Biografia de Elias de Aguiar inserta na Tese de Mestrado de Virgílio Caseiro em 1992, sobre a História do Orfeon Académico.
O padre Dr. Elias de Aguiar nasceu em 1880 em Vila do Conde.
Após ter frequentado o Seminário de Braga, onde se ordenou, matriculou-se em 1906 na Faculdade de Teologia de Coimbra. Terminado este curso inscreveu-se, como aluno, nas Faculdades de Letras e de Direito da mesma cidade, e nestas se viria também a licenciar.
Foi professor do Seminário de Coimbra nas cadeira de Moral e Dogmática Especial, Teologia Fundamental e Filosofia. Foi também professor de História da Música na Faculdade de Letras.
Assumiu a regência do O.A.C. em 1914, após o interregno de António Joyce, vindo a apresentar o organismo em público em Março de 1915.
Como regente, acompanhou o Orfeon nas viagens triunfais que este realizou a Espanha e a França. Em 1932, por razões de saúde, fez a sua última apresentação artística pública, em sarau realizado no Coliseu dos Recreios de Lisboa.
Em 24/5/1929 foi-lhe prestada uma homenagem pela Academia de Coimbra, a que se associou a cidade. Durante o acto, o Governador Civil colocou-lhe as insígnias da Ordem de Santiago, com que o Governo o havia agraciado.
Parecida homenagem lhe prestou também o povo da sua terra natal, em frente da porta da sua casa, pelos relevantes serviços prestados a Vila do Conde, tendo-lhe sido oferecida então uma obra de arte, a perenizar a data.
Os anos consagrados ao O.A.C. podem entender-se como o ponto mais alto de toda a sua realização artística. Pena foi que os, problemas graves e constantes de saúde, que sempre o acompanharam, o tivessem impossibilitado de concretizar muitos projectos e outros tantos espectáculos. A asma e a bronquite dificultaram-lhe o dia a dia, tendo vindo a ser, inclusive, a causa da sua morte.
Dedicou às coisas da educação e da cultura toda a sua vida, e a maneira desinteressada como a elas se entregava, criou-lhe mesmo graves problemas de sobrevivência económica, o que o levou, por mais de uma vez, a refugiar-se na sua terra natal, abandonando Coimbra.
Da sua maneira de ser e de estar, seja permitido transcrever aqui dois contemporâneos seus: ''É então que, em 1914, surge, como por milagre, a figura altamente simpática, culta e bondosa do Dr. Elias de Aguiar...; ...aí tínhamos nós o ensaio geral, sob a regência do Sumo Pontífice de tudo aquilo, - o simpático Dr. Elias de Aguiar, o qual, por sofrer de uma bronquite um tanto assanhada, nos aparecia com o pescoço envolto num cachecol.; ...ao nervosismo de Joyce, opôs-se a serenidade que confunde, à frase destoante e viva a fustigar uma desafinação, sucedeu um cair de braços em desencanto, que teve o condão de estabelecer a harmonia nos tons em conflito de irmandade sonora''[1] E ainda:
''Era na igreja antiga de S. Bento,
-Velha e de velha abandonada, enfim...-
De altos zimbórios, de profundas naves,
Onde zunia o vento,
Onde dormiam as nocturnas aves...
Era na velha igreja que ficava
à beira dum jardim,
Cercada de chorões e buganvílias,
À sombra das olaias e das tílias:
Pois era ali que o Orfeon cantava!...
Acendia-se a luz do acetileno;
Formava no estrado o Orfeon;
De preto, no pescoço, um cachecol,
-Tão apagado e simples de figura,
Mas que ao reger se anima e transfigura
E alumia à roda como um sol...-
Vinha o Dr. Elias de Aguiar,
Que nos lábios premia o Lamiré
Para nos dar o tom...
<>
A sua fronte, onde alvejavam cãs,
Revestia-se, então, de um ar solene...
E ao levantar o braço
Irrompia qual nuvem pelo espaço
A torrente sonora:
O Ámen, os Titães,
Que aos sentidos me vêm a toda a hora!...''[2]
Elias de Aguiar viria a morrer a 23 de Março de 1936.
[1]- Carta de Jorge Seabra ao Orfeon, em Fevereiro de 1955, incluída no livro de comemoração dos 75 anos desta Instituição.
[2]- Fausto José em carta enviada ao O.A.C., aquando das Bodas de Diamante e a incluir no seu livro intitulado Memórias de Coimbra.
Após ter frequentado o Seminário de Braga, onde se ordenou, matriculou-se em 1906 na Faculdade de Teologia de Coimbra. Terminado este curso inscreveu-se, como aluno, nas Faculdades de Letras e de Direito da mesma cidade, e nestas se viria também a licenciar.
Foi professor do Seminário de Coimbra nas cadeira de Moral e Dogmática Especial, Teologia Fundamental e Filosofia. Foi também professor de História da Música na Faculdade de Letras.
Assumiu a regência do O.A.C. em 1914, após o interregno de António Joyce, vindo a apresentar o organismo em público em Março de 1915.
Como regente, acompanhou o Orfeon nas viagens triunfais que este realizou a Espanha e a França. Em 1932, por razões de saúde, fez a sua última apresentação artística pública, em sarau realizado no Coliseu dos Recreios de Lisboa.
Em 24/5/1929 foi-lhe prestada uma homenagem pela Academia de Coimbra, a que se associou a cidade. Durante o acto, o Governador Civil colocou-lhe as insígnias da Ordem de Santiago, com que o Governo o havia agraciado.
Parecida homenagem lhe prestou também o povo da sua terra natal, em frente da porta da sua casa, pelos relevantes serviços prestados a Vila do Conde, tendo-lhe sido oferecida então uma obra de arte, a perenizar a data.
Os anos consagrados ao O.A.C. podem entender-se como o ponto mais alto de toda a sua realização artística. Pena foi que os, problemas graves e constantes de saúde, que sempre o acompanharam, o tivessem impossibilitado de concretizar muitos projectos e outros tantos espectáculos. A asma e a bronquite dificultaram-lhe o dia a dia, tendo vindo a ser, inclusive, a causa da sua morte.
Dedicou às coisas da educação e da cultura toda a sua vida, e a maneira desinteressada como a elas se entregava, criou-lhe mesmo graves problemas de sobrevivência económica, o que o levou, por mais de uma vez, a refugiar-se na sua terra natal, abandonando Coimbra.
Da sua maneira de ser e de estar, seja permitido transcrever aqui dois contemporâneos seus: ''É então que, em 1914, surge, como por milagre, a figura altamente simpática, culta e bondosa do Dr. Elias de Aguiar...; ...aí tínhamos nós o ensaio geral, sob a regência do Sumo Pontífice de tudo aquilo, - o simpático Dr. Elias de Aguiar, o qual, por sofrer de uma bronquite um tanto assanhada, nos aparecia com o pescoço envolto num cachecol.; ...ao nervosismo de Joyce, opôs-se a serenidade que confunde, à frase destoante e viva a fustigar uma desafinação, sucedeu um cair de braços em desencanto, que teve o condão de estabelecer a harmonia nos tons em conflito de irmandade sonora''[1] E ainda:
''Era na igreja antiga de S. Bento,
-Velha e de velha abandonada, enfim...-
De altos zimbórios, de profundas naves,
Onde zunia o vento,
Onde dormiam as nocturnas aves...
Era na velha igreja que ficava
à beira dum jardim,
Cercada de chorões e buganvílias,
À sombra das olaias e das tílias:
Pois era ali que o Orfeon cantava!...
Acendia-se a luz do acetileno;
Formava no estrado o Orfeon;
De preto, no pescoço, um cachecol,
-Tão apagado e simples de figura,
Mas que ao reger se anima e transfigura
E alumia à roda como um sol...-
Vinha o Dr. Elias de Aguiar,
Que nos lábios premia o Lamiré
Para nos dar o tom...
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A sua fronte, onde alvejavam cãs,
Revestia-se, então, de um ar solene...
E ao levantar o braço
Irrompia qual nuvem pelo espaço
A torrente sonora:
O Ámen, os Titães,
Que aos sentidos me vêm a toda a hora!...''[2]
Elias de Aguiar viria a morrer a 23 de Março de 1936.
[1]- Carta de Jorge Seabra ao Orfeon, em Fevereiro de 1955, incluída no livro de comemoração dos 75 anos desta Instituição.
[2]- Fausto José em carta enviada ao O.A.C., aquando das Bodas de Diamante e a incluir no seu livro intitulado Memórias de Coimbra.
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