sexta-feira, dezembro 22, 2006










































Finalmente o Método de Guitarra Portuguesa de José Santos Paulo viu a luz do dia, numa edição comemorativa dos 115 Anos da Tuna Académica da Universidade de Coimbra. Os meus parabéns ao autor por mais este trabalho que, por certo, irá enriquecer o património artístico de Coimbra.

quinta-feira, dezembro 21, 2006


A Orquestra Clássica do Centro, esta noite, na Sé Nova. Diário as Beiras de hoje, com foto de Carlos Jorge Monteiro. Posted by Picasa


Postal de Natal para José Paulo Posted by Picasa

Caro Amigo e Estimado Prof. José dos Santos Paulo:
era minha intenção sugerir no Blog a aquisição do CD QUATRO ELEMENTOS ou o seu MÉTODO DE GUITARRA para ofertas natalícias inter amicos.
Acontece que só hoje me chegou à caixa do correio um exemplar do "Quatro Elementos", acrescido da brochura contendo as partituras impressas.
Fiquei a saber, com alguma pena, que o seu "Método" não está ainda pronto para distribuição.
Que bela surpresa escutar, em primeira e destemperada audição, os lieder vocalizados pelo José Paulo, com acompanhamento de Guitarra (Álvaro Aroso), viola (Eduardo Aroso) e viola baixo (José Carlos Teixeira).
Ele haverá quem venha dizer que o projecto já não se quadra nas fronteiras estritas da Canção de Coimbra, estigma esgrimido sempre que no espectro da Galáxia Coimbrã afloram surtos de modernidade/e ou vanguardismos. O Prof. Flávio Pinho, discreto estudioso da Música que se foi fazendo e recebendo em Coimbra, no texto de apresentação impresso nos livretos que acompanham o disco não hesita em classificar o projecto como Canção de Coimbra. Fazendo minha a opinião de Flávio Pinho, só posso louvar e felicitar o poeta e os seus intérpretes.
Com este projecto, a Canção de Coimbra retoma e revaloriza uma das suas mais importantes e singulares vertentes: o reportório de salão/ou teatro, numa herança que vinda do século XVIII, foi ocasionalmente reafirmada no século XIX e no século XX. É hora de invocar mais um José Coutinho de Oliveira, um D. José Pais de Almeida e Silva, um Rui Coelho, e menos os fazedores de estróficas para rondas nocturnas. E que bem que está Álvaro Aroso nos solos de Guitarra, chegando ao ponto de cantar com José Paulo no tema QUANDO (Quando/o aroma do vento for o sémen da terra).
Em tempos, Armando Luis de Carvalho Homem chamou a atenção para o facto de alguns destes instrumentistas, em fase tertuliana no imediato pós-1974, terem revelado potencialidades que depois esmoreceram. E José Miguel Baptista, reclamando-se da herança dos Irmãos Melo, nunca aceitou nas décadas de Oitenta/Noventa os unanimismos concitados em torno da quase hegemonia do Grupo de Guitarras e Cantares de Coimbra (grupo Brojo/Portugal). Mas, querendo ter e ser um lugar distinto na Coimbra desses anos, a verdade é que os tertulianos tardavam em dar mostras da sua capacidade produtiva.
Meu Caro José Paulo:
tardou, mas chegou!
Conforme temos falado, a Canção de Coimbra enquanto cultura de salão/palco que também foi, passou por outras soluções ao nível dos instrumentos de acompanhamento. Tenho a certeza de que o meu Amigo saberá dar uso a estas palavras em futuros projectos.
Seguindo as suas indicações, e porque seria uma pena não se conseguir ofertar este disco como prenda de Natal, solicitei ao Doutor José Carlos Teixeira dados sobre o como encomendar e o onde comprar.
Aqui ficam os contactos que possibilitam a aquisição do disco:
MEDIA PRIMER
Telefone: 239703232/3
Rua Sanches da Gama, Nº 160
3030-021 Coimbra
(junto à Rua do Brasil, Calhabé)
Com os votos de Feliz Natal,
AMNunes


Grupo Guitarras de Coimbra logo à noite no Café Santa Cruz. Diário de Coimbra de hoje. Posted by Picasa

Armadilhas e Ardis da Memória
(algumas reflexões sobre Artur Paredes)
António Manuel Nunes

Não sendo guitarrista, desde há muito que a memória de Artur Paredes me acompanha, primeiro pela mão de Afonso de Sousa, depois pelo próximo e continuado contacto com Jorge Gomes, ensinante para quem Paredes era e é considerado o “Divino Mestre”.
Em dia de rememoração, seja-me permitido divagar sobre ardis que obstroem o acesso pleno à obra do artista.

-a obra fonográfica de juventude de Artur Paredes, gravada em Maio de 1927, continua por resgatar, num tempo em que se procedeu à recuperação dos primitivos raros de Carlos Galdel, Caruso, Tomás Alcaide e Amália Rodrigues. Afonso de Sousa, confrontado com as reedições de Edmundo Bettencourt e António Menano (década de 1980) tinha grande mágoa neste particular. A seu pedido cheguei a enviar propostas escritas à Valentim de Carvalho por 1989, sugerindo disponibilizar à editora as matrizes sonoras que porventura não tivesse em arquivo. Não houve resposta alguma favorável. Em 2003, no âmbito da Coimbra Capital Nacional da Cultura, voltei a insistir no resgate da obra de Artur Paredes. Em vão. Em 2005, tendo a Câmara Municipal de Coimbra anunciado a candidatura da CC a Património da Unesco, persisti na recuperação do espólio parediano. Sem sucesso, para consternação minha e de José Moças. Contas feitas, apenas a Tradisom recuperou na década de 1990 um dos originais primitivos de Artur Paredes, o que é muito pouco, original esse que tem sido reproduzido por outras editoras.

-a transcrição musical da obra de Artur Paredes continua por realizar e editar. Em 2002, na sequência das recolhas levadas a cabo sobre Flávio Rodrigues da Silva, ainda se conjecturou implementar um plano global de recolha de peças e respectiva transcrição musical. Contudo, nunca foi possível conjugar vontades e capitais suficientes para um empreendimento desta monta.

-não obstante ser um homem de convicções comunistas e republicanas, Artur Paredes não foi considerado no imediato após 1974 uma figura da oposição ao Estado Novo. Não teve direito a medalhas, placas toponímicas, bustos ou honrarias. Momentaneamente ofuscado pelo Neo-Realismo de seu filho Carlos Paredes, o velho Paredes parecia suspeito: não fora panfletarista, não fizera profissão de fé ao Realismo mais ortodoxo e dera colaboração aos programas da Emissora Nacional.
Por iniciativa de Afonso de Sousa, e estando em curso os primeiros seminários sobre o “Fado de Coimbra” descerrou-se uma lápide evocativa num prédio onde habitou nas Escadas do Quebra Costas. Em tempos de radicalismos exaltados, a placa seria vandalizada, tal qual aconteceu com outra dedicada a Edmundo Bettencourt, no Largo da Sé Velha. Infelizmente não tive oportunidade de proceder à recolocação da placa de homenagem a Artur Paredes na mesma altura em que se solucionou o problema da destruição da placa de Edmundo Bettencourt (25/11/1989). Até há muito pouco tempo, continuava por resolver a recolocação da placa no prédio do Quebra Costas, “desfeita” a todos os títulos desonrosa, sobretudo quando se fala com crescente insistência na revalorização do centro histórico de Coimbra.

Aquilo que venho a escrever, não sendo tudo, é seguramente muito. Afonso de Sousa considerava (e com inteira justiça) Artur Paredes o pai da Guitarra de Coimbra. Chegou a compará-lo a Miguel Ângelo, de tal modo a obra de juventude lembra o avassalador tecto da Capela Sistina, e a obra da maturidade o fresco do Juízo Final.
Há quem procure matizar ou até diminuir a originalidade artística de Artur Paredes, para tanto esgrimindo os seguintes argumentos:

-no caso das soluções digitantes avançadas na década de 1920 elas não seriam tão originais quanto se pretendeu pois em Lisboa o guitarrista Armandinho também estaria a desenvolver trabalho semelhante;
-no caso da transformação da antiga Guitarra de Coimbra na nova Guitarra, os louros caberiam essencialmente ao construtor João Pedro Grácio;
-Artur Paredes teria sido artisticamente ultrapassado por seu filho Carlos Paredes;
-não sendo uma figura de proa do Neo-Realismo, importaria olhar para Artur Paredes como um pai opressor e um artista perturbado por bizarrarias e taras…

Os argumentos são, sem dúvida, merecedores de madura reflexão. Para já, e quanto à primeira objecção, é oportuno frisar que Artur Paredes e Armandinho trabalharam em universos culturais, musicais e organológicos distintos. Não está sequer documentado que tenham convivido ou trocado experiências. No caso de Armandinho, muitas vezes considerado um guitarrista invulgar e original, a audição de discos de Fado de Lisboa gravados entre 1902 e 1910 vem provar que algumas das inovações erradamente atribuídas a Armandinho já existiam antes dele se ter afirmado. Relativamente ao contexto conimbricense, a originalidade de Artur Paredes é um dado inquestionável, seja como solista de composições instrumentais, seja como acompanhador de cantores. Não havia nenhuma “escola” antes dele onde o guitarrista pudesse colher “receitas”. Quanto à transformação do instrumento, o processo reformador tem de ser imputado a Artur Paredes, tomando como alfa a antiga Guitarra de Coimbra e não a Guitarra de Lisboa. Antes de João Pedro Grácio ter feito a sua entrada no processo, os passos decisivos foram dados por Artur Paredes, Guilherme Barbosa e Joaquim Grácio. Deixo os outros argumentos para mentes mais especulativas. O contexto familiar dos Paredes é efectivamente atravessado por relações de violência, temperamentos coléricos e quebras de relações. As circunstancias mais conhecidas reportam-se a Artur, mas há resíduos orais para Gonçalo e sobrevivências desestruturantes em Carlos. As historietas não passam disso mesmo. Não estamos bem a enxergar de que modo o Artur Paredes que sai de uma agência funerária com uma prancha de pau preto ao ombro e entra no eléctrico desajeitadamente com a dita, pancada aqui, empurrão ali, contribua de forma ponderosa para fazer uma boa biografia.

Até ao advento de Artur Paredes existiam basicamente três “estilos” assentes em três tipos regionalizados de guitarras:
a) o estilo de Lisboa, praticamente confinado ao universo do Fado, de todos o mais fortemente codificado em termos de afinações e de toques, cujo instrumento nuclear evolucionara a partir da Cítara;
b) o estilo do Porto, baseado no emprego da afinação natural, muito voltado para a prática regional do Fado, serenatas, rapsódias populares, composição clássicas, actuações em salões, assembleias e cafés, numa clara herança da Guitarra Inglesa (para a música de índole mais popular usava-se a viola braguesa);
c) o estilo antigo de Coimbra, assente na afinação natural e num modelo regional de guitarra recentemente definido grosso modo a partir da Guitarra Inglesa/Guitarra do Porto, com fortes incursões nos campos do Fado de Lisboa que localmente se cultivava, Canção de Coimbra e folclore regional.

O acesso à discografia anterior a 1950 prova inquestionavelmente que aquilo a que se viria a chamar o “estilo de Coimbra” resultou da naturalização do Estilo Artur Paredes. Como tal, a crítica (por vezes pertinente) aos assomos de idolatria parediana não deverá sonegar à Guitarra de Coimbra o seu Código Genético.
Se a obra guitarrística de Artur Paredes permanece inacessível (tendo os ensinantes e as escolas de se socorrer de cópias), o que dizer quanto à sua biografia? Relativamente ao local de nascimento, levantaram-se dúvidas na década de 1990. Julgo que o Dr. Carlos Serra, na fase em que esteve mais ligado ao Museu Académico, chegou a devassar registos paroquiais e terá mesmo arrimado à posse de dados que ligariam membros da família Paredes a Ançã.
A data e as circunstâncias da morte do pai do guitarrista, Gonçalo Paredes, continuam por desvendar. Há quem fale em assassinato, relato oral que nunca consegui confirmar. Afonso de Sousa chegou a aventar a possibilidade de Artur Paredes, já órfão, ter habitado no Colégio dos Órfãos da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra. Acontece que na fase de preparação da sua tese de mestrado sobre o ensino da guitarra em Coimbra Fernando Marques pesquisou demoradamente os livros da referida instituição e neles nada achou sobre Artur Paredes.
Muito menos estão esclarecidos os motivos extra-profissionais que levaram Artur Paredes a fixar-se em Lisboa no Inverno de 1934, nem o pesado corte de relações com o ramo familiar de Coimbra, polarizado por seu tio, o guitarrista Manuel Rodrigues Paredes.
Como se tais lacunas e dificuldades não fossem suficientemente gravosas, impõe-se abrir as portas a delicadas nuances, cuja natureza pode ajudar a perceber uma certa má relação entre Coimbra e Artur Paredes.
Quem habitualmente zela pela memória de Artur Paredes é a Academia de Coimbra, que não os populares de Coimbra. Artur Paredes desde muito jovem ligou-se à Academia e a artistas amadores estudantes. Com eles gravou discos, com eles percorreu Portugal, Espanha, Brasil e França. Tudo isto aconteceu num tempo em que as relações entre estudantes e futricas obedeciam a códigos de conduta muito tipificados.
A aproximação de Artur Paredes à Academia mereceu a reprovação dos seus pares, tendo sido considerada uma espécie de “traição”. Daí a alcunha o “Doutor”, atribuída desdenhosamente pelos futricas a Artur Paredes. Por seu turno, Artur Paredes responderia com altivez a estas desconsiderações da sua gente.
As gravações realizadas por Paredes em finais da década de 1920 suscitaram enorme polémica nos meios locais. Dizia-se que não respeitava a tradição, pois as gravações feitas com Bettencourt em nada se assemelhavam às concretizadas por António Menano/Flávio Rodrigues. Se os arranjos de acompanhamento eram “estranhos”, o que dizer das guitarradas, cuja afinação e dedilhação não lembravam à outiva dos novos nem dos mais antigos nada que se parecesse com o Mansilha, o Borges de Sousa, o Antero da Veiga, o Chico Menano? Aquilo não era “fado de Coimbra” nem “música de Coimbra”, acrescentava-se.
Adoptado pela Academia de Coimbra, Artur Paredes viu-se enjeitado pela Sociedade Tradicional Futrica que passou a reclamar como símbolo identitário Flávio Rodrigues da Silva. Anos mais tarde, duas outras questiúnculas contribuíram para o agravamento da situação.
A primeira prende-se com o facto de Artur Paredes ter gravado a melodia da “Balada de Coimbra” em 1927 sem que na etiqueta do disco viesse anotada a autoria de José das Neves Eliseu. Logo começou a correr que Artur Paredes tentara apropriar-se ilegitimanente da melodia, incorrendo em enriquecimento sem injusta causa, com prejuízo dos herdeiros de Eliseu. O retumbante sucesso deste tema nos programas da Emissora Nacional voltaria a agravar as tensões entre o guitarrista e os descendentes de José Eliseu. Confrontado com um processo judicial, decidido a favor dos filhos de José Eliseu, Artur Paredes confirmou aquilo que sempre reclamara: era autor não da música original mas dos arranjos para guitarra. O desfecho do pleito judicial em nada contribuiu para aproximar Paredes e a sua obra artística da Sociedade Tradicional Futrica.
O segundo pleito relaciona-se com as transformações operadas na antiga guitarra, a tal ponto que desde ca. 1940 passou a comportar mais avantajadas dimensões e sonoridade potente, dotada de certa agressividade. A rápida adopção do novo tipo de cordofone na Academia de Coimbra (implementada até 1954) não encontrou simpatizantes nos meios populares. Argumentou-se que a verdadeira guitarra representativa da cultura futrica e salatina era a de modelo antigo, cuja sonoridade se revelaria mais apropriada ao folclore e às serenatas da velha urbe.

Retirado dos palcos desde ca. 1960, Artur Paredes viveu os últimos anos em crescente isolamento. Vieram o esfriamento de relações com o filho Carlos, a morte da filha, a morte dos velhos amigos Bettencourt, Paradela e Armando Goes, a viuvez e os padecimentos do aparelho urinário. Mesmo assim, continuava a ser muito solicitado e visitado por Teotónio Xavier, Frias Gonçalves, Carlos Figueiredo e Octávio Sérgio. Visitava-se Artur Paredes com um misto de curiosidade, alvoroçado temor e veneração. E quem teve o privilégio de o visitar, sabe que não era a mesma coisa que ir a casa de um simples tocador de guitarra. Ele era o "pontifex maximus da Guitarra de Coimbra".
Na sua obra artística da maturidade, Artur Paredes evoluíra para uma espécie de maneirismo refinado, marcado pela busca da perfeição. Não voltou a gravar com cantores, mas sabe-se que estava muito próximo das soluções do Novo Canto formuladas na 2ª metade da década de 1960 por Luiz Goes/João Bagão. E quem diz Artur Paredes, diz Edmundo Bettencourt e Afonso de Sousa.
O espólio sonoro não industrial de Artur Paredes tem suscitado dúvidas e melindres. Contava Afonso de Sousa que Artur Paredes tinha na sua casa de Lisboa um compartimento reservado com diversas guitarras, bobines, unhas postiças, gravadores e discos. Estas declarações foram já confirmadas por outros frequentadores da sua casa. Teotónio Xavier adianta que Artur Paredes lhe pediu insistentemente para guardar esse material, pedido que recusou. Após a morte de Carlos Paredes (2004), Teotónio Xavier tem questionado Luísa Amaro quanto ao paradeiro desses materiais. De acordo com outros testemunhos, houve frequentadores da casa de Artur Paredes que na fase terminal lhe surriparam muito material. Outros ainda acrescentam que o próprio guitarrista antes de falecer procedeu à destruição do grosso da sua documentação sonora, com receio de que no futuro alguém se aproveitasse do seu trabalho.
Uma outra pergunta, esperançosamente formulada, prende-se com os arquivos da Emissora Nacional. Terá a antiga Emissora Nacional guardado registos gravados (bobines de fita de aço) dos concertos dados entre a década de 1940 e inícios dos anos 50 pelo trio Artur Paredes/Carlos Paredes/Arménio Silva? A resposta infelizmente é negativa. Não existe rigorosamente nada no Museu da RDP reportado às actuações de Artur Paredes, à semelhança do que aliás aconteceu na Emissora Regional de Coimbra com as Serenatas dos anos de 1940 e 1950. Ou não se gravaram as actuações, ou as bobines foram reutilizadas para outros fins.

Como se pode constatar, a herança de Artur Paredes não é apenas um caso de “má vontade” ou “ignorância” de certas editoras.
Caberá certamente às gerações em processo de afirmação no contexto da Galáxia Sonora Coimbrã a implementação de planos de salvaguarda do legado cultural de Artur Paredes. O alargamento do conceito de património e o acesso a novas tecnologias poderão constituir mais valias na desobstrução de dificuldades que as gerações de passado não lograram remover.
ADENDA: atendendo às sugestões de alguns leitores do Blog "guitarradecoimbra" quanto à necessidade de suprir a lacuna toponímica que rodeia o nome de ARTUR PAREDES, estão já em curso contactos com membros da Comissão Municipal de Toponímia de Coimbra para que no próximo ano de 2007 a cidade natal de Artur Paredes possa assinalar condignamente o nome daquele artista. Ao longo dos próximos meses esperamos conseguir dar conta da evolução da situação e agradecer publicamente ao nosso pronto e amável "mandatário".


Partitura para canto e viola de "Os olhos negros e os azues" (1). Transcrição de Octávio Sérgio.


Partitura para canto e viola de "Os olhos negros e os azues" (2)
Música: José da Costa e Cunha Vasconcelos Delgado
Letra: José de Vasconcelos
Incipit: Os olhos de Inês são negros
Origem: São Bento (?)
Data: “modinha para canto e viollão, São Bento, 10 de Janeiro de [18]63”

Os olhos de Inês são negros
Os de Júlia cor do céu
Mas dizer quais são mais belos
Decerto não posso eu.

Os negros olhos de Inês
Cintilam com tal ardor
Que fulgurando inquietos
Abrasam peitos d’amor.

De Júlia os olhos azuis
Brilham cheios de doçura,
Em brandos lumes acesos
Nas almas geram ternura.

De Júlia os olhos dão morte
Com seu terno e meigo olhar
De Inês os olhos dão vida
No seu fogo a flamejar.

Adoro os olhos que matam,
Com tão gostoso morrer;
Adoro os negros que fazem
Entre chamas reviver.

Olhos azuis, olhos negros
Eu vacilo de ternura
Entre o gracejando, negros
E dos azuis a doçura.

Se é melhor a morte, ou vida
Que não, não sei dizer,
Quero morrer nos de Júlia
Mas nos d’Inês reviver.

Se a morrer fosse obrigado
Ou quais amo, dizer
Olhos azuis, olhos negros
Vós me verieis morrer.

As quadras cantam-se duas a duas sem separador, bisando-se os dois primeiros versos. O 4º verso da 2ª quadra de cada grupo é repetido 3 vezes.
Informação complementar:
Modinha de pendor estrófico, em compasso quaternário (4/4) e calmoso tom de Lá Menor, para canto e piano escrita em 27 de Janeiro de 1862 por Costa Vasconcelos. No manuscrito consta uma segunda versão, para “canto e violão”, cuja solfa foi escrita em 10 de Janeiro de 1863. O translado da letra está autografado (Costa Vasconcelos) e datado de 03 de Janeiro de 1863. Recolha na BGUC, Secção de Músicas, cota MM 1012.
Esta modinha não deve confundir-se com “Os Olhos Negros” (Ai meu Deus, Senhor, meu Deus), peça gravada no disco de 78 rpm Odeon 136.271 Og 539 por Luiz Macieira, nem com a famosa “Olhos Negros da Guiné”, repetidamente imputada a anónimo da Ilha Terceira, mas que também se cantava nas serenatas de Coimbra (há quem associe o nome de José Dória a esta composição).
Consultado sobre este espécime, o Prof. Flávio Pinho chama a atenção para a eventualidade de parentela entre o autor da música desta modinha e o «compositor Manuel de Vasconcelos Delgado (1790-1856), de quem a Academia Martiniana gravou em 2002 a “Missa de Requiem” e um moteto (disco “Arganil-200 anos de Música Sacra”)». Uma coisa é certa, no volumoso caderno de músicas manuscritas onde constam estes “Olhos”, ocorrem diversas referências a Arganil. A composição vinha dedicada “A meu mano J. S. C. Vasconcelos”.
Não dispomos de mais dados sobre os irmãos Vasconcelos. Musicalmente ilustrados, revelam uma amostragem reportorial de salão bastante significativa para a primeira metade da década de 1860. Pelo rosto da composição ADEUS, que contamos vir a editar, sabe-se que Costa Vasconcelos Delgado já era casado em 1863 com Mariana Augusta de Paiva.
Os textos literários de pendor amoroso não deixam, contudo, de revelar um gosto algo arcaizante, marcado pelo arcadismo, e adesões ao Ultra-Romantismo de António Augusto Soares de Passos e Palmeirim. Os trabalhos aparecem autografados em locais como "Sobreira", "Coimbra", "São Bento" e "Arganil". Os clássicos italianos e franceses não lhes eram alheios, sendo explícitas as incursões à obra de Giuseppe Verdi.
Esta modinha deve ter sofrido popularização pois uma das quadras reapareceria décadas mais tarde aleatoriamente cantada na melodia do "Fado das Três Horas" (Reynaldo Varela).
Transcrição musical a partir da solfa autógrafa: Octávio Sérgio (2006)
Texto: António Manuel Nunes
Colaboração e agradecimentos: Prof. Flávio Pinho


Partitura para canto e piano de "Os olhos negros e os azues" (1). Transcrição de Flávio Pinho. Posted by Picasa


Partitura para canto e piano de "Os olhos negros e os azues" (2). Transcrição de Flávio Pinho. Posted by Picasa

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Lembranças de Artur Paredes e Afonso de Sousa
Caro Amigo:
Quem é lhe lhe contou [a partida] do arbusto? Que me diz da da boneca que lhe revelei? Sei mais, que com o tempo lhe contarei. Tudo considerado, penso que o A. Paredes aceitava as partidas com algum gosto, embora mostrando-se furioso e molestado. Não tinha daquilo no seu dia-a-dia lisboeta, sempre rotineiro e descolorido. Gostava, mas fazia sempre a sua parte...
(...)
Artur Paredes é, de facto, uma personalidade dificil de reconstituir. A minha opinião será um bocado suspeita porque não consigo esquecer que, quando menino, ele me acarinhava com ternura. E até pretendia que eu aprendesse a tocar guitarra, o que era missão impossível para quem, de tanto ouvir tocar bem, bem sabia que não valia a pena, pois nunca lá chegaria. Tive a honra de "conviver" com A. Paredes como criança, adolescente e já adulto. As recordações que dele guardo são a de um homem introvertido, doentiamente tímido, sem sentido de humor activo, sujeito a depressões, sem qualquer preocupação de exaltação do "ego" (a não ser da sua música, que ele considerava uma entidade terceira, digna de estudo e de respeito). A. Paredes era incapaz de desejar mal a alguém, por inveja ou desencontro. Mas era terrível, se o atacassem nas suas concepções musicais (não direi tanto "estéticas" ou culturais, pois a sua capacidade expositiva ou argumentativa era parca ou deficiente - quem bem sabia falar por ele era o Bettencourt, também uma alma tímida, que por isso o compreendia). Ou o Régio, que não falava, mas poetava frases lapidares, definidoras ( 2Ai choro com que o Paredes, vibrando os dedos em garra, despedaçava a guitarra, punha os bordões a estalar..."). Mas tenho de convir que A. Paredes era um homem muito difícil.
(...)*
A. Paredes não era um homem mau. Era uma personalidade complexa, melhor diria complexada. E não se pense que o Carlos, por contraponto ao pai, era o ser complacente e humilde, quase apático em matéria de controvérsias, que é a imagem que alguns dele guardam. Uma vez, estando eu a trabalhar no escritório com o meu Pai, entrou nele, de rompante o Carlos e quase sem nos cumprimentar, disparou: " O Fernando Lopes Graça é uma besta! Teve a ousadia de dizer que aquilo que eu faço não é Música! " Suprema ofensa, que ele, igualzinho ao pai, não podia tolerar .
Por aqui me fico, por hoje.
Um abraço
Afonso de Oliveira Sousa (Leiria, 30 de Novembro de 2006)
=/=
*Em acordo com o autor do e-mail supra transcrito, optei pela supressão deste parágrafo, cujo conteúdo mais familiar não importa agora revelar, AMNunes

Graçolas de Afonso de Sousa a Artur Paredes
Caro Amigo:
folgo muito por ter proporcionado estudos e controversias com os documentos que lhe mandei, herdados do meu Avô.
Quanto a partidas do meu Pai ao Artur Paredes, sei muitas. Recordando-as, fico admirado como é que o relacionamento entre os dois se manteve. É que o A. Paredes tinha um feitio levado da breca. Não admitia desconsiderações e levava tudo muito a sério.
De todas as que recordo, a melhor, para mim foi a seguinte: o A. Paredes veio a Leiria, a convite do meu Pai, passar férias. Na altura viviamos no grande casarão do meu Avô materno ( António Rodrigues Oliveira), sito na Rua Comandante João Belo - Leiria. Ocupávamos o 2.º andar, que tinha um corredor muito comprido, com mais de 30 metros e ao longo dele vários quartos, todos iguais. Foi destinado um deles, mais ou menos a meio do corredor, ao A. Paredes. E desse lado ficava um outro, ocupado por uma irmã da minha Mãe, senhora viúva, de poucas falas e ar severo. O A. Paredes apreciava o seu ar distante e não se cansava de apregoar o respeito que ela lhe merecia. Pois bem, um dia o meu Pai fez o seguinte: aproveitando a ausência do A. Paredes, foi ao quarto dele e meteu em cima da cama uma boneca, que conseguiu fazer de tamanho natural e vestida com roupas dessa minha tia (aí, houve ajuda da minha Mãe ). Seriam umas 5 da tarde, o A. Paredes, acabado um passeio pela cidade, voltou ao casarão, para descansar uns momentos no quarto. Abriu a porta e entrou. O quarto estava na obscuridade e ele, ao dar-se com a boneca, julgou ser a minha severa tia. Ficou convicto de que se tinha enganado e que entrara no quarto errado. Foi o fim do mundo: saiu esbaforido para o corredor e de mãos na cabeça, só gritava " Ó Afonso, ó Afonso, acuda-me que me enganei ! Venha cá acima ajudar-me, que estou desgraçado! Como é que vou explicar o que sucedeu ? Que grande desgraça a minha..."
Só uma grande amizade levou o severo Paredes a perdoar ...
Afonso de Oliveira Sousa (Leiria, 28 de Novembro de 2006)
AMNunes


Com os Paredes em Venda do Pinheiro (1961) Posted by Picasa
Leiria, 16 de Novembro de 2006
Caro Dr. António Nunes
Artur Paredes era um citadino. Viveu toda a sua vida em duas cidades: Coimbra e Lisboa.
Mas, pelos anos 60, inesperadamente, decidiu viver momentos de lazer no campo. Comprou (ou arrendou) uma pequena casa na Venda do Pinheiro, onde passava os fins de semana.
E, espanto dos espantos, dedicou-se à caça! Ou melhor, a passear pelos campos e pinhais circundantes, com a espingarda ao ombro, certamente desfazendo neuras ou concebendo princípios de Variações... Não caçava nada, como confessa em carta endereçada a meu Pai.
Junto fotografia de Abril de 1961 onde, na janela grande da casa da Venda do Pinheiro identifico, da esquerda para a direita, Judite Pedrosa (4ª), a filha de Artur Paredes Maria Helena (3ª), Eva de Sousa (2ª), Afonso de Sousa (1º ), e cá fora um vulto masculino que não é Artur Paredes.
Não consigo identificar, entre as três primeiras Senhoras a Dra. Alice Paredes, cuja fisionomia não recordo. Como sempre, falta o Carlos Paredes.
Um abraço,
Afonso de Oliveira Sousa.
=/=
Lisboa, 13-11-1962
Meu Caro Afonso:
Recebi há bocado a sua carta e já está tudo em ordem; fique descansado.
Então como vai? Que grande ausência!
Folgo muito em saber que também se dedicou à caça dos... gambozinos, na Fátima.
Eu, é claro, como grande caçador, só vou à caça grossa: tigres, panteras e outras feras que abundam na Venda do Pinheiro.
No Domingo não matei nada, mas, em compensação, cacei uma molha de tal ordem que me deixou em mísero estado. Resultado: apanhei uma forte gripe que me deu cabo da saúde.
Estou muito combalido e, se ainda me mantenho de pé, isso é devido à minha resistência física.
Não se esqueça de que aos sábados vou à Venda do Pinheiro enquanto durar a maldita caça.
Afinal, não sei para quê, não mato nada!... Maluquices!
Cumprimentos a todos.
Um abraço do amigo certo,
Artur Paredes
Fonte: reprodução de duas cartas enviadas pelo Dr. Afonso de Oliveira Sousa
AMNunes


Faz hoje 26 anos que morreu Artur Paredes. Tinha completado 81 anos de idade.
Vamos esperar que jornais, rádios e televisões, pelo menos hoje, lhe dêem um momento de atenção.
E para quando uma rua em Coimbra com o seu nome? E uma estátua? Será pedir de mais?

terça-feira, dezembro 19, 2006

Nótula sobre a discografia de Artur Paredes (anos 50)


Armando Luís de Carvalho HOMEM


Em 04 de Setembro de 2005, Octávio Sérgio colocou aqui um post com motivação no CD Artur Paredes (ed. MOVIEPLAY, 2003) – cuja capa se reproduz –, o qual remasteriza 8 temas gravados em 2 EP's de 1957, de certa forma reeditados em 1961 (com Carlos Paredes [g.] / Arménio Silva [v]). O texto que acompanha a reprodução é longo e apoia-se em trabalhos de José NIZA, Nélson Correia BORGES e Afonso de SOUSA. Em posts subsequentes, a reprodução das capas dos referidos EP's (ed. ALVORADA, MEP 60054 [capa de fundo amarelo] e MEP 600056 [capa de fundo azul-claro]).
Em boa verdade, este CD não remasteriza os EP's de 1957 mas as reedições de certa forma de 4 anos depois. Porque digo isto ?

a) O MEP 60054 inclui «Desfolhada», «Variações em mi menor», «Variações em ré menor n.º 2» e «Dança»;

b) o MEP 60056 contém «Variações em Ré Maior», «Canção do Ribeirinho», «Rapsódia n.º 2» e «Passatempo»;

c) ora o CD de 2003 não nos apresenta «Canção do Ribeirinho»; apresenta outra versão de «Passatempo»; outra é também a versão da «Rapsódia», e até com diferente título: «Cantares Portugueses»; e patenteia-nos «Balada do Mondego«, ausente dos EP's mencionados em a) e em b).

Como explicar estas discrepâncias ? Eis o lema para oportuno exercício, com aplicação de métodos da Crítica Textual[1]
Biógrafos – formais ou informais – de Artur Paredes (1899-1980) e de Carlos Paredes (1925-2004) e pessoas que os conheceram – ou, pelo menos, um deles – são unânimes em afirmar que a partir de um dado momento – a idade adulta de Carlos Paredes, por hipótese – as relações Pai / Filho foram tudo menos fáceis. As razões poderão ser múltiplas, algumas delas, porventura, da estrita esfera pessoal / familiar.
Mas haverá também uma razão musical:

· A maturidade criadora e executante de Carlos Paredes – já óbvia para os auditores atentos dos programas dos anos 40 na EN, 1.º programa («Guitarradas de Coimbra», com Artur Paredes / Carlos Paredes [gg.] / Arménio Silva [v.]) – terá, a dado momento, despertado um inequívoco 'ciúme' de Artur Paredes. Em muitas circunstâncias este terá achado que a «2.ª guitarra» fazia demasiado 'barulho' e como que 'abafava' o solista.

Terão sido circunstâncias como esta a ditar o desfazer do trio após as gravações de 1957, o seguir caminho a sós por parte de Carlos Paredes a partir de ca. 1960, acompanhado inicialmente por um dos antigos violas de seu Pai (António Leão Ferreira Alves [1928-1995] [2]) e depois por Fernando Alvim [3]; a gravação, ca. 1971, do single Balada de Coimbra [4] terá levado mesmo a um corte (ou quase) de relações.
Este 'ciúme' acabou por ditar um post-scriptum aos dois EP's de 1957 e, depois, as reedições de certa forma de 1961. Artur Paredes achou-se 'abafado' no «Passatempo» (no tema final em tremolo [refiro-me a grupos de 4 notas na mesma corda em movimentos alternados para dentro / para fora, reforçadas por bordão harmónico de duas em duas notas]), onde efectivamente na versão inicialmente vinda a lume ouvimos o prenúncio do Carlos Paredes de «Movimento Perpétuo», por hipótese. O mesmo terá sentido Artur Paredes em relação á «Rapsódia» (embora aqui o ouvinte, sentindo sem dúvida a «2.ª guitarra», tenha maior dificuldade em compreender o alegado 'abafamento' da 1.ª). Consequência: fazer retirar do mercado a versão original do disco que veio a ser o MEP 60056 e regravar – ou, eventualmente, aproveitar outros «takes» de estúdio – os temas «Passatempo» (agora com a «2.ª guitarra» mal se ouvindo no motivo final) e «Rapsódia n.º 2» (onde a «2.ª guitarra» é hiper-hiper-discreta, se é que existe na gravação…; na versão prevalecente há ainda uma alteração na frase inicial, em ré m, com desenvolvimento em «descida espanhola», compasso ternário [ré m / Dó M / Lá # M, 2.ª de ré]). Quem tenha passado por experiência de estúdio sabe bem que em vários EP's ou num LP de outros tempos ou num CD dos nossos dias 'sobravam / sobram', não raro, temas e «takes» [5]. Artur Paredes preteriu também a «Balada do Mondego» (vá lá saber-se porquê), repescando a «Canção do Ribeirinho» (uma excelentíssima interpretação, por sinal). Ou seja: do EP primitivo terão ficado tal-qual apenas as «Variações em Ré Maior».
É claro que houve quem tenha conhecido as gravações mandadas para o limbo. O caso mais marcante foi o de António Portugal (1931-1994), que num EP instrumental ca. 1965 – com Manuel Borralho (g.) / Rui Pato (v.) – gravou «Balada do Mondego» com a «2.ª guitarra» a executar os hoje inconfundíveis jogos de bordões em lá m, com que Carlos Paredes acompanhava o motivo A da peça [6]; e a sua interpretação da «Rapsódia» [7] seguia os cânones da versão que viemos a conhecer com o título «Cantares Portugueses».

As peças em causa sairão do limbo ca. 1978 – ou seja, a 2 anos da morte de Artur Paredes –, no LP Carlos Paredes / Artur Paredes [8]. E estas versões prevalecerão doravante em quantos se abalançarem à Obra de Artur Paredes: veja-se, por exemplo, a interpretação de «Passatempo» por Bruno Costa / Nuno Dias (gg.) / João Brito / António Paulino (vv.), inserta no CD Cordas do Mondego [9].

A observação que, para fechar, poderei produzir é a seguinte: se estão em causa gravações feitas para a ALVORADA nos anos 50 e hoje na posse da MOVIEPLAY, porque não um novo CD que TUDO contenha ? Onde possamos, lado a lado, ouvir as duas versões de «Passatempo», a «Rapsódia n.º 2» / «Cantares Portugueses» e a «Canção do Ribeirinho» a par da «Balada do Mondego» ?
Voto irrealizável ? Esperemos que não. Seria uma bela prenda de Natal que o editor discográfico nos poderia proporcionar…


Lisboa, 19 de Dezembro de 2006


NOTAS

[1] Abordei pela primeira vez algumas das questões que seguem em «Guitarra (A) de Coimbra em tempos de fim-de-tempo (ca. 1965-ca. 1973). Apontamentos e rememorações», Anais da U. Autónoma de Lisboa / série História, V/VI (2000-2001), pp. 333-348. Disponível no presente blog, post de 2005/05/09.
[2] Sobre este executante cf. José NIZA, Um Século de Fado, II. Fado de Coimbra, Alfragide, Ediclube, 1999, pp. 54-55.
[3] Cf. Octávio Fonseca SILVA, Carlos Paredes. A Guitarra de um Povo, Porto, Mundo da Canção, 2000, pp. 87-89 et passim. Note-se que nos anos 60 Carlos Paredes terá sido pontualmente acompanhado por Arménio Silva. Porque digo isto ? Na cripta da igreja paroquial de S. João de Deus (à Praça de Londres, Lisboa) existe uma exposição fotográfica permanente de actividades lúdico-culturais ali efectuadas. Com data de 1964 – e sem mais indicação alguma – pode ver-se uma foto de Carlos Paredes e Arménio Silva (figuras inconfundíveis) acompanhando um cantor que eu não soube identificar, mas que actua de capa traçada.
[4] Trata-se de um single de 'sobras' do LP Movimento Perpétuo (1971); além de «Balada de Coimbra», este disco contém «O Fantoche» e não «Canção de Alcipe», de Afonso Correia Leite, outra 'sobra' de Movimento Perpétuo, que talvez tivesse sido a opção inicial: o facto é que o título «O Fantoche» com subsequente indicação de autoria consta de uma tira de papel colada sobre a capa do disco; na dita consta «Canção de Alcipe»; Octávio Fonseca SILVA (Op. cit. supra, n. 3, p. 60) foi até hoje a única pessoa a fazer notar este facto; e será «Canção de Alcipe» (e não «O Fantoche») a ficar inédita até às eds. de inéditos em CD, nos anos 90. O contrário já foi dito por diversas vezes, inclusivamente em textos que acompanham a integral em CD's O Mundo segundo Carlos Paredes (2002). Mas trata-se, obviamente, de um erro.
[5] Veja-se a passagem de LP (1990) para CD (1997) do disco de Jorge Tuna, Guitarra (A) de Coimbra: o novo suporte permitiu a inclusão de 3 novos temas («Flores para Manuela», «As danças» e «Sol Maior») e um segundo «take» de um outro («Dança dos Duendes»); o CD é ed. JORSOM, J-CD 7013, 1997. Cf. o que a este respeito escrevi em «Jorge Tuna: para uma abordagem ternária de um Mestre da Guitarra de Coimbra», Revista Portuguesa de História, XXXVI/2 (2002-2003), pp. 397-416 (disponível em http://guitarradecoimbra.blogspot.com [post de 2005/04/05])
[6] EP ALVORADA AEP 60 927, s.d., lado A, faixa 1.
[7] Que recordo numa actuação televisiva de princípios de 1968, com Francisco Martins (g.) / Rui Pato (v.); voltei a ouvi-lo executar esta peça – com acompanhamento meu – em 1980 (Maio), no convívio que se seguiu à serenata do III Seminário sobre o Fado de Coimbra.
[8] Edição ALVORADA, LP S 08 88, s.d.; os temas em causa estão na face B, faixas 4, 5 e 6. Reed. no CD Carlos Paredes e Artur Paredes, ed. MOVIEPLAY, MM 37 036, 1994, faixas 12, 13 e 14.
[9] Ed. Secção de Fado da AAC, 1999, faixa 2. Esta versão pode considerar-se altamente meritória. Em contrapartida – e com mágoa o digo – é desastrosa (por deturpações múltiplas) a interpretação António Brojo (1927-1999) / António Portugal (gg.) / Aurélio Reis / Luís Filipe (vv.), contida na Antologia Tempo(s) de Coimbra. Oito décadas do Canto e da Guitarra (1985); regravada por António Brojo no CD Memórias de uma Guitarra (ed. EMI-VALENTIM DE CARVALHO, 1997, faixa 18), com Carlos de Jesus (g.) / Aurélio Reis / Luís Filipe / Humberto Matias (vv.).

Novo «blog» coimbrão

Amadeu Carvalho Homem, lente de História Contemporânea da FL/UC, Primo do signatário, acaba de criar um blog votado eminentemente à reflexão, em termos de actualidade, sobre a condição humana. O endereço é: http://livre-e-humano.blogspot.com. Vale a pena fazer lá uma visita.
Armando Luís de Carvalho HOMEM


Viva o São Nicolau Posted by Picasa
Postal francês de ca. 1930: São Nicolau, com o seu burrinho, distribui prendas a crianças abastadas.
Com os nossos votos de Bom Natal ao Dr. Fernando Paulo (Viseu).
Octávio Sérgio/António M. Nunes


Representação oriental de São Nicolau Posted by Picasa
Na esperança de que continue a reunir inspiração para renovadas colaborações no blog, aproveitamos para desejar a Armando Luís de Carvalho Homem um feliz Natal.
Octávio Sérgio/António M. Nunes


Uma visita de São Nicolau Posted by Picasa
Gravura natalícia austríaca de 1820, de Franz vom Paumgartten (Museu d. Stadt Wienna), figurando a árvore de Natal e uma visita de São Nicolau. À porta da sala espreita o monstro punidor das travessuras infantis.
Com os votos de um Bom Natal 2006 ao Dr. Augusto Mota.
Octávio Sérgio/António M. Nunes


São Nicolau distribui prendas Posted by Picasa
Com este desenho natalício, existente no Musée Nacional des Arts et Traditions Populaires de Paris, desejamos ao Amigo e Colaborador Coronel José Anjos de Carvalho Bom Natal.
Octávio Sérgio/António M. Nunes


São Nicolau e as três crianças Posted by Picasa
A pretexto deste desenho de Jean Charles Pellerin, de inícios do século XVIII, aproveitamos para desejar Bom Natal ao Dr. Afonso de Oliveira e Sousa, agradecendo-lhe a preciosa colaboração prestada nos últimos meses.
Octávio Sérgio/António M. Nunes


Cortejo de São Nicolau Posted by Picasa
Com esta gravura de Rie Cramer, alusiva ao Natal de Amesterdão de 25/12/1925 aproveitamos para desejar Bom Natal ao Dr. Rui Lopes, agradecendo-lhe a colaboração prestada ao blog.
Octávio Sérgio/António M. Nunes






CD "Coimbra Sempre Menina e Moça", que me foi oferecido por José Neves, cantor do grupo. Além deste, cantaram Abel João e José Miranda. Nos instrumentos estiveram António Jesus, Alexandre Cortesão, Aníbal Moreira e Bernardino Gonçalves.
Este é mais um contributo para que a Canção de Coimbra continue viva.


São Nicolau Posted by Picasa
Com a globalização em marcha galopante, o São Nicolau tenta resistir no Natal holandês.
AMNunes


São Nicolau Posted by Picasa
Postal de Natal com a figuração tradicional europeia de São Nicolau como protector e recompensador das crianças bem comportadas: vestes episcopais, mitra, báculo e barbas. Em algumas tradições do Norte e Centro da Europa (Alemanha, Bégica, França, Suiça), o saco das prendas de São Nicolau era transportado por um burrinho. Para castigar as crianças mal comportadas, São Nicolau podia fazer-se acompanhar de um Diabo mal encarado, com vestes negras, chifres, cauda e chicote (Père Fouettard, que ainda cheguei a ver nas festas natalícias de Poitiers em 1992).
AMNunes


São Nicolau com crianças Posted by Picasa
O Bispo São Nicolau de Mira com três criancinhas. Esta parece ser uma imagem do Natal definitivamente perdida no mundo ocidental, conquanto dela persistam certos traços na Bélgica, Suiça e Alemanha.
Esta imagem sacra encontra-se na Igreja de Mauvages, Meuse.
A CC não encontrou no Natal motivo inspirador digno de registo, ao contrário da Passagem do Ano que já no século XVIII fazia alvoroçar cantores e guitarristas entre a Alta e o Penedo da Saudade.
Excepções serão as seguintes:
-Jorge Cravo no poema de Manuel Porto, CANÇÃO DE NATAL (Canções de Natal/no meu País), tema gravado no LP "Canções d'Aqui" (1989);
-Victor de Almeida e Silva, no poema QUADRAS DE NATAl (A vida se faz em vida/E o Natal acontece), tema gravado no CD "Trova Lírica" (1995).
AMNunes


São Nicolau de Mira Posted by Picasa
Antes do norteamericano Pai Natal era o São Nicolau de Mira o símbolo de distribuição de recompensas às crianças em quadra natalícia. E nos meios rurais portugueses mais fortemente marcados pelo catolicismo, ainda em 1974 era o Menino Jesus a trazer as prendas às crianças e não o São Nicolau.
Padroeiro da Rússia, Grécia e Noroega, patrono dos estudantes, pescadores e crianças, Nicolau de Mira nasceu na Anatólia entre 250 e 270. Com participação no Concílio de Niceia (?), terá falecido no dia 06 de Dezembro de 345 (data das Nicolinas estudantis vimaraneses). Na UC a Reitoria era estatutariamente obrigada a promover a Procissão de São Nicolau no dia 06 de Dezembro de cada ano, cuja missa ocorria na capela do Colégio de São Jerónimo. Nos festejos deveriam integrar-se os membros do corpo docente em trajo de gala, os funcionários e os estudantes.
A gravura utilizada supra integra um fresco de traço orientalizante, existente na Abbaye de Bec, França.
O Blog "guitarradecoimbra" aproveita o ensejo para desejar aos seus habituais leitores e colaboradores um Bom Natal.
Mantendo um pendor generalista e amadorístico desde as suas origens, o Blog tentou ao longo de 2006 satisfazer os seguintes desígnios:
-conceder espaço ao fundador/administrador e seus próximos colaboradores para a divulgação de temáticas diversas, cujos fios condutores sejam a História da Canção de Coimbra e assuntos correlacionados com as tradições coimbrãs;
-promover elos culturais e afectivos entre Coimbra e os seus antigos estudantes de há muito radicados longe da cidade e destituídos de instrumentos que lhes permitam outros contactos mais directos;
-servir de ponto de contacto entre cultores da CC;
-dar a conhecer junto do grande público projectos discográficos e estudos desenvolvidos por formações ou indíviduos (desde que o Blog deles tome conhecimento e os autores manifestem a sua anuência);
-divulgar estudos individuais e de grupo sobre a História da CC;
-resgatar e tornar acessíveis documentos de índole diversa;
-recolher, salvaguardar e divulgar espécimes musicais vocais e instrumentais;
-estabelecer condições para a construção progressiva de uma base de dados apta a disponibilzar em tempo útil informações iconográficas, cronológicas, biográficas, fonográficas e musicais;
-responder satisfatoriamente a pedidos de ajuda/colaboração formulados por investigadores portugueses e estrangeiros;
-inventariar exaustivamente a produção fonográfica/ou musical de artistas ligados à Galáxia Sonora Coimbrã;
-fomentar o conhecimento da CC e a sua livre fruição artística.
Com as lacunas e dificuldades próprias de um Blog amador, os objectivos traçados para 2006 foram atingidos, nalguns casos com inteiro sucesso, noutros parcialmente. Ficaram por completar levantamentos sobre Alexandre Rezende e estudos em curso sobre António Menano. A tentativa de abertura de debates aprofundados sobre matérias como "O que é e como se poderia melhorar a Serenata Monumental da Queima das Fitas", não obteve (em nossa opinião) resultados positivos.
Os pedidos de colaboração feitos aos cultores vivos para que enriqueçam o Blog com relatos das suas vivências, também não colheram eco.
Atendendo à bondade de algumas sugestões dos nossos leitores, importará clarificar que uma certa "deriva generalista", sendo aqui e ali criticável, ajuda a manter o Blog em actividade especialmente nos "dias mortos" em que não existem materiais prontos para edição ou apenas existem em bruto no arquivo de algum dos colaboradores, carecendo de estudos prévios, legendagens, datações, morosas revisões de textos e actualizações de dados.
O Blog mantém as suas portas abertas aos leitores-utilizadores e também a todos quantos possuam e queiram remeter-nos materiais editáveis.
AMNunes





Antigos Tunos em Gouveia no último domingo. As duas primeiras fotos mostram aspectos da recepção oferecida por Heitor Peixoto, em sua casa, com os mais variados acepipes, a preceder a feijoada do almoço. Segue-se o grupo de Canção Coimbrã dos Antigos Tunos, com Paulo Amador (convidado), Heitor Lopes e Mário Rovira nas canções; Humberto Matias na viola; Octávio Sérgio e Alcides Freixo nas guitarras. Polybio Serra e Silva juntou-se ao grupo.
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Almoço de Natal, no sábado passado, da Associação dos Antigos Estudantes da Universidade de Coimbra de Braga.
Formou-se um grupo heterogénio de cultores da canção coimbrã que encerrou o almoço. Nas violas estiveram Campos Costa, do Porto e Gomes Alves, de Braga; nas guitarras Octávio Sérgio, de Coimbra e António Moniz, do Porto; a cantar, José Paracana de Aveiro, Nuno de Carvalho de Famalicão, Henrique Veiga e Napoleão Amorim do Porto e ... (?) de Braga. Gomes Alves também cantou, como não podia deixar de ser, pois ele é essencialmente um cantor e dos muito bons. Aliás, todos actuaram magnificamente. Foi uma boa sessão.

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