sábado, junho 04, 2005


Virgílio Caseiro com o tenor Mikail Gubsky a dirigir a Orquestra Clássica do Centro. Actuaram ainda os "Antigos Orfeonistas" e Paulo Soares na Guitarra. Espectáculo realizado no Páteo das Escolas, na quinta-feira passada.
Foto do Diário de Coimbra de hoje. Posted by Hello


Ricardo Rocha acaba de ver reconhecido o seu valor, ao lhe ser atribuído o Prémio Revelação do ano de 2004, na área da música. Os três "Posts" que se seguem estão relacionados com este prémio. Vejam-se também os "Posts" do dia 29 de Maio, sobre o duplo CD "Voluptuária".
Parabéns, Ricardo; estamos contigo. Posted by Hello

Prémios Almada e Revelação Ribeiro da Fonte 2004

teatro dança música

João Brites e Igor Gandra no Teatro, Danças na Cidade e Vitalina Sousa na Dança e Filipe Pires e Ricardo Rocha na área da Música, foram os artistas e estruturas galardoados, respectivamente, com os Prémios Almada e Revelação Ribeiro da Fonte de 2004. Os prémios serão entregues em cerimónias públicas em datas e locais a confirmar.
O júri na área da Dança foi integrado por Cláudia Galhós, Cristina Peres, Luísa Taveira e Vasco Macide. Na área do Teatro, o júri foi constituído por Fernando Matos de Oliveira, Isabel Alves Costa, Mário Carneiro, Paulo Eduardo Carvalho e Rui Cintra. Na Música, o júri integrou Alexandre Delgado, Filipe Mesquita de Oliveira, Jorge Lima Alves, José Duarte e José Luís Borges Coelho. Todas as decisões foram tomadas por unanimidade.
Os Prémios Almada e Revelação Ribeiro da Fonte foram instituídos em 1998 com o objectivo de destacar anualmente os artistas, criadores ou intérpretes, estruturas de produção, difusão ou formação que se tenham distinguido no panorama artístico nacional nas artes do espectáculo.O valor dos prémios é de 25.000 €, para o Prémio Almada, e de 5.000 € para o Prémio Revelação Ribeiro da Fonte.

A guitarra é simplesmente um instrumento que não me agrada

Entrevista ao guitarrista Ricardo Rocha sobre o lançamento de “Voluptuária”. CD síntese e inovador sobre a guitarra portuguesa

Nem sempre as entrevistas servirão para promover um artista, como pretendem, na maioria das vezes, os seus produtores e agentes. Por vezes, fica-se apenas a conhecê-lo melhor, confundindo a personalidade do artista, músico no caso, com a sua arte. Ricardo Rocha reconhece que não tem a atitude ideal perante os media. Não lê entrevistas, notícias, críticas, etc. e por isso passa-lhe ao lado, por exemplo, o peso que significa ser chamado "sucessor de Carlos Paredes". O guitarrista, que aprendeu a mexer na guitarra portuguesa aos três anos, sente-se incomodado com o instrumento que toca, preferiria o piano, mas resignou-se. O que em termos de eventuais consumidores não será a atitude mais atraente. Nesta entrevista, realizada no dia seguinte a um esgotante concerto na Casa da Música, Ricardo Rocha revela-se, mesmo que seja escondendo-se atrás de sucessivas negas perante algumas perguntas e considerações sobre o óbvio de outras. No disco, "Voluptuária", passa-se o mesmo, provando que não é preciso gostar-se de tocar determinado instrumento para dele se tirar dele momentos gloriosos.
O seu trabalho tem vindo a ser elogiado por todo o tipo de pessoas, das mais variadas áreas, não é um peso muito grande? Não sente que lhe estão a exigir que assuma uma responsabilidade exagerada?
Não, porque estou totalmente ausente daquilo que se diz. Primeiro, não leio jornais, depois não leio entrevistas, não leio críticas. Não estou a par de absolutamente nada, não me interessa também, sinceramente, e, portanto, não sinto peso nenhum, não sinto exigência nenhuma, não sinto pressão. Não sinto nada. Não é só por isso – estar ausente – é também pela forma como encaro isto tudo, o disco... Encaro isto como um documento, nada mais do que isso.
É natural que lhe chegue aos ouvidos as reacções das pessoas perante o seu disco ou as pessoas que assistem aos seus concertos. Isso não lhe provoca nada?
Não, não. Não me constrange nem me descentra de nada.
Pode dizer-se que o Ricardo vem numa evolução de guitarristas portugueses. O que o aproxima e o que o separa de nomes como Carlos Paredes e Pedro Caldeira Cabral...?
Não conheci o Carlos Paredes. Do ponto de vista musical nunca segui nenhuma trajectória dessas, nem num caso, nem noutro. São mundos completamente distintos: o Carlos Paredes não tem nada a ver com o Pedro Caldeira Cabral e vice-versa; eu não tenho nada a ver com nenhum. O facto de tocar também piano, e de gostar imenso de um instrumento – de ser o meu favorito – como esse dá uma certa influência que é totalmente diferente e muito mais vasta do ponto de vista musical. Por isso, as minhas peças não têm nada a ver com as de Carlos Paredes ou com as do Pedro Caldeira Cabral. São mundos completamente distintos e diferentes.
A única relação é, então, ser português e tocar guitarra?
A nacionalidade e a postura perante o instrumento, a postura solística.
Acompanha o trabalho deles? Gosta?
Conheço. Conheço bastante bem o trabalho do Carlos Paredes, conheço relativamente bem o trabalho do Pedro Caldeira Cabral. Envolve várias áreas, sendo que a música antiga, à qual se dedica e onde se sente bem, é interessante.
Podemos então falar de algumas influências que o Ricardo tenha. Apercebi-me no CD que algumas peças pareciam contemporâneas, outras pareciam uns rocócós abrasileirados, nomeadamente dos trabalhos que ficaram conhecidos com o "Bach in Brazil"? Pode-se falar destas influências?
Não, pelo menos não desse exemplo "Bach in Brazil", embora o conheça. Este é um trabalho em que o tipo de peças, além de não ser muito acessível, não é muito usual na guitarra portuguesa. Há um confronto, declarado e evidente, nada mais do que isso, à parte da complexidade das peças. Mas quase 90 por cento do disco é música contemporânea, há peças seriais, quatro, é música contemporânea, moderna...
A sua formação...
Não tenho, porque na guitarra nunca existiu, não existe e não existirá do ponto de vista académico, escolas de guitarra portuguesa. Não existe uma aprendizagem, não existe método, não existem professores, não existem escolas, não há em lado nenhum, portanto, é um instrumento invisível. Tive a sorte de contactar com pessoas importantes, na área da música, e tive a sorte de, aos 16 anos, dedicar-me ao piano. Não sou pianista, como é óbvio, mas como é um instrumento pelo qual tenho um interesse enorme, que admiro enormemente o repertório existente, automaticamente isso direcciona e dá uma perspectiva muito mais ampla. Conseguindo abranger determinados tipos de música e permitindo um conhecimento que uma pessoa que toque só guitarra não consegue. Portanto, é diferente. O piano é um instrumento auto-suficiente como também orquestral, que é outro mundo.
A maior parte dos temas são tocados sem acompanhamento nenhum, foi uma opção baseada em quê?
Não é uma questão de opção, é a tal influência que se fica, consciente ou inconscientemente, de um instrumento que é auto-suficiente como é o piano. Tudo soa bem ali, um instrumento cujo habitat natural é tocar a solo e, inevitavelmente, quando faço as experiências faço-as, automaticamente, logo à partida, a solo, nada mais do que isso. No disco aparecem também peças com violino, por junções tímbricas, e outro tipo de peças a solo, por serem altamente complexas. É uma experiência diferente. O acompanhamento não me agrada muito, sinceramente prefiro fazer sozinho.
Mas é um risco, pois a guitarra tem um som muito próprio e conhece-se quase sempre com acompanhamento, nem que seja com a viola. Teve a noção disso?
A questão não foi ter noção, as peças foram feitas de origem a solo e só soam bem assim, a solo. E o tipo de música em si é solística para guitarra, não tem nada a ver com outro tipo de formações, portanto, uma formação com mais instrumentos não faz sentido neste contexto, fará noutros. Pensou que estaria a evoluir para outro patamar do que se entende pela música da guitarra portuguesa, que apesar de tudo é ainda muito associada ao fado? Acha que o seu disco pode ser isso? Um enobrecimento talvez?
É... Depois cada pode integrá-lo à sua maneira, é uma música que não tem nada a ver com a música à qual a guitarra portuguesa está associada desde o início do século passado. Isso é elementar, óbvio, para qualquer pessoa, agora se é um degrau que sobe ou que desce... não sei, sei que é um postura, uma abordagem e uma atitude diferente, que nada tem a ver com a atitude e a abordagem habitual, e que assim tem sido ao longo da história e ao longo da tradição na guitarra portuguesa.
O facto de a gravação ter sido feita num convento teve alguma simbologia ou foi só a sonoridade?
Se se pode dizer que existiu alguma simbologia será pelo meu gosto pelos sítios eclesiásticos (capelas, igrejas, conventos...) e de o ambiente natural dos instrumentos acústicos ser esse. São locais com uma sonoridade, uma acústica que me leva a dizer que os instrumentos pertencem a esse espaço. O convento agradou-me imenso, tem uma série de salas boas, nas quais se fizeram testes para perceber qual a mais adequada.
Como explica a sua relação de quase amor-ódio com a guitarra?
Não existe, isso são termos aplicados pelos jornalistas – além de que detesto essas duas palavras. Não tenho com a guitarra nenhum relação desse tipo, é simplesmente um instrumento que não me agrada. Não sou paranóico nem neurótico pela guitarra, é simplesmente um instrumento que não me diverte minimamente porque só existe divertimento e prazer para quem está de fora, para quem está a ouvir. Nesse sentido, posso dizer que me agrada imenso se estiver a ouvir. No acto de estar a executar, a tocar as peças, não me agrada.
Como se consegue relacionar então com este instrumento tão especial?
É de facto um instrumento especial, mas as razões que originam uma espécie de insatisfação permanente são razões de ordem técnica. É um instrumento rijo, duro, todas as cordas são de aço a uma altíssima tensão e que, basicamente, exige uma relação totalmente para fazer soar alguma coisa do instrumento, para ter som. E toda a tensão, toda a intensidade com que pode tocar só pode ser uma, caso contrário – como uma atitude mole e sem energia – o instrumento não soa rigorosamente a nada. Exige, portanto, uma relação bastante física e é evidente que isso é exaustivo e cansativo, provoca imensos problemas físicos, desde a posição do corpo até à tensões musculares. É uma espécie de desporto de alta competição.
Toca desde muito novo, desde os três ou quatro anos, mas prossegue com essa difícil relação. Há alguma hipótese de se retirar ou dedicar-se a outro instrumento? O piano, por exemplo, que adora?
Não há hipótese, porque um instrumento deve começar a ser estudado entre os três e os sete/ oito anos. Há vontade de desistir, mas o tempo é irreversível e como assim é, não há forma nenhuma de começar a tocar outro instrumento ou outros instrumentos. Isso teve um tempo e como ele é impiedoso e imperdoável...
Sei que não se preocupa muito com o resultado dos concertos, com a reacção das pessoas, por isso pergunto-lhe quais serão os próximos desafios?
Sim, não me entusiasmam muito, mas também não tenho nenhum expectativa. Este disco é a junção de músicas de um trajecto já com muito tempo, há peças no CD de desde há dez anos – é o reunir de uma existência que vem desde os 18 anos até agora. Simplesmente, é uma coisa quase definitiva.
Continua a compor? Fá-lo periodicamente?
Não. Fiz uma peça para o disco de homenagem a Carlos Paredes, ao contrário do que esperava. Os meus trabalhos de composição são muito espaçados, é um processo lento e difícil.
Filinto Melo

Ricardo Rocha Dedicado a uma guitarra sem futuro
Artigo saído na revista “Pública””

Odeia tocar em público – “fico doente” – e confessa estar arrependido de se ter dedicado à guitarra portuguesa. “É um instrumento que não vai ter futuro, vai estar permanentemente ligado ao que sempre esteve (o fado) e nunca será incluído noutra área musical”, diz.
Ricardo Rocha, 30 anos, diz que Carlos Paredes e Pedro Caldeira Cabral foram os únicos que “puseram a guitarra portuguesa noutro sítio”. O que é “notável” para quem “observa e contempla”, mas nada do que fizeram criou “uma legião de instrumentistas”, que seria “talvez” a única forma da guitarra saltar para outro nível”. E sublinha: “ Tudo o que se faça de inovador na guitarra portuguesa é totalmente em vão ou inglório”.
Não é pessimismo, é realismo, diz. Até porque, “por um lado”, a guitarra “está bem” no lugar onde está e onde sempre esteve – é nesse meio que se move com naturalidade.
Ricardo Rocha reconhecido como um dos mais talentosos guitarristas da sua geração, pegou pela primeira vez numa guitarra quando tinha “três, quatro anos”: “Ainda tenho a fotografia, dá vontade de rir”, lembra. Aos oito começou a aprender, aos 12 “já tocava umas coisitas” mas tocar a sério só por volta dos “17, 18 anos”. A dependência da guitarra apareceu três anos depois de começar a aprender: senti que não conseguia largar o instrumento, não sei se por razões físicas se musicais”.
Cresceu com “uma vergonha inacreditável” de dizer que instrumento tocava: “Na altura, anos 80, havia uma troça enorme em relação a este mundo”, lembra. Não foi por ser artista que Ricardo Rocha nunca socializou muito. “Isso” – o artista isolado na sua torre de marfim – “é uma coisa deprimente, uma coisa lamechas”. Foi porque ele é assim, ponto: “Nunca tive muito jeito para construir amizades. Na escola era uma desgraça, na tropa foi uma coisa inacreditável. Ainda hoje tenho três, quatro pessoas que posso dizer que são amigas”.
Foi o avô, o guitarrista Fontes Rocha, quem lhe deu a formação musical até aos “15, 16 anos”.Ainda chegou a ir para o Conservatório mas só durante um mês. Aos 16 decidiu aprender piano. “Deu-me uma abertura radical em relação à abordagem à guitarra portuguesa. “São dois instrumentos completamente diferentes e as imensas possibilidades do piano – “uma máquina de fazer sons” – tornam inevitável a mudança “da concepção musical que se tem na cabeça”. Foi depois deste contacto com o piano – que diz ter “imensa pena” de “não saber tocar” – que compôs a primeira peça. Diz que é fundamental aprender a técnica da guitarra de Lisboa, de Coimbra, de Pedro Caldeira Cabral e de Carlos Paredes. “O meu avô sempre foi um admirador incondicional de Carlos Paredes e tentava que eu tocasse. Quando o ouvi pela primeira vez tocar senti o que sinto hoje: é demolidor e inspirador ao mesmo tempo”.
Nem o pai, filho de Fontes Rocha, nem o seu irmão mais novo tocam qualquer instrumento. Os pais adoram música – “a minha mãe adorava um compositor que ainda hoje detesto, Verdi, mas também adorava um compositor que adoro, Debussy” – e Ricardo Rocha trás o assunto à conversa para dizer que “detesta ser obrigado a reconhecer” que o “facto de haver alguém na fanmília que se interesse por música talvez desperte o desejo de ter um contacto próximo” com algum instrumento.
Quando lhe perguntamos como é que continua a tocar não acreditando no futuro do instrumento a que se dedica, Ricardo Rocha começa por dizer que não vislumbra nada, que não sabe sequer se vai continuar, que isso não é uma trajédia – tendo a guitarra em casa pode tocar sempre que lhe apetecer. Depois acrescenta: “A única coisa que vejo, e que é o mais saudável – a única forma de eliminar a decadência, que abomino – é não haver objectivos. As coisas devem ser vistas do ponto de vista histórico e documental”.
É este o olhar do guitarrista, que já tocou com vários músicos (Carlos do Carmo, Maria Ana Bonone, Maria João e Mário Laginha, Pedro Caldeira Cabral, ...), sobre o seu primeiro e único álbum a solo (duplo), “Voluptuária”: o disco é apenas um documento. “Pus a guitarra num campo solista, para tocar a solo é preciso que existam peças e alguém que as faça”. Das 23 do disco, só em apenas cinco é que Rocha é acompanhado por outros músicos e todas foram compostas por si, excepto oito (quatro de Carlos Paredes e quatro de Pedro Caldeira Cabral).
Mostra-se espantado com a atribuição do prémio e com o interesse pela guitarra portuguesa mas tem uma explicação: “Portugal está um bocado deprimido, temos que nos afirmar na União Europeia, tem que se ir buscar alguma coisa para funcionar como um bálsamo para a nossa auto-estima, nem que seja a alheira de Mirandela. Foi buscar-se a guitarra portuguesa”.
Joana Gorjão Henriques


Programa da "Serenata Popular", ontem, nas Escadas da Igreja de Santiago, organizada pelo Grupo Folclórico de Coimbra. Cantaram-se e tocaram-se 17 peças dos mais variados autores populares, com datas que vão desde 1840 a 1919. Sobressai aqui a música de José Eliseu, o autor da música da "Balada de Coimbra", com oito peças no programa. Destaco neste espectáculo, a "Morena" e "Sonhos Dourados", duas peças que Artur Paredes imortalizou, chamando à segunda, "Balada do Mondego" e "Não me ames", posta em guitarra por Flávio Rodrigues com o nome de "Valsa em Fá".
Vou transcrever o que está escrito no programa:
"Com a Serenata de 2005 pretende o Grupo Folclórico de Coimbra documentar toda a riqueza musical criada pelos conimbricenses de finais de Oitocentos e começos do século XX, justamente a época áurea destas manifestações. Para tal, reuniu um conjunto de peças que encantam pela sua beleza e surpreendem pela sua homogeneidade. São, na sua maioria, canções que a cidade de há muito deixou de ouvir e tem agora oportunidade de recordar, de compositores populares como Augusto Pinto, Saldanha Júnior, Francisco Menano, José Eliseu, Ricardo de Campos, Lamartine Tito e outros". Posted by Hello

sexta-feira, junho 03, 2005


Serenata Popular nas Escadas de S. Tiago. Notícia do Diário de Coimbra. Posted by Hello

Breve perfil do Arquitecto Florêncio Neto de Carvalho (1924-1981)

Filho único de abastados proprietários ribatejanos, Florêncio Neto de Carvalho nasceu em 14 de Janeiro de 1924 na freguesia e Concelho de Alpiarça, distrito de Santarém. Era filho de Florêncio Carvalho, republicano e anticlerical (“Padres, de ganadaria nenhuma!”), vizinho de José Relvas, e de Francisca Parreira Neto, de ocupação doméstica. O pai era rendeiro do Eng. Álvaro Simões, ministro de Estado na Primeira República, que apadrinhou o bebé Florêncio na pia baptismal.
Efectuou a instrução primária em Alpiarça, tendo frequentado entre 1935 e 1942 o Liceu Sá da Bandeira, em Santarém. Neste último estabelecimento de ensino concluiu o 7º Ano de Ciências com a média final de 14 valores. Boémio, “bon vivant”, apaixonado pela lezíria, cavalos e touradas, Florêncio foi um assanhado coleccionador de revistas equestres e tauromáquicas, enquanto fazia uma perninha nos garbosos forcados amadores da terra. Em termos políticos e religiosos, Florêncio herdou uma formação familiar vicinal marcadamente republicana e anticlerical. E porque no Liceu de Santarém se reproduzia um certo culto em torno da cultura académica coimbrã, que ia desde a prática das serenatas ao uso da capa e batina, o jovem Florêncio deu consigo metido em serenatas. Remonta a esta sua fase iniciática a improvisação melódica do famigerado tema “Lá longe ao cair da Tarde”, inspirado nos dotes de uma farmacêutica de cabelos alourados (“vejo nuvens d’oiro que são os teus cabelos”), estabelecida em Alpiarça.
A partir de 1942, em pleno cenário de guerra, Florêncio frequentou o curso de Preparatórios de Engenharia, primeiro em Lisboa, depois em Coimbra. Breve foi a sua primeira passagem pela UC na primeira metade dos anos quarenta, pois em 1948 pediu transferência para o Instituto Superior Técnico (Lisboa). Nesse mesmo ano interrompeu os estudos, por doença, e longe dos bancos académicos se manteve até 1951.
No início do ano escolar de 1951 voltou a matricular-se na UC, no curso de Ciências Geofísicas, da Faculdade de Ciências. O regresso a Coimbra permitiu-lhe retomar o convívio com os amigos ligados à prática das serenatas e cantorias. Participou activamente em diversas récitas, ao lado de instrumentistas e cantores como Manuel Branquinho, Pinho Brojo, Luiz Goes, Fernando Rolim. Esboçou caricaturas para livros de curso, participou activamente nas garraiadas da Queima das Fitas e desenhou cenários para o TEUC. Neste período frequentou assiduamente a República Palácio da Loucura, na Rua Antero de Quental, e não havia centenário ou festança em que não cantasse de parceria com Fernando Rolim e Camacho Vieira. Os amigos admiravam-lhe o rosto bonacheirão, o caminhar à Charlot de tempos a tempos carregado pela obesidade, as noites brancas de conversas infinitas.
Desempenhou importante papel na consolidação da Tertúlia do Calhabé (1951-1954), o afamado grupo de António Pinho de Brojo, como ensaiador de cantores, exigente nos acompanhamentos, selectivo ao nível das temáticas, exigindo a compreensão e declamação dos textos, enquadrando os jovens cantores em estilos prévios. O papel atribuído a Florêncio, no sentido de conduzir a CC para caminhos de maior exigência e qualidade, nunca foi devidamente estudado. Está sobejamente provado que não possuía formação musical, o que por si só não constitui factor determinante para a exclusão de uma postura de maior investimento qualitativo. O Engenheiro Mário Henriques de Castro, executante de violão aço no grupo de António Brojo, recorda em traços sucintos a figura e o papel então desempenhado por Florêncio: “não era um grande cantor, sendo dotado de voz roufenha, afectada pela rouquidão”. “Era extraordinário como compositor, sendo disso exemplo o “Lá longe ao cair da tarde”, cuja letra deu brado em Coimbra, tal a excelência do conteúdo do poema. O Florêncio aparecia nos ensaios do nosso grupo com frequência, e o seu grande protagonismo consistiu em ensinar boas técnicas de entoação e modulação vocal aos outros cantores. A ele se deve, em grande parte, fruto de particular intuição, a transmissão das técnicas de respiração, os pianíssimos, os fortes, os crescendos, a transição de frases. De todos os instrumentistas do nosso grupo só o Aurélio Reis sabia música e solfejo, pois tocara clarinete na Filarmónica da Pampilhosa”.
De qualquer das formas, não subsistem dúvidas quanto à qualidade do desempenho do grupo liderado por António Brojo entre 1951 e 1954, presente nas “serenatas” do Emissor Regional e no lote de discos 78 r.p.m. gravados em 1952.
São desta segunda fase coimbrã de Florêncio, as melodias “Vento não batas à porta” e “Esmeralda Verde”.
Florêncio não gravou quaisquer discos, mediante os quais seja possível aquilatar da sua voz. Sabe-se, no entanto, que era um cantor dotado de timbre e volume muito similares aos exibidos pelo guitarrista-cantor António de Almeida Santos. Isto é, uma voz próxima de segundo tenor, frágil, pouco extensa, sem grande expressividade interpretativa, minada por ciclos de rouquidão. Os achaques decorrentes da doença também não lhe permitiam forçar as cordas vocais, impondo limitações que o cantor procurava superar com recurso a expedientes como o sentido do ritmo, a afinação, a entoação sentimental, truques muito do agrado dos corações femininos (declarações da esposa).
No período referido, o cantor-compositor voltou a interromper os estudos e aplicou os seus dotes artísticos na idealização dos cenários do TEUC, grupo dramático em maré alta, devido ao investimento e engenho do Doutor Paulo Quintela. Em 1952 conheceu a “actriz” do TEUC e estudante de Letras Maria Lucília Abreu, oriunda de Seia e ainda aparentada com a família de António Almeida Santos. Iniciado o namoro, Lucília e Florêncio celebram casamento no Porto. Do enlace nasceu uma filha, e o jovem casal decidiu estabelecer-se na casa de família em Alpiarça. Apesar de ter concluído a licenciatura, Lucília não trabalhou nos primeiros anos de casamento, para se dedicar em exclusivo à família e à filha. Sem emprego e com o curso por concluir, Florêncio viveu dos rendimentos familiares.
Em meados da década de cinquenta, o casal fixou residência em Lisboa. Foi durante os primeiros anos de casamento que a personalidade de Florêncio começou a sofrer importantes transformações ideológicas, no sentido de uma consciencialização que o fez aproximar do ideário de esquerda. O jovem estouvado, entre humanista, idealista e artista, falho de sentido material, ganhava sentido prático da vida. Durante os longos períodos de doença lera sofregamente autores e obras que o atraíam cada vez mais para o mundo das artes e humanidades. O convívio com o sogro, Rudolfo Almeida Abreu, homem culto e feroz opositor ao regime de Salazar, tornou-se um elemento decisivo no processo de viragem. No fundo, foi graças às longas conversas travadas com o sogro que Florêncio descobriu a sua verdadeira interioridade e a sua vocação profissional, após anos de inscrições, interrupções e transferências de cursos. O professor primário Rudolfo Almeida Abreu chegou a ser preso pela PIDE na década de 1950 e foi defendido no Plenário do Porto pelo advogado republicano Dr. António Macedo. Absolvido, recebeu uma indemnização de 70.000$00, num processo que fez aproximar Florêncio dos círculos da família da esposa.
Em Outubro de 1957, aos trinta e três anos, inscreveu-se na Escola de Belas Artes do Porto. Seis anos volvidos, em 1963, terminou o curso de Arquitectura, com média de 14 valores. Aluno distinto e premiado em 1962 (Prémio Mota Coelho), Florêncio iniciou em Outubro de 1963 o seu estágio de arquitectura, por um período de sete meses, no atellier do distinto arquitecto Carlos Loureiro.
Concluído o estágio profissional, em meados de 1964, começou a trabalhar como técnico de condicionamento de ar na Sociedade de Equipamentos Industriais, Lda., graças aos seus conhecimentos de Matemática e Termodinâmica. Entretanto, desde um de Abril de 1967 iniciou serviço, na qualidade de arquitecto contratado, na Repartição de Construção de Casas da Câmara Municipal do Porto. Em Junho de 1968 apresentou-se à prova final do curso de Arquitectura da Escola de Belas Artes do Porto, com um relatório de estágio orientado pelo arquitecto Fernando Távora sobre o Estudo de Renovação do Barredo, tendo obtido a classificação de 16 valores.
Até à data do seu falecimento na cidade do Porto, em 26 de Janeiro de 1981, Florêncio de Carvalho, desenvolveu a sua actividade profissional na Câmara Municipal do Porto. Nas horas de lazer dedicou-se à pintura, caricatura, colecção de recortes de jornais alusivos à Revolução de 1974, desenho de moradias particulares, poesia, montagem de exposições, colaboração com o Grupo de Teatro Experimental do Porto, e direcção do Grupo de Teatro do Sporting Clube Candalense.
Entre 1972 e 1975 foi assistente da Escola de Belas Artes do Porto, e de 1973 a 1975 docente do Instituto de Arte, Decoração e Design. Assinou diversos artigos sobre problemas de habitação, publicados na “Revista do Norte” e em “O Primeiro de Janeiro”. No final da década de 1970 participou activamente nos Seminários do Fado de Coimbra (1978 a 1980), tendo cantado na serenata do primeiro certame.
Num dia frio de Janeiro de 1981 rumou ao cemitério de Nevogilde, no Porto, este ribatejano que tendo sido marido, pai, professor, ficou sempre interiormente vagabundo de si mesmo e do seu lápis de artista.

I-Principais trabalhos de arquitectura e artes
-levantamento do alçado da escarpa da Sé do Porto, com vista ao Estudo de Renovação Urbana do Barredo;
-moradia do Dr. Daniel Avelino, em Alpiarça;
-moradia de D. Clarisse Guimarães, no Oásis do Mindelo;
-moradia de Francisco Martins, na Rua da Bélgica, Vila Nova de Gaia;
-moradia de Odete Santos, na praia de Vila do Conde;
-moradia do Engenheiro Vieira Alberto, em Coimbra;
-moradia do Engenheiro Luís Durães, em Caminha;
-casa própria, no Porto;
-casa própria, na praia do Mindelo;
-moradias geminadas para Monteiro da Costa, na Rua Rei Ramiro, Gaia;
-bloco de habitações, na Rua Capitão Pombeiro, Porto;
-bloco de habitações, na Rua Francos, Porto;
-pavilhão polivalente para a Associação dos Construtores Civis;
-capela do Padrão, Matosinhos;
-urbanização LECANORTE, em Verdinho, Gaia;
-cenógrafo, luminotécnico e caracterizador do TEUC em diversos espectaculos realizados em Portugal, Alemanha, Itália e Espanha, durante a 2ª Delfíada de Teatro de 1952;
cenógrafo e caracterizador do Grupo Experimental de Teatro de Lisboa (direcção de António Pedro), e Teatro Estúdio do Salitre (direcção de Gino Saviotti);
-encenação e montagem no Grupo Experimental do Porto (direcção de António Pedro e Correia Alves);
-direcção do Grupo de Teatro do Sporting Clube Candalense (premiado em 1961 com a peça Camões no Rossio);
-participação em todas as Exposições Magnas da ESBAP, realizadas entre 1958 e 1963;
-participação na Exposição Arquitectos e Artistas, realizada na ESBAP em 1972;
exposição individual de desenhos e pintura, na Associação Portugal Europa (Porto), em 1979;
-colaboração na montagem da Exposição do Ano Internacional da Conservação do Património Europeu, ocorrida no Museu Soares dos Reis;
-montagem da Exposição das Cidades Geminadas com Liège em 1978, e Exposição do Ano Internacional da Criança (1979, Turim), promovidas pela Câmara do Porto;
-participação no colóquio A Cidade e a Criança, realizada em Turim e Milão em Abril de 1979;
-montagem da Exposição Nacional de Desenhos Infantis, no Clube dos Fenianos, em 1979;
-participação nos Seminários do Fado de Coimbra, realizados em 1978 e 1979;
-autor das medalhas, “Comemoração do 25º aniversário do Clube Invicta de Pesca Desportiva”, e “Prof. Doutor Paulo Quintela”;
-autor do logotipo do Rotary Club Porto/Douro

II-Temas de Coimbra
No curriculum vitae, assinado e datado de “Porto, 7 de Maio de 1980”, página três, o Arquitecto Florêncio de Carvalho reclama-se “autor das músicas e textos de vários fados de Coimbra, editados em disco (...)”, embora não especifique quais sejam esses temas. Gravados em disco apenas se conhecem três temas da autoria de Florêncio, respectivamente Lá Longe ao Cair da Tarde (vulgo Balada de Florêncio), Vento não batas à Porta e Esmeralda Verde.
Vejamos os respectivos títulos e textos em fixação definitiva:

LÁ LONGE AO CAIR DA TARDE
Música: Florêncio Neto de Carvalho
Letra: Florêncio Neto de Carvalho
Data: 1942

Lá longe, ao cair da tarde
Vejo nuvens d’oiro
Que são os teus cabelos
Fico mudo ao vê-los
São o meu tesoiro
Lá longe ao cair da tarde.

Lá longe, ao cair da tarde
Quando a saudade
Se esvai ao sol poente
Como canção dolente
De uma mocidade
Lá longe, ao cair da tarde.

Quanto à melodia, a viúva, Dra. Lucília Abreu, informa ter ouvido ao marido que esta balada fora composta nos tempos em que estudou no Liceu Sá da Bandeira de Santarém (1935-1942). O título deve corresponder ao incipit (1º verso da 1ª estrofe, tal qual era habitualmente designado pelo autor). Tema arqui-regravado e de tal maneira banalizado que apenas aconselhamos os registos de António de Almeida Santos (1961) e Joaquim Matos (1981).


VENTO NÃO BATAS À PORTA
Música: Florêncio Neto de Carvalho
Letra: 1ª quadra de Júlio Brandão, adaptada por Florêncio; 2ª quadra de Florêncio Neto de Carvalho
Data: 1951

Vento não batas à porta
Que ela julga que sou eu!
Saudades da mocidade
(Ai) De um amor que já morreu.

Não vás contar tuas mágoas
Às pedrinhas do ribeiro;
Chorando ao pé de quem chora
(Ai) Chora a gente o dia inteiro.

Ária estrófica de tipo classizante, estruturada em introdução, 1ª quadra, separador, 2ª quadra e conclusão. A melodia corresponde à segunda estadia do cantor em Coimbra, iniciada em 1951. Foi composta entre 1951. A versão mais conhecida corresponde ao registo efectuado em 1952 por Fernando Rolim.

ESMERALDA VERDE
Música: Florêncio Neto de Carvalho
Letra: Florêncio Neto de Carvalho
Data: 1952

Conheço a “esmeralda verde”
Verde de água marinha;
Nenhum verde é como o verde
Dos teus olhos Joaninha.

Conheço a “esmeralda verde”
Verde da água marinha.

(Ai) Eu vou rezar à saudade
Este meu amor sem fim;
Saudades da mocidade
Que eu trago dentro de mim.

(Ai) Eu vou rezar à saudade
Este meu amor sem fim.

Espécime singelo, concebido propositadamente para imitar as composições populares (quantos falsos populares não tem a CC?), pretendeu ser uma evocação de Joaninha, a famosa protagonista de “Viagens na Minha Terra”, de Almeida Garrett. A gravação que mais respeita a versão original é a efectuada por Fernando Rolim em 1960.

III- Documentos e fontes
Testemunho oral, prestado pela Dra. Lucília Abreu a António M. Nunes, em Fevereiro de 2000 e 5 de Julho de 2000.
Processo Curricular (do Arquitecto Florêncio de Carvalho), Porto, 7 de Maio de 1980.
Teatro degli Studenti dell’Università di Coimbra, Setembre 1952 (programa).
Theatergruppe der Coimbraer Studenten, 1952 (programa).
Teatro de los estudiantes da la Universidad de Coimbra, 1952 (programa).
“Visitas guiadas e projecção de filmes na Exposição do Património Arquitectónico Europeu”, in O Primeiro de Janeiro, de 16 de Março de 1977.
“I participanti al convegno dei sindaci delle grandi città del mondo”, in Torino Notize, nº 5, de Maio e Junho de 1979.
“Serenata na Sé Velha. Ponto alto do Seminário sobre o Fado de Coimbra”, in Jornal de Notícias, de 21 de Maio de 1978.
“O fado de Coimbra ou a propósito do semi-silêncio dos rouxinóis do Mondego”, in Expresso, de 11 de Fevereiro de 1978.
III Seminário do Fado de Coimbra, 24 e 25 de Maio de 1980 (programa).
Diversas fotografias cedidas pela Dra. Lucília Abreu.
Testemunho oral prestado pelo Eng. Mário Castro, em 31 de Maio de 2000
Testemunho do Dr. Fernando Rolim, em Setembro de 2004.
Entrevista prestada pelo Prof. Doutor António Brojo a António Nunes em Junho de 1992.
CORREIA, João de Araújo – “Florêncio Neto de Carvalho. Evocação”, Boletim da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto, Nº 10, Outubro de 1997.
Ficheiros e documentos do Coronel José Anjos de Carvalho

IV – Agradecimentos
Dra. Lucília Abreu, Coronel José Anjos de Carvalho, Dr. Augusto Camacho Vieira, Doutor António Pinho de Brojo, Dr. Fernando Rolim.

António Manuel Nunes (texto de 2000, actualizado em Maio de 2005)

quinta-feira, junho 02, 2005


Amanhã, "Gala da Académica / OAF", no Casino da Figueira da Foz. Posted by Hello


Uma Noite Dedicada a Coimbra. Notícia do Diário de Coimbra, por Rute Melo. Posted by Hello

quarta-feira, junho 01, 2005


"Coimbra à Noite". Quadro que Mário Silva pintou, hoje, na Livraria Bertrand, no Dolce Vita. Posted by Hello


Último dia da exposição de Pintura de Humberto Matias na Casa Museu Fernando Namora, em Condeixa. Isabel Azevedo observa quatro dos magníficos quadros expostos. Posted by Hello


Mário Silva acaba de pintar este magnífico quadro, "Coimbra à Noite", na Livraria Bertrand, no Dolce Vita. Foi acompanhado à viola por Manuel Malaguerra. Posted by Hello


Mário Silva acaba de pintar este magnífico quadro, "Coimbra à Noite", na Livraria Bertrand, no Dolce Vita. Posted by Hello


Último dia da exposição de Pintura de Humberto Matias na Casa Museu Fernando Namora, em Condeixa. No meio de dois dos seus quadros, a Fotografia de Fernando Namora Posted by Hello


"Uma noite dedicada a Coimbra"; notícia do Diário de Coimbra sobre o espectáculo de amanhã no Páteo das Escolas. Posted by Hello

terça-feira, maio 31, 2005


Capa do CD "Humberto Matias Canta Fados de Lisboa". Este disco já foi apresentado neste Blog, no dia 1 de Abril, com o nome "Lisboa, Antes ... Pintada, Agora ... Cantada", edição muito limitada. Agora saíu a edição comercial, da Discotoni. Escrevi o que se segue, aquando da primeira versão:
Executante consagrado da viola, tendo já efectuado gravações com os mais prestigiados intérpretes da canção coimbrã, resolveu experimentar outro género musical que lhe muito querido: o Fado de Lisboa. Convidou, para o acompanhar, um excelente guitarrista, Armindo Fernandes, já meu conhecido desde os tempos do "Kopus-Bar" de Cascais, e convidou também um grande executante de viola, não só de Lisboa, mas também de Coimbra, Victor Morgado, que acompanha habitualmente Francisco Dias, pai do Ricardo Dias, já antes referido neste Blog. É uma delícia ouvir este trio. Fados bem escolhidos, bons acompanhamentos e uma voz melodiosa, de bom timbre, de bons pianos, e muito dentro da técnica dos melhores do Fado de Lisboa. Como nota final, os quadros que aparecem na capa foram pintados por ele!... Artista de corpo inteiro!
No caderno desta edição estão incluídos vários quadros de sua autoria que apresento nos "Posts" seguintes.

Resumo Biográfico de Humberto Matias
"Humberto Vieira Matias nasceu em Porto da Raiva, Penacova, a 26 de Novembro de 1939. Fez os seus estudos liceais no Colégio Nuno Álvares em Tomar e no antigo Liceu D. João III, em Coimbra.
Frequentou durante quatro anos o antigo curso de Geológicas da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, que não concluiu.
É ainda como estudante que se sente atraído pelas duas formas de arte que nunca conseguiu dissociar - a Música e a Pintura.
No que concerne à Música, pertenceu à Tuna Académica onde tocou acordeão na orquestra de tangos e, como viola, ainda integrou os grupos de fados de Eduardo e Ernesto de Melo, Jorge Tuna e Jorge Godinho, sempre ao lado do seu amigo Durval Moreirinhas. Mais tarde veio a fazer parte do grupo do Professor António Brojo e António Portugal ao qual se veio associar Carlos Jesus e com os quais gravou vários discos, acompanhando Luiz Goes, Almeida Santos, Sutil Roque, José Mesquita, Vitorino, Janita Salomé, entre outros. Actualmente faz parte do grupo de fados da Associação dos Antigos Tunos da Universidade de Coimbra, com o qual continua a actuar, ao lado dos consagrados intérpretes Octávio Sérgio, José Paulo e Aurélio dos Reis.
No que respeita à Pintura, é essencialmente com Carlos Ramos e Pedro Olayo (Filho) com os quais veio a estabelecer relações de amizade que colheu ensinamentos e incentivos, que muito contribuiram para o prosseguimento da sua carreira artística, extra profissional.
Fortunato Anjos e Luciano Santos são artistas com quem veio, também, a estabelecer laços de profundo relacionamento e que vieram a ser determinantes nas suas opções plásticas.
De índole reservada, Humberto Matias tem participado em algumas exposições colectivas em várias localidades no nosso país e pintado essencialmente para Paolo Partizetti e Bianca Rossa de Florença, Itália.
Encontra-se representado em algumas colecções particulares no país e no estrangeiro".
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Quadro a óleo "Coimbra ao Entardecer" de Humberto Matias. Foto incluída no CD "Humberto Matias canta Fados de Lisboa". Posted by Hello


Quadro a óleo "Mercado na Praia" de Humberto Matias. Foto incluída no CD "Humberto Matias canta Fados de Lisboa". Posted by Hello


Quadro a óleo "Vindima - Pinhão" de Humberto Matias. Foto incluída no CD "Humberto Matias canta Fados de Lisboa". Posted by Hello


Quadro a óleo "Vindimas no Douro" de Humberto Matias. Foto incluída no CD "Humberto Matias canta Fados de Lisboa". Posted by Hello


Quadro a óleo de Humberto Matias. Foto incluída na capa do CD "Humberto Matias Canta Fados de Lisboa". Posted by Hello


Quadro a óleo "Feira de Trancoso" de Humberto Matias. Foto incluída no CD "Humberto Matias canta Fados de Lisboa". Posted by Hello

Bloco de Notas (13)

1980 ... Estive a observar a guitarra que Jorge Gomes está a fazer-me – está quase pronta. Pôs-lhe cordas para eu a experimentar. Não me parece má. Não se pode exigir muito, pois é feita com pedaços de madeira que a muito custo conseguiu arranjar. Esta habilidade dele deixa-me bastante surpreendido.
Falei na guitarra ao Artur Paredes e este renovou a oferta de madeira para mandar fazer uma. Mas acrescentou logo que não era para a meter nas mãos de qualquer um! No seguimento da conversa disse-lhe que ele ainda acabaria por dar uma ao filho, já que este andava com problemas de guitarra. Nem pensar nisso, disse logo, nem ao meu pai eu a daria! Quando morrer, que façam delas o que quiserem!
Há dias mostrou-me o armário onde tem guardadas as guitarras. É um guarda-fatos, no quarto a seguir à sala onde se ensaia. Contei mais cinco, todas de óptima construção, “marca Grácio”. Nos gavetões em baixo, tem madeiras já sequíssimas, prontas a serem utilizadas no fabrico de novos instrumentos, e apetrechos vários relacionados com estes.
Quando vai ensaiar, leva um monte de unhas, todas enfiadas num cordel com as pontas atadas. Escolhe então uma para o indicador e outra para o anelar. Não tenho aqui indicação, no bloco, de unha para o polegar. Já não estou bem certo, vinte e cinco anos se passaram desde aí, mas parece-me que no polegar não usava mesmo unha postiça.
Actuei em Leiria, no 10 de Junho, dia de homenagem a Luís de Camões. Foram comigo José Miguel Baptista, Nuno de Carvalho e Durval Moreirinhas. O programa foi transmitido em directo pela televisão. Na ceia que se seguiu, Cidália Moreira cantou acompanhada por Armindo Fernandes e Júlio Gomes. O professor Karma disse-me que tinha apreciado muito a minha garra a tocar. Confessei-lhe que precisava de uma guitarra nova e ofereceu-se logo para meter uma cunha ao Gilberto Grácio, que disse conhecer desde miúdo.
Telefonei a Artur Paredes. Continua com os seus problemas; a filha, agora, depois da operação, tem uma pleuresia. Queixou-se do filho que lhe vai levando as unhas e as cordas da guitarra. Qualquer dia quer tocar e não tem cordas nem unhas, diz ele! Prometi fazer-lhe uma de tartaruga.
Ao tocar hoje a minha “Angústia”, novamente a parte final me fez reviver os tempos em que tocava guitarra clássica e as circunstâncias que me fizeram deixar de a tocar. Aquela parte final está assim para me fazer reviver esses tempos de paz com a música.
Não me tenho referido a muitíssimas actuações que vou tendo, por esse país fora, pois seria fastidioso o seu relato. Só vou referir dez dias passados no Kopus-Bar, em Cascais, na chamada “semana”(?) do fado de Coimbra. Fui com Durval Moreirinhas e Rui Gomes Pereira. Gostei das nossas actuações. Demos uma entrevista a uma rádio em onda curta, num programa para emigrantes. Lembro-me de ter referido a Escola do Fado em Coimbra e o papel altamente relevante exercido por Jorge Gomes. Também foi focada a falta de poetas que escrevam para o “Fado de Coimbra”.
Armando Luís de Carvalho Homem vem hoje a Almada, 22 de Julho, para tocar comigo. É um doido por guitarra, segundo me disse. Anda a doutorar-se em História e, semana sim semana não, vem a Lisboa. Cá fico à espera.
Jorge Gomes mandou-me a guitarra que fez para me oferecer. Tem um bom som, bastante bonito, mas já empenou um pouco. Precisa de outro cavalete pois o tampo cedeu ligeiramente.
Comecei a compor uma nova música; será a minha “opus 20”, não contando com as canções. Já tenho perto de minuto e meio.
Ensaiei duas vezes esta semana com Carvalho Homem. Já me acompanha três músicas: “Variações em Lá” e em “Ré maior” e “Capricho em Lá”. Ensinou-me o “Lá menor” e a “Valsa em Lá” do pai. Ficou de me trazer o “Mi menor”, também do pai.
Três dias depois de ter começado o “opus 20” tenho aqui uma nota a dizer que o acabei e que ainda não tem nome. Qual será? Digo lá que é completamente diferente de tudo que fiz até agora! Está sempre a mudar de tom e uso muito o acorde. Ah! Já estou a ver o que possa ser; será uma peça a que, à falta de nome, chamo “círculo das quintas”.
Telefonei a Artur Paredes. Está ansioso por recomeçar os ensaios. Disse que viu a minha fotografia no jornal. Pensa que não fica bem perante os meus alunos! Acho graça a esta ideia!
Fiquei estupefacto com uma afirmação de Armando Luís de Carvalho Homem durante um ensaio em Almada. Disse-me que nos bordões do “Capricho em Lá” tinha ultrapassado Carlos Paredes! Afirmou que estava bem seguro do que dizia e que ele próprio, num telefonema, o tinha dito a Mário Freitas, guitarrista que toca com o pai.
Já me acompanha o “Ensaio nº 1”. Estou satisfeitíssimo com ele. Nunca falta a um ensaio, está sempre a horas e faz uns acompanhamentos espectaculares; saiu-me a sorte grande! Conhece praticamente tudo que se gravou. Toquei o “Movimento Perpétuo” e acompanhou-o na perfeição. Consegue saber como se tocam na guitarra muitas peças de Carlos Paredes e Jorge Tuna. Estão muito bem tiradas. Só lhe falta execução. Fez introduções engraçadas para “Fados”. Ainda o hei-de ver a tocar guitarra a sério!

segunda-feira, maio 30, 2005


Capa do CD "Velha Guarda Coimbrã - Recordando Coimbra - Do Choupal até à Lapa", edição Discotoni, saído em 2002.
Na guitarra estão Francisco Dias e José Paulo e na viola Victor Morgado. Cantam josé Paulo, Joaquim Matos e Álvaro de Jesus.
Vozes boas mas bastante distintas, desde o barítono Joaquim Matos ao tenor José Paulo, passando por uma voz intermédia, a de Álvaro de Jesus.
Trabalho interessante, embora com temas tradicionais; em alguns destes, as introduções são originais. As guitarradas estão muito bem interpretadas por José Paulo e conjunto.
Resta só dizer que tive uma pequena intervenção em 5 temas, mormente no "Fado dos Passarinhos", para o qual fiz a introdução.
Vou transcrever o que está escrito na capa do disco:
"Ao longo de quase três décadas de actividade e respondendo a convites de diversas entidades nacionais e estrangeiras, este grupo tem honrado as tradições que compõem a história musical da Academia Coimbrã, pelo virtuosismo dos seus instrumentos e canto. Desta feita, o Grupo Velha Guarda Coimbrã, acaba de regressar de mais uma digressão, esta realizada ao continente Australiano a convite da comunidade Portuguesa aí radicada.
Nem sempre com os mesmos elementos, na actual formação podemos ouvir: nas guitarras Francisco Dias e José Paulo, na viola Victor Morgado e, nas vozes, Álvaro de Jesus, Joaquim Matos e também José Paulo.
Que continuem neste espírito, doando-nos novos trabalhos.
Dra Liliana das Neves Posted by Hello

domingo, maio 29, 2005


Capa do duplo CD "Voluptuária", de Ricardo Rocha, com etiqueta V&M e gravado em 2002. São colaboradores em algumas peças: João Paulo Esteves da Silva, no cravo; Maria Balbi e Daniel Rowland no violino.
Ricardo Rocha é um virtuoso da guitarra portuguesa. Mostra neste trabalho que a quer equiparar à guitarra, sua congénere espanhola, que foi levada a um patamar superior por Andrès Segovia. Penso que está no caminho certo.
A maioria das peças aqui apresentadas são-no para guitarra portuguesa solo; não necessitam de acompanhamento. Produz amiude efeitos espectaculares e, por vezes, introduz um pouco de lirismo naquele fraseado bem complicado. Há que ter uma certa preparação erudita para poder entender a sua mensagem.
As peças de Carlos Paredes e Pedro Caldeira Cabral executa-as com desenvoltura, sem falhas, embora dê a sua interpretação, como é normal. Algumas são de execução bastante difícil!
Nas peças com cravo, os dois instrumentos encaixam-se muito bem um no outro. As duas para guitarra portuguesa e violino são de grande beleza, muito bem executadas por ambos os intérpretes. No "Mudar de Vida" de Carlos Paredes, substituiu a flauta pelo violino: resulta na perfeição.
Audição obrigatória para quem se diz guitarrista, seja de Lisboa, seja de Coimbra. Isto que aqui está é apenas guitarra portuguesa.
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Segue-se um texto transcrito do folheto do CD:

«Diz o Código Civil que a benfeitoria voluptuária é aquela que se realiza por mero deleite ou recreio, sem vocação ou predicativo capaz de aumentar o uso habitual do bem, ainda que o torne mais agradável, ou seja, de elevado valor.
Verifica-se, assim, que, com a benfeitoria voluptuária, conserva-se a qualidade utilitária do bem, a que não se agrega elemento que potencialize a natureza de seu uso.
Há diletantismo do benfeitor, com o objectivo de deleitar-se ou recriar-se, haja vista que o bem principal a que se junta uma benfeitoria a dispensa, pelo aspecto utilitário ou funcional, mas fica mais formoso ou recreador.
O bem torna-se mais belo, formoso, prazeroso, atraente, porque aguça a sensibilidade estética e seduz o espírito benfazejo que se deleita ou se recreia na cómoda necessidade do prazer.
A rigor, o bem não necessita ou precisa da benfeitoria, mas o benfeitor a quer, para se inebriar em fantasias moldadas pelo espírito irrequieto e ambicioso que o homem ora esconde, ora revela, à profusão.
O homem acende o prazer dos sentidos, na certeza de que novas sensações serão colhidas ao bem, agora fecundado de adorno, e no imaginário de que sua alma se diverte, excitando-se a si mesma ou a outra.
Inexiste relação exacta e precisa apta a oferecer proporção entre o bem principal e o bem acessório (a benfeitoria).
Logo, nada obsta a que, em excesso de luxúria, de prazer, de volúpia, implemente-se benfeitoria que represente valor - leia-se valor de qualquer natureza - mais relevante do que o do bem principal.

(in Código Civil Brasileiro)

Por "benfeitoria voluptuária" leia-se "a acção do intérprete"
Por "bem" leia-se "guitarra portuguesa"»

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Contracapa do duplo CD "Voluptuária", de Ricardo Rocha. Aqui estão indicadas as peças que interpreta neste duplo álbum. Na maioria são originais; outros são de Carlos Paredes e de Caldeira Cabral. Posted by Hello


Ricardo Rocha e a sua Guitarra. Foto extraída do duplo CD, "Voluptuária" Posted by Hello


Ricardo Rocha e a caixa da sua guitarra. Foto extraída do duplo CD, "Voluptuária". Posted by Hello


"Noites no coração", ontem, em Viseu. Espectáculo com guitarradas e "fados" de Coimbra, e com fado de Lisboa. Posted by Hello

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