Fresco de Luca Giordano, existente no Palácio Medici-Riccardi, de Florença, executando entre 1684-1686.
Nas antigas praxes conimbricenses, praticou-se por séculos, no primeiro dia de aulas, o ritual do CANELÃO à Porta Férrea. No túnel dessa porta alinhavam em duas filas paralelas os veteranos, formados pelos Candeeiros (Quartanistas) e Carontes (Quintanistas), à espera dos primeiros Novatos que iam às aulas aos Gerais. À medida que os timoratos novatos se aproximavam, cresciam os gritos, as gargalhadas e as mais intimidatórias chufas. A passagem do túnel da Porta Férrea era comparada à travessia do Rio Aqueronte, ou Rio dos Mortos da mitologia grega. Empurrados e pontapeados, os novatos só conseguiriam livrar-se da sova se arranjassem um Caronte padrinho que lhes colocasse a pasta com fitas sobre a cabeça.
Filho de Érebo e de Nix, Caronte era o barqueiro que conduzia os mortos ao Hades. A assimilação oral do mito grego e sua incorporação na praxe conimbricense parece dever-se a uma sincretização de leituras da "Eneida" (Virgílio), da "Divina Comédia"(Dante) e de referências a Pausanias. Na versão praxística coimbrã, Kháron revela-se menos um ancião esquálido e esfarrapado e mais um garboso quintanista em luzido brilho sapiente (Caronte, também significa "brilho intenso").
Desaparecido da UC por 1904, ainda se podem encontrar manifestações residuais do Canelão nos pontapés com com os jogadores de futebol da Académica baptizam anualmente os novos jogadores da equipa, e também na entrada em campo dos novos atletas da Secção de Rugby da AAC.
AMNunes
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