Guitarra de Coimbra (Parte I)
sábado, junho 18, 2005
Vou transcrever o que o autor escreveu a abrir o livro:
«"Dedilhações em busca...e outros exercícios" é um livro de amor que tanto se dirige àquele que está próximo como Àquele que, podendo estar ali ou algures, se encontra para lá de tudo. Dedilhar é tocar e tocar é amar. Dedilhar na procura de uma execução plena, embora com a consciência de precaridade de um exercício que aspira atingir a beleza, eis o sentido destas poéticas.
O título pretende ainda sugerir ângulos ou perspectivas diversificadas através de uma tripartida visão do objecto. A de um amor imbuído de erotismo subtil e velado, por um lado, e de amores de tipologia diversa que exclui esse traço, por outro.
Os poemas de "Exercícios de vocação" continuam o discurso, mas agora numa vertente do sagrado e através da invocação divina, como recurso de salvação. Interpelam Deus, último refúgio.
Já o ciclo final "Exercícios de pulso", numa intencional conotação com um dos aspectos da técnica pianística que, aliás, inspira todo o ritual de baptismo da obra, aponta para a leitura de uma poesia que se auto-ausculta ou, pelo menos, pretende fazê-lo, no sentido de medir a temperatura poética e a própria força.»
Escreve Maria Adelaide Valente na contracapa do livro:
«Através destas Dedilhações, viaja Mouro Serpa com um sentir e com uma força que se ampliam poema a poema.
Dedilhações em busca, rasto de alma bordada com palavras que trazem consigo o aroma dos medronhos e do alecrim, dos musgos e dos fenos, a ingenuidade da oliveira, o rubor das papoilas, ainfinita acalmia dos "cedros da eternidade".
sexta-feira, junho 17, 2005

Cortejo da Queima das Fitas. António M. Nunes e a esposa, Carla, em 1994.
Escreveu A. Nunes:
«minha foto é como quem diz, foto daquilo que eu era. Tudo me atacou, menos a carequice ... salvo erro, o Camilo Castelo Branco fez um lindo soneto, intitulado "Soneto da Decrepitude", onde consta o verso "Ora, hoje que eu me sinto quebrantado..."»
Eugénio de Andrade (1923 – 2005)
(Poesia enviada pelo meu amigo orfeonista, José Paracana)
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Nota: Este poema foi cantado por Heirique Veiga no disco "Coimbra Eterna" - já apresentado neste Blog no dia 10 de Março - pelo Grupo de Fados da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto.
quinta-feira, junho 16, 2005

Partitura de "Variações em Mi menor" (3) de Jorge Tuna. Peça com uma força impressionante, desde que tocada com a mestria do autor. Tem uma melodia fascinante, com uma construção soberba, do melhor que se fez até hoje em Coimbra. Grau de dificuldade elevado, convém ter presente uma gravação original para nos apercebermos do que não pode estar escrito em partitura, ou seja, a interpretação. É aqui que reside a maior dificuldade.

Etiquetas: Partituras
quarta-feira, junho 15, 2005
Na morte do poeta
(Poema enviado pelo meu amigo orfeonista, Rui Vaz)
ADEUS
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
( " Os amantes sem dinheiro " )

2ª Conferência de Jorge Cravo, "O Neo-Modernismo de Luiz Goes: 1953-1983", (ou o advento da Escola Goesiana), na Livraria Minerva, em Coimbra.
Foto de Jorge Cravo no uso da palavra.
Esta conferência foi do agrado geral, pelo que pude observar. No final, Jorge Cravo recebeu uma calorosa e muito prolongada salva de palmas.
Usou uma linguagem acessível mas com as ideias muito bem arrumadas e um encadeamento notável das fases por que passou Luiz Goes. Exemplificou aquilo que ia dizendo com a audição de peças de discos gravados não só por Luiz Goes, como por Edmundo de Bettencourt, Paradela de Oliveira e Armando Goes, estes para fazer comparações.
Usou uma linguagem acessível mas com as ideias muito bem arrumadas e um encadeamento notável das fases por que passou Luiz Goes. Exemplificou aquilo que ia dizendo com a audição de peças de discos gravados não só por Luiz Goes, como por Edmundo de Bettencourt, Paradela de Oliveira e Armando Goes, estes para fazer comparações.
Foram referidos os companheiros de Luiz Goes, com especial destaque a João Bagão e António Andias. Foi com o disco acompanhado por este último que Goes atingiu a plenitude da sua produção e execução, segundo sugeriu Jorge Cravo. É de facto o clímax de uma vida dedicada à arte dos sons, qual curva de Gauss, mas ainda muito longe da base desta.
Temos que agradecer a Jorge Cravo os momentos de prazer que nos proporcionou, a mestria com que lidou com o tema de modo a que tudo ficasse claro, sem ambiguidades.
Temos que agradecer a Jorge Cravo os momentos de prazer que nos proporcionou, a mestria com que lidou com o tema de modo a que tudo ficasse claro, sem ambiguidades.

2ª Conferência de Jorge Cravo, "O Neo-Modernismo de Luiz Goes: 1953-1983", (ou o advento da Escola Goesiana), na Livraria Minerva, em Coimbra. Foto dos cultores da Canção de Coimbra no final da conferência. Vêem-se atrás: João Branco, Ricardo Pinto, Bruno Costa, Jorge Cravo, Manuel Coroa e Jorge Gomes; à frente: Luís Carlos, Mário Rovira, Manuel Coroa, Octávio Sérgio, José Miguel Baptista e José Freitas.

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