sábado, março 04, 2006


Virgílio Caseiro Comendador. Foi ontem agraciado com as insígnias de Comendador da Ordem de Santiago de Espada. Não tive o privilégio de assistir ao acto, por compromissos assumidos anteriormente com os Antigos Tunos.
Os meus parabéns Virgílio! Justiça te seja sempre feita!
Notícia do Diário das Beiras de hoje, por Patrícia Cruz Almeida com foto de Carlos Jorge Monteiro. Posted by Picasa


Antigos Tunos na Póvoa - Cós, Alcobaça. Daniel Tapadinhas, em trompete; Regente, Augusto Mesquita. Espectáculo realizado ontem, dia 3.Posted by Picasa


Antigos Tunos na Póvoa - Cós, Alcobaça. Ensaio do grupo de "Fados": Mário Rovira, Victor Nunes e Heitor Lopes a cantar; Humberto Matias (v) e Octávio Sérgio (g). Espectáculo realizado ontem, dia 3.Posted by Picasa


Meireles e Jorge Gomes Posted by Picasa
Momento descontraído na oficina de Fernando Meireles, em 15/02/2002. Meireles afina e experimenta o bandolim proveniente da oficina de Manuel Ferreira Neves, sob o olhar atento do "Mestre" de Guitarra de Coimbra Jorge Gomes.
AMNunes


Fernando Meireles Posted by Picasa
Visita de estudo e momento de convívio informal na oficina de Fernando Meireles/TAUC, em 15/02/2002. Estiveram presentes Carlos Alberto Dias, Jorge Gomes, António Ralha e António Nunes. Foram fotografados e medidos diversos cordofones. Meireles está a tirar os moldes do bandolim apresentado nas fotos anteriores. Na data apontada, Fernando Meireles era já um primus inter pares na construção da Viola Toeira, Guitarra de Coimbra e Sanfona. Tinha acabado de "inventar" um bandolim de excepcional qualidade, dedicando ainda parte do seu tempo ao grupo REALEJO.
AMNunes


Bandolim de Coimbra (4) Posted by Picasa
Grande plano do remate do braço e pá de cravelhas. É visível o restauro efectuado por Jorge Gomes.
AMNunes


Bandolim de Coimbra (3) Posted by Picasa
Fotografia de frente, estando o bandolim sobre o banco de trabalho de Fernando Meireles.
AMNunes


Bandolim de Coimbra (2) Posted by Picasa
Costas do cordofofe pertencente a Carlos Alberto Dias.
AMNunes


Bandolim de Coimbra (1) Posted by Picasa
Gracioso bandolim proveniente da oficina do violeiro Manuel Ferreira Neves, Coimbra, Beco de Montarroio. Fabrico artesanal, datável da década de 1940 (?), com tampo inferior, ilhargas, cravelhas e pá em pau santo, sendo o tampo superior em casquinha. Voluta em ferradura, muito apreciada pelos violeiros conimbricenses de setecentos/oitocentos, com 8 "carrapetas" de madeira. Tem 29,9 cms de corda vibrante, boca de 5 cms, ilharga oscilando entre os 3 cms (ao cepo) e os 3, 5 cms (ao atadilho), caixa de 18 cms, escala com 2, 9 cms (em cima) e 3, 4 cms (em baixo), com pontos de latão amarelo, cavalete e pestana em osso. Apresenta ornamentação tipicamente conimbricense, muito austera e comedida (flor oval em madrepérola na voluta) e filetes lineares nos rebordos da caixa e boca.
Este bandolim, pertencente a Carlos Alberto Dias, grande dinamizador dos Salatinas Amigos da Alta de Coimbra, foi medido por Jorge Gomes na oficina de Fernando Meireles, no dia 15 de Fevereiro de 2002.
Foto e texto: AMNunes


Frescos da República dos Paxás Posted by Picasa
Apontamento da caixa das escadarias da antiga República dos Paxás (31/01/1950; 1987), focando um grelado de Direito e um veterano no acto de apadrinhamento de um caloiro. Esventrado de telhado, portas e janelas, o prédio da Vila Bento achava-se em adiantado estado de degradação no mês de Fevereiro de 1988, data da presente fotografia.
Já havíamos publicado neste mesmo Blog uma fotografia de uma serenata mural colhida no interior do prédio, cuja legenda era omissa quanto ao nome do autor do trabalho. Relendo a longa reportagem que o jornal "O Primeiro de Janeiro", de 3ª feira, 24 de Fevereiro de 1959, dedicou a esta República de estudantes, a propósito da visita do escritor brasileiro Erico Veríssimo (23/02/1959), ficamos a saber que as pinturas murais que tanto extasiaram Veríssimo eram da autoria de VARELA DOS REIS (quem seria este grácil manejador do pincel?).
Vale a pena recordar que Erico Veríssimo esteve em Coimbra nos dias 22 e 23 de Fevereiro de 1959, tendo cumprido o seguinte programa cultural:
-visita aos espaços turísticos de Coimbra;
-almoço num "restaurante típico" de Santa Clara;
-passagem pelo Portugal dos Pequenitos (foto do escritor com capa e fitas na réplica do edifício da UC, in "O Primeio de Janeiro", op. cit.);
-visita à UC, incluindo a Sala dos Capelos e a Biblioteca Joanina;
-visita à Associação Académica então alojada no Colégio dos Grilos, com demora nas salas do Museu Académico;
-palestra no Teatro Avenida;
-visita à Real República dos Paxás com entrega do diploma de Paxá Honoris Causa, ceia de gala (com estudantes e vários lentes);
-serenata de homenagem ao escritor, estando Veríssimo numa das janelas do andar superior da República dos Paxás (que formação terá realizado a serenata?).
A propósito do derradeiro ponto do programa de homenagem a E. Veríssimo se pode constatar que que o ritual das serenatas conimbricenses nunca visou unica e exclusivamente o cortejamento amoroso feminino, comportando outras dimensões comunicacionais e artísticas que também abarcavam, entre outras manifestações culturais (festividades estudantis, Festas da Rainha Santa Isabel, Fogueiras de São João), actos de homenagem a importantes figuras. Podemos exemplificar, sem quaisquer precupações de datas, serenatas de homenagem a António Feliciano de Castilho, El-Rei D. Carlos, Rainha D. Amélia, Príncipe D. Luís Filipe, Augusto Hilário, Erico Veríssimo, Edmundo Bettencourt, e a famosa serenata dedicada ao cirurgião sul-africano Christian Barnard (12/03/1968).
AMNunes

sexta-feira, março 03, 2006


José Parente Posted by Picasa
Retrato do executante de Guitarra de Coimbra e compositor José Parente, publicado em "O Notícias Ilustrado", Nº 44, Série II, de 14 de Abril de 1929, em publicidade à editora His Master's Voice. Durante muito tempo interroguei-me sobre quem seria este compositor e executante de bom nível, presente em gravações de Felisberto Ferreirinha, Alexandre Rezende e nos discos em que é solista de inúmeras "guitarradas".
Para se ter uma pequena ideia, Parente gravou por volta de 1927, com Felisberto Ferreirinha (cantor) e Campos Costa (violão), na Parlophone, os temas Fado da Praia, Fado da Sugestão, Fado Antigo de Coimbra, Fado da Graça, Fado da Enfermeira, Fado das Perdidas, Fado da Beira Mar, Fado do Queixume, Fado Maria (=Manassés) e Pálidas Madrugadas (=Fado das Ruas); mais ou menos pela mesma altura, também na Parlophone, gravou com Alexandre Rezende (voz) e Campos Costa (violão) uns 8 temas nos estilos Coimbra e Lisboa; ao longo de 1928 fez pelo menos 4 sessões de gravações em Lisboa (com Abel Negrão) onde tocou instrumentalmente peças de sua autoria e umas 7 a 8 composições de Paulo de Sá (melodias de temas cantáveis).
Ele há estranhas coincidências. Tendo em conta a passagem dos 10 anos do falecimento do antigo estudante da Faculdade de Letras da UC, 1º violino da TAUC e executante "envergonhado" de Guitarra Toeira de Coimbra Vergílio Ferreira (28/01/1916; 01/03/1996) telefonei à Dra. Mariberta Carvalhal a pedir-lhe que me ajudasse a encontrar a referência que o escritor deixou no diário à famosa Serenata Monumental de 1989 transmitida pela RTP. Conversa puxa conversa, lá clarificámos que Vergílio visionou emocionadíssimo a transmissão em directo da Serenata Monumental da Queima das Fitas de 5 de Maio de 1989, conforme regista no "Conta Corrente", 2ª Série, 1989, pág. 79, com alusões à sua querida colega de curso Mariberta Carvalhal. Daqui saltámos para um longo artigo de Jorge Costa Lopes, "A paixão da música segundo Vergílio Ferreira", Suplemento Das Artes Das Letras, O Primeiro de Janeiro, de 27 de Fevereiro de 2006, págs. 6-12. Pois não é que os Parentes foram importantes figuras dos meios musicais de Gouveia/Manteigas, activos nas décadas de 1920/1930 (tuna, Orfeão de Gouveia, serões musicais)?
O Padre António de Jesus Hipólito Parente, pároco de Melo a partir de 1925, professor de violino de Vergílio Ferreira, sabia música, fundou uma tuna local, e tocava diversos instrumentos. Um outro irmão, o Padre Joaquim Dias Parente, pároco em Manteigas, tocava magistralmente Guitarra de Coimbra. Era autor de peças como "Fado do Pastor" e "As Sardinheiras". Considerado bom artista na execução da guitarra, mas inferior a Joaquim Parente, era o mano José Parente. José Parente tinha uma filha, Maria Natália da Fonseca Parente, com nomeada na região serrana pelas suas execuções pianísticas. O periódico local, "Notícias de Gouveia", de 17 de Fevereiro de 1933, descreve o programa de um sarau de homenagem ao Padre António Parente (já então padre em Gouveia), organizado pelo Orfeon de Gouveia, onde além dos trechos de piano e de violino, brilharam na 4ª parte nas "guitarradas" os manos Padre Joaquim Dias Parente e José Parente. Além de inveterados melómanos, os manos Parentes eram musicalmente ilustrados.
A identificação de executantes de guitarra em Gouveia no 1º quartel do século XX é um dado importante, como que a confirmar as vendas de cordofones construídos nas oficinas de Coimbra pelos diversos povoados da Beira Litoral e região serrana, corroborando ainda as suspeitas de José Alberto Sardinha quanto a uma mais ancestral implantação da Guitarra nos meios rurais (Cf. "Tradições muisicais da Estremadura", 2000). Afinal não era só em Anadia, Mealhada e Arganil que nos tempos da juventude de Antero da Veiga se tocava guitarra.
AMNunes


Manual de Viola da Terra Posted by Picasa
Frontispício da obra do formador Ricardo MELO, "Manual de Apoio ao Estudo da Viola da Terra Micaelense", Ponta Delgada, Direcção Regional dos Assuntos Culturais, 2005. Estamos em presença de um importante manual de iniciação ao conhecimento e toque tradicional da Viola da Terra usado na Ilha de São Miguel, Açores, com 44 páginas e um cd com 20 faixas sonoras, oficialmente apresentado na cidade de Ponta Delgada a 18 de Fevereiro de 2006.
Ricardo Melo, formador de Viola da Terra no Conservatório de Ponta Delgada, disciplina onde sucedeu condignamente ao Mestre Miguel Pimentel, brinda-nos com um método onde se espraia sobre o historial da viola de arame regional, respectivo sistema de encordoamento e afinação, técnicas de mão direita e de mão esquerda, escalas, acordes maiores e menores (tablaturas e fotografias) e diversas transcrições musicais de modas tradicionais.
O cd tem o mérito de apresentar aos alunos 20 trechos de modas (canções) e "bailhos" (=danças) em 1ª e 2ª violas interpretadas separadamente. Não deixo de exprimir algum contentamento ao (re)escutar estas modas que bailei e trauteei na minha juventude, quando entre 1983-1985 integrei o Grupo Folclórico Ilha Verde da Escola Secundária Domingos Rebelo onde reinava o Sr. Quental como tocador de Viola da Terra.
Bem se pode dizer destas modas que alguns incautos reputariam de muito "antigas", os fados coreográficos (Fado da Povoação, nº 1; Fado Furado, nº 2; Pézinho Velho, nº 13), o rema (=Bailho de Santa Maria), as valsas (pelo menos Chamarrita e Sapateia) e os minuetos (Raminho de Salsa=Flor da Murta) pouco recuam para trás de 1800. Os fados e as valsos não serão anteriores a 1820 no arquipélago. Surprendentemente, ou talvez não, nas Variações Sobre a Saudade (nº 20), Ricardo Melo remata a composição com um fado em modo menor. Esta versão só pode ser um acrescento posterior ao original, pois a Saudade enquadra-se no universo luso-brasileiro e açórico das modinhas da 2ª metade de setecentos. O mesmo diremos de modas polqueadas e contradanças (Casaca ou Abana) que encontramos noutras ilhas.
Ricardo Melo não é um ensinante amador. Possui ilustração musical e mostra dominar com grande à vontade a arte da viola de arame, individualizando-se do seu "mestre" Miguel Pimentel, por via de uma execução mais dura, em todo o caso com momentos de notáveis arrebatamentos virtuosísticos em Mangericão (nº 10), na Saudade e nos sempre belos quanto difíceis introdução+acompanhamento de Pézinho da Vila (nº 14).
Ricardo Melo executa as danças em ritmo comedido, posicionando-se assim num registo mais próximo das marcações originais dos bailes, cujas coreografias e respectivos ritmos puxavam ao arrastado, incluindo as tão convencionais vénias/mesuras/arquinhos de braços/mãos dadas, que nos remetem para as danças fidalgas de salão, não olvidando que no núcleo dos "bailhos velhos" de cada ilha ia um tocador de viola incorporado na roda. Ora, o levar um tocador na roda, implicava: a) que este direccionasse o braço da viola para a parte exterior da roda por forma a não chocar nos restantes pares de baile; b) não cingisse o seu par com mãos e braços, excutando a mulher toda a coreografia sem agarrar o tocador; c) o braço da viola fosse projectado de través e ao alto para para evitar embaraçosos choques; d) que o tocador menos habilidoso se socorresse do toque ao rasgado, modus faciendi que veio a predominar nas ilhas do Pico e Faial; e) que as coreografias fossem bem mais lentas do que as que vieram a ser inventadas por ensaiadores activos em Ponta Delgada nas décadas de 1940-1950.
Creio que neste particular, porquanto ligado a ranchos folclóricos locais, Ricardo Melo sabe distinguir entre tradições musicais da Ilha de São Miguel e "folclore formatado por ensaiadores de grupos folclóricos". Não quero com isto ofender a memória de homens como um Tenente Francisco José Dias (1907-1980), mas também não posso olvidar que se encontra entre os inventores da estranha, estrelada e saltitante coreografia do Fado da Povoação. Como também não esquecerei a fundadora do Grupo Ilha Verde, Ortrud Sachaale, cujo trabalho foi muito aplaudido nas décadas de 1960/1970. Mas cabe perguntar, Sachaale não reinventou largamente modas micaelenses, formatando-as aos gostos e ritmos turísticos e abafando quase criminosamente a Viola na Terra com a estridência da Guitarra de Fado (Mário Rangel, Francisco Sabino) nas proliferantes gravações de "eps" para a editora RAPSÓDIA?
Certa vez em Tebosa, Braga (década de 1960), Ernesto Veiga de Oliveira pretendia gravar uns tocadores de Viola Braguesa. Dispôs o gravador, solicitando ao rancho que começasse a avançar e a tocar, como que a ilustrar uma arruada ou um desfile de romeiros. Os instrumentistas alinharam ombros com ombros e começaram a tocar, de tal forma que os tambores presentes abafavam braguesas, cavaquinhos e tudo o mais que ali houvesse. Veiga de Oliveira, sem ofender ninguém, reorganizou o grupo, colocando na linha da frente os instrumentos de cordas menos potentes e atrás os tonitruantes tambores e concertinas.
A Viola da Terra, contrariamente ao que se possa pensar, presta-se à execução de repertório muito variado que vai do folclore ao Fado, passando por baladas e serenatas ao estilo de Coimbra, música "ligeira" e peças clássicas. Por saber das potencialidades deste cordofone e do tipo de repertório diversificado que abordou ao longo dos tempos, dei-me ao trabalho vão de escrever um artigo para o "Correio de Açores", à roda de 1990, onde a propósito da moda da realização de serenatas ao estilo de Coimbra pela Associação de Estudantes da Universidade dos Açores, sugeria a formação de grupos com Viola da Terra/rabeca/violão e amostragens da música local. Segundo vim a saber, o artigo caiu muito mal junto dos dirigentes associativos e promotores da Semana Académica que na altura contratavam grupos de Coimbra para realizaram serenatas na fachada da Igreja do Colégio de Jesus, mesmo atrás do "meu" Liceu. Não me dei ao cuidado de guardar o texto desse artigo, mas 15 anos passados não lhe alteraria os parágrafos, para mais sabendo que as minhas ideias vieram a ser corroboradas nas recolhas de José Alberto Sardinha.
A Viola da Terra não é um instrumento insularmente confinado. Os emigrantes levaram este cordofone nas suas bagagens para o Brasil, EUA e Canadá. Assim a pintou Domingos Rebelo à espera de embarque, no cais velho de Ponta Delgada. No plano das emoções e afectos, foi alvo das mais patológicas ciumeiras. Entendamo-nos: solteiros namoradores e e sisudos casados tratavam a sua viola com mais carinhos do que os prodigalizados às respectivas mulheres. Além de não ser "chata", a viola podia ser encordoada, afinada, limpa, puxada, ponteada, passeada às costas nos bailes, folias e romarias, deitada na cama de casal com as cordas para baixo (à falta de estojo). As incontáveis quadras feitas à viola de arame exprimem um amor constante, fiel e incorruptível, com o qual nenhuma mulher poderia concorrer. Deitar a viola na cama era supina afronta aos olhos de muitas casadas. Ali estava a rival que a qualquer momento poderia suscitar um convite para o tocador se deslocar a mais um baile onde também estariam bonitas mulheres. Da boca de uma, residente numa aldeola da Ilha do Pico, já entrada na casa dos 70, ouvi esta iracunda deixa em 2003: "Espere um boadinho que o Manuel foi cortar o cabelo. Ele tem a viola na cama. Quando morrer há-de levá-la com ele no caixão!"
Pena é que se tenham tirado apenas 150 exemplares de uma obra que pode ser tomada como exemplo de trabalho de iniciação de alunos noutras escolas, e da qual deveriam ficar depositadas amostras em conservatórios, escolas superiores de educação e espaços culturais ligados à emigração americana.
Uma palavra de felicitação ao autor pela sua aposta na salvaguarda e divulgação deste cordofone tradicional português.
AMNunes


Cartaz da digressão aos Açores, do Orfeon Académico de Coimbra. O seu Maestro Raposo Marques faleceu mesmo no termo desta digressão. Foto enviada por Álvaro Melo Albino, da Tertúlia Coimbrã de Miratejo. Posted by Picasa


Comitiva do Orfeon Académico de Coimbra à chegada a Santa Maria, na última viagem aos Açores com o Maestro Raposo Marques. Foto enviada por Álvaro Melo Albino, componente deste grupo de orfeonistas. Posted by Picasa


Notícia sobre a morte de Raposo Marques, em Setembro de 1966. Texto enviado por Álvaro Melo Albino, da Tertúlia Coimbrã de Miratejo que também se deslocou com o Orfeon nessa digressão. Posted by Picasa

quinta-feira, março 02, 2006


Orfeon Académico de Coimbra nos Estados Unidos em 1965. Carlos Ganho e Gomes Alves. Foto do espólio de José Miguel Baptista. Posted by Picasa


Orfeon Académico de Coimbra nos Estados Unidos em 1965. Vê-se José Miguel Baptista de pé, à esquerda. Esta foto pertence-lhe. De pé, mas curvado, Francisco Brito. Posted by Picasa


Orfeon Académico de Coimbra nos Estados Unidos em 1965. José Miguel Baptista (foto do seu vasto espólio), Gomes Alves, António Bernardino e Durval Moreirinhas, de pé. Em baixo, os irmãos Melo, Ernesto e Eduardo. Posted by Picasa


Orfeon Académico de Coimbra nos Estados Unidos em 1965. Eduardo Melo e António Bernardino estendem o braço, Ernesto Melo está sentado e Francisco Brito de pé a meio e à esquerda. Foto de José Miguel Baptista.Posted by Picasa


Orfeon Académico de Coimbra nos Estados Unidos em 1965. Entre outros podem ver-se Custódio Moreirinhas, Octávio Sérgio e José Miguel Baptista, a quem pertence esta foto. Posted by Picasa

quarta-feira, março 01, 2006


Coro dos Antigos Orfeonistas. 1 de Março, dia da Universidade. Acabou de se cantar uma Missa de Raposo Marques, em estreia, com regência de Virgílio Caseiro. Ao órgão esteve Joel Canhão, coadjuvado por Rui Paulo. Assistiu o Magnífico Reitor, Seabra Santos.
Foto de Rui Paulo. Posted by Picasa


Missa na Capela da Universidade. Vai cantar-se uma Missa de Raposo Marques pela primeira vez, para celebrar o aniversário da Universidade de Coimbra. É o Coro dos Antigos Orfeonistas, sob a regência de Virgílio Caseiro.
Foto de Paulo Soares.Posted by Picasa


Virgílio Caseiro rege o Coro dos Antigos Orfeonistas na Capela da Universidade, na comemoração do aniversário da Universidade de Coimbra. Posted by Picasa


Missa na Capela da Universidade cantada pelo Coro dos Antigos Orfeonistas. Ao órgão, Joel Canhão, coadjuvado por Rui Paulo. 1 de Março, dia da Universidade de Coimbra.Posted by Picasa

Vergílio Ferreira

Faz hoje dez anos que morreu Vergílio Ferreira.
*

Os pais de Vergilio Ferreira

Às 15 horas do dia 28 de Janeiro, sexta-feira, de 1916, em Melo, concelho de Gouveia, nasce Vergílio António Ferreira, filho de António Augusto Ferreira e Josefa Ferreira.
Em 1920, os pais de Vergílio Ferreira emigram para os Estados Unidos, deixando-o, com seus irmãos, ao cuidado de suas tias maternas. Esta dolorosa separação é descrita em Nitido Nulo. A neve - que virá a ser um dos elementos fundamentais do seu imaginário romanesco é o pano de fundo da infância e adolescência passadas na zona da Serra da Estrela.
Aos 10 anos, após uma peregrinação a Lourdes, entra no seminário do Fundão, que frequentará durante seis anos. Esta vivência será o tema central de Manhã Submersa.

Em 1932, deixa o seminário e acaba o Curso Liceal no Liceu da Guarda. Começa a dedicar-se à poesia. Entra para a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, continuando a dedicar-se à poesia, nunca publicada, salvo alguns versos lembrados em Conta-Corrente e, em 1939, escreve o seu primeiro romance, O Caminho Fica Longe. Licenciou-se em Filologia Clássica em 1940. Conclui o Estágio no Liceu D.João III (1942), em Coimbra. Começa a leccionar em Faro. Publica o ensaio "Teria Camões lido Platão?" e, durante as férias, em Melo, escreve "Onde Tudo Foi Morrendo". Em 1944, passa a leccionar no Liceu de Bragança, publica "Onde Tudo Foi Morrendo" e escreve Vagão "J". Na sua vida de professor liceal, há dois momentos fundamentais: a sua estada em Évora (1945-1958) - que entrará para o nosso imaginário através de Aparição - e a sua vinda para Lisboa (1959), onde ensinou no Liceu Camões até à sua reforma.

Em 1940: ano em que conclui em Coimbra o curso de Filologia Clássica

A primeira fase do seu percurso romanesco, agora retirada da edição da Obra Completa enquadra-se no neo-realismo então vigente. Ainda assim, Vagão J (1946) opera já uma pequena revolução sem consequências: o movimento neo-realista passou-lhe ao lado, e o autor, perante a incompreensão da crítica, recuou e só viria a reincidir muito mais tarde.

Com Mudança (1949) começa Vergílio Ferreira a conquistar a sua voz própria. Aliás, em maior rigor, dever-se-ia dizer que é a voz própria que começa a conquistar o seu autor. De facto, Mudança estava arquitectado para ser um romance neo-realista exemplar - e em muitos aspectos é-o; mas é também outra coisa, que posteriormente se veio a interpretar como sendo a deslocação do neo-realismo para o existencialismo. Tal deslocação ter-se-lhe-á imposto inconscientemente no processo de escrita, sobretudo no tratamento do tempo e da figura da infância. Na velocidade do tempo que estrutura o romance - e que decorre do modo de representação neo-realista: materialismo histórico e materialismo dialéctico, a figura da infância enquanto queda para o passado e queda tanto mais desamparada quanto esse passado não é apenas uma memória mas sobretudo o sem fundo que fecha e vela o próprio sentido do nosso trânsito pelo tempo, a figura da infância introduz a desaceleração que toda a hipótese de um sentido arqueológico introduz. Não significa isso que essa atenção ao mais original solucione os problemas de sentido - ela desloca apenas as coordenadas da procura. Mas com esse movimento transforma-se também o modo de representação.

Retrato de Dora que inspirou a Vergílio Ferreira a figura de Cristina nas páginas de Aparição

É já de uma forma deliberada que Vergílio Ferreira se distancia do neo-realismo nos romances escritos antes de Aparição (1959) mas só publicados depois deste. Em Apelo da Noite (1963) reivindica-se face ao homem de acção, o "crime de pensar "; em Cântico Final (1960) é a arte, como encontro de um "mundo original", de um sagrado ou absoluto agnóstico, que se furta a qualquer compromisso ideológico. Mas é Aparição - que juntamente com A Sibila (1953) de Augustina Bessa-Luís o romance português contemporâneo - que imporá o seu universo romanesco, seja naquilo a que se chamou, não sem verdade, mas com alguma pressa reducionista, o eu existencialismo, seja no seu estilo ensaístico ou filosofante. Tentando descrever a experiência , no limite inenarrável, do aparecimento do eu a si próprio, e circunscrevendo-a dentro de uma problemática decididamente metafísica e existencial, Aparição é o limiar de uma agónica mas sempre deslumbrada interrogação sobre a condição humana. Estrela Polar (1962) e sobretudo Alegria Breve (1965), onde o pathos da sua escrita atinge o ponto de máxima exacerbação mas também de máxima perfeição, além de aprofundarem e completarem a temática de Aparição, introduzem um experimentalismo que terá larga descendência na nossa ficção. A partir de Nítido Nulo (1972) o tom da sua obra começa a ser matizado pela ironia. É uma ironia que vem daquilo que o desgaste ensina .

Com a mulher e filho (Lisboa, 1970)

E o que ele ensina é que toda a verdade se esvazia, toda a evidência se torna opaca, todas as ideias pesam para o lado da morte. O pathos até aí predominante era o era o tom de quem falava do interior de uma evidência estética, de uma Stimmung umbilical. Nunca em Vergílio Ferreira uma árvore provoca náusea ou uma praia com sol induz um crime absurdo. Se há náusea (mas praticamente não a há) ou absurdo (este sim, mais visível), eles não começam logo na facticidade do mundo mas somente na condição humana em si mesma. O mundo apenas é. Experienciá-lo esteticamente é já um limiar de sentido. Daí que os narradores vergilianos se sintam tentados a configurá-lo como uma verdade, existencial e não sistemática, é certo, mas suficientemente segura para se afirmar contra todas as ideologias. Ora o que acontece no "niilismo activo " de Nítido Nulo, no seu "morrer tudo", é tudo envolve também esta hipótese de verdade que os narradores anteriores utilizavam como escudo no combate cultural. O deslizar insensível da aisthesis para o logos é agora difícil, e sê-lo-á cada vez mais. Por isso os romances se começam a distribuir por dois espaços - tempo: um passado onde decorre o diferendo ideológico - cultural, diferendo não só incomensurável como, em última instância (revelada por aquilo que o desgaste ensina), inútil; e um presente de pura afirmação de ser.

Vista nocturna de Évora - "Receei o escuro, voltei para a estrada de alcatrão que entra na rua da Lagoa. Cidade deserta, agora realmente deserta. Mas a minha exaltação figurava-a morta desde há séculos." (APARIÇÃO)

O primeiro pólo perderá progressivamente a sua capacidade de engendramento narrativo, o combate que nele se desenrolará é apenas o ruído do mundo, não uma alínea de qualquer história teleologicamente configurada - daí a paralisia da história em Signo Sinal (1979). O segundo pólo, impossibilitado agora de funcionar como " fundamento mítico " de uma macronarrativa, apresenta-se como uma espécie de justaposição de hauikus, de nós de revelação que não constróem o "sentido de um final " mas uma litania de apaziguamento, uma pietas para com aquilo que mais primordialmente somos - um sujeito - casa atravessado por tudo o que vem de todos os pontos cardeais, e todavia lateral a essas múltiplas orientações, sempre não sabendo, como em Para Sempre (1983) ou nas séries de Conta-Corrente (1890 a 1992).

É este não - saber que obriga Vergílio Ferreira ao continuar da escrita e faz que os narradores vergilianos envelheçam como o seu autor. Envelhecer, por exemplo, é passar de filho a pai. De Até ao fim (1987) a Cartas a Sandra (1996), o narrador, entre outras coisas, é um pai a quem o filho morre. O que morre na morte do filho é aquela força que não suporta a suspensão da história e se autodestrói na procura da resposta que não há. Poder-se-ia mesmo dizer que a morte do filho é a prova por absurdo de que a lateralidade axiológica em que se coloca o pai não é simplesmente a desistência do cansaço mas a sabedoria da suplementaridade, seja a do puro possível da verdade branca do mar que move Até ao Fim, seja a da ironia dos contrafactuais ontológicos que se experimenta em Na Tua Face (1993).
Envelhecer é também passar da despesa do tempo à sua reinvenção no absoluto da memória. Mas esta lição (ou condição) proustiana tem em Vergílio Ferreira as condicionantes contemporâneas de uma sociedade tardo-capitalista, aquela em que a redescrição metafórica do que foi não pode já competir com os meios tecnológicos de representação (cinema, TV, vídeo, etc.) e por isso constrói a afectividade do acontecimento puro: " Não bem o seu corpo esbelto como um voo de ave, mas só esse voo. Não bem a sua juventude eterna mas a eternidade. Não o gracioso dela mas a graça " (Em Nome da Terra , 1990).
Claro que há ainda romance, e até na sua dimensão mais consensual e acidentalmente romanesca, que é a da história de amor. Mas se, na sequência da tradição, também aqui o amor é aquilo que só se sabe depois, diferentemente dela, este depois não é a origem reencontrada mas um frágil presente que se sustenta apenas da escrita do nome amado, como em Cartas a Sandra, romance que deixa incompleto e que foi publicado no ano da sua morte. Vergílio Ferreira morre em Lisboa, a 1 de Março de 1996 e é sepultado em Melo.

Conversando com os alunos no Liceu Camões (Lisboa, 1981)

Neste presente, que é a perda serena de todas as estórias, desenha-se com nitidez a dificuldade contemporânea do fazer sentido. É dessa crise (de cultura e de civilização), das suas várias alíneas polemizantes (marxismo, estruturalismo, filosofia da linguagem), mas também daquilo que cria a esperança de um depois dela (a arte, os autores que se amam, a insistência do pensamento), que falam os inúmeros ensaios que Vergílio Ferreira também escreveu, com muito particular acerto Carta ao Futuro (1958), Inovação do meu corpo (1969) e Pensar (1992).

Texto e Fotos do site da Escola Secundária de Monserrate, Viana do Castelo.

relojes web gratis