos Costa (vv). Registo remasterizado no CD “praxis Nova. Percursos. Colectânea de Canções de Coimbra”, Porto, Fortes & Rangel, CDM 003, ano de 1998, faixa nº 5. Arranjo criativo de Paulo Soares.
Gravada em Abril de 2001 pela formação Verdes Anos: CD “Verdes Anos”, Coimbra, Public-art editora, pa-19101, ano de 2001, faixa nº 9. Grupo constituído por Miguel Drago (g), Luís Barroso (g), João Pedro Martins (v) e os cantores António Dinis, Gonçalo Mendes e Rui Seoane. Na ficha técnica não se especifica quem seja o cantor (Seoane?), nem o autor do arranjo.
Gravada por Augusto Camacho Vieira, no CD “Augusto Camacho. Coimbra Encantada”, Ovação, 394 CD, ano de 2004, faixa nº 15, acompanhado por Carlos Jesus/António Jesus (gg) e Bernardino Gonçalves (v).
Outro registo no CD “António Vecchi – Guitarra chora baixinho”, Lisboa, Movieplay, 30279, editado em 1992. Desconhecemos dados biográficos relativos a este cantor, parente do músico Octávio Vecchi, o qual foi acompanhado por tocata encabeçada por António Chainho.

Transcrição musical: Octávio Sérgio (2006)
Texto e pesquisa: José Anjos de Carvalho e António M. Munes
Agradecimentos: Dr. Afonso de Sousa, Dr. Artur Ribeiro (Museu Académico), Dra. Mariberta Carvalhal, Maestro Virgílio Caseiro

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